Pois é, agora sou um doutor em linguística. quatro anos de graduação, dois de especialização, dois de mestrado e quatro de doutorado pra chegar até aqui. Um amigo diria que agora estou no topo da cadeia alimentar. Eu continuo a mesma pessoa, agora com um novo certificado que me permite lecionar em universidades federais (não que isso seja ou sempre tenha sido pre-requisito, todos sabemos disso). Não quero me vangloriar disso, mas acho que fazer um doutorado, ou mesmo um mestrado é para poucos.
Assim como a sociedade precisa de trabalhadores para diversas coisas a universidade precisa de professores para formar esses trabalhadores. Além disso, a curiosidade não mata o gato sempre. A curiosidade humana é o que nos leva a pesquisar. Metodologia da pesquisa científica básica: toda pesquisa começa com uma pergunta. Se você não tem uma pergunta, não sabe o que procurar, também não vai saber onde chegar.
Não sei se me apaixonei pelo meu objeto de pesquisa durante estes últimos 6 anos em que estudei sobre as sentenças comparativas, mas o que aprendi no caminho fez valer o preço. Se a minha tese vai ficar juntando poeira na biblioteca isso eu tenho certeza, afinal em tempos de pdf, quem precisa ir a uma biblioteca procurar uma tese ou dissertação? (a Unicamp, por exemplo, está digitalizando o seu acervo de teses e dissertações e no Pro-quest a gente acha teses defendidas nos EUA pelo menos desde os anos 70, Great!). O livro não vai morrer, mas a informação circula bem melhor digitalmente. O negócio é que aprendi um bocado, tanto tecnicamente (sei usar um modelinho matemático para explicar o significado das línguas e vocês não, rsrsr). Claro, tem gente lá fora que manja barbaridade de psicanálise, de Foucault, de teoria quântica, de polímeros e outros seres esquisitos. Eu faço semântica de modelos (e acho que entendo um pouco de sintaxe). Acho que pelo menos seria estranho eu ter escrito 200 páginas de algo sobre o qual eu nada conhecesse.
Já vi gente desistir do mestrado ou do doutorado. Pessoas que por alguma razão se desiludiram com sua própria pesquisa ou com a vida acadêmica. Também tive meu momento de negação. Aqueles momentos em que você pensa: por que diabos não fiz administração ou direito? Ter uma graduação em qualquer coisa ainda te permite fazer concurso pra trabalhar no Banco do Brasil ou na Caixa ou mesmo fazer algum desses concursos que pedem qualquer graduação. Mas não desisti. Na verdade, o que me moveu a fazer uma pós-graduação foi o desejo de saber mais, de entender melhor as coisas que me eram estranhas, no caso a linguagem humana. Hoje acho que entendo razoavelmente como os humanos de comunicam, e fico feliz com isso. Não senti alívio por defender minha tese, porque não foi algo difícil. Difícil ou trabalhoso é lavar roupa, limpar banheiro, lixar uma parede, estas tarefas são difíceis pra mim. Escrever e estudar são coisas que fiz sempre com prazer e acho que isso me candidata a ser o que sou: um pesquisador (ou cientista, se vocês preferirem). O gostar de "pensar sobre". É isso que algumas pessoas perdem no caminho ou simplesmente não possuem essa habilidade desenvolvida (provavelmente por razões históricas e psicológicas), não acredito em dom. Todos nascemos iguais. Só que as escolhas que fazemos, que nossos pais e professores fazem, constrói o que seremos.
Nada foi complicado. Claro, exigiu trabalho, dedicação, horas na frente do pc, horas lendo e relendo o trabalho, re-escrevendo, pensando, procurando novas fontes bibliográficas. Só que nada disso foi penoso pra mim, as coisas simplesmente seguiram seu curso natural, o que me faz pensar que talvez eu esteja no rumo certo. Há quatro, cinco meses atrás estava preocupado em ficar desempregado. Agora tenho três opções de trabalho. Ótimo. Espero que vocês aí fora tenham a mesma sorte (não acredito em sorte, mas vocês sabem o que quero dizer).
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