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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Pablo Neruda: "Soneto XXV" (tradução de Adriano Nunes)

"Soneto XXV" (tradução de Adriano Nunes)


Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e pelas coisas:
Nada contava e sequer tinha nome: 
O que há era do ar que esperava.
Eu conheci salões de tons cinzentos,
Os túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam sobre a areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tuas beleza e pobreza
De dádivas impregnaram o outono.


Pablo Neruda: "SONETO XXV"


Antes de amarte, amor, nada era mío:
vacilé por las calles y las cosas:
nada contaba ni tenía nombre:
el mundo era del aire que esperaba.
Yo conocí salones cenicientos,
túneles habitados por la luna,
hangares crueles que se despedían,
preguntas que insistían en la arena.
Todo estaba vacío, muerto y mudo,
caído, abandonado y decaído,
todo era inalienablemente ajeno,
todo era de los otros y de nadie,
hasta que tu belleza y tu pobreza
llenaron el otoño de regalos.

NERUDA, Pablo. Antología General. Lima: Real Academia Española, 2010, p. 344.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Pablo Neruda: "Esperemos"

"Esperemos" (Tradução de Adriano Nunes)


Esperemos



Há outros dias que ainda não chegaram,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou dos ateliês:
há fábricas de dias que virão:
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que subitamente chegam à porta
para premiar-nos com uma laranja
ou pra assassinar-nos de imediato.



Pablo Neruda: "Esperemos"



Esperemos



Hay otros días que no han llegado aún,
que están haciéndose
como el pan o las sillas o el producto
de las farmacias o de los talleres:
hay fábricas de días que vendrán:
existen artesanos del alma
que levantan y pesan y preparan
ciertos días amargos o preciosos
que de repente llegan a la puerta
para premiarnos con una naranja
o para asesinarnos de inmediato.



NERUDA, Pablo. El mar y las campanas. Buenos Aires: Losada, 1973.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Pablo Neruda: "El otro"

"El otro" - Pablo Neruda


Ayer mi camarada
nervioso, insigne, entero,
me volvió a dar la vieja envidia, el peso
de mi propia substancia intransferible.

Te asalté a mí, me asalta
a tí, este frío de cuchillo
cuando te cambiaría por los otros,

cuando tu insuficiencia se desangra
dentro de ti como una vena abierta
y quieres construirte una vez más
con aquello que quieres y no eres.

Mi camarada, antiguo
de rostro como huella de volcán,
cenizas, cicatrices
junto a los viejos ojos encendidos
(lámparas de su propio subterráneo):
arrugadas las manos
que acariciaron el fulgor del mundo
y una seguridad independiente,
la espada del orgullo
en esas viejas manos de guerrero.
Eso tal vez es lo que yo quería
como destino, aquello
que no soy yo, porque
constantemente cambiamos de sol,
de casa, de país, de lluvia, de aire,
de libro y traje,
y lo mío peor sigue habitándome,
sigo con lo que soy hasta la muerte?

Mi camarada, entonces,
bebió en mi mesa, habló tal vez, o tuvo
alguna de sus interrogaciones
duras como relámpagos
y se fue a sus deberes, a su casa,
llevándose lo que yo quise ser
y tal vez melancólico
de no ser yo, de no tener mis ojos,
mis ojos miserables.







"O outro" (tradução de Adriano Nunes) 




Ontem, meu camarada
nervoso, insigne, íntegro,
voltou a dar-me a velha inveja, o peso
de minha própria essência intransferível.

Assalte-te a mim, assalta-me
a ti, este frio de punhal
quando te alteraria pelos outros,
quando tua insuficiência se esvai
dentro de ti como uma veia aberta
e queres construir-te uma vez mais
com aquilo que queres e não és.

Meu camarada, antigo
de rosto como efígie de vulcão,
cinzas e cicatrizes
junto dos velhos olhos abrasados:
(lâmpadas de seu próprio subterrâneo),
enrugadas as mãos
que acariciaram o fulgor do mundo
e uma segurança independente,
a espada do orgulho
nessas veteranas mãos de guerreiro.
Isso talvez seja o que eu queria
como destino, aquele
que não sou eu, porque
constantemente mudamos de sol,
de casa, de país, de chuva, de ar,
de livro e traje,
e o pior de mim segue me habitando,
sigo co' aquilo que sou até a morte?

Meu camarada, então
bebeu em minha mesa, talvez falou, ou teve
alguma de suas dúvidas
duras como relâmpagos
e se foi a seus deveres, à casa,
levando aquilo que eu quisera ser
e talvez melancólico
de não ser eu, de não ter os meus olhos,
meus olhos miseráveis.










In: NERUDA, Pablo. "Defectos escogidos".

Pablo Neruda: "Las máscaras"

"Las máscaras" - Pablo Neruda


Piedad para estos siglos y sus sobrevivientes
alegres o maltrechos, lo que no hicimos
fue por culpa de nadie, faltó acero:
lo gastamos en tanta inútil destrucción,
no importa en el balance nada de esto:
los años padecieron de pústulas y guerras,
años desfallecientes cuando tembló la esperanza
en el fondo de las botellas enemigas.

Muy bien, habláramos alguna vez, algunas veces,
con una golondrina para que nadie escuche:
tengo vergüenza, tenemos el pudor de los viudos:
se murió la verdad y se pudrió en tantas fosas:
es mejor recordar lo que víi a suceder:
en este año nupcial no hay derrotados:
pongámonos cada uno máscaras victoriosas.




"As máscaras" (tradução de Adriano Nunes) 




Piedade para estes séculos e seus sobreviventes
alegres ou maltratados, o que não fizemos
foi por culpa de ninguém, faltou aço:
gastamo-lo em tanta inútil destruição,
não importa no balanço nada disto:
os anos padeceram de pústulas e guerras,
anos desfalecentes quando tremeu a esperança
no fundo das garrafas inimigas.
Pois bem, falaremos alguma vez, algumas vezes,
com uma andorinha para que ninguém escute:
tenho vergonha, temos o pudor dos viúvos:
se morreu a verdade e se apodreceu em tantas fossas:
é melhor recordar o que irá acontecer:
neste ano nupcial não há derrotados:
ponhamo-nos cada um máscaras vitoriosas.







In: NERUDA, Pablo. "2000"

sábado, 10 de novembro de 2012

Pablo Neruda: "Hoy cuántas horas van cayendo"

"Hoy cuántas horas van cayendo" - Pablo Neruda


Hoy cuántas horas van cayendo
en el pozo, en la red, en el tiempo:
son lentas pero no se dieron tregua,
siguem cayendo, uniéndose
primero como peces,
luego como pedradas o botellas.
Allá abajo se entiendem 
las horas con todos días,

con los meses,
con borrosos recuerdos,
noches deshabitadas,
ropas, mujeres, trenes y provincias,
el tiempo se acumula
y cada hora
se disuelve en silencio,
se desmenuza y cae
al ácido de todos los vestígios,
al agua negra
de la noche inversa.




"Hoje quantas horas vão caindo" (Tradução de Adriano Nunes)




Hoje quantas horas vão caindo
no abismo, na rede, no tempo:
são lentas porém não tiveram trégua,
seguem caindo, unindo-se
primeiro como peixes,
depois como pedradas ou garrafas.
Lá embaixo se entendem
as horas com os dias,
com os meses,
co' as imprecisas lembranças,
noites desabitadas,
roupas, mulheres, trens e províncias,
o tempo se acumula
e cada hora
se dissolve em silêncio,
se esmiúça e cai
ao ácido de todos os vestígios,
à água negra
da noite inversa.










In: NERUDA, Pablo. "El mar y las campanas"

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Pablo Neruda: "Testamento II"

"Testamento II" - Pablo Neruda


Dejo mis viejos libros, recogidos
en rincones del mundo, venerados
en su tipografía majestuosa,
a los nuevos poetas de América,
a los que un día
hilarán en el ronco telar interrumpido
las significaciones de mañana.

Ellos habrán nacido cuando el agreste puño
de leñadores muertos y mineros
haya dado una vida innumerable
para limpiar la catedral torcida,
el grano desquiciado, el filamento
que enredó nuestras ávidas llanuras.
Toquen ellos infierno, este pasado
que aplastó los diamantes, y defiendan
los mundos cereales de su canto,
lo que nació en el árbol del martirio.

Sobre los huesos de caciques, lejos
de nuestra herencia traicionada, en pleno
aire de pueblos que caminan solos,
ellos van a poblar el estatuto
de un largo sufrimiento victorioso.

Que amen como yo amé mi Manrique, mi Góngora,
mi Garcilaso, mi Quevedo:
fueron
titánicos guardianes, armaduras
de platino y nevada transparencia,
que me enseñaron el rigor, y busquen
en mi Lautréamont viejos lamentos
entre pestilenciales agonías.
Que en Mayakovsky vean cómo ascendió la estrella
y cómo de sus rayos nacieron las espigas.



"Testamento II"
(Tradução/transcriação de Adriano Nunes)


Deixo meus velhos livros, recolhidos
em recantos do mundo, venerados
em sua tipografia pomposa,
aos novatos poetas da América,
aos que algum dia
irão tecer no rouco tear interrompido
todas significações do amanhã.

Eles haverão nascido quando o agreste punho
de lenhadores mortos e mineiros
haja dado uma vida inumerável
para limpar a catedral torcida,
o grão precipitado, o filamento
que enredou nossas ávidas planícies.
Toquem eles o inferno, este passado
que esmagou os diamantes, e defendam
os mundos de cereais de seu canto,
o que nasceu na árvore do martírio.

Sobre os ossos de caciques, distante
de nossa herança traída, no pleno
ar de povos que caminham sozinhos,
eles irão povoar o estatuto
de um largo sofrimento vitorioso.

Que amem como eu amei meu Manrique, meu Góngora,
meu Garcilaso, meu Quevedo:
foram
titânicos guardiães, armaduras
de platina e nevada transparência,
que me ensinaram o rigor, e busquem
em meu Lautréamont velhos lamentos
entre as tais pestilentas agonias.
Que em Mayakovsky vejam como ascendeu a estrela
e como de seus raios nasceram as espigas.






In: NERUDA, Pablo. "Canto General". Mexico: Ediciones Oceano, 1954; Canto XV (Yo Soy); XXIV; páginas 563/564.



sábado, 31 de dezembro de 2011

Pablo Neruda: ""Canto General XV/II"

"Canto General XV/II" - Pablo Neruda


Amor, tal vez amor indeciso, inseguro:
sólo un golpe de madreselvas en la boca,
sólo unas trenzas cuyo movimiento subía
hacia mi soledad como una hoguera negra,
y lo demás: el río nocturno, las señales
del cielo, la fugaz primavera mojada,
la enloquecida frente solitaria, el deseo
levantando sus crueles tulipas en la noche,
Yo deshojé las constelaciones, hiriéndome,
afilando los dedos en el tacto de estrellas,
hilando hebra por hebra la contextura helada
de un castillo sin puertas,
oh estrellados amores
cuyo jazmín detiene su transparencia en vano,
oh nubes que en el día del amor desembocan
como un sollozo entre las hierbas hostiles,
desnuda soledad amarrada a una sombra,
a una herida adorada, a una luna indomable.
Y entonces dulce rostro, azucena quemada,
tú la que no dormiste con mi sueño, bravía,
medalla perseguida por una sombra, amada
sin nombre, hecha de toda la estructura
del polen,
De todo el viento ardiendo sobre estrellas
Impuras:
oh amor, desenredado jardín que se consume,
en ti se levantaron mis sueños y crecieron
como una levadura de panes tenebrosos.



Canto Geral XV/II
(Tradução de Adriano Nunes)


Amor, talvez amor indeciso, inseguro:
Somente um golpe de madressilvas na boca,
Somente umas tranças cujo mover-se subia
fez minha solidão como uma pira negra,
e tudo mais: o rio noturno, os vestígios
do firmamento, a fugaz primavera aguada,
a enlouquecida frente solitária, o desejo
levantando suas cruéis tulipas na noite.
Eu desfolhei todas constelações, ferindo-me,
Afiando os dígitos no tato de estrelas,
tecendo fio por fio a contextura fria
de um castelo sem portas,
oh estrelados amores
cujo jasmim detém sua transparência em vão,
oh nuvens que no dia do amor desembocam
como soluços entre as herbáceas hostis,
desnuda solidão amarrada a uma sombra,
a uma ferida adorada, a uma lua indômita.
Nomeia-me, disse talvez aos roseirais:
eles talvez, a sombra de confusa ambrosia,
cada tremor do mundo conhecia meus passos,
me esperava no canto mais oculto, a estátua
da árvore soberana na planície:
tudo na encruzilhada chegou a meu desvario
dissecando meu nome sobre a primavera.
E sendo assim, doce rosto, açucena queimada,
tu a que não dormiste com meu sono, bravia,
medalha perseguida por uma sombra, amada
sem nome, feita de toda a estrutura do pólen,
de todo o vento ardendo sobre estrelas impuras:
oh amor, desenredado jardim que se consome,
em ti se levantaram meus sonhos e cresceram
como uma levedura de tenebrosos pães.






In: NERUDA, Pablo. "Canto General". Mexico: Ediciones Oceano, 1954; Canto XV (Yo Soy); II; páginas 534/535.