Toda vez que saio de casa, procuro novos caminhos, mesmo sendo as mesmas estradas. Levo meu coração inteiro, busco mundos com a ânsia de uma criança sem perceber o tempo, cuja alegria e alimento se resumem na liberdade que tudo permite.
Entro no carro. Minha primeira liberdade compartilho com as músicas. Viajo pelas suas letras e sons, construo as imagens que elas me permitem, e mesmo feliz, consigo chorar calada, escondendo-me por baixo das minhas lentes. Assim, ninguém me percebe nem me pergunta o efeito dos tantos versos das canções.
Olho as paisagens, morro de inveja dos pássaros, porque chegam antes de mim. As nuvens desenham meus sonhos no céu, mas logo se desfazem. Então olho pra frente, para as trilhas que se escondem e logo se revelam quando atravessam as montanhas e os seus horizontes.
Entro nos templos antigos com seus bordados e anjos de ouro; é lá onde procuro silêncio e converso com seres que me ensinam a paz. Tento obter respostas, fazer escolhas. Mas tudo isso significa abrir portas e saber que caminhos desconhecidos me esperam. Sei que este instante de recolhimento não me salva, mas me sinto verdadeira pondo minhas verdades pra fora; sinto-me pronta para este mundo apressado e egoísta tentando me devorar.
O mar... a grandeza, a cor instável, a luz e a dança das ondas com seus babados de espumas. Minha pequenez, minha incapacidade, minha vontade de fugir para “ser”. Tenho sede. Todo o meu corpo tem. Contemplo rios e riachos, mares e marés, bichos a se estenderem no quadro multicolorido da terra. Todo o meu ser se oferta e se ampara num ritual de cura e fé.
E dentro de mim, o que vejo? Uma vereda imensa a ser percorrida; um caminhante incansável peregrinando em busca de respostas; uma lembrança e um coração sempre aberto a novas paragens.
Viver é assim. É poder partir sempre, levando a coragem de muitas aventuras, inclusive a de percorrer os solos invisíveis de seus segredos. Chorar sem vergonha, sem medo. Esconder-se, quando necessário.
Mas é preciso voltar. Andar o mesmo caminho, ao contrário. As malas cheias, mal arrumadas, e a maior delas, o coração. Inteiro. Com saudades, lembranças, vazios; com sorrisos, vidas, esperanças... porque o céu é logo ali!
(Betha Mendes)
Foto minha ( caminho para Morretes- Paraná )