quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Traz a memória!
Escrito por
Francisco M. M. Arantes (Quito Arantes)
Guardo o recanto enaltecido
Pelos meus duendes enraizados...
Enquanto que o tempo desliza
Pelos meus dedos agrestes
Encontro o sinal que não é
Só meu, mas de muitos mais
Que fluem em minhas memórias.
Agora será sempre o rasgo
Do bem querer, em harmonia
Com o bem estar com Deus.
Deixarei que me tragas a poção
De todo o universo desejado...
Pelos meus duendes enraizados...
Enquanto que o tempo desliza
Pelos meus dedos agrestes
Encontro o sinal que não é
Só meu, mas de muitos mais
Que fluem em minhas memórias.
Agora será sempre o rasgo
Do bem querer, em harmonia
Com o bem estar com Deus.
Deixarei que me tragas a poção
De todo o universo desejado...
domingo, 27 de janeiro de 2013
Amor cibernético
Escrito por
Glauber Vieira
Esquece esse celular
E vem curtir meu céu
Compartilha meu luar
E vem curtir meu céu
Compartilha meu luar
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Tulipas negras
Escrito por
Rodrigo Domit
Ouvia, via e sentia a tristeza alheia. A angústia lhe estufava o peito, o ar ficava pesado e os ombros recolhiam-se enquanto as mãos passavam pelo rosto suado.
E foi assim em todas as vezes que se deparou com as tulipas negras, desdentadas, bocas do desespero
E foi assim em todas as vezes que se deparou com as tulipas negras, desdentadas, bocas do desespero
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Estação Primeira
Escrito por
Angela Gomes
Na floresta dos meus sonhos
A Mangueira é de ouro.
Para a grande festa das fadas
Eu entrego o meu tesouro!
Quero as florestas vivas
Para o meu sonho ser real.
Trago samba, trago ginga,
Trago vales e restingas,
Trago o verde e a rosa para colorir meu carnaval!
Meu canto:
Biodiversidade, consciência, dignidade,
Sensibilidade, justiça e integridades sociais.
Ecossistema em equilíbrio é respeito aos animais!
Quero aves coloridas pousando nas janelas,
Sua beleza não tem preço, não combinam com a panela!
Gaiolas nem joias para quem não me faz mal.
Não à crueldade e ao tráfico animal!
Oh! Ser selvagem racional,
De si mesmo é assassino!
Dome suas feras internas
E venha brincar o carnaval!
sábado, 19 de janeiro de 2013
Despedida por entre parábolas
Escrito por
M.C.
Vida em que vivida foi até um outro
dia, dias esses que se degradaram por parte do passado, ainda naqueles em que o
sol surgia em outrora com a canção que ardia, mantivera-nos fora do fado.
Eu paro, penso e acabo descontento,
sem que perceba temerás por algo que apenas atenta-nos por tão antigo é o vosso
sentimento? Derrota o ego de ser amando e apegar-te-ei a sutileza de mais um
respiro embora desatento.
A par da felicidade provenhamos sob
belos sorrisos acolhedores, pois ainda há aqueles que relutam conforme o brotar
das flores. Massiva e sem graça acordaria novamente por afrontar perante a vitória
em real desgraça sobressaindo em meio às derrotas intuitivas.
E se chover? Mesmo assim será mais um
dia, dia esse na qual meu mundo apenas mudou de giro aderindo às alegrias,
morrendo em fim todos os tormentos em nome do perigo que não pude prever por de
baixo da tua velha moradia.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
O UIVO DO SERTÃO
Escrito por
andrea carvalho deca
* boa tarde. sou nova no site, meu dia é o segundo de cada mês, mas como fui adicionada há pouco, meu primeiro texto vai com atraso mesmo. desculpem. na próxima sai no dia certo.
** este texto foi selecionado pelo 8º Prêmio Maximiano Campos de Literatura 2012. fiquei em 4º lugar. entrou em um livro. vamos ao texto. ah, por vezes vocês vão me ver escrevendo sem letra maiúscula. faço isso mesmo. beijos.
Tudo o que ele queria era um pouco de chuva. Andava por aquele sertão às cegas. Sem água, sem abrigo, faminto. As roupas, já perdera quase todas. E estava com medo. Muito medo. Fazia três noites que havia fugido. A cidade inteira o perseguiu. A fúria deles deixou marcas em sua pele. Dois ferimentos graves nas costas, um dedo quase decepado e muitos hematomas nos braços e nas pernas. Só pensava em Maria Lucia. Doía-lhe o coração imaginar que nunca mais iria vê-la.
Poucos meses atrás se conheceram numa quermesse. João não era muito de rezar, evitava entrar na paróquia, mas naquele domingo quente o maior evento da cidadela era a tal feirinha da igreja. Lá foi ele com a melhor roupa. Simples, gasta, mas a melhor.
João foi criado pelas irmãs. Eram sete. Ele, o oitavo, nasceu homem. A mãe morreu no parto e o pai matara o avô e depois morreu sem que ninguém conseguisse explicar muito bem como.
Na festa se encantou com a menina que estava em frente à barraca da pipoca. Trocou olhares com Maria Lucia e foi o bastante para se apaixonarem. A festança estava animada. Muita música, comidas e o pai de Maria, o Coronel Salviano, dando discurso. A cidade era praticamente dele.
Depois daquele primeiro encontro João arranjou um jeito de ver Maria todos os domingos na saída da missa. Como era muito pobre não dava conta de levar uma prenda sequer para presenteá-la. Também não tinha coragem de roubar flores que enfeitavam os túmulos do cemitério perto de onde morava. Então levava o sorriso. Toda vez que ela saia, estava ele do lado de fora, de chapéu em punho para cumprimentá-la.
Um dia tomou coragem para convidá-la para um passeio.
- Na próxima semana, então? Perguntou esperançoso.
- Sim, aceito, disse Maria em sussurro. Mas não deixe meu pai ver você ao meu lado. E saiu às pressas sob o olhar firme do pai severo.
João nem acreditou. Maria Lucia, a filha do coronel iria passear com ele. É muita felicidade para um caboclo simples como eu, pensou com seus sapatos velhos. Foi correndo para casa contar a novidade para as irmãs. Nenhuma se deu o trabalho de
ouvir. João não era tão bem quisto como gostaria. Duas das irmãs eram muito doentes. Outras duas já haviam morrido. Uma casou, a outra foi morar na cidade grande e a mais velha cuidava de todos. Não tinham tempo para as conversas de João.
Ansioso, João contava os dias da semana. Nem a lida dura debaixo do sol esmoreceu a vontade que sentia de ver Maria Lucia. E finalmente a sexta-feira chegou. Encontraria a menina na praça, em frente à igreja. Tomou um banho caprichado, vestiu novamente a roupa de domingo e se encheu de coragem. Ensaiava o que dizer enquanto ia ao encontro dela. Ficou sentado esperando seu grande amor. Ela apareceu, acompanhada de uma criada, que logo foi comprar sorvete para todos. Foi a oportunidade que tiveram de ficar sozinhos. Nervosos comentaram futilidades sobre o clima quente e a falta de chuva.
- Maria Lucia, sei que sou simples, mas sou trabalhador, honesto, será que seu pai permite que eu lhe faça a corte, perguntou João.
- Ai meu Deus. Meu pai me mata se souber que encontrei você. De maneira alguma ele vai permitir isso, retrucou a menina.
Mas João não desistiu de Maria. Continuaram os encontros, que logo foram se tornando mais e mais amorosos. Numa sexta-feira, o namoro demorou mais do que o habitual e uma lua cheia, viçosa, gorda e brilhante surgiu no céu para espanto do casal.
- Nossa João, olha que linda, comentou a moça. Foi então que levou o maior susto de sua vida. João estava transfigurado. Deixava de ser aquele homem romântico e apaixonado e aos poucos tomava a forma de um lobisomem de quase dois metros de altura. Maria ficou apavorada. Gritou e saiu correndo. A fera foi para outro lado uivar para a lua que se exibia atrás das nuvens.
Na manhã seguinte metade do gado do coronel amanheceu morto. Havia sangue espalhado por quase todo o sertão. Ninguém conseguia acreditar em tal massacre. Logo começou a caça aos predadores naturais. Homens planejavam emboscadas, fizeram turnos de vigilância, mas nenhum animal apareceu para reivindicar os crimes.
João sabia. Era ele. Ele sabia, mas não podia acreditar. Desde pequeno ele sentia coisas estranhas nas sextas-feiras à noite. Todo o corpo doía, uma constipação tomava conta dele. E quando calhava de ser noite de lua cheia ele tinha os momentos de
esquecimento. Simplesmente apagava e não tinha ideia por onde andava. Quando criança as irmãs trancavam ele no quarto. Sozinho e com medo não entedia o que estava acontecendo e ninguém explicava. Cresceu um adolescente calado e recluso. Até o dia em que conheceu Maria Lucia. E as irmãs não o trancafiavam mais.
Depois de vários dias de tocaia os homens da cidade esqueceram a vigília. Tocaram suas vidas, o coronel fez a limpeza nas terras e seguiu-se a rotina. Maria Lucia estava traumatizada, em pânico.
João tomou coragem e foi visitar a menina. O coronel escorraçou o rapaz da fazenda. Mas ele não se deu por satisfeito. Implorou para a criada entregar a Maria um bilhete que escreveu com os poucos garranchos que aprendera por acaso. Nele dizia: “Perdão. Eu não quis assustar você. Se me ama, encontre-me novamente no mesmo local hoje à noite. Se não aparecer, saberei procurar meu lugar. Com afeto, seu João.”
Maria Lucia foi ao encontro. Abraçaram-se demoradamente e um beijo de amor selou a vida dos dois para sempre. Mas eles não estavam sozinhos. Os jagunços do pai de Maria seguiram a garota. Foi uma briga para Maria ceder e acompanhar os homens do pai dela. Gritou, esperneou, chorou, mas carregaram-na a força. Não podiam machucá-la afinal era a filha do patrão. Quanto ao João, depois de uma boa surra mandaram que corresse sem olhar para trás. E assim ele fez. Mas não foi muito longe. Ficou alguns dias escondido nos arredores da cidade.
Não resistiu a distância e logo estava escalando a janela de Maria. Queria que ela fugisse com ele. Combinaram local e hora. Mas Maria dessa vez não apareceu. João sentiu como se uma faca atravessasse seu coração. Não poderia mais viver. Sem Maria não havia sentido. Saiu em direção ao sol, sem rumo, pronto para morrer.
A noite chegou e sem que se desse conta a lua trouxe novamente as dores para seu corpo. João se transformou. Mesmo a fera sem consciência sabia que o coração dele pertencia a Maria Lucia . Correu em direção à cidade. Desta vez foi flagrado. Logo homens se armaram, mulheres recolheram os filhos e trancaram as casas. Em punho cruzes, crucifixos e água benta.
O monstro se esgueirou felinamente até a janela de Maria Lucia. Soltou um uivo dolorido e alto. Maria abriu a janela e olhou bem firme nos olhos dele. Ficaram se
encarando. A moça com pena daquele ser desamparado, o monstro com medo de machucar a moça. Ela disse:
- João, eu quis ir, mas meu pai me trancou. Agora vai embora, ele vai te matar. E o bicho meio lobo meio homem apenas olhou para baixo, numa meiguice inacreditável. E sumiu nos campos.
A perseguição então começou. Atiravam pedras, toras, davam tiros. As balas não eram de prata, mas feriam o animal. Ele sentiu quando um candelabro da igreja foi arremeçado em suas patas. Foi assim que quase perdeu os dedos. Também sentiu dor quando escorregou e caiu de uma ribanceira. Aliás, tombo que o salvou do pior. Ficou inconsciente camuflado entre folhas.
Quando acordou no outro dia não tinha mais a forma bestial de um lobisomem, mas estava perdido e triste. Não poderia voltar, para o bem dele e de Maria Lucia. Tinha que sumir no mundo. Andou por dias e noites, com fome, sede e suplicando por uma chuva, que nunca chegou.
Anos se passaram. As irmãs de João se foram. O coronel morreu. Maria Lucia casou-se com o filho do prefeito. Um sujeitinho afeminado e bobo. Até hoje Maria pensa em João e toda noite de lua cheia olha de esguelha para a janela. Ao longe sempre escuta um ganido. Alto e triste. O uivo do sertão.
** este texto foi selecionado pelo 8º Prêmio Maximiano Campos de Literatura 2012. fiquei em 4º lugar. entrou em um livro. vamos ao texto. ah, por vezes vocês vão me ver escrevendo sem letra maiúscula. faço isso mesmo. beijos.
Tudo o que ele queria era um pouco de chuva. Andava por aquele sertão às cegas. Sem água, sem abrigo, faminto. As roupas, já perdera quase todas. E estava com medo. Muito medo. Fazia três noites que havia fugido. A cidade inteira o perseguiu. A fúria deles deixou marcas em sua pele. Dois ferimentos graves nas costas, um dedo quase decepado e muitos hematomas nos braços e nas pernas. Só pensava em Maria Lucia. Doía-lhe o coração imaginar que nunca mais iria vê-la.
Poucos meses atrás se conheceram numa quermesse. João não era muito de rezar, evitava entrar na paróquia, mas naquele domingo quente o maior evento da cidadela era a tal feirinha da igreja. Lá foi ele com a melhor roupa. Simples, gasta, mas a melhor.
João foi criado pelas irmãs. Eram sete. Ele, o oitavo, nasceu homem. A mãe morreu no parto e o pai matara o avô e depois morreu sem que ninguém conseguisse explicar muito bem como.
Na festa se encantou com a menina que estava em frente à barraca da pipoca. Trocou olhares com Maria Lucia e foi o bastante para se apaixonarem. A festança estava animada. Muita música, comidas e o pai de Maria, o Coronel Salviano, dando discurso. A cidade era praticamente dele.
Depois daquele primeiro encontro João arranjou um jeito de ver Maria todos os domingos na saída da missa. Como era muito pobre não dava conta de levar uma prenda sequer para presenteá-la. Também não tinha coragem de roubar flores que enfeitavam os túmulos do cemitério perto de onde morava. Então levava o sorriso. Toda vez que ela saia, estava ele do lado de fora, de chapéu em punho para cumprimentá-la.
Um dia tomou coragem para convidá-la para um passeio.
- Na próxima semana, então? Perguntou esperançoso.
- Sim, aceito, disse Maria em sussurro. Mas não deixe meu pai ver você ao meu lado. E saiu às pressas sob o olhar firme do pai severo.
João nem acreditou. Maria Lucia, a filha do coronel iria passear com ele. É muita felicidade para um caboclo simples como eu, pensou com seus sapatos velhos. Foi correndo para casa contar a novidade para as irmãs. Nenhuma se deu o trabalho de
ouvir. João não era tão bem quisto como gostaria. Duas das irmãs eram muito doentes. Outras duas já haviam morrido. Uma casou, a outra foi morar na cidade grande e a mais velha cuidava de todos. Não tinham tempo para as conversas de João.
Ansioso, João contava os dias da semana. Nem a lida dura debaixo do sol esmoreceu a vontade que sentia de ver Maria Lucia. E finalmente a sexta-feira chegou. Encontraria a menina na praça, em frente à igreja. Tomou um banho caprichado, vestiu novamente a roupa de domingo e se encheu de coragem. Ensaiava o que dizer enquanto ia ao encontro dela. Ficou sentado esperando seu grande amor. Ela apareceu, acompanhada de uma criada, que logo foi comprar sorvete para todos. Foi a oportunidade que tiveram de ficar sozinhos. Nervosos comentaram futilidades sobre o clima quente e a falta de chuva.
- Maria Lucia, sei que sou simples, mas sou trabalhador, honesto, será que seu pai permite que eu lhe faça a corte, perguntou João.
- Ai meu Deus. Meu pai me mata se souber que encontrei você. De maneira alguma ele vai permitir isso, retrucou a menina.
Mas João não desistiu de Maria. Continuaram os encontros, que logo foram se tornando mais e mais amorosos. Numa sexta-feira, o namoro demorou mais do que o habitual e uma lua cheia, viçosa, gorda e brilhante surgiu no céu para espanto do casal.
- Nossa João, olha que linda, comentou a moça. Foi então que levou o maior susto de sua vida. João estava transfigurado. Deixava de ser aquele homem romântico e apaixonado e aos poucos tomava a forma de um lobisomem de quase dois metros de altura. Maria ficou apavorada. Gritou e saiu correndo. A fera foi para outro lado uivar para a lua que se exibia atrás das nuvens.
Na manhã seguinte metade do gado do coronel amanheceu morto. Havia sangue espalhado por quase todo o sertão. Ninguém conseguia acreditar em tal massacre. Logo começou a caça aos predadores naturais. Homens planejavam emboscadas, fizeram turnos de vigilância, mas nenhum animal apareceu para reivindicar os crimes.
João sabia. Era ele. Ele sabia, mas não podia acreditar. Desde pequeno ele sentia coisas estranhas nas sextas-feiras à noite. Todo o corpo doía, uma constipação tomava conta dele. E quando calhava de ser noite de lua cheia ele tinha os momentos de
esquecimento. Simplesmente apagava e não tinha ideia por onde andava. Quando criança as irmãs trancavam ele no quarto. Sozinho e com medo não entedia o que estava acontecendo e ninguém explicava. Cresceu um adolescente calado e recluso. Até o dia em que conheceu Maria Lucia. E as irmãs não o trancafiavam mais.
Depois de vários dias de tocaia os homens da cidade esqueceram a vigília. Tocaram suas vidas, o coronel fez a limpeza nas terras e seguiu-se a rotina. Maria Lucia estava traumatizada, em pânico.
João tomou coragem e foi visitar a menina. O coronel escorraçou o rapaz da fazenda. Mas ele não se deu por satisfeito. Implorou para a criada entregar a Maria um bilhete que escreveu com os poucos garranchos que aprendera por acaso. Nele dizia: “Perdão. Eu não quis assustar você. Se me ama, encontre-me novamente no mesmo local hoje à noite. Se não aparecer, saberei procurar meu lugar. Com afeto, seu João.”
Maria Lucia foi ao encontro. Abraçaram-se demoradamente e um beijo de amor selou a vida dos dois para sempre. Mas eles não estavam sozinhos. Os jagunços do pai de Maria seguiram a garota. Foi uma briga para Maria ceder e acompanhar os homens do pai dela. Gritou, esperneou, chorou, mas carregaram-na a força. Não podiam machucá-la afinal era a filha do patrão. Quanto ao João, depois de uma boa surra mandaram que corresse sem olhar para trás. E assim ele fez. Mas não foi muito longe. Ficou alguns dias escondido nos arredores da cidade.
Não resistiu a distância e logo estava escalando a janela de Maria. Queria que ela fugisse com ele. Combinaram local e hora. Mas Maria dessa vez não apareceu. João sentiu como se uma faca atravessasse seu coração. Não poderia mais viver. Sem Maria não havia sentido. Saiu em direção ao sol, sem rumo, pronto para morrer.
A noite chegou e sem que se desse conta a lua trouxe novamente as dores para seu corpo. João se transformou. Mesmo a fera sem consciência sabia que o coração dele pertencia a Maria Lucia . Correu em direção à cidade. Desta vez foi flagrado. Logo homens se armaram, mulheres recolheram os filhos e trancaram as casas. Em punho cruzes, crucifixos e água benta.
O monstro se esgueirou felinamente até a janela de Maria Lucia. Soltou um uivo dolorido e alto. Maria abriu a janela e olhou bem firme nos olhos dele. Ficaram se
encarando. A moça com pena daquele ser desamparado, o monstro com medo de machucar a moça. Ela disse:
- João, eu quis ir, mas meu pai me trancou. Agora vai embora, ele vai te matar. E o bicho meio lobo meio homem apenas olhou para baixo, numa meiguice inacreditável. E sumiu nos campos.
A perseguição então começou. Atiravam pedras, toras, davam tiros. As balas não eram de prata, mas feriam o animal. Ele sentiu quando um candelabro da igreja foi arremeçado em suas patas. Foi assim que quase perdeu os dedos. Também sentiu dor quando escorregou e caiu de uma ribanceira. Aliás, tombo que o salvou do pior. Ficou inconsciente camuflado entre folhas.
Quando acordou no outro dia não tinha mais a forma bestial de um lobisomem, mas estava perdido e triste. Não poderia voltar, para o bem dele e de Maria Lucia. Tinha que sumir no mundo. Andou por dias e noites, com fome, sede e suplicando por uma chuva, que nunca chegou.
Anos se passaram. As irmãs de João se foram. O coronel morreu. Maria Lucia casou-se com o filho do prefeito. Um sujeitinho afeminado e bobo. Até hoje Maria pensa em João e toda noite de lua cheia olha de esguelha para a janela. Ao longe sempre escuta um ganido. Alto e triste. O uivo do sertão.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
A profundidade da infância
Escrito por
Juliana Bolzan
Para Luiz Henrique
Quando te conheci nos teus profundos olhos negros pude sentir uma energia incomum. Vives no meio do caos, onde qualquer outro ser humano, talvez não sobrevivesse.Vocês tão pequenos, são frutos
não sabemos bem do que, se de amor ou descuido. Fazem parte da minha vida por ofício do destino. Dessa vida? Ou de outra vida? Uma paixão que não precisa ser explicada, por essa gente pequena, que muito me engrandece.
Tua mente, por alguns, foi considerada de um louco, já eu desde a primeira troca de olhares, te considerei um gênio. Com toda a nobreza que a existência de um tem.
Teus desenhos, de alguma maneira, sempre manifestam alguém além dos gritos e brigas. Mostraram-me como que a mente humana realmente é. Tuas gargalhadas incansáveis demostram a profundidade do teu ser.
Mas de todos os motivos, que fazem de mim uma admiradora convicta de tua pessoa, o maior de todos, é a tua frase, já dita mais que uma vez: “tia, tu tem olhos diferentes.”. Dessa forma entendo-te por inteiro.
A imagem que hoje tomou conto da minha mente, e ali ficará: são teus pequenos passos lentos, ao lado de tua mãe, e mais um bocado de gente que não sei quem é, pois o único que me importava, era tu.
Teus passos, em meio a toda a terra, e só terra...
E saber como tu mesmo disseste: “Eu sou da cor chocolate.”, te perguntei então: “E eu que cor sou? Posso ser chocolate também?”, “Pode, mas tu é chocolate branco.”
Que assim sejamos doces como chocolates...
Tua mente, por alguns, foi considerada de um louco, já eu desde a primeira troca de olhares, te considerei um gênio. Com toda a nobreza que a existência de um tem.
Teus desenhos, de alguma maneira, sempre manifestam alguém além dos gritos e brigas. Mostraram-me como que a mente humana realmente é. Tuas gargalhadas incansáveis demostram a profundidade do teu ser.
Mas de todos os motivos, que fazem de mim uma admiradora convicta de tua pessoa, o maior de todos, é a tua frase, já dita mais que uma vez: “tia, tu tem olhos diferentes.”. Dessa forma entendo-te por inteiro.
A imagem que hoje tomou conto da minha mente, e ali ficará: são teus pequenos passos lentos, ao lado de tua mãe, e mais um bocado de gente que não sei quem é, pois o único que me importava, era tu.
Teus passos, em meio a toda a terra, e só terra...
E saber como tu mesmo disseste: “Eu sou da cor chocolate.”, te perguntei então: “E eu que cor sou? Posso ser chocolate também?”, “Pode, mas tu é chocolate branco.”
Que assim sejamos doces como chocolates...
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Mais um ano....
Escrito por
DBS
Mais um ano pra frente do começo
Menos um ano atrás do fim
4 novas estações
Indo
Vindo
Voltando
Muito a viver
Nada a levar
Pensar
Pausar
Continuar
Caminhar
Apenas caminhar
Quem sabe sonhar?
Quem sabe um novo amanhecer?
Um novo anoitecer?
Nada saber
Nada levar
Apenas caminhar....
domingo, 13 de janeiro de 2013
Noite de lua cheia
Escrito por
Rafael Cal
Antes da primeira postagem do ano, gostaria de fazer uma propaganda. Mas é bem rapidinho.
Na próxima quinta-feira, o espetáculo "O quarto de Bianca" do meu grupo de teatro vai estar em São Paulo. Gostaria de convidar os colegas de blogue e leitores que morarem ou estiverem na cidade. Vai ser muito legal encontrar vocês lá!
Serviço
de Rafael Cal
com Renata Egger
realizado pela Interferência Companhia Teatral
no Mundo Mundano (Rua Mourato Coelho, 25 - Pinheiros - São Paulo)
dia 17/01, quinta-feira
às 20 horas
informações: contato@mundomundano.com.br ou 2359-7444
Então, estão todos convidados. Não se acanhem e vão assistir. Se puder contar com a presença de vocês, ficarei muito feliz.
Abraços a todos
Rafael Cal
E vamos ao texto de hoje!
Noite de lua cheia
Escrito por Rafael Cal
É uma noite de lua cheia.
Ele e ela caminham pela rua.
- Cheia.
- Linda, né?
Ele diz, apontando a lua.
Ela não tinha visto.
E não aguenta mais.
- De você.
sábado, 12 de janeiro de 2013
O que estarão fazendo neste momento?
Escrito por
Daniel Delgado Queissada
Algum dia você já se pegou pensando: onde estão todas as pessoas importantes que passaram por minha vida? O que estarão fazendo neste momento?
Sabemos o que aconteceu, mas como saber o depois
Depois que passamos, quem ficou?
quem deixamos? quem nos deixou?
O que estão fazendo agora? Não sabemos
Pois fomos embora
Ou embora nos mandaram? Como saberemos?
Não importa, dê o primeiro passo você mesmo e siga sua estrada
Mas percorra com cuidado, pois nem tudo que reluz é ouro...pode ser prata
Todos estarão sempre com você
Viajando de carona nas sinapses
E aguardando a hora de aparecer
Geralmente estamos dormindo quando não queremos sonhar
Pois acordados é que torcemos para aquela sombra personificada abrolhar
Nãããooo....será?
Posso ser tão masoquista assim?
Mas bem que gostaria de saber o que todos estão fazendo...enfim
Amigos, amantes, inimigos, semelhantes
Todos importantes, pois são a soma de tudo que somos
Nosso caráter é o próprio filho de Frankenstein
Cada pedaço emprestado por mal...ou por bem
Aguardo com meus pensamentos
O momento certo de encontrar
Até lá....sigo com alguém ou com a solidão
Que me sentencia a culpa de achar
Achar que eu errei o caminho
Perdi-me no labirinto
Escolhi o horizonte vertical
No momento em que tudo parecia real
Mas na realidade todos os caminhos atrelam-se em um só ponto
Mesmo que estradas labirintídicas estejam no caminho
Ao final todos estejamos prontos...para o encontro
Vejo vocês lá, e estarei tranquilo
Agora conservo meus pensamentos
Hirtos até o momento
De com todas essas pessoas sonhar
Pois acordados temos medo de nunca conseguir encontrar
E agora...o que estarão fazendo neste momento?
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
PORQUE HOJE É SEGUNDA-FEIRA
Escrito por
Pablo Treuffar
PORQUE HOJE É SEGUNDA-FEIRA
Jardim Botânico
Lagoa Rodrigo de Freitas
Manhã de céu azul
Segunda
Dirijo fumando
Baseado
Nas Bundas
Maravilhosamente Cariocas
Cheiro de Bucetas matinais
Buças vira-latas
Não bocetas Lusitanas
Rachas pedalantes
Odores suados e sacanas
Rabos empinados nas bicicletas piscantes
Envolvendo deliciosas vias
Ciclovias
Um tapa no green
Delírios verdinhos tomam conta de mim
Rabeiras insanas correm pintadas no verde sombreado das árvores
Refletem nas águas de Freitas
Gaivotas e garças
O Cristo de braços abertos
Mulheres
De pernas
Pedalam tecidos colados
Cidade Maravilhosa
Redundantes ancas redondas
Cair em tentação
Dai-me todo mal
Amém
Rio de Janeiro
Lascividade cativante
Quero todos os cus tesudos das fêmeas
Seios batem palmas
Servidos decotes
O relógio marca
Trinta e dois graus
Oito horas e cinquenta e sete minutos
Rajada de vento
O sol brilha bocejando preguiça
Tudo que eu gosto
Dou outro tapa no verdinho
Ilegal
Imoral
Não engorda!
Poetizo leve calmaria
“Rosa Rubra
Radiante Ruptura
Rebolado Ressonante
Raridade Regional”
Sigo pelo túnel Rebouças
Rebuças
Dirigindo e fumando
Estou
No Rio
Comprido
Poluição
Saudades da Lagoa
Chego à Comunidade da Mangueira
Trabalho
Abrindo e fechando processos
Sentado à minha mesa
Sei que nada será como a praia
Pensamentos vagueiam
Uma loira
Outra morena
Aparecem na porta
Abertas
Dois sorrisos
Rostos colados
Douradas
Sinto arrepios
Vontade
A morena
É o ouro da Bahia
A loira
Faz praia em Niterói
Elas são
Refinadas consortes
Rimas risonhas
Do jeito
Renascentistas
Eu quero
Destrinchá-las
Sem fim
Porque hoje é segunda-feira
Pablo Treuffar
PORQUE HOJE É SEGUNDA-FEIRA de Pablo Treuffar é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
A VERDADE É QUE EU MINTO
domingo, 6 de janeiro de 2013
Astronomy Domine
Escrito por
Carlos Cruz
e eis que a raça humana adentra o limiar de uma nova era. irmãos, não temam o porvir pois nada é tão ruim que não possa piorar, disse o pajé nimbu negro no dia em que tupã espirrou furioso os ventos que sopraram e derribaram nossas tabas, despertando os deuses que montados em nuvens escuras despejaram sua raiva em forma de grandes faíscas luminosas, quentes e mortíferas. a selva, a terra, os filhos da terra, tudo virou cinzas. mas a deusa da fertilidade e da beleza chorou lágrimas de dor e sangue à vista dos cadáveres fumegantes da mãe natureza. a fumaça fedorenta da destruição fez o fluxo aumentar, as lágrimas irrigaram a terra árida que virou barro e lama. a vida brotou novamente, primeiro o verde, depois outras cores e nuances e por fim, os fungares espreguiçantes. o ciclo se repete, sempre. vida produz morte que produz vida que produz morte. transponde o portal, irmãos, sem temor, sem rancor, sem pudor. a grande orgia milenar vai começar!
Carlos Cruz - 20/12/2012
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Quando os anjos não respondem
Escrito por
Deveras
Primeiro foi a espera do fim de uma noite que não acabava... Embora
deitado, acordado estava. Um rolar incessante por toda a madrugada, o corpo
parecendo estranhar os próprios lençóis. O aguardar do dia é tão cruel quanto
os momentos que antecedem um veredicto. O que será de mim depois destas horas,
somente o encontro pode dizer... O banho e a preparação me parecem serem os
últimos a que me darei o luxo de fazer. Pelo menos por um tempo. Um café
frugal, com cereais e frutas, tem o gosto da refeição do condenado. Espanto pensamentos
ruins; apesar da esperança acompanhar-me, não prevejo bonança, nem tempo bom.
Essa dicotomia de expectativas me enerva e se apodera lentamente de mim e dos
vários seres dos quais sou miseravelmente composto.
Saio de carro em pleno trânsito da metade do dia. Percorro ruas
insólitas e desertas, domingo é sempre assim, um prenúncio do fim do mundo,
quando as almas humanas não mais andarem sobre esta terra. Isso se dá até o
estuário de pessoas que é um terminal rodoviário. O enxame delas me faz refletir
se realmente teremos alguma chance de continuar por aqui... Mas não, em cem
anos, nenhum destes estará sorrindo ou sofrendo. Seguem suas existências como a
colméia que são, pululam de lá para cá sem se verem, tocarem, sentirem. Sinto
isso de longe. Distanciado dos demais, aguardo. Em algum instante, o contato
será feito. Ando de um lado para o outro, uma besta enjaulada nos próprios
pensamentos.
O grande animal de dez rodas estaciona e após um séqüito de
passageiros lentos e desobrigados, eis que surge em meio aos outros, quem eu
esperava. Não... Somente parecer ser quem eu esperava. Mas mesmo não me
reconhecendo completamente, aceita minhas saudações: um tímido beijo e um
abraço temeroso. Abraçar um iceberg
seria menos gélido. Segue-me como seguiria um cão guia, deixa-se levar por
entre lojas e postos bancários; atravessa o estacionamento notando o suor de
minhas mãos.
Cruzo a cidade novamente, tentando impor ênfase na voz que teima em
se manter trêmula. Por várias vezes preciso de concentração para que minha
palavra soe natural como o arrulho de um pombo, mas neste processo me perco nos
caminhos de minha própria cidade. Os locais que havia demarcado para serem
percorridos somem todos da minha mente e dou voltas e voltas sem sair do lugar.
Com a conversação acontece o mesmo, tudo gira várias e várias vezes, estou tão
tonto e desconexo!
O destino nos encaminha então para mais um dos poços de vaidade, um
local aprazível aos que ganham e se refastelam. Acomodamo-nos em meio a eles,
como cães bem domesticados. Estamos no meio dos outros-que-vivem, que comem,
bebem, mentem, sentem... Sinto-me um deles, por instantes. Quero meu lugar na
mesa dos despreocupados, dos que só pensam em seu próprio bem. Eu mereço,
afinal já me importei por demais com os outros e agora busco um pouco de alento
para o meu ser. E esse alento, neste momento, e em vários outros é ela, que
descortina o rosto impassível em minha direção.
Trata-me agora de outra forma. Busca acalmar os ânimos, preparar o
novilho para o abate. Uma presa assustada não dá bom sangue, nunca. Os
primeiros acordes de Don Giovani ficam reverberando na minha cabeça, o lento e
agônico Wolfgang Amadeus desiludido da vida. O vai e vêm das incertezas, o
compasso trágico daqueles minutos... Par
delicatesse, j´ai perdu ma vie![1]
Eu ali, cheio de pudores e temores, um vassalo em busca da satisfação de quem
lhe comanda o destino, um perdido tentando apontar caminhos sem nem ter sido
consultado ainda... Ah, que lê temps vienne, Où les coers
s´enprennent.[2] O
ardor, onde andará aquele belo e saudoso ardor? Apossamo-nos de bebidas que não
fermentam o cérebro (já tão acelerado, coitado), e fazemos aquele que será o
brinde de Sócrates, o brinde da verdade, a saudação do veneno ingerido. Apesar de tudo o que aparentemente representamos
um para o outro... Apesar das juras e promessas, das experiências e de toda
recordação boa que ainda resta.
Essa forma sutil de repulsa e nojo... Que só pode ser tocada pelos
meus dedos longos.
O meu desespero se eleva. Eu a estou perdendo, gradativamente
escapando-me pelos dedos e não sei como a perdi, se foi para outro, se para o
destino, para o maldito momento ou se por ser quem eu realmente sou. O que me
enlouquece é essa falsa falta de nexo pois tudo o que acontece tem um motivo e
um porquê... E não me foi nem ao menos dada uma razão plausível. Um simples
“acabou”, seco e definitivo como a queda da última folha de outono. Meus campos
já se encontram sob o manto da neve dos sentimentos dela, não há mais raios de
sol no seu olhar. Vejo somente uma grossa calota onde antes havia fogo e
paixão, essa visão mortífera que me direciona, que me aperta contra as cordas e
acelera a contagem para o nocaute... Estou zonzo e finjo não cambalear, não
abaixo a guarda, mas mesmo assim sou atingido diversas e repetidas e
incontáveis vezes, golpes profundos que não só dilaceram minh´alma, mas que
tentam estrangular o amor que ainda teima em se fazer presente. Como um
sentenciado perante o pelotão de fuzilamento, olho em frente e mantenho a visão
firme a duras penas, tentando disfarçar os graves gritos nos quais meu ser
agora se esvai. Tento ser amável apesar do riso fraco, procuro ser gentil ainda
que a explosão seja iminente, faço meu melhor papel de descontraído, traindo
meus próprios sentimentos que me ordenam que me lance dali para fora, que
atinja o mundo com a minha revolta...
Ela que já me foi promessa de futuro multicor, encerra em meu peito
agora um punhal sem cores... Tinge-o com o rubro do meu ser, quase prazerosamente...
Para completar o quadro do desastre, meu outro ser, o que me acusa
por todos os insucessos que tive, tenho e terei, pelas misérias por que passei ou pelos erros
que nem mesmo cometi, este que me olhava triunfante, cercado por tudo aquilo que
eu abandonava, ele do espelho, se escancara em deboches, dizendo novamente que
estou na lona, com o gongo batendo em alto e bom som a minha derrota, os gritos
do público e a ovação dos outros-que-vivem... Eles estão a salvo, mais uma vez,
pois não lhes penetrarei o território por um bom tempo, terei que voltar para
as sombras, pois à elas que pertenço, eu e todos os que comigo andam... Párias.
Clamo aos céus uma prece muda, mas não há vislumbre de haja qualquer
tipo de salvação, a redenção não se completa para o suplicante. Ela tenta me
lembrar por diversas e longas vezes que ainda guardo algumas parcas e inúteis
qualidades, que tenho sim, qualquer tipo de bondade. Meu outro, aquele que se
esbalda com minha queda, cinicamente ri de tudo isto: “O que te adianta tudo
isso, pobre diabo? No fim, estará tão só quanto eu, pois somente lhe restará a
mim, como sempre foi e sempre será!” – Tento fazer com que ele se cale, mas
seus gritos são por demais fortes para serem abafados, sua dor, a minha dor, é
que lhe dá força e consistência para tal... Olho para minhas mãos e as sinto
tremer, já não tenho argumentos, e ainda preciso manter enclausurado este
monstro que se arvora dentro do ser, que cresce na adversidade e por fim tomará
conta das minhas ações... Já não há mais o que fazer aqui. Já não tenho palavras,
emudeço a cada sílaba que ainda consigo dizer. Ela partirá em breve, talvez nem
nos vejamos mais. A distância que nos separa deixa flagrante o desconforto de
ambos. Esta é a senha para seguir meu caminho. Não peço clemência e nem ela
demonstra qualquer disposição para oferecer tal coisa. Utilizando das últimas
forças, levanto-me lentamente e dou-lhe o beijo da despedida, de adeus, do fim.
Caminho para o veículo sem demonstrar o quanto estou trôpego e sem rumo. Antes
de sair ainda lhe dirijo um derradeiro olhar... Imponente, já se armou outra
vez com seus escudos espelhados a adornar o rosto, impessoais como o frio aço
de uma baioneta. Perdido, está tudo perdido...
Ainda consigo dirigir alguns metros antes de ser vencido. Pelo
retrovisor, vejo que quem está no comando agora é o Outro, e já não tenho
condições de enfrentá-lo. Sádico, me lança no rosto todo o meu fracasso e ainda
recomenda:
− Odeia-a com todo o seu amor e tente amar esse ódio. Só isso irá te
salvar. – discordo mudamente. Não... Não farei isso. Deixarei que ele aplaque a
sua dor e um tanto bom da minha, mas não seguirei este funesto conselho. Ou
tudo o que vivi perderá o valor.
Acompanho-o a vários lugares lúgubres onde se aparelha de vários
vícios que havia conseguido deixar pelo caminho, uma corrida insana em busca da
sanidade, do autocontrole...No vale da sombra da Morte ao som da dor das horas,
entre baforadas e longos goles, esse ser que me conduz violentamente pelos
caminhos, grita e vaticina:
−Não há nada de especial no mundo! Não há nada de especial no mundo!
Uma carreta em sentido contrário. A velocidade excedida e os
reflexos perdidos, embotados. Os gritos que não cessam, até o abrupto choque de
massas, suculenta manchete para o dia seguinte:
− Não há nada de especial no mundo!
A testa está
banhada de suor e o telefone não para de tocar:
− Alô... –
sonolento e quase fora da realidade.
− Oi amor, tava
dormindo?
− Hã?...Ah, sim,
claro...
− Sonhou comigo?
− Na verdade,
tive um pesadelo... Mas já passou.
* Conto integrante do livro premiado na Bolsa de Publicações "Hugo de Carvalho Ramos", da União Brasileira de Escritores, seção Goiás, a ser publicado em breve...
[1] “Por delicadeza, eu perdi minha vida”. Verso de Chanson de la plus haute tour, de
Rimbaud.
[2] “Que venha a hora, que as almas enamora” idem.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
lobotomia
Escrito por
Larissa Marques - LM@rq
optou
pela convergência
total
do nervo ótico
uma
vez pinçada
a
visão devotar-se-ia
à
iniquidade crua
do
que antes
só
um borrão
mas
o cérebro
reprimiu-se
frágil
na
opção da miopia
sucumbiu
diante
de
tudo.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Último Capítulo
Escrito por
Flá Perez (BláBlá)
Seria tão mais fácil estar em novela da Globo,
onde após o auge
tudo se resolve.
Tenho andado por demais no clímax,
ápice,
do momento-chave
e nada acontece,
nenhum acidente grave,
morte, tsunami,
não chegam ets pilotando naves
com a resolução de todos os problemas
para me oferecer.
o meu roteirista é incompetente
ou deve ter Alzheimer.
onde após o auge
tudo se resolve.
Tenho andado por demais no clímax,
ápice,
do momento-chave
e nada acontece,
nenhum acidente grave,
morte, tsunami,
não chegam ets pilotando naves
com a resolução de todos os problemas
para me oferecer.
o meu roteirista é incompetente
ou deve ter Alzheimer.
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Oração do Dia
Escrito por
Giovani Iemini
amém, não!
AMEM.
em verdade,
maomé, o torá e
até JC pediram:
amem!
o amém deixem
aos prostradores
em suas esquisitices.
AMEM.
em verdade,
maomé, o torá e
até JC pediram:
amem!
o amém deixem
aos prostradores
em suas esquisitices.
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