Já estive nos arredores do Reno, Com a rima ferida, Sentindo-me pequeno. Sentei-me à mesa de atentas famílias Inglesas, convidado Por causa de uns talentos vãos jamais Comprovados por mim. Corri de leões em Serra Leoa, Enquanto coisa boa Era correr de leões, como dádiva. "Depois, o mundo escapa!" - Falava o ser que em mim fazia estada. Ah, tais sobras de sombras! Ah, labirinto de laços que assoma e Assusta e acerta as contas Com tudo que me sinto ser, enquanto Dilacera-me o fluxo Que sempre vem forjado de futuro! Já estive por aí, Sem ter norte, contando com a sorte Dos acasos propícios. Onde mesmo repousa esse lugar Que se grava palavra? Agora me agarro à alegria grácil De constatar quão mágico É fincar-me, carne e estímulo, em casa, Fazer chá de hortelã, Para mim e minha mãe, nas manhãs Em que a esperança em nada Poderia até dar.
Canto o ver- So curto, o ver So longo, o verso métrico, medido, Bem como o verso que não precisa ser escandido. Canto a verve do vate e o que vale A pena, mesmo que a calma seja Pequena: canto a vida Desde a sua face mais incompreendida. Canto e já me dou Por satisfeito. A Safo dediquei Até alguns sonetos. A Baco Outros tantos. É assim, sem mim, que, Com prazer, Canto. E não preciso sequer me convencer De que ergui um monumento Que, ao contrário do de Horácio, Durará apenas O tempo necessário E, nem de longe, Pode durar mais que o bronze. Entretanto, Poderão dizer os mais assanhados, Os experts em vernáculos, Os arautos da estética kantiana, Os doutores e os bacanas, Et cetera et tal, Na primeira página de algum jornal De circulação local: Dele era o canto de fato!
"Poetry" - to my dear friend, Australian poet Hamish Danks Brown (for his birthday)
Poetry is What it is not It is light It is another night To fight Against fixed spot Against impossibilities Poetry is hot
It burns The careless and hurried bards Why is everything so hard? It hurts Because it starts it all Inaugurating several Cosmos of multiple senses In this gray world
Oh this we know and
They know it too -
The enemies of poetry,
Those who destroy
Hopes, dreams and simple joys.
What they do not know is
That poetry is stronger than
Their hate and their cruel plan.
Entre as olheiras E o que o ver queira, A trilha inteira Para aprender, -Ah, que poder!-, Uma maneira De feliz ser Junto a você. Até fazer Da vez, à beira Do bis, certeira Escolha: ter Que conviver Com a cegueira Do amor, primeira Certeza, a que Tudo valer Faz, com prazer.
Às vezes, tudo dói. Os astros no alto infindo, Os deuses além do que me peso e sinto, O que há entre os mais íntimos. Como agora. Como dor Que não soçobra. Como dor Que, por tanto doer, Apavora. Como o desejo que explode O desejo de norte, A vida sem vida lá fora. Como a vida sem saída. Que saída? Aquilo que o poema esconde E escapa por onde Não dá para saber. Às vezes, tudo brilha
O mundo. Podre como sempre Pode ser. Cruel como sempre Pode ser. Injusto com quem Parece desvendar os seus mistérios. Tudo é discurso e prática lesivos. Tudo é algaravia, e massa acéfala A girar, a sangrar e a seguir, como testa-de-ferro. E não basta a alegria cega e frenética. Não basta a dose de espanto e tédio. O horror fétido atiça a fúria e mostra os dentes. Ser gente é não compactuar com o outro, parece. Ser gente é fazer parte do medo. Do grande medo de tudo que é ser gente. Somos obrigados a ficar lerdos e Calados. A ficar à mercê do tempo de Escravizar-nos, por causa da esperança que Já não mais consegue deixar de ser Manca e maliciosamente nefasta e ética. Porque é esta a ética dos moralizadores secos. Porque esta é a ética do rebanho que se verte Em ordem legitimadora de violências e degredos. Ah, tarde de não querer saber de nada mais e além! Ah, instante de horror perigosamente nonsense! Ah, cercas e farpas de ideologias frias e férteis, Que têm engendrado assassinos e heróis e deuses! Porque não há não há um abismo apenas, Todas as vozes se perdem. Todos os ecos se adensam em metas e méritos, em mescla De todos os absurdos iridescentes. Somos um erro. Sempre um erro. Sem conserto, Ao que tudo indica. Desde a morte séria De Antígona à ratoeira de Hamlet. Ao peso Da existência de algum Buendía. Aos sem Expectativa de nada. Ao silêncio De tudo que tudo represente. Ao horror mesmo.
Já amei pernas, Braços e peitos, Olhos e flertes, Lábios e até Unhas do pé. Aqui, confesso: Muito amei mechas Mesmo amarelas, Risos e pele Flácida, tesa, Músculo e orelhas, Partes pudendas E o grã mistério Por trás do sexo. Amor, porém, Intenso e além, Só pelo verso.