Assim foram becos
E as ruas pequenos
Tomados. Não menos
Corações e mentes.
(Caro leitor, tenha
Paciência. É
Um poema apenas.
A vida e as emendas!)
Sonhos quase sempre
Eram já momentos
De jaulas e feras,
Clowns e brincadeiras.
Os leões imensos
Entre tantas feras
Estranhas bem eram
A atração na tenda
Mágica de Arkmesh.
De ond' ele veio,
Sabe mesmo quem?
Arkmesh era um deus,
Relatam aqueles
Que o mais conheceram.
Dos que sempre pedem
Tudo em troca, até
Mesmo a alma. Dele,
Sabe-se a parcela
Necessária, tendo
Em vista que ser
Um deus é não ser
Conhecido. Mesmo
Que, pra isso, o jeito
Uno tenha que
Ser deixar morrer
Todos, sem a pena
Dos homens, sem que
Lágrimas despenquem
(Meu leitor, não se
Arrependa. É
Um poema apenas.
O amor - que o alimenta?)
Dos báratros éticos
Do arrependimento.
De lado, deixemos
Arkmesh! Até ele
Vítima das gentes
É. Sim, todo deus
Vítima é também
Daqueles que os geram.
(Pobre leitor, perca
A inocência! É
Um poema apenas.
O amor é qual fenda!)
De repente, fez-se
Eco, nas conversas,
De que os gatos de
Uns fidalgos vêm
Desaparecendo,
Sem deixar quaisquer
Vestígios. Ah, era
Isso que os cientes
Das leis do amor pleno
Temiam! Pois que,
Por gatos que erram
E somem, mil crenças
E dez mil suspeitas
E vis preconceitos
Podem brilhar, desde
Que um só, alguém,
Um testa-de-ferro
Seja. E jamais deu
Outra: o circo era
Mais que testa, a fera
Inteira, estrangeira.
Mas fácil dizer
Os culpados, tê-los
Sob mira dos dedos.
(Cego leitor, deixe
De insistência! É
Um poema apenas.
O horror de que lembra?)
Os leões, primeiro.
E todos morreram.
Ah, sem sorte Arkmesh!
Deus sem as proezas
Do negócio eterno!
Era pouco. As gentes
Furiosas, pelos
Gatos, tinham que
Punir mais, exemplos
Dar - era a maneira
Mais lúdica - pensam
Ainda! - de ser
(Ó leitor, não se
Surpreenda. É
Um poema apenas.
O terror na essência!)
Imagem, reflexo.
Mataram Arkmesh.
Um leão não serve.
Mataram a ideia
De existir Arkmesh.
Todo o circo, enfim,
Foi queimado. Resto
De ingênua quimera
Paira sobre o flerte
Da ordem do tempo.
Um leão, por vez.
Dizem que pra sempre.
(Leigo leitor, tenha
Mais clemência. É
Um poema apenas.
O horror nos engendra!)