Serra da Marofa - Foto de Maria Clara
Quando era mais nova, tinha o cuidado de não me esquecer do aniversário de ninguém e presenteava sempre com um miminho especial.
A minha mãe achava injusto eu me lembrar de todos e poucos se lembrarem de mim ... ao avisar-me eu respondia sempre que nunca dava com intenção de receber.
Mas ... à medida que o tempo passava também me questionava o porquê de valorizar "não precisa de ser prendas, uma palavra amiga vale mais que ouro", quando as pessoas me tinham como garantida e não se esforçavam em me valorizar.
Um ano fiz uma experiência: esqueci-me intencionalmente de "10" amigos que nunca se lembravam de mim. Resultado: "5" começaram a valorizar-me e os outros "5" deixaram de me falar por não me ter lembrado deles.
Como alguns sabem no mês de Julho e Agosto do ano passado o meu marido ficou gravemente doente.
Nesses momentos tão difíceis pude contar com os meus amigos e família. O que eu não sabia é que a família e os amigos eram muito menos do que imaginava.
AMIGOS
A minha Té, grávida de quase 9 meses ignorava o meu pedido para não ir ao hospital "por causa da bébé" e esteve lá desde o primeiro dia nas urgências.
O marido dela, trabalha a semana toda longe, todas as sextas-feiras, antes de chegar a casa para estar com a mulher grávida, passava pelo hospital levando sempre uma revista "que o meu marido não conseguia ler por estar tão doente", pequenos gestos que valem mais que toda a riqueza do mundo.
O Bruno que dispensava sempre 1 hora da sua vida ocupada para ir ver o amigo.
O John a recuperar de um acidente gravíssimo e ainda bem debilitado esforçava-se sempre para dar um abraço.
Os meus amigos blogueiros "que eu nem visito tanto", tinham sempre 2 minutos para dar uma força.
O meu amigo especial deste mundo virtual que por diversas razões não me apoiou tanto naquela altura mas foi adulto para o reconhecer e mo dizer, o que não destruiu o imenso carinho que sinto por ele .
A Mitá que no dia em que chegou de férias com 2 crianças exaustas pelo calor, não quis deixar de passar pelo hospital.
E a Sónia que abdicou do único dia de folga para o ver.
O Carlos com 2 filhos sempre doentes foi dos poucos que vasculhou o hospital á procura de informação e se preocupou tanto comigo.
A minha patroa fechava a loja para poder estar com ele, e a minha colega interrompeu as férias de família para me auxiliar.
A minha amiga Nélia que anda ocupada com a vida dela, teve sempre tempo para aparecer ou telefonar.
Ele tinha "grandes amigos" que trabalham no outro lado da estrada do hospital e nunca o foram ver, nem um telefonema sequer.
Familia?????
2 dos 3 irmão preocuparam-se genuinamente com ele. A Susy "recém-casada" não deixava a cama do irmão e até levava comida na esperança de lhe abrir o apetite.
Dos 15 tios só 1 viúva e sem transporte apareceu para visitar, os outros estão muito velhinhos e sem transporte para visitar o sobrinho mas sempre que há um almoço convívio eles arranjam por milagre saúde e transporte para aparecer.
Dos cerca de 35 primos, 2 telefonaram e 1 apareceu...
Da minha parte veio família da França "em férias" que abdicaram de vários dias de praia para o visitar, com um bebé a enfrentar um calor abrasador.
Tive primos e tios que me telefonavam todos os dias.
A minha mãe chorou e rezou muuuiiitttoooo por nós.
A minha irmã e sobrinha estiveram sempre presentes para nós os 3 " Sim, ele sofria mas eu e a nossa filha também sofremos imenso".
Surpreendentemente os conhecidos, aqueles que só dizemos olá e quase nem sabemos o nome, tiveram sempre uma palavra de conforto, tocavam sempre á campainha para saber novidades, eu quase que nem conseguia andar na rua porque estava constantemente a ser abordada por eles.
No meio destas lágrimas não me venham falar dos amigos que aparecem nas horas felizes ou quando são eles que precisam de nós.
Não me falem que a família são os que partilham do nosso sangue, sendo pais, filhos, irmãos ....
Não .... deixei de acreditar nisso, amigos e família são o nosso pilar de força e apoio que não desvanecem nas horas más.
Isto tudo porque eu me calo quando o meu marido quase chora porque a tia está muito doente, ou se cala e humilha porque os primos estão demasiados ocupados na vida "mesquinha" deles e não param nem para o receber quando ele está perto.
Eu me calo, não quero parecer demasiado rude, nem magoá-lo, mas tenho uma grande necessidade de gritar!!!!!