...em grande forma
Deliciem-se com a crónica da Leonor Pinhão, publicada hoje no sitio do costume:
"O presidente da Federação Portuguesa de Futebol está preocupado com a Benfica TV. Esta temporada o canal do Benfica assegurou a transmissão dos jogos do campeonato inglês e passa a transmitir todos os jogos do Benfica disputados no Estádio da Luz. Não é com a transmissão dos jogos do campeonato inglês que Fernando Gomes está apreensivo, o que se compreende. A Inglaterra é a terra do fair-play, é tudo gente séria e aprumada.
O problema é que tal como a Inglaterra é a terra do fair-play, Portugal é a terra da verdade desportiva, coisa completamente diferente. E o presidente da FPF não pode deixar de estar, por inerência de cargo, sempre aflito não vá a verdade desportiva descambar.
Segundo algumas consciências, a última segunda-feira terá sido um dia mau para a verdade desportiva. Foram divulgadas as medições das audiências televisivas e soube-se que a transmissão do Benfica-Gil Vicente na Benfica TV bateu a transmissão do Vitória de Setúbal FC Porto na Sport TV. Ambos os canais funcionam por subscrição livre do público, é importante não esquecer.
As declarações de Fernando Gomes ao “Diário Económico” sobre a questão dos direitos televisivos foram amplamente divulgadas na net no mesmo dia. Para o presidente da FPF trata-se de “uma situação que não é normal”. E levantou uma questão premente o ex-vice-presidente do FC Porto sobre os “constrangimentos” de um “canal próprio”, reconhecendo que, ele próprio, ainda não tem “traquejo” nem “experiência” para concluir “se isso pode ter algum tipo de implicação que condicione a verdade desportiva”. Lá está, justamente, a nossa velha amiga verdade desportiva.
Fernando Gomes, que era vice-presidente do F.C. Porto à época da investigação policial do Apito Dourado, é a figura desprevenida quem o senhor António Araújo, o da “fruta para logo à noite”, solicita bilhetes para “as três deusas” que quer levar consigo ao futebol. Tudo isto é lamentavelmente público graças ao YouTube. Com o traquejo até então adquirido, o então vice-presidente do FC Porto, actual presidente da FPF hoje preocupado com “a verdade desportiva” posta em causa pela Benfica Tv, diz simplesmente ao empresário que suba “ao 14.º andar” para tratar do assunto em causa.
- É daquele assunto que falámos, não é? –pergunta Fernando Gomes, prudente e avisado, ao senhor Araújo das três deusas.
- É, é – responde prontamente o senhor Araújo.
Ouvindo-o responder à solicitação do sr. Araújo, quase dez anos depois da gravação dessa conversa, não parece ter ficado muito preocupado com as três deusas o actual presidente da FPF. Certamente porque não viu ali nada que, tal como a Benfica TV ameaça presentemente vir a fazer, pudesse “ter algum tipo de implicação que condicione a verdade desportiva”. E com certeza que não teve implicação nenhuma. Deusas são deusas, gente bendita, e logo três…
Já a Benfica TV pode vir a tornar-se num perigo público e com isso todos os cuidados são poucos não vá a verdade desportiva fenecer ou mesmo falecer. E isso seria uma grande tragédia. Como benfiquista, constato com satisfação que o actual presidente da FPF não apoia inequivocamente a Benfica TV.
As situações normais resolvem-se no 14.º andar, é verdade. Mas sendo esta uma situação anormal, falta traquejo a Fernando Gomes. Assim é que é bonito.
Por estes dias perguntam-me muito nas ruas se estou zangada com Luisão. Na verdade, não estou. Talvez por uma questão de educação, da minha educação, não da educação do Luisão.
Comecei cedo a frequentar o estádio da Luz na companhia do meu avô e sempre o ouvi dizer, quando as coisas não nos corriam bem e o público protestava, que assobiar um jogador do Benfica era mais feio do que cuspir na sopa e tão feio como bater na mãe. Foi uma coisa que me ficou.
É dele que me lembro sempre que ouço, na Luz, o público dirigir os seus protestos contra um ou outro jogador ou mesmo contra a equipa toda. Não me considero uma benfiquista exemplar, longe disso, e nunca tive grande paciência para as estéreis e intermináveis discussões que envolvem recurso ao “benficómetro”, o ainda não inventado aparelho que medirá a devoção dos benfiquistas bons, dos benfiquistas maus e dos benfiquistas assim-assim, entre os quais voluntariamente me incluo.
Por isso, é com todo o à-vontade que falo. E confesso que até gostei da reacção do nosso capitão quando, assegurada a vitória épica sobre o Gil Vicente, se dirigiu desabridamente aos adeptos reprovando-lhes, por gestos, os assobios a Maxi Pereira que, ao contrário do “benficómetro” que ainda não foi inventado, conseguiu inventar sozinho o lance que resultaria no golo do Gil Vicente lançando a Luz ao desespero.
Se me perguntam se, nesse preciso momento fatal do uruguaio, me levantei do meu lugar em aplausos piedosos a Maxi Pereira, porque é dever apoiar a equipa nos bons e nos maus momentos, terei de responder que não, não me levantei. Francamente, não sou pessoas de extremos.
Mas sou quero ser crente. Antes do jogo com o Gil Vicente perguntava-me que tipo de prodígio, que tipo de milagre poderia vir a salvar o Benfica doente que todos conhecemos desde Maio último. Portanto, naturalmente, quis acreditar que era aquilo o prodígio sonhado quando vi, no espaço de minuto e meio, o golo de Markovic a empatar o jogo, o golo do Lima a ganhar o jogo, o beijo do mister no Mini Pereira, os abraços dos demais jogadores e, finalmente, os gestos de Luisão para a bancada.
Olha, finalmente, tempos sessão de terapia de grupo! Foi nisto que pensei. E continuei tranquilamente a ver o jogo que, como estarão recordados, terminou logo a seguir.
Volto a dizer que o Benfica terminou doente a última temporada e todo o longo tempo do defeso foi apenas a continuação dessa mesma doença sem que nada de visível fosse feito para curar o doente, embora milhares de especialistas tivessem dado as suas opiniões clínicas. Houve até uma maioria de especialistas que, considerando que o mal estava na cabeça e não nas pernas, descurou o assunto pensando, à moda antiga, que os males da cabeça se tratam com banhos de mar. Ideia errada.
A questão é que o mal é mesmo na cabeça. É um desatino o que se tem visto em campo desde o início da pré-temporada. Um desatino que se continuou a ver no Funchal e que se voltou a ver no final da tarde de domingo, na Luz, até ao momento em que Markovic fez o primeiro golo do Benfica. Depois o doente acordou e, como por milagre, voltou à vida activa envolvido numa aura de inesperado esplendor. Segue-se o jogo com o Sporting, em Alvalade, ocasião que será fabulosa para testar no doente, ou no ex-doente, os efeitos da tão celebrada sessão de terapia de grupo. No sábado se verá.
O Rio Ave e o Estoril voltaram em excelente plano ao futebol a sério. Duas vitórias em dois jogos é o balanço do arranque da época para as equipas de Nuno Espírito Santo e de Marco Silva. Ora aqui estão dois que não perderam a embalagem.
Já o Paços de Ferreira que foi a enorme sensação do último campeonato começa agora a ser sensação por não conseguir ganhar um jogo. Soma duas derrotas nas duas primeiras jornadas da prova e até acabou, imerecidamente, goleado pelo Zénite de São Petersburgo no jogo da primeira-mão do play-off de acesso à Liga dos Campeões.
Como se não bastasse, tem agora um adversário impossível pela frente. Nem mais nem menos do que o campeão nacional. O FC Porto vai no domingo a Paços de Ferreira, campo de boa memória porque foi lá que, na época passada, selou o título.
O jogo é em Paços de Ferreira, não é? Ou é no Dragão?"