De todos os meninos, calhaste-me tu. Sensível, meigo e tremendamente agarrado a mim.
De todos os meninos, calhaste-me tu, porque seguramente levaste contigo tanto do meu feitio, quando te formaste aqui dentro de mim.
Não sou daquelas mães que gosta de se rever nos filhos, pois sei-me carregada de coisas de que não gosto particularmente. Gosto de vê-los diferentes naquilo que não tenho de bom, mas também sei que nem sempre isso é possível e tento aceitá-lo, sem dramas.
Ainda não acertei bem no tom para que não fiques sentido quando quero que voes sem a minha ajuda, para que não me julgues dura, ou mil vezes pior, para que não penses, nesse teu peito pouco racional, que te gosto menos. Porque o meu amor por ti é directamente proporcional às minhas vãs tentativas de te ensinar que o mundo é um local seguro sem mim.
O meu amor por ti não se nota aos teus olhos, quando te deixo na escola a perguntares-me dezenas de vezes se te vou buscar, não se deixa ver quando pensas que já não te dou tanta importância. O meu amor por ti estará, agora, maioritariamente nos gestos que não compreendes e isso deixa-me sempre sem fôlego. Mas sei, ou quero acreditar que sei, que amanhã poderemos respirar fundo finalmente.
Coração lavado
Há 5 dias