segunda-feira, 25 de março de 2013

tenho dias

Em que tudo me parece cretino. Os dramas alheios porque chove na primavera, porque o verniz não saiu bem no tom, porque estão com dois quilos a mais, porque pisam merda, porque a neurose se instalou.
Tenho dias em que me apetece parar o mundo e começar a distribuir chapadas para acordar as pessoas, eu incluída.
Dias em que tudo deveria ficar parado, ainda que por míseros segundos, em homenagem a quem tem problemas de verdade.
Tenho dias em que me apetece parar para agradecer o que tenho e não deixar que a sombra supere sempre o sol. Não deixar mesmo. Fincar os pés em terreno firme e gritar para quem quiser ouvir que tenho as coisas que importam.

sábado, 23 de março de 2013

Quando nos plagiam os sonhos no Chalet Saudade

Sempre que passava por aquela casa naquela rua cheia de casas de encantar, dizia em voz alta:
E se largássemos tudo e abríssemos um bed and breakfast aqui mesmo? Quanto é que achas que custa uma brincadeira dessas?
Recuperávamos a casa, plantávamos árvores de fruto, servíamos lanches e recebíamos pessoas de todas as partes do mundo. Teríamos uma selecção de chás e cafés e queijadas e roteiros e livros, numa pequena sala com lareira. Os quartos teriam nomes de escritores, ou de romances passados em Sintra e seríamos felizes assim.
Esta casa tem qualquer coisa que não conseguimos evitar. Como se tivéssemos que parar e olhá-la, imaginando-lhe enredos passados.
Pois, anteontem descobri que houve alguém que se lembrou de sonhar assim e ousar dar vida ao sonho e eis o resultado


Chalet Saudade, muito provavelmente relacionado com o maravilhoso Café Saudade. Se tiver metade do encanto do café, será de sonho, do meu sonho.

sexta-feira, 22 de março de 2013

...

Sempre que passo naquela pequena estrada, de manhã bem cedo, vejo-o.
Uma mão pendurada e sem vida, baloiçando ao som dos passos hesitantes. Inclinado para a frente, como se fosse cair a qualquer instante.
O rosto deformado por uma paralisia e uma das pernas mais frouxa do que a outra.
Óculos de massa preta, boné de feltro preto.
Com o esforço, o seu rosto adquire uma expressão aflitiva que não consigo definir, como se lutasse por cada lufada de ar conquistado, por cada centímetro de chão pisado com o pouco vigor que possui.
É um homem idoso que caminha todas as manhãs por aquela estrada sem passeios, sem abrigo dos carros que passam indiferentes, sem apoio de bengala, nem de braço alheio.
É um homem idoso que caminha só. Mas que continua a caminhar, como se parar significasse morrer, ou ter que pensar na morte.
Também ele foi um jovem bonito, também ele teve sonhos, também ele namorou, sorriu e julgou poder ficar assim eternamente.
Também ele foi o filho, o marido, amante, pai, avô de alguém.
Também ele sente.
Dizem que o que mais assusta nisso da idade que avança, é o envelhecer mal.
Eu digo que o que mais me assusta nisso da idade que avança, é o envelhecer mal e só.

Então parece que

é moda os homens depilarem-se?
Mas onde andam vocês com a cabeça, homens-que-se-depilam-por-livre-e-espontânea-vontade?
Um dos grandes privilégios de nascer sob o sexo oposto, não é não terem o período, nem filhos, pois compensarão mais à frente com problemas de próstata. O Grande P, de privilégio, era (sim, no passado) precisamente não terem que sujeitar-se à tortura da cera. Vai daí decidem que é essa parte da rotina feminina que querem copiar?
A sério?

quarta-feira, 20 de março de 2013

Dizer "ciganos"



Ando aqui às voltas com este título. Não por mim, mas pelos defensores da moral e dos bons costumes, que devem já andar a elaborar petições para que se termine de vez com o preconceito desprezível de dizer, ou escrever "cigano".
É isso e, esta descobri há pouco tempo, dizer "jeovás".
Diz que é desprezo e que ofende.
Chibatar-me-ei em penitência, enquanto repito mil vezes: A partir de hoje apenas dirás: Pessoas de etnia cigana, testemunhas de Jeová. Ou melhor do que isso, dirás apenas Pessoas, sem distinção de qualquer espécie.
Quando eu não souber de um amigo, direi apenas:
Viste o meu amigo?
Qual amigo, como é que ele é?
Olha aí o preconceito desprezível! É uma pessoa.

humidade

Quem aqui veio em busca de um post erótico, desengane-se. A humidade que dá nome a este desabafo é outra, bem menos escandalosa.
É a humidade que come lentamente esta casa, que lhe devora as entranhas, até sobrar apenas um rasto negro, ou verde, consoante a superfície.
Hoje, com o sol a ressuscitar e a primavera a oficializar-se no calendário, decidi limpar um dos armários e a vontade que se abateu sobre mim, quando comecei a tirar cenas lá de dentro, foi a de fechar de novo a porta e não lidar com a realidade húmida daquele armário.
Fechei, abri, fechei, abri, fechei. bebi café. abri. Luvas de borracha, lixívia. fechei. tirei luvas. abri. café. fechei. chorei. abri.
Limpei. Abri janela e comecei a atirar tudo borda fora.
Sei que o limpei para nada, pois a única solução para o problema é comprar um desumidificador gigantesco e enfiar a casa dentro dele.
ODEIO HUMIDADE. ODEIO.

terça-feira, 19 de março de 2013

Luísa Castel Branco

A entrevista da Luísa Castel Branco ao Daniel Oliveira foi, muito provavelmente, a melhor de sempre. Ela quase destronou a entrevista do Miguel Sousa Tavares. Mas como sou estupidamente parcial em relação ao Miguel Sousa Tavares, ele continua no número 1.
Mulherão forte, frágil, sensível, racional, Mãe.
Fez o favor de me dar a conhecer uma frase magnífica de Saint Exupéry:
"Eu sou da minha infância, como se é de um país", no sentido de que a infância, quer queiramos, quer não, nos define de forma inexorável. Tal como traremos sempre as nossas raízes, o nosso país nos nossos genes, também a forma como vivemos a nossa infância ditará a forma como seremos pais, quer copiando, quer fazendo o oposto, ditará as nossas inseguranças, ou firmezas, ditar-nos-á.
Sempre defendi isto, mas não sabia que existia algures por aí, uma frase que o definisse tão bem.
Depois falou no medo e nas contas e nas ponderações que todos fazemos em relação a termos mais um filho. São duas escolas, duas despesas, duas bocas, tudo a dobrar. Mas esquecemos muitas vezes que o filho único trocaria, sem pensar duas vezes, o computador xpto, o colégio privado, a roupa de marca, por um irmão.
Numa época em que os ovários se suicidam de cada vez que Passos Coelho, ou Vítor Gaspar abrem a boca, é difícil pensar assim, bem sei. Mas não deixa de ser uma grande fonte de reflexão...
E é isto. Com uma simples entrevista, espremi sumo para várias horas de produção de pensamento.

segunda-feira, 18 de março de 2013

A vida virtual

Estamos a ler um livro, participamos os progressos no Goodreads, depois damos estrelinhas.
Estamos a passar por um passarinho pendurado num galho, o nosso puto olha o passarinho e nós partilhamos no instagram.
Jantamos com amigos, fotografamos a comida e os copos e partilhamos no facebook.
Sentimo-nos ansiosos, partilhamos no twitter.
Sentamo-nos num cinema a ver um filme, fazemos o check-in numa aplicação cujo nome não me recordo.
Começamos a seguir uma série, partilhamos com outra aplicação qualquer.
Nasce um filho, o pai coloca o pipi da mãe no facebook, no momento de expulsão. Depois faz dessa fotografia, a sua foto de perfil.
Um filho dá os primeiros passos e sentimos que ele não deu os passos, se não o partilharmos com os 1000 amigos no facebook.
Estamos num concerto e a preocupação maior é fazer chegar aos 1000 amigos aquele momento, partilhando com smart-phones o concerto todo. Preocupando-nos mais em apanhar o cantor com o telefone, do que em ouvir a música e dançar.
Estamos a viver um desgosto de amor e enchemos o nosso mural com dizeres maravilhosamente profundos, retirados de um site com dizeres sobre todas as disposições emocionais existentes e aguardamos as reacções dos 1000 amigos.
Estamos felizes e colocamos dizeres maravilhosos sobre a felicidade e sobre o que mentes geniais pensaram sobre o assunto e aguardamos as reacções dos 1000 amigos.
Deixamos de estar num relacionamento e colocamos "solteiro" na informação de perfil. Aguardamos as reacções dos 1000 amigos.
Pedem-nos amizade no facebook. Não conhecemos essa pessoa, nunca a vimos, nunca ouvimos falar dela. Não envia uma mensagem a dizer o que a motiva a pedir amizade, mas é suposto aceitarmos para engrossar a lista de amigos.
No parque infantil, olhamos em volta e 97% das mães e dos pais escrevinha qualquer merda no smart phone.

A sério. Eu sinto que precisamos de rever as nossas vidas com urgência. Os nossos cérebros e o nosso espírito caminham para um local sombrio que me assusta à brava.
É como se o equilíbrio e a sensatez tivessem já desaparecido. Só vejo compulsão pura e dura.
Existem duas vidas. A real e a virtual. E a realidade, é que as pessoas já não se sentem bem nas suas vidas, se não as partilharem a todo o instante.

domingo, 17 de março de 2013

momento de vaidade boa

Parece que o meu livro não tem sido alvo de interesse "crítico literário", seja lá o que isso for. Mas, em compensação, tenho lido opiniões que me deixam cheia desse sentimento ambivalente chamado vaidade.
Esta opinião tocou-me de forma muito especial, pois veio de um padre :)

Entre mãos tenho um livro IMENSO e intenso, cheio de palavras, emoções, sentimentos, vida, e vidas entrelaçadas, sofrimento, paixão, estórias de pessoas e de famílias, de perdão, de conformismo, de vidas novas, com desafios à novidade, e ao compromisso, mesmo e depois de vidas falhadas. O primeiro pressuposto poderá ser mais ou menos polémico, dependendo dos olhos que o filtram. Correspondência entre uma mulher, que se separou do marido, e viajando pelo mundo encontra, em Londres aquele que pensava ser o homem da sua vida. Escreve-lhe cartas para um sítio da Covilhã, com um nome e uma morada, que não corresponde a esse amor de ilusão, mas a um padre, que lhe responde, surpreendido pela inquietação provocada.
É um texto envolvente. Do princípio ao fim. De fácil leitura. Numa escrita agradável. Faz lembrar livros do Virgílio Ferreira como "Para sempre" ou "Cartas a Sandra". Também aqui o formato mais usado são cartas, de encontros e desencontros, de esperanças e ilusões. Uma linha muito visível, a meu ver, é a defesa da família, baseada em laços de amor, desgastada pelo tempo, mas cuja aposta há de ser permanente. Um amor que se perde em busca de outro e que volta ao amor primeiro, um casal adormecido mas que decide descobrir-se de novo. Vidas marcadas pelo sofrimento, em relação aos pais, ou às circunstâncias do tempo, mas que encontram novos desafios.
Outra linha que perpassa neste belo romance, é a solidariedade. A vida vale também quando e se somos úteis a alguém.

sexta-feira, 15 de março de 2013

mas quanto tempo

leva uma mulher adulta a recuperar de uma gripe?
Estou prestes a andar por aí de crocs de pelo fofo, calças de fato de treino forradas com pelo fofo, camisola polar fofa, rabo de cavalo desgrenhado, abraçada a um dos peluches da minha filha e com um tampão em cada narina, para absorver a quantidade inimaginável de muco que continua a sair do meu organismo.
Não aguento mais sentir-me a mulher do muco e das dores musculares.
E a ferida, meu Deus, a ferida que está plantada debaixo do nariz? Uma mancha vermelha inflamada, que dá todo aquele look sensual de quem andou a dar na coca.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Os perfeccionistas

que andam à cata do erro, do deslize na ortografia, da distração alheia, da merdice e merdite, para depois exibirem a descoberta, com pedantismo intelectual, dando lições aos incultos, são a viva prova de que ainda existem muitas pessoas que deviam passar mais tempo a lavar o cérebro no bidé.
Chlape, chlape, chlape, é um som que deviam ouvir com mais frequência.

e eu, estupidamente, pergunto:

Como é que é possível ficarem indiferentes a toda a cena do conclave?
A sério. Não há coisa mais fascinante, no mundo das coisas catolicamente fascinantes, para mim. Adoro tudo.
Pudesse eu infiltrar-me e fazer um buraquinho num dos olhos de Adão, na Capela Sistina e ficaria ali a espreitar tudo o que sempre foi negado ao comum dos mortais em geral e às mulheres em particular.
Adoro a especulação em torno do futuro papa e adoro que nunca acertem.
Adoro o mistério de não se saber até ao ultimo minuto quem será o novo papa e de não haver rigorosamente nenhuma fuga de informação.
Adoro quando o novo papa se aproxima do balcão e põe os olhos na multidão da praça de S. Pedro (onde já estive por duas apaixonadas vezes e desejo ir por mais não sei quantas).
Adoro a multidão comovida e as bandeiras e as cantorias e a espécie de paz construída em torno dos olhares que contemplam uma simples chaminé. Adoro tudo.
Não há motivos racionais, nem de fé para adorar, mas a realidade é que me sinto sempre compelida a visitar locais de culto.
Agora vamos esperar para ver a reacção deste papa, quando receber os documentos bombásticos que o emérito lhe vai entregar. Vejamos se não resignará ele também, quando se inteirar de toda a podridão que corre na cúria. Vejamos.

quarta-feira, 13 de março de 2013

likelikelikelikelikelkielikelikelikelike

Sem querer ofender ninguém, mas provavelmente ofendendo, alguém que me explique pelo amor do conclave, pois não consigo encontrar motivo lógico racional que me aplaque os anseios nesta questão:
Para que raio se pedincham likes em páginas-não-comerciais do facebook?
Amigos, juntos chegaremos aos 200 likes. Amigos, foi um longo e doloroso percurso até aqui, mas com dedicação, força de vontade e paixão, aqui estamos nos 200. Acreditem, emocionei-me e sei que vocês também. Dormirei com a certeza de que conseguimos este feito histórico inédito. Dormirei finalmente em paz.
Amanhã começará a dura batalha pelos 300 likes. Talvez ofereça uma vela de cheiro, ou um pauzinho de incenso ao 3ooº likeiro. Não será fácil, mas sei que posso contar com o vosso apoio e isso, de alguma forma, conforta-me.
Foda-se, acordem! Aquilo é só uma página virtual, não são as eleições da Venezuela e, o choque, o horror, a maior parte dos likes são de pessoas que se estão virtualmente a cagar para vós e que, logo de seguida, accionam a opção: Ocultar publicações desta página.
Eles não são mesmo, mesmo amigos, naquela acepção antiquada de amizade.
A menos que exista um intuito de guito por detrás da página, ou alguma coisa para vender, para salvar, ou uma causa nobre, para que vos servem os gostos, uns atrás dos outros, como coelhinhos copulando desenfreados? É a propagação da palavra do Senhor? São os jeovás?
Não? Bem me parecia. Então, concluo tristemente que existe quem meça o seu sucesso pessoal pelo número de likes alcançados nas suas páginas e isso é triste. Triste, solitário e um bocadinho assustador...

terça-feira, 12 de março de 2013

Quem é que quer juntar-se a mim?

Garrafa de 3 litros de coca-cola - Confere
3 baldes de pipocas doces e salgadas - Confere
Terços e bíblia de bolso - Confere
Moleskine para apontamentos sobre a tonalidade dos fumos - Confere
Olho de lince para os paramentos que estão In e os que estão Out - Confere

Prontinha para a maratona do Conclave. Venham eles, que eu aqui estarei para lançar opiniões em directo.

fenómeno clone



Um dos fenómenos que mais me diverte, quando enfio os pés e os olhos numa livraria, é assistir ao fenómeno da propagação das capas e dos temas.
Se Marley e Eu originou toda uma enchente de livros sobre animais de estimação e suas aventuras no mundo dos donos, com capinhas fofíssimas de gatinhos e cachorrinhos. Se o Código Da Vinci foi o fermento para centenas de livros com mistérios intricados no Vaticano e no Pelicano, eis que assistimos ao fenómeno erotismo sensualíssimo para mulherio com pipi carente.
A propagação deste novo género não necessita de muito além de uma capa parecida com a trilogia do momento. Reparem nos tons da capa, no tema fantasia sensual:
Um tem uma gravata em tons cinza mistério. Instigando assim o neurónio sensual à possibilidade de atar mãos e pés com gravatas de seda. Outro aposta no salto agulha, deixando transparecer as infinitas possibilidades que um salto alto pode proporcionar no imaginário erótico. Desde o salto no gasganete masculino, ao salto associado à meia com ligas:
Talvez se fizermos capas parecidas, o mulherio mais distraído se engane e leve este do salto alto, pensando estar a levar o da gravata. No próximo vamos pôr um laço de fraque para lançar o pânico na memória visual.
E, depois de ter celebrado, comigo mesma, o compromisso de não deixar aqui opiniões negativas sobre autores portugueses, até porque a minha opinião não é assim tão relevante, agora limitar-me-ei àqueles que não têm alertas do Google em português :)
Aproveito para dizer, que o livro da Dulce Maria Cardoso, "O Retorno", do qual já me tinham falado tanto e eu insistia em deixar para depois, é uma pérola.

segunda-feira, 11 de março de 2013

É nas cenas simples e baratas

Que se me reside todo o conforto alimentar e espiritual.
Exemplos práticos:
Ervilhas com ovos escalfados.
Ovos mexidos, com arroz de manteiga.
Carcaça (digo carcaça e não papo seco, pois para papo, já basta o meu) estaladiça com manteiga.

sábado, 9 de março de 2013

carta à filha

Fecha os olhos. A mãe agora não importa. Imagina que estás de novo dentro de mim e respira com a cadência serena do meu coração.
Aquilo que a mãe sente é apenas o que desejares que sinta. O que precisares de retirar, retira. Sem mágoas, sem nada que não desejes de mim.
Fecha os olhos amor meu. Fecha-os e sossega no meu colo. Sossega de todas as tuas dores. Farei meus os teus anseios, ainda que nada te diga deles. Ainda que nada imagines de mim, eu possuo todas as certezas sobre ti.
Não apregoarei o que me dói ver-te assim, pois nada de mim importa agora. Agora importas tu.
Apagar-me-ei em ti, enquanto afago o teu rosto febril.
Apagar-me-ei até ao ponto que te conforte.
Limparei o suor das minhas mãos, para que sintas apenas fresco na tua testa quente.
Calarei as lamúrias que desejo proferir, para que me escutes apenas o sorriso doce que precisas.
Falarei o estritamente necessário ao teu sorriso e chorarei apenas quando não conseguir evitá-lo.
Fecha os olhos, meu amor. Fecha os olhos que eu manterei os meus abertos para te velar. Não deixarei que nada te suceda, enquanto te guardar aqui, dentro do que te deu vida. Dentro de mim.
Sei que não possuo já o rumo dos teus passos. Que és agora tão pouco minha e tão diferente do que te imaginei um dia, mas conforto-te ainda, só por estar aqui. Tem que ser assim. Será sempre assim. É esse o destino de uma mãe. Apagar-se quando deseja brilhar, brilhar quando deseja apagar-se. É esse o meu destino.
Fecha os olhos, meu amor. Fecha os olhos. A mãe está aqui por ti.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Quando leio por aí

Coisas como: O dia da mulher devia ser todos os dias.
Flores deviam ser todos os dias.
Cartões deviam ser todos os dias.
Que dia tão parvo.
Também devia haver dia do homem.
Que dia sexista.
Só me ocorre deixar aqui duas imagens que falam por si.
Para as mulheres que acham, do topo da sua vidinha suburbana e segura, com os seus direitos fundamentais adquiridos, que não devem ser lembradas as mulheres.


Imagens retiradas da net.
Uma delas representa uma mutilação genital feminina, feita a uma menina.
Mulheres que são castigadas pelo simples facto de terem nascido mulheres.

É verdade, temos que lidar com idas ao supermercado e jantares para fazer e putos para criar e condições desiguais no mundo laboral, mas não me fodam, estamos já a léguas de distância da barbárie que tantas mulheres ainda sofrem em tantas partes do mundo. Agradeçamos por isso, nem que seja uma vez por ano, sim?
Lembrem-se. Se menosprezam este dia, é porque fazem parte do grupo de sortudas que podem dar-se ao luxo de fazê-lo.

Josés



Aqui estão duas caras que adoro.
Porquê?
Não faço a mais pálida ideia. É puro instinto. Não sei como se racionaliza e se verbaliza isto de se ir com a cara de alguém. Mas sinto uma boa onda, uma simplicidade, uma honestidade. Qualquer coisa assim de muito pouco explicável.
Fico contente que eles nos representem, lá fora, em coisas que importam. Fico feliz que sejam caras embaixadoras do nosso país, pois são caras boas.

quarta-feira, 6 de março de 2013

mãe doente é do caraças

Depois de uma semana de miúdos doentes, em que um pegou ao outro, eis que começo a sentir-me mal. Mal não, péssima, toda rota, como não tenho memória desde que fui mãe.
O meu sistema imunitário sempre debelou todas as pequenas merdas, pois que não podia dar-me ao luxo, nem ao lixo, de adoecer.
Mas ontem, a má disposição era tão nojenta, que me arrastei até uma urgência e fiquei a saber o que os meus filhos tiveram e fizeram o favor de me transmitir: Gripe.
E pronto, soube que estava com gripe e trouxe umas drogas da farmácia (menos mau).
Hoje de manhã, com a garganta e a cabeça em modo de dor latejante, disse para mim própria:
Estás com gripe, sua otária. Vá, agora levanta-te e faz tudo como de costume.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Paixão

Que lufada de ar fresco ler este artigo.
Lembrei-me das minhas aulas de português, repletas de baba e bocejos. Aulas em que nada do que era dito prendia a minha atenção por mais do que dois, ou três minutos.
Presa na métrica dos Lusíadas, no intricado trovador das cantigas de amigo, no simbolismo dos Maias e na voz monocórdica e desinteressante de quem nos falava daquele universo paralelo, apenas um pensamento me aflorava a mente:
Onde é que se vendem os resumos desta merda? E onde é que se vendem os resumos dos resumos?
Pois, eu sempre me safei a português, mas nunca adorei a disciplina, nunca me senti impelida a ler nada do que se falava nas aulas, pois que tudo me soava estupidamente desinteressante.
E foi alguns anos mais tarde, já livre dos professores que sempre me calharam na sina (nunca tive sorte com o português), que peguei nos Maias e, livre de simbolismos e contextos históricos e características psicológicas dos personagens, me rendi a Eça de Queiroz e me apaixonei profundamente por ele. Lendo quase tudo o que havia para ler, de seguida.
É preciso darmos espaço à nossa própria leitura, sem interpretações alheias sobre o que o autor significou, ou quis significar.
Às vezes e, por mais estranho que isto soe, é preciso fecharmos os olhos e olharmos para dentro, para nos apaixonarmos.
Sentirmos apenas, sem traços de personalidade, nem contextos, nem linhas temporais. Fechar os olhos e rendermo-nos ao que aquilo tudo suscita em nós. Rendermo-nos ao que nunca nos foi apresentado nas aulas. Rendermo-nos à paixão.
Tive apenas um professor em toda a minha longa carreira de estudante que me fez sentir apaixonada pela disciplina:
O meu professor de filosofia no 12º ano.
Ele obrigava-nos a pensar, a reflectir sobre as grandes questões. Ele chegava à sala e rasgava no quadro de ardósia, em letras garrafais:
DEUS ESTÁ MORTO!!!!! E ficava a olhar para nós, esperando que falássemos a partir dali.
Ele tinha uma arte espantosa de fazer com que nos apaixonássemos, pensássemos por nós e entrássemos nos sapatos de Kierkegaard, de Nietzsche, até de Kant, por mais difíceis que fossem os sapatos deste homem.
Durante uns largos meses, ponderei seriamente seguir filosofia.
E é isto. As métricas, os simbolismos, as vírgulas aqui e não ali, o formalismo em detrimento do verdadeiro conteúdo. É isto que tem potencial para arruinar os nossos futuros leitores/escritores. É isto. Tira-lhes o âmago,

sexta-feira, 1 de março de 2013

Cinema Paradiso, versão Lisboa

O Nuno Markl , com as suas crónicas diárias dos cromos, "roubou-me" praticamente todas as minhas memórias originais dos velhos tempos.
Quase tudo aquilo que me lembro de recordar, o Nuno Markl já recordou.
Mas ainda assim e sem ter pesquisado previamente se existe já um cromo sobre isto, eu tenho duas memórias fundamentais da minha juventude.
Duas recordações que estão mais para tatuagens do que para cromos:
Os cinemas de Lisboa.
O Miguel Esteves Cardoso.
Lembro-me de cada um dos cinemas que existiam em Lisboa e que já desapareceram. E juro-vos, que não consigo proferir os seus nomes, sem me sentir pateticamente comovida.
Vi o Indiana Jones e os salteadores da arca perdida e o Nome da Rosa no cinema Berna.
Never Ending Story no Caleidoscópio.
Rain Man no Apolo 70
The Doors, no Sétima Arte
Dirty Dancing no cinema Alvalade
Jean de Florette no cinema Star
No Quarteto, o Jardim da Alegria com o, então aspirante a namorado, Hugo.
No Ávila, o Império do Sol.
No Nimas, Conto de Verão e o Conto de Outono.
E no Londres, caraças, no Londres vi tudo aquilo que havia para ver. Desde os 3 homens e um berço (versão francesa), ao Braveheart, ao Carros 2, com a minha filha.
O Londres e as suas cadeiras cada vez mais velhinhas, que desciam com estrilho, quando alguém se sentava. A senhora que nos indicava as cadeiras (o que fará ela agora da sua vida?).
O Londres era o meu cantinho de recordações. Um sobrevivente no meio de tantas zons e shoppings e luzes falsas.
O Londres era a minha derradeira recordação e ontem, quando vi nas notícias, uma grade castanha, corrida sobre a sua entrada, chorei por todos os cinemas da minha infância que morreram e me deixaram órfã da magia dessas salas.
Bem sei que vivo em Cascais desde os 17 anos e que aqui também há salas de cinema para chorar (não me venham dizer que o Atlântida Cine também fechou, porque me dá um fanico), mas metade do meu coração estará sempre em Lisboa e assistir à quantidade impressionante de pequenas salas que desapareceram, dá-me na nostalgia de uma forma assustadora.
Quanto ao Miguel Esteves Cardoso. Bem, terá que ficar para outra altura...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Beppe Grillo

É nestas alturas que me auto flagelo por não falar italiano. É nestas alturas que tenho a certeza absoluta de que em italiano soa mil vezes melhor.
Eu queria ter encontrado o vídeo em que o humorista, candidato pelo movimento 5 estrelas, fala do cabelo de Berlusconi, mas não consegui.
Ele diz coisas tão politicamente relevantes, em relação a Berlusconi, como:
"Mas o que é aquilo? Aquele cabelo? De que cor é aquele cabelo??? Aquilo não tem cor, parece que tem um gato morto na cabeça!"
Eu votaria neste gajo.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O meu abraço à popcorna

Depois de ler a notícia que nos dá conta da intenção da actriz que deseja instaurar uma acção judicial contra A Pipoca Mais Doce, deixo aqui o meu abraço solidário para a menina do milho adocicado.
Eu sei que o que a nossa Tuga Fashion Police desejava mesmo era uma acção vinda de uma Anne Hathaway, ou de um Travolta, mas como ainda não sabem da sua existência nos Estates (repito ainda, porque pouco faltará para que atravesse o oceano e aterre no E Channel) teve que contentar-se com o elenco da Tvi.
É triste a sina de uma fashion police em Portugal e eu estou verdadeiramente condoída. Com isso e com as acções judiciais pertinentes e relevantes que vão parar aos nossos tribunais.
Deixo apenas uma sugestão, a fim de desentupir o nosso já tão obstruído sistema judicial:
Há questões que poderiam ser resolvidas com uma simples luta de lama feminina.
E há questões que simplesmente nem sequer chegam a ser questões.

xaraaaammmmm

Então, parece que subimos um lugar e que agora é entre nós e as indestronáveis 3 sombras soft porn de cinzento :)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MoMA, que se faz tarde

"Nos anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante 5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. Quando sentiram que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da China; cada um começou a caminhar de um lado, para se encontrarem no meio, dar um último grande abraço um no outro, e nunca mais se ver. 23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva a sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. Ulay chegou sem que ela soubesse... e foi assim." (roubado da Naná).




Um casal normal teria dito qualquer coisa do género:
- Continua a mandar postais, vai com os porcos, vai pastar, vou comprar cigarros e já venho.
Mas este dois foram mais além. Estes dois decidiram que era muito mais porreiro atravessarem a muralha da China e só depois formalizarem a despedida.
Quem é que consegue competir com uma criatividade assim?!
Quantos namoros terminados que se ficaram pelas banalidades de um vai à merda, se sentirão agora humilhados perante tamanha manifestação artística?
E eis que se reencontram. Não na muralha da China, não nos destroços do muro de Berlim, não numa nave espacial. Mas em Nova Iorque, num museu consagrado, numa exposição com uma retrospectiva do trabalho dela (lacrimejo neste instante) sendo que aquela inclui poder passar-se entre duas pessoas completamente nuas (a arte da performance sempre passou ao lado do meu débil entendimento).
Ela sem comer, nem beber (substâncias legais, entenda-se) só a contemplar estranhos em silêncio. Enfim, eu cheguei às minhas muito únicas e óbvias conclusões:
Os ácidos são capazes de coisas grandiosas no espírito humano.





Vontade de Regresso


De todas as categorias de momentos que vivi, as que revejo com a frequência das saudades boas são estas.
De todas as coisas construtivas que podemos fazer por nós, viajar ocupa certamente o pódio, lado a lado com o amarmos alguém de verdade.
Podermos abrir álbuns, ou pastas no computador, com o nome dos destinos que conhecemos, sozinhos, com amigos, com um grande amor, é das sensações mais plenas que orgulhosamente possuímos.
Revisito-as quando me sinto mais perdida na rotina e na minha vila com tamanho de cidade, revejo-as com aquela certeza de que um dia voltarei a elas e passarei por aquelas ruas, entrarei naqueles cafés, contemplarei as certezas dos outros de outras línguas e costumes, provarei dos seus sabores.
Viajar é, sem qualquer sombra de dúvida, um vício, uma angústia por não fazê-las, às viagens, tanto quanto gostaria. Viajar é alegria, encantamento, vontade de regresso.
Viajar é partir para valorizar o que se tem, ou para colocar tudo sob uma perspectiva tão mais ampla do que as fronteiras do nosso país.
Viajar é vida e morro de saudades de me sentir assim, viajante de mim mesma, noutra cidade qualquer.
Morro de saudades de partir.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

sim, eu já sei

que estar nos tops de vendas não significa nada para a generalidade das pessoas, que associa estas categorias a fast food literário.
Existe a ideia generalizada de que um livro que conste da lista dos que vendem relativamente bem, não será certamente flor que se leia, mas esse preconceito podia amainar, pois nem tudo o que vende é necessariamente mau.
A ideia de que as coisas boas não são vendáveis, estão destinadas à ruína, ou votadas ao cemitério dos flops, é chatinha e preconceituosa.
Sim, há muita merda no top, mas também há muita coisa boa :)
Deixem-me então curtir o momento. Porque, para mim, que estou do lado de cá e sinto pela primeira vez na vida isto de encontrar as minhas palavras em tantas casas, é do caraças.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

da rubrica, separados à nascença

rir

De todas as pessoas que conheço, ou pelas letras, ou por viva voz, nenhumas me dão mais prazer (emocional, entenda-se) do que aquelas que se riem comigo.
Nenhumas chegam aos calcanhares das que me fazem rir.
Nenhumas me apaixonam mais do que as que sabem rir por motivo absolutamente nenhum, além daquele que apenas nós parecemos entender.
Nenhuma mente é mais brilhante para mim, do que aquela que me prende pelo humor.
Por isso, acho que se tivesse que escolher uma característica fundamental numa pessoa, daquelas que não envolvem caracter e integridade, claro, seria a capacidade de construir uma situação de humor em qualquer circunstância.
Dizermos alguma coisa absolutamente despropositada e, em vez de nos olharem em choque, como quem levou um soco à má fila, responderem-nos com outra coisa qualquer ainda mais despropositada, é o êxtase.
Um dia ainda organizo um jantar com os meus nonsense favoritos e nem vou precisar de vinho. Eles serão tudo o que preciso para me sentir ébria :)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

vamos lá a ver uma coisa

Na escrita, tudo tem potencial para nos inspirar. Desde a pedra da calçada, ao cocó canino na estrada, a um texto de alguém.
Na leitura, há livros que nos recomendam, que excedem todas as expectativas e que, se não nos tivessem recomendado, jamais teríamos pegado neles.
É claro que não vale a pena mencionarmos a inspiração que nos chegou da pedra, ou das entranhas de um bicho, pois que eles nada entendem de musas inspiradoras. Agora quando leio algum texto e surge em mim a vontade de escrever sobre a mesma coisa (gralha e Melissa vós tendes esse dom de me provocar frémitos de inspiração), eu menciono e, quando a preguiça ainda não tomou conta dos meus dedos, pasme-se, até deixo um link.
O mesmo quando me recomendam um livro (minha guru literária e não só). Eu gosto de distribuir os créditos a quem de direito.
Daí a cólica (eu sou muito dada a cólicas) subjacente aos meus encontros com espaços virtuais que vivem de inspiração alheia e que a tomam como sua.
Percorro espaços repletos de temas, em que apenas um, ou dois temas (os mais desinteressantes, diga-se de passagem) saem da cabeça do autor.
Tudo o resto é copiado, inspirado, respirado de outro sítio qualquer. Desde as fotos, aos temas, ao pénis.
Passamos o tempo todo com aquela frase "onde é que eu já vi/li isto?".
E isso maça-me.

uishilist

para qualquer altura do ano:
- Alguém que venha cá a casa cozinhar.
- Alguém que fique com os putos uma vez por semana para eu conseguir ir ao cinema acompanhada pelo meu espoiso e aproveitar o cartão zon. Compras 2 bilhetes, pagas 1.
- Alguém que me obrigue a deixar de ver o Encantador de Cães. Eu já falo mexicanês, por osmose e já digo para mim própria, quando lido com os putos: Jui Jave to be Calm jand assertive..
- Alguém que me diga, com meiguice e languidez, que afinal não é sábado, quando toca o despertador.
- Alguém que me obrigue a não ir ler coisas que odeio, só por esbugalhanço de olhos com estupidez alheia.
Enfim, acho que preciso de uma baby-sitter para mim. Ah e uma carteira Cavalinho, que eu dou prioridade às marcas portuguesas (ou aquilo é espanhol?) e gosto de andar com cenas a tiracolo com designação equina.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

www.humildade.com

Das 10 qualidades importantes que um ser humano social deve ter, a que nos faz mais falta, aos tugas, é a humildade.
A quantidade de seres que fazem coisas banais, medíocres até, e se enchem de novo riquismo espiritual, exibindo-se como pavões em rituais de acasalamento, é de bradar aos céus.
Não haverá ninguém que os chame à razão, se é que razão é uma característica possível nestes espécimes, e lhes proporcione um banho de merda, a ver se baixam um bocadinho a cabeça e se reduzem à sua insignificância?
Depois também temos os seres que até podem fazer alguma coisa de especial, mas que estragam tudo com a sua petulância e voltamos à urgência do banho de merda.

considerações sobre a barriga da Kate Middleton

Depois de ver na capa de uma revista, a Kate e o seu príncipe, numa qualquer deslocação de trabalhos forçados a uma praia das Caraíbas, cheguei à depressiva conclusão de que a barriga da Kate com 4 meses de gravidez é mais pequena do que a minha barriga actual.
E é isto.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

eu pensava que

A primeira noite em que dormiu no quarto dela, tinha sido o mais duro corte no cordão umbilical.
Depois, essa noite foi destronada pelo primeiro dia de escola.
E o primeiro dia de escola foi destronado por uma espécie de viagem de finalistas que fizeram quando ela terminou a pré-primária, em que dormiram todos numa casa que a professora tinha no Cartaxo.
Mas como estou sempre a aprender, aquilo ainda não tinha atingido o clímax, pois o insuperável, o imbatível, o primeiro prémio de corte de cordão umbilical foi ontem, quando ela veio da escola sem o dente de cima.
Já lhe tinham caído 4 dentes de baixo, sem grande mossa. Eu até estava a levar bem a coisa, juro. Agora o dentinho de cima, aquele pequeno grão de arroz que sempre lhe caracterizou as feições, aquele dentinho pequeno e perfeito, que formava o seu sorriso único de menina?!!!!
Foda-se, estou de rastos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Repitam depois de mim: Isto não é um babyblog

Na senda disto, ocorreu-me dissertar, que é como quem diz, defecar as minhas próprias perguntas sobre o assunto:
Se um blogue é, pelo menos eu quero acreditar que sim, uma espécie de reflexo do que nos vai por dentro. Qual é o crime de falarmos sobre o que nos acontece num determinado momento, se é isso que nos ocupa a tola?
Dou como exemplo o massacre com o meu livrinho.
Ora, se é um bebé que vai entrar na nossa vida, é mais do que natural que nos ocupe a mente.
Se é um bebé que já entrou na nossa vida, é humano que nos condicione o cérebro materno.
Bem sei que há muito boa gente a quem um filho nada traz de novo e que em nada as modifica, mas eu não faço parte dessa superior elite. Eu posso ter uma imensidão de coisas que continuam de ferro e cal, como o meu sentido de humor, ou sonhos profissionais. Mas tenho outras tantas que mudaram completamente.
Imaginar uma tragédia natural, como um terramoto, um tsunami, ou um meteorito a estilhaçar-se no quintal, antes de ser mãe, era uma coisa mais ou menos cagativa. Depois de ter sido mãe, é outra completamente diferente. Imagino já possíveis formas de os pôr a salvo, contrai-se-me o coração só de imaginar-me com eles numa situação de vida ou morte, pois agora, a minha vida já não é o mais importante.
A minha equação, balança de medidas e de decisões, a minha mobilidade, anseios, elasticidades emocionais, modificaram-se muito, sim e eu não tenho o menor pudor em gritar aos sete ventos que houve muita merda que mudou e muitos temas dos quais me apetece falar, relacionados com putos.
Sem drama, mulherio. Sem drama.
Termos alguém com quem falar das birras, das etapas, dos brinquedos e livros preferidos, das melhores fraldas. Alguém que também nos escute, quando falamos sobre literatura, ou cinema, ou neuras maternas, sem julgamentos, é bom, pá. É maravilhoso.
Abracem a maternidade sem medos e se não conseguirem voltar às calças pré-gravidez, não há crise. Entrem numa lojinha de gangas e comprem um número intermédio. É que a maternidade é feita de fases e querer pulá-las à força toda, com uma espécie de pavor de se perderem nisto de ter filharada, nem sempre faz bem à psique.
Percam-se lá à vontade, que depois voltam. Palavra de escuteira.

Ando um pouco atrasada nos comentários da actualidade,

mas a renúncia do Papa, só veio reforçar a minha ideia de que a Igreja é composta por homens e não por entidades infalíveis e endeusadas.
Para muitos pode ter tido o efeito da queda de um mito, que é o dos papas até que a morte nos separe. Mas eu gostei de sentir a Igreja mais perto do comum dos mortais.

Nos dias que nos são importantes

Dia 14 de Fevereiro de 2013, cheguei a várias brilhantes conclusões, que isto nós estamos sempre a chegar a conclusões ao longo da vida e quanto mais variadas, melhor:
Nos dias em que precisamos mesmo, as pessoas mais importantes aparecem e as que não aparecem têm boas desculpas, avisando-nos, ou enviando perfeitos representantes.
Nos dias em que precisamos mesmo, vislumbramos orgulho nas caras de uma mão cheia de amigas.
Nos dias em que precisamos mesmo, somos surpreendidos pelas presenças de quem não conhecíamos e que importam de verdade (C. e Mariinha, obrigada).
Nos dias em que precisamos mesmo, percebermos que alguém que não víamos há 25 anos decidiu aparecer e partilhar aquele momento connosco, comove-nos até às entranhas.
Nos dias em que precisamos mesmo, ver um amigo muito antigo subir as escadas de três, em três, apressadíssimo, com duas horas de atraso, enche-nos à mesma o coração.
Nos dias em que precisamos mesmo, ver o sorriso orgulhoso da nossa filha, o piscar de olho e sinal de fixe, feito com o polegar, do nosso bebé e o olhar brilhante do nosso marido, é praticamente suficiente para que mais nada falte.
Nos dias em que precisamos mesmo, a família dá uma ajuda e angaria amigos de todas as facções, idades, preferências partidários e literárias. E uma prima de 90 anos, vem sozinha, de bengalinha, desde o lar onde vive.
Nos dias em que precisamos mesmo, e tirando aquelas honrosas excepções acima referidas, só faz mesmo falta quem lá está.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Sugestões a José Viegas

Fiquei trémula de emoção quando li a intenção de José Viegas, caso fosse abordado por um fiscal das finanças, de o mandar "tomar no cú".
Fico sempre trémula de emoção quando alguém com poder verbal para fazer chegar pensamentos ao país, o faz de forma exemplar.
No entanto, deixo aqui algumas soluções alternativas ao "tomar no cú", numa tentativa de não cair na monotonia verbal, caso decidam adoptar a mesma postura, ao serem abordados por fiscais do fiscú:
Vá ser semeado no ânus!
Faça o favor de ser encavado por um nigeriano pouco meigo.
Vá colher proventos na cavidade obscura.
Guardei a factura no cú, faça-me o jeitinho de a tirar lá de dentro.

*Para que não haja possíveis más interpretações, eu aplaudo de pé Mr. José Viegas e suas intenções verbais. Apenas quis ajudar os contribuintes que quisessem enveredar por outra resposta de conteúdo similar.





sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Amanhã

Às 17.00, estarei na Bertrand do Colombo para uma sessão de dedicatórias amorosas :)
Apareçam!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Ajuda

Não sou nenhuma santa. Também eu viro muitas vezes a cara a fotografias que passam na internet e que pedem ajuda para isto e para aquilo.
Também eu levei muito tempo a passar ao lado de tudo isto, salvo algumas excepções.
Até me ter deparado com isto. Um caso real, de uma menina que me acostumei a ver, em fotos, no facebook, por ser filha de uma grande amiga da Melissa. Sempre ouvi falar da Cecília e da sua luta, primeiro pela vida, depois contra o cancro e sempre me fechei em posição fetal-mental, ao imaginar-me na situação da mãe da Cecília.
Imagino-a todas as noites, antes de adormecer. Pergunto-me sempre: Como estará ela, como estará a esperança dela, o que sentirá ela neste momento que antecede o sono e em que tudo nos vem à memória? Temerá ela muito? Doer-lhe-á muito?
E, mais uma vez fico longe de conceber o que é estar nos seus sapatos, mas envio-lhe, ainda que à distância, muito amor de mãe, para mãe, de mulher para mulher, de ser humano para ser humano.
E agora olho sempre duas vezes para os apelos na internet, sejam eles quais forem, pois ainda que haja muita treta a circular on-line, jamais quero correr o risco de não ajudar quem realmente precise.
Eu já dei a minha ajuda, dentro do que me é possível, para esta mãe e esta filha na sua batalha por salvar a vida desta fofinha e senti-me estupidamente bem.


Não virem a cara a esta menina. Não virem, leiam a notícia relacionada, vão ao facebook para mais detalhes.
Por muito pouco que possamos dar, do pouco se faz muito, quando nos juntamos a sério.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

imaginem

a coisa mais patética que vos poderia acontecer e terão o cenário do que me sucedeu hoje.
No estacionamento do centro comercial, voou-me um garrafão de água do luso para debaixo do carro.Fiquei com um garrafão de água do luso entalado, literalmente, debaixo do carro.
O estrilho era tanto que fui a conduzir praticamente de joelhos no chão, já que sou uma gaja discreta.
Estacionei e, deitada no chão molhado e ligeiramente muito sujo do parque de estacionamento exterior, desferi golpes de guarda-chuva na merda do garrafão, até que ele se soltasse.
Consegui finalmente a proeza. O garrafão voa de novo e entala-se debaixo de um carro que ia a passar.
Isto dava uma curta metragem.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O pânico, o drama, o horror

E aqui estou eu. Sem nada no cérebro à excepção de dia 14 de fevereiro.
Estou muito bem a caminhar e: Cólica profunda e horribilis.
Estou muito bem a tomar duche e: Cólica profunda e horribilis.
Estou muito bem a pasmar com a notícia da renúncia do Papa e: Cólica profunda e horribilis acompanhada de Avé Maria.
Estou muito bem a meter massa de pimentão no frango e: Cólica profunda e horribilis.
Estou muito bem a dormir e: Cólica profunda e horribilis, acompanhada de tentativa de auto esganamento.
E é isto malta. Padeço DA cólica. Eu sou uma gaja estupidamente tímida e desinteressante, que raios tenho eu para dizer? Mas porque tenho eu que dizer? Dizer é altamente sobrevalorizado. Ter que dizer é tortura.
Dizer nunca foi o meu forte.
Agora vou ali padecer de mais 234 cólicas profundas e horribilis, antes de me lançar nos braços do meu leito e fingir que sou uma pessoa minimamente válida e fascinante.
A propósito de nada de especial, à excepção da tentativa de abstração do dia 14 de Fevereiro e respectiva cólica adjacente. O livro do José Luís Peixoto, sobre a Coreia do Norte está a revelar-se uma nice surprise.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Para vocês, dia 14 de Fevereiro



Aqui está tudo aquilo e aqueles que podem ver, fazer, ouvir e tocar no dia 14 de Fevereiro. (Sim, penso que podem tocar com o dedo indicador no Ricardo Carriço e na Sandra Barata Belo) Adoraria que viessem e trouxessem quem quiserem trazer. Bem sei que o dia do amor deveria definitivamente ser todos os dias, mas este dia é especial, celebrem-no comigo :)

Minha querida amiga,

Se te escrevo por aqui, é apenas porque não consigo deixar de fazê-lo. Escrever sempre me foi orgânico, sempre teve que ser.
Se te escrevo por aqui, é apenas porque quero dizer-te da melhor forma que sei dizer.
Se te escrevo por aqui, é porque conquistaste o lugar mais especial de todos. Aquele lugar que reservo apenas àqueles que me dizem muito. O lugar que me impele a escrever.
Estando tu assim, arranjaste ânimo para me escrever sobre uma das coisas que te deixava triste e essa coisa não era nada do que seria de supor. Essa coisa que te deixava triste, era o facto de não poderes estar presente num dia importante para mim. No dia do lançamento do meu livro, que leste bem antes de estar envolvido numa capa e contra-capa. Parece que tinhas programado uma surpresa, mas não te preocupes com isso, pois surpreendeste-me exactamente da mesma forma quando me revelaste as tuas intenções.
Esta tua preocupação tocou-me de uma forma absurda, pois eu acho sempre, vá-se lá saber porquê, que não mereço uma pessoa tão especial na minha vida.
Levanta-te dessa cama, pelo menos uma mão cheia de vezes por dia, para não te destreinares, para poderes vir ao evento especial que organizarei só para nós. Para aquele pequeno grupo de mulheres que sempre acreditou em mim e que valorizou a minha vida, só pelo simples facto de estar lá, do outro lado deste monitor.
Eu adoro-te miúda e digo-o da melhor forma que sei fazê-lo, digo-o escrevendo.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

!!!!!

O que dizer disto
E disto?
Vamos lá a abrir a mini, o vinho, o champanhe francês, ou vinho espumante português. Percamos a cabeça e abramos uma lata de coca-cola.
Estou nas nuvens. Dividir o top 10 com soft porn é coisa para me fazer celebrar por 1 ano :)

os deuses devem estar loucos

Começo a gostar deste governo.
Juro. São geniais em matéria de se superarem a eles próprios e em matéria de entretenimento.
Quando pensamos que já não podem ser mais elefantes numa loja de cristais, eis se não quando: Franquelim.
Até eu, que sou bronca e bruta como um paquiderme num campo de flores, saberia ter escolhido melhor.
Mas não faço parte do governo, infelizmente, pois ganhariam bastante com a minha criatividade.
Para começar, remodelaria aquela merda toda, mas nem pensar em personagens do BPN. O BPN é como certas novelas que nunca mais terminam e que maçam, a partir do 180º episódio.
Exploraria todo um novo elenco, iria buscar mais processos, mais envolvidos e convidá-los-ia para integrarem quem nos representa, a fim de formarem uma história diferente.
Apostaria no processo casa pia. Bibi é um nome mil vezes mais apelativo do que Franquelim.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um lugar melhor

O mundo seria certamente um lugar melhor, se as pessoas guardassem mais para si certos pensamentos e ideias luminosas.
Absolutamente ninguém as questiona sobre coisa alguma, mas elas insistem em brindar-nos com a sua opinião, como se esta fosse imprescindível à nossa sobrevivência enquanto seres sensíveis.
A maior parte das vezes dão-na, de peito inchado e expressão de contributo social magnânimo.
Quando as escuto, às opiniões profundamente desnecessárias, imagino-me num filme do Tino, Tarantino, a desferir golpes de sabre, vendo as suas cabeças rolarem, caírem numa poça vermelha pastosa, mas ainda assim, e num banho de realidade desconcertante, apesar de ser um sonho que acalento com ternura, as cabeças separadas do resto do corpo continuam a ladainha.
Há as pessoas que não se mancam e há as pessoas que não sabem desferir golpes de sabre verbais e acabam cheias de feridas auriculares e em órgãos que pulsam com emoção. Pessoas como eu, entenda-se.
Fosse eu tão corajosa, como quando me encontro sozinha, a responder de forma brilhante, com horas de atraso e apenas dentro da minha cabeça, às opiniões fuzilantes dos outros, e seria uma pessoa mais bem resolvida, seja lá o que isso for.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

perguntas importantes

Depois de um dia de merda, é com essa pessoa que querem estar?
Depois de um dia cheio de alegrias, é essa pessoa que desejam abraçar?
Depois de um dia cheio de frustrações, o vosso desejo é desferirem golpes com a caçarola, ou cafeteira elétrica na tola dessa pessoa? Se sim, isso é bom, pois nós descarregamos naqueles que nos são mais importantes. É evidente que é uma cena profundamente injusta, uma vez que deveríamos descarregar naqueles que nos fazem a vida negra, mas enfim, há que aceitar as coisas como são e isto não sei se mudará algum dia.
Riem-se das mesmas idiotices, reparam nas pequenas cretinices em que mais ninguém repara e dividem a cerveja, quando há só uma mini no frigorífico?
Podia continuar aqui o dia inteiro e desbravar todo um futuro a elaborar testes de revistas femininas, mas se já chegaram até aqui com respostas positivas, esqueçam lá a merda que vos deixou furiosos, aquele pequeno detalhe de insensibilidade que vos feriu de morte a alma.
Se chegaram até aqui, acho que estão num nível bem promissor com quem divide o vosso espaço. Abram essa mini e celebrem.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

3 anos

De filho, de mano, de companheiro, de palavras em construção, de amor em sentido crescente, de brincadeiras, de desnorte, de birras, de abraços, de zangas e pazes.
3 anos de passos, correrias, mãos nos meus cabelos, caras furiosas, seguidas de sorrisos , compreensão e impaciência.
3 anos de sofás riscados, com canetas de cor e pedidos de desculpa.
3 anos da tua presença, do teu riso, do teu choro, de ti.
3 anos do mais completo e perfeito amor do mundo. Aquele amor que não conhece retrocessos, por muitos cansaços e desesperos que provoque.
3 anos da perfeição mais imperfeita que conheço, de um passado que já não faz sentido sem ti aqui, perto de mim.
Adoro-te, meu querido de cabelo espetado, cara de zangado e sorriso fácil.
Adoro-te, António.
Muitos parabéns.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Querida Silvina,





Hoje quero o Notting Hill todo na tua vida, porque não mereces menos do que o Notting Hill na tua vida.
Tenho pensado muito em ti e desejado todas as coisas boas do mundo inteiro na tua direcção.
Acredita que, se pensamentos serenos e positivos tivessem o poder de voar para perto de ti, estarias cheia, plena de amor em teu redor, pois não mereces menos do que o amor do mundo inteiro, ainda que concentrado apenas numa pessoa, pertinho de ti.
Este país é maravilhoso na luz, no mar, na comida, no calor, nas pessoas que te querem bem. Mas não te proporciona o conforto e a tranquilidade de um bom sistema de saúde, como o que tens aí, no qual possas confiar sem reservas, se não dizia-te, com a firmeza dos que têm certezas absolutas: Vem.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.
Eugénio de Andrade


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Vida num instante

Mostrem-me tudo, menos velhinhos a arrumarem os seus pertences em sacos de plástico, a empacotarem a sua vida em sacos de supermercado, empilhados à porta de casa, porque não têm dinheiro para a renda.
Mostrem-me tudo menos as lágrimas dos mais idosos, confrontados com uma estrada sem saída e um passado sem utilidade, de onde avistam já o fim com clareza.
Mostrem-me tudo, menos vidas inteiras de trabalho e dedicação dentro de sacos de plástico.
Este país vive uma época muito dura, mas os nossos idosos e crianças deviam, respectivamente, olhar para trás e sentir que valeu a pena, olhar para a frente com a certeza de que valerá a pena.

Logística

A logística que preciso de organizar de cada vez que tenho alguma coisa para fazer é absolutamente extraordinária.
Se, depois de o plano todo traçado, chamadas feitas, pedidos de ajuda lançados, trajectos alternativos delineados, me desmarcam a merda do compromisso, ou o movem para outro horário, fico rigorosa e absolutamente fecundada.
É favor não tratarem a gestão do meu tempo com desprezo e ligeireza. É que esta merda dá trabalho. Dá trabalho e desgasta.
Prioridades para algures no futuro:
Não, não é uma Pochete Chanel.
É um motorista/baby-sitter para levar e trazer as crianças, quando as minhas pernas e braços não conseguirem esticar mais.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Vou contar-vos uma história

Sabem que às vezes as frases mais impressionantes chegam de quem menos esperamos. E ontem, a minha avó veio aqui a casa, com ar compenetrado e sério e eu pensei que ela tinha já lido o livro. O livro que tem um padre que recebe cartas e sei lá mais o quê capaz de o lançar no Index da Opus Dei (sim, parece que eles têm essa lista fofinha).
Tinha lido o meu livro duas vezes (para melhor o entender, entenda-se) e, do alto do seu profundo catolicismo praticante, disse-me que tinha ficado muito comovida.
Do alto dos seus quase 90 anos, ela nunca tinha pensado nos padres (aqueles que são bons naquilo que fazem) enquanto pessoas, abnegadas, que vivem em função dos outros. Nunca tinha pensado na solidão profunda que eles poderiam sentir ao longo da sua missão.
"Exigem-lhes muito, exigem-lhes a perfeição constante e diária, os sermões pouco chatos e comoventes, mas não pensam neles enquanto seres humanos, enquanto pessoas."
- Este padre, coitado - Dizia ela, quase comovida - ao ler aquela primeira carta, sentiu-se confrontado com um sentimento que nunca tinha conhecido. Aquelas palavras, coitadinho, tocaram-no profundamente, porque nunca lhe tinham falado assim e ele sentiu, pela primeira vez na sua vida, amor. Ele sentiu amor.
E ela, a minha avó, de quase 90 anos-de-ir-à-missa-todos-os-dias, resumiu na perfeição o António e retirou-lhe toda a camada de "pecado", que pudesse surgir a um olhar pouco atento.
O António era a pessoa mais sozinha do mundo, por isso as cartas de Alice o emocionaram tanto. As cartas dela foram as palavras de amor que ele jamais escutara. Desde o António pequenino, ao António homem, nunca lhe tinham falado assim. E ele sentiu que tinha finalmente encontrado aquilo que buscara uma vida inteira.
O amor, seja em que sentido e reflexo for, jamais será pecado. É um dos sentimentos mais límpidos e imaculados do mundo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Como é que vocês, mulherio charmoso

Conseguem pintar-se todos os dias das vossas vidas?
Não tanto pelo pintar em si, esse acto de pura criatividade milagrosa. Não tanto pelo colocar de estuque e sombreado e betonilha, mas mais pelo processo posterior de se desmaquilharem.
Quantos quilos de algodão gastam por noite? Quantas horas de vida passam no processo de esfregarem os olhos até ficarem com a órbita virada ao contrário, só para se aperceberem que ainda parecem um panda, no final do processo?
Admiro-vos imenso. A sério.
Para as que usam calças de cintura descaída. Como é que o fazem? Como é que conseguem não passar a vida a flectir as pernas, a fim de que vosso belo rego fique pudicamente escondido ,ou a cueca, com o dia da semana, permaneça na invisibilidade?
E hoje são estas as minhas dúvidas insanáveis, que me separam do resto das pessoas que admiro. Hoje é isto.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ler é o melhor remédio

E se eu disser que já li para não enlouquecer, quando os exames da faculdade consumiam o meu corpo e o meu gasto cérebro pelas trezentas interpretações possíveis a dar a um artigo legal?
E se eu disser que já li para acreditar que, um dia, me apaixonaria como os personagens da Jane Austen, ou para entender o conceito de Amizade, com o mítico Alberoni, bem lá atrás nos meus vintes?
E se eu disser que já viajei para bem longe, que já senti cheiros, vi rostos, passeei e sentei-me em mesas de café e comboios russos, que já segurei mãos frias de personagens, consolando-as de uma perda qualquer?
E se eu disser que já li para esquecer e para lembrar?
E se eu disser que já li para me sentir completa, quando o vazio me preenchia a rotina?
E se eu disser que já li para me libertar e para me sentir presa ao chão?
E se eu disser que já troquei programas irrecusáveis, por um bom livro e se eu disser que continuarei a recusá-los pelo mesmo motivo?
E se eu disser que não existe (quase) nenhum prazer que iguale uma noite passada com uma boa história?
E se eu disser que já senti várias ressacas de histórias e personagens que não queria ter deixado presos na palavra fim?
E se eu disser que odeio que me aborreçam com perguntas chatas, ou com telefonemas da treta, quando estou a meio de um capítulo do caraças?
E se eu disser que prefiro um livro que me amorteça a tola, do que um programa de televisão que me deixe em coma cerebral?
Se as pessoas entendessem que um livro não é assim tão caro, para a catadupa de emoções, viagens, sentimentos, que é capaz de nos proporcionar, talvez decidissem ler mais :)

No reply

Devíamos poder desdizer, desfazer, desenviar.
Bem sei que as palavras faladas, ficam. Daí termos que ter cuidado com aquilo que dizemos, pois as palavras, tanto podem ajudar a curar, como a ferir de morte alguém.
São instrumentos de precisão que devemos usar com cautela, sempre.

Odeio arrepender-me de um e-mail, ou mensagem enviada. Quando é que inventam um pequeno bracinho virtual que vá lá à frente arrancar, da caixa de correio, ou de mensagens do outro, a mensagem que se mandou?
Isso é que era.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Vida Continua

É um dos clichés mais batidos do mundo.
É utilizado como conforto, como motivação, como ânimo, como alento. Como incentivo a continuarmos em frente, apesar de tudo.
Mas, para mim, sempre foi a frase mais avassaladora do mundo.
Não há qualquer tipo de conforto num "a vida continua".
A vida, por vezes, devia parar por nós. Se não a vida, os outros, se não os outros, nós próprios.
A solenidade dos nossos problemas, dos nossos dramas, deveria ser respeitada pela vida, nem que fosse apenas por um segundo.
Os filhos deixariam de pedir que lhes limpássemos o rabo, os maridos e mulheres deixariam de sentir fome e carências afectivas, o trabalho não revestiria a urgência de alimentar a família, a família não pediria nada, não nos pediria nada.
E é isto que penso de um "a vida continua". Sim, é claro que a vida passa bem sem nós e prossegue nos dias e minutos, sem nos oferecer a menor importância. No seu egoísmo de vida. Todos sabemos isso. Mas, caraças, às vezes era bom a vida parar por nós, sim, nem que fosse apenas por um minuto.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Hoje foi um dos primeiros dias do resto da minha vida

Não sei como é que é com os outros, mas comigo foi assim, hoje.
Hoje acordei e belisquei-me várias vezes. Depois fui fazer pequenos-almoços, com vontade inexistente para tarefas mundanas e necessidades orgânicas, uma vez que o mundo mais não era do que um suporte necessário aos meus pés pouco precisos.
Voltei a beliscar-me, certifiquei-me que o chão continuava debaixo dos meus pés e que as nuvens continuavam do outro lado da janela.
Fui ver se os meus filhos continuavam aqui e se o mundo não se tinha evaporado para um lugar inacessível qualquer.
Saí de mão dada com o António e fui a ouvi-lo choramingar o caminho todo, mas tudo me soava distante e distorcido. As pessoas que se cruzavam comigo pareceram-me estranhamente normais para o dia que era e fiquei lixada por ninguém partilhar a minha bolha.
Fiz várias paragens. Primeiro no carrinho do Noddy, onde coloquei 1 euro e fiquei a ouvi-lo cantar com a ursa Teresa, depois no urso à porta de uma loja, onde o António fez questão de parar para ter uma conversa inadiável com o bicho. E as pessoas continuavam na mesma, como se nada fosse. Como se o mundo hoje não se sentisse diferente.
As pessoas prosseguiam as suas rotinas, ostensiva e ofensivamente.
Depois entrei, de mão dada com o meu filho, que nada sabe disto de entrar devagar nos sítios e pousei os olhos sobre as prateleiras à sua procura.
E ali estava ele, lado a lado com Os Homens que Odeiam as Mulheres e com mais qualquer título que não vi, pois que tudo se desfocou à minha volta.
Ali estava a minha história, pronta para entrar na vida de toda a gente que quisesse recebê-la.
Ali estava eu. Mas já não era eu. De todo. Era a história, cujo destino me pertenceu um dia, mas agora livre para habitar dentro do destino de alguém.
Por isso hoje foi importante.
Hoje foi um dos muitos primeiros dias importantes da minha vida. Hoje foi um recomeço e os recomeços merecem ser celebrados sempre.

um post do caraças

Aqui.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sós

Às vezes acho que, se falássemos com alguém sobre aquilo que verdadeiramente sentimos, não chegávamos ao ponto de não retorno.
Às vezes acho que, se comparássemos mais vidas com a nossa vida, entenderíamos que não é assim tão diferente com o resto do mundo.
Às vezes acho que, se ouvíssemos mais acerca da banalidade alheia, a nossa rotina não pareceria tão só.
Às vezes acho que, apesar de nos sentirmos sós tantas vezes, não somos os únicos a sentirmo-nos sós tantas vezes.
Sendo únicos, não o somos de todo e é bom sabermos isto. Como uma espécie de certeza de coisa nenhuma importante.
É que cansam as máscaras, cansa a perfeição. É tudo tão melhor quando tiramos as camadas que nos cobrem. É tudo tão melhor e sentimo-nos tão menos sós.

Palavras para quê (2)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Definir o amor

Definir o amor é das tarefas mais tramadas do mundo.
Não é escrever dele, sobre ele, para ele. Isso é a parte mais fácil. Há pessoas a fazê-lo desde sempre.
Mas falá-lo em voz alta e ter que provar por poucas palavras faladas, que sabemos disso. Do amor, é tarefa hercúlea.
Condensar um sentimento tão vasto é praticamente impossível.

correndo o risco de já vir tarde, mas...

Então a Casa dos Segredos ainda não acabou?
Ainda há mais segredos, ou é só pastilha elástica?

Acho que é a primeira vez na minha existência televisiva que não faço puto ideia de quem é quem, o que é que se faz, quem pina com quem, quem é mais reles que quem. Não faço. Nunca consegui ver mais do que 3,2 segundos e tenho alguma pena, porque quando estou na fila do supermercado e olho as capas das revistas, recheadas de caras dos segredos, não sei quem são e não me entretenho assim na fila do supermercado.
Ler os rótulos das pastilhas elásticas e sondar variedades de limão e piri-piri da chiclete, não é suficiente para me acalmar a impaciência.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Novidades :)

Pois que parece que o livro estará nas livrarias, à espera de quem lhe pegue, a partir do dia 24 de Janeiro.
Pois que parece que o lançamento é dia 14 DE FEVEREIRO (Sim, desmarquem todos os programas de fim de tarde com os vossos adorados e adoradas, para esse mítico dia), às 18.30, na Bertrand das Amoreiras.
Entretanto, vou exercendo pressão psicológica e chantagem emocional convosco, para que não me deixem sozinha no dia 14 de Fevereiro e para que não deixem as páginas do livro cerradas por muito tempo :)
Eu não queria ser chata, mas acho que serei. É uma inevitabilidade incontornável dos chatos. Serem-no.

domingo, 20 de janeiro de 2013

o meu grilo falante

diz-me santinho quando espirro, mesmo antes de eu espirrar.
diz-me que tudo vai correr bem, mas que se estivesse no meu lugar, estaria exactamente como eu.
diz-me para sair da estupidez e acordar para a vida, diz-me para adormecer um bocadinho e esquecer.
diz-me que sim, que não, que tem certezas, que talvez.
fala-me das fracções de pensamento que lhe afrontam a tola.
fala-me de mim, melhor do que eu. Fala-me de si, abrindo partes escondidas por anos de silêncio imposto.
fala-me de uma coisa em particular que estranhou, sabendo que estranharei também.
fica contente com as minhas conquistas, como se fossem suas e senta-se na plateia de mim própria, aplaudindo a minha vida.
o meu grilo falante é feito de um material indolor, inodoro e de ph neutro, que não me irrita quase nunca.
Tenho sorte. Tenho muita sorte por ter esta espécie de espelho de mim própria, que ora me reflecte fazendo-me entender que brilho. Ora me esconde, fazendo-me ver que o momento é de reclusão.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

E voltando ao tema recorrente do vapor

Eu sei que já falei nisto, mas nunca é exagero repetir:
Malta, a sério. O tempo mais mal gasto da nossa vida é a passar a ferro. Já fizeram as contas ao tempo útil de vida que perdem em frente a uma tábua? A menos que vos dê prazer e descontraia (há gostos para tudo), mandem o ferro pastar. Ou se não conseguirem fazê-lo totalmente, façam-no para aqueles itens que não precisam assim tanto de tirar as rugas.
Eu sou uma mulher mais livre, desde que faço isso.
E dou por finda a rúbrica sobre eletrodomésticos e tarefas da domesticidade da vida privada.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

serviço público

Descobri que a maleita da minha máquina de lavar roupa, que estava à beira de um avc, era, atentem bem: O detergente líquido/gel, que sempre lhe botei nas entranhas.
Estava com as tubagens completamente bloqueadas pela gosma mais nojenta que possam imaginar. Um visco, um ranho mal cheiroso em que se transformou o gel e que não deixava a pobre respirar convenientemente. Podendo a qualquer momento bloquear e atirar-me com a água toda de retorno para o chão flutuante.
Disse o ladrão certificado que veio aqui desmontá-la, soprar e lavar os tubos, que quem não lava a temperaturas muito elevadas e usa detergente líquido (qualquer marca), corre este risco, pois o gel não se desfaz convenientemente.
Vai daí, estou oficialmente a dar pó à minha máquina e tirei duas brilhantes conclusões com mais este incidente electrodoméstico:
Qual mestrado, qual doutoramento, qual pestana queimada. Metam-se na arte de arranjar máquinas e canos. Isso sim, é um negócio do pénis.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Começo a ficar

Absolutamente farta de mim. Mim não tem piada. Mim é demasiado até para mim.
Preciso de abstrair-me de mim. Queimar incenso, beber um chá com vodka, enquanto vejo os acumuladores de tralha, no TLC, lembrando-me para não me acumular em demasia, que já me cheiro a mofo.
Agora é que dava jeito Yoga.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

palavras para quê

Nossa Senhora está no facebook, nosso Senhor também.
Não havia, portanto, nenhum argumento válido para esta pérola não estar.
Se quiserem amantizar-se, força.

.

 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O contexto do amor

Disseram-me uma vez que o amor, por si só, não vendia.
Sentaram-me numa pequena mesa redonda, olharam-me nos olhos brilhantes de expectativa e disseram-me que era preciso um contexto. Não bastava uma boa história de afectos. Os afectos teriam que ter lugar no período de Salazar, na Segunda Guerra Mundial, no grande terramoto de 1755.
A culpa não era minha que o amor não fosse vendável por si só. A culpa era da dificuldade de vender uma história de amor sem contexto. A menos que eu fosse alguém estupidamente conhecido. O que não era, de todo, o caso.
Eu, que sempre acreditei que uma boa história podia passar-se numa carruagem suja de metro, num banco de jardim, dentro de uma casa no meio de lugar nenhum. Eu, que sempre acreditei que bastavam os afectos para tornar o contexto irrelevante, morri um bocadinho por dentro.
Vim para casa pensar num contexto onde pudesse passar-se a minha história. Um contexto que pudesse encher o olho, que pudesse atrair as pessoas para a sinopse.
Arranjei logo dois bons contextos, a minha cabeça fervilhou de ideias o dia inteiro. Mas à noite, quando tudo toma forma dentro de mim, quando os monstros entram e não consigo virar as costas à verdade. À noite eu quis que o contexto se fodesse.
Dois dias depois, enviava de novo a história de amor sem contexto para outra editora. Uma das poucas para onde ainda não tinha enviado.
Uma semana depois ligaram-me. Alguém tinha acreditado que o amor podia acontecer em qualquer lugar. Alguém tinha acreditado nas minhas palavras e tinha as ferramentas para fazê-las vingar.
E assim, posso dizer-vos, com as garantias de alguém sem importância nenhuma, que o amor acontece-nos sob todas as formas, todos os dias das nossas vidas, em todos os lugares. É só estarmos atentos e não deixarmos de acreditar.

Comida e Amor

Desde sempre que a comida, o alimento é associado a conforto e amor.
Quem providencia a comida às crias, é quem mais as ama. A reunião familiar em redor de uma mesa com comida é tida como um momento de união.
A mãe que acha que o filho nunca comeu de mais, havendo sempre espaço para um segundo almoço, um segundo lanche, uma terceira vez. A mãe que quer sentir-se no topo da lista das que providenciam o alimento preferido do filho.
A mulher que conquista pelo estômago.
E eu pergunto porquê? De onde vem isto de associarmos comida com amor?
Não que eu faça diferente. Gosto de ter um bolo à espera da minha filha quando ela chega da escola, pois sei que isso lhe traz uma sensação de conforto. Mas porquê?
Porque é que comida, não é simplesmente isso mesmo. Comida?

sábado, 12 de janeiro de 2013

Em defesa da Pepa

Ainda não percebi o motivo de tanto alarido.
Não desfazendo no Pequeno Nicolas, são, ou não são os desenhos animados mais fixes que andam aí?


sinto-me tão mais confortada

Descobri que Nossa Senhora está no Facebook. Vou pedir-lhe amizade.

O que não nos mata, torna-nos mais fortes

Sempre tive dúvidas em relação a esta frase.
Umas vezes acho que sim, absolutamente sim.
Outras vezes sinto que nos torna mais frágeis e com tiques nervosos.
Outras tantas, sinto que nos deixa em coma.
Nada é linear, nem mesmo as frases que parecem feitas para nós.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Nem tudo são más notícias

lembram-se da reportagem daquele sem abrigo e do seu cão, que passou na sic?
Parece que os espectadores da sic já ajudaram. O senhor já tem emprego e casa :))))
Às vezes sabe bem ouvir uma boa notícia, para variar.

canina

Parece que 17000 pessoas assinaram uma petição para salvar um cão que matou um bebé.
Parece que 17000 pessoas se deram ao trabalho de pensar no cão que matou um bebé, com profunda pena, arranjando desculpas, afirmando que talvez não tivesse sido bem assim e que a história está mal contada.
Parece que 17000 pessoas acham importante salvar um cão que matou uma criança, quando a criança ainda nem foi a enterrar.
Confesso que nem sequer pensei no cão. Um cão que ataque mortalmente alguém deve ser removido do convívio social e ponto final. Não há grandes raciocínios a fazer. Há riscos que não se correm por motivo algum.                              
Eu pensei nas pessoas. Nos adultos que permitiram o convívio de um bebé com um animal portador de mandíbulas de tubarão. Um animal que num minuto está bem e no outro se pode passar (afinal de contas, espantem-se, é um animal), porque o bebé o pisa, lhe grita, lhe enfia o dedo nos olhos (sim, as crianças tendem a fazer isso aos animais).
Eu pensei nos milhares de acéfalos por esse mundo fora (basta googlarem) que insistem em comprar animais com potencial assassino, sem terem mão neles, julgando ficar assim  imbuídos de poder, ou fazerem uma espécie de tunning ao seu status.
Que características tem um pitbull, ou um dog argentino, ou um akita, ou um merdita, diferentes de outra raça de cão,  que os torne assim tão apelativos e irresistíveis? O que é que os diferencia assim tanto, para a malta querer ter um? Cheira uma baixa de insulina num diabético melhor do que os outros, por exemplo? É excelente com idosos e deficientes? A única diferença é a fama que têm, uma fama merecida dizem as estatísticas, uma fama injusta, dizem os fanáticos.
Juro que gostava que me explicassem, porque é que, com centenas de raças de cães, a malta embica precisamente para aqueles e os passeia com descontração, muitas vezes arrastadas pelos bichos, sem açaime e sem mão, incomodando-me, assustando-me, não me deixando andar tranquila com os meus putos na rua?
Que direito têm eles de impor o seu cão na vida dos outros, sem se darem sequer ao trabalho de açaimá-los como manda a lei?
Que direito têm eles de colocar em risco a vida dos próprios filhos, porque acham piada a ter um cão daquele género?
Como é que se corre o risco, como? Se existe 10% de hipóteses que sejam, de o meu cão poder passar-se dos carretos e matar o meu filho, porque tem potencial físico e mental para o fazer, eu não vou correr esse risco jamais.
"Em nove anos, nunca fez mal a ninguém". Só me faz lembrar os jornalistas que vão à aldeia do assassino, ouvir os vizinhos dizerem: "Ele era amigo do seu amigo". Ou quando vou a uma loja reclamar de uma merda que avariou e oiço o funcionário: "mas nunca tivemos nenhuma reclamação".
O grande problema dos cães ditos potencialmente perigosos, é que são, regra geral, adquiridos por malta que diz coisas deste género e isto chateia-me, põe-me canina.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Inverno do Chumbo

Serve de banco de apoio para os putos chegarem ao lavatório, serve para fechar com estrilho na cara de alguém que não se cale, serve como arma de arremesso e de defesa pessoal, serve para construir uma pequena cabana de papel.
Não serve para ler fora da cama, a menos que possuam dois braços robóticos que vos segurem no tijolo.
Não serve para lerem, enquanto degustam uma chávena de café (que linda esta imagem), pois não conseguem segurá-lo apenas com uma mão.
Não serve para levarem dentro do bolso do casaco, qual edição de bolso dos Capitães da Areia, a menos que tenham bolsos do tamanho de uma embarcação. E, neste caso, nunca é demais ressalvar a proibição de se inclinarem à beira rio, para espreitarem aquele peixe com bigodes que nada.
E pronto. Isto não quer dizer, de todo, que não goste de calhamaços. Quando a história é boa, eu até agradeço que nunca mais acabe.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O Paciente Inglês


Tinha 21 anos e esperava sempre por um filme com a expectativa dos que aguardam a chegada de um grande amor. Era aquele que me arrebataria e me transportaria para bem longe dos meus dias sempre iguais.
O cinema sempre foi o lugar onde me era permitido sonhar. Chegava a sair de uma sessão e entrar na seguinte, para ver outro filme.
Andava à espera deste filme há meses. Por isso mesmo, entrei  na sala de cinema com a certeza de que iria assistir a uma história inesquecível.
Enganei-me. Foi uma tremenda decepção. Tirando a maravilhosa Juliette Binoche e a sua história, aquele casal gelado, de aspecto germânico não criou a menor empatia com o meu exigente coração e a história pouco me disse.
Mas a música, meu Deus, a música emprestou toda a emoção que faltava.
A banda sonora deste filme é simplesmente brilhante e ainda me acompanha nos dias em que preciso de chegar àquele lado onde ninguém me encontra.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Ohmmmmmm

A oportunidade surgiu quando reencontrei uma velha amiga que era agora professora de yoga. Decidi deixar de ser cobardolas e penetrar numa aula experimental, pois sempre senti que me faltava alguma da espiritualidade, tranquilidade e alma meditativa dos que se viram para o mundo de dentro, a fim de se conectarem com o universo de fora. Além da elasticidade, exercício e controlo da respiração, que este corpinho tenso e mole, se é que é possível estes dois adjectivos conviverem, ansiava por conhecer.
Vai daí, lá fui eu. Disposta a conectar-me com as energias do universo. Disposta a aprender a meditar ao som de Enya, ou ruídos da natureza modo cd. Disposta a ser uma gaja que sabe exalar e inalar tranquilidade, enquanto consegue pentear o cabelo com os dedos dos pés e entoar um mantra.
Depois desta experiência de 1 hora e meia, fiquei a conhecer ainda mais aspectos fascinantes sobre a minha pessoa. A saber:
- Não consigo manter os olhos fechados para meditar. A curiosidade de ver se os outros estão também de olhos fechados, ou se fazem batota, se o sol desponta lá fora, se o tecto tem teias de aranha, se alguém tem um macaco pendurado no nariz, vence sempre.
- Não consigo abstrair-me do que é que vou fazer para o jantar, do que é que tenho que trazer do supermercado, das calças de lycra que entram pelo meu regabofe adentro e que tento ajeitar sem que ninguém repare que me mexo do estado meditativo.
- A Enya continua a dar-me vontade de sair a correr, com um par de asas, pulando de nenúfar em nenúfar, pelos penhascos irlandeses, qual bailarina que nunca cumpriu o sonho de dançar e depois de se lançar num vórtice de voo pelo penhasco, se espatifa em soninho profundo lá em baixo.
- Estar deitada num colchão de ginástica, a escutar uma maré que vai e que vem, enquanto uma voz nos relaxa e impele a esquecer tudo o que há de supérfluo, é uma oportunidade única para eu bater um choco.
Além de tudo isto, fiquei uma semana a andar de pernas abertas.






E quando

Fazemos o telefonema para a assistência técnica, explicamos detalhadamente o problema do qual padece a nossa máquina de lavar a roupa, com pormenores, datas da ocorrência, comportamentos estranhos na centrifugação, limpeza do filtro já efectuada, perspectivas negras e angústias e a resposta é:
- Só um momento que vou passar aos colegas da assistência técnica.
 E percebemos que estivemos a partilhar a vida da nossa máquina com a pessoa errada e que teremos que repetir tudo com outra pessoa diferente.

*É oficial. Sou a pessoa com menos sorte, pelo menos em Portugal Continental, em matéria de electrodomésticos.

sábado, 5 de janeiro de 2013

As Mães ditadoras e cagadoras de sentenças

A propósito disto e disto eu tenho que voltar a falar sobre a amamentação e decisões sobre tudo o que implica os nossos filhos e a nossa forma de criá-los. Não sob a perspectiva de quem deu, ou não de mamar, já que das minhas mamas sei eu, mas da perspectiva da culpa.
Uma mãe, principalmente no primeiro filho, é um ser que se questiona, se culpabiliza, se martiriza, se auto julga a cada instante. Não há, portanto, necessidade de opiniões não solicitadas e intrusivas. Pois a mãe já fez as suas ponderações, antes de os outros as fazerem e apenas ela sabe o que é melhor para si e para o seu rebento.
Se correr bem, correu, se correr mal, correu. Não é o fim do mundo.
Cada mãe sabe da sua mama. Cada mãe sabe do seu filho.
Se mais mulheres se preocupassem em denunciar, por exemplo, situações de maus tratos a menores, ao invés de andarem preocupadas com a opção pela ordenha industrial ou artesanal de cada mulher, insinuando que o amor materno se mede pelo volume de leite sugado dos seus peitorais, ou com a escolha do ensino público, ou privado para os filhos, o mundo seria um lugar melhor e a maternidade uma experiência mais serena.
Adoro a cumplicidade feminina, mas deixem-me que vos diga, que quando lhes dá para serem competitivas no desempenho da maternidade, não há quem as ature.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

lálálálá

Que bom aspecto que tem o trailer do filme Os Miseráveis. A história é boa, os actores parecem-me benzinho, a imagem excelente Então digam-me lá uma coisinha:
PORQUE CARAÇAS TINHAM QUE OS PÔR A CANTAROLAR???????!!!!!
Odeio filmes/musicais. Odeio.
Estamos no meio de uma cena altamente dramática e com elevada carga emocional e o personagem desata a cantar, qual filme da Disney? Nop, não é para mim.

As pequenas coisas que estragam tudo

Um homem pode falar sobre cocó, caganeira, desarranjo intestinal. Um homem pode passar horas infindas a dissertar sobre cores, formas e feitios, locais de descarga e a fazer piadas sobre o troço. Um homem que consiga ouvir-me explanar teorias sobre diarreia, qual criança que vibra de cada vez que se fala cocó, sem julgar a graduação do meu q.i., é de facto alguém com quem, certamente, gostarei de partilhar boas gargalhadas.
Agora não poderá jamais deixar a suspeita, ainda que subtil e leve, que efectivamente caga.
Um homem não caga. Fala sobre isso com um à vontade espetacular, formula piadas profundas, mas jamais nos deixará perceber quando e onde faz ele a sua descarga.
Portanto, aqui deixo eu o meu contributo sapiente na arte para um casamento harmonioso:
Não digam ao que vão quando têm que ir. Apaguem o rasto e apregoem aos sete ventos que padecem de um defeito físico raro, que consiste na arte de não passar merda pelo vosso organismo.