"Pedra Bonita" - Para Antonio Cicero
Por tudo, meu bem,
Às vezes, dá aquela vontade
De saltar
De asa delta
Sobre o imenso mar,
Esquecer os muros.
Do alto,
A Gávea e o Corcovado
Observar, o âmago do infinito,
Libertar-me,
Pôr-me em apuros,
Tornar-me parte do ar.
Por isso, ninguém
Venha-me falar que sabe
Sobre o amor
Alguma verdade,
Seus liames obscuros.
Vou-me lançar...
sexta-feira, 30 de março de 2012
Adriano Nunes: "De mim e em sonho"
"De mim e em sonho"
Salto do báratro
Perto das quatro
Da madrugada.
É tudo ou nada.
Velo por ti...
Pois já parti
De mim e, em sonho,
Viver suponho.
Volto do báratro
Às seis e quatro.
Forjo a manhã
Co'outra tez, vã.
Vingo por ti...
Não desisti
De ser-me e sonho:
Viver suponho?
Salto do báratro
Perto das quatro
Da madrugada.
É tudo ou nada.
Velo por ti...
Pois já parti
De mim e, em sonho,
Viver suponho.
Volto do báratro
Às seis e quatro.
Forjo a manhã
Co'outra tez, vã.
Vingo por ti...
Não desisti
De ser-me e sonho:
Viver suponho?
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José Gorostiza:"Yo no sé dónde..."
"Eu não sei onde..." - José Gorostiza
(Tradução de Adriano Nunes)
Eu não sei onde começará a senda
nem se acharemos paz em sua alvura...
Porém umbral imóvel nos pretenda,
entre nobres montanhas, a planura
como campo viril de uma contenda.
E é justo suspender nossos carinhos,
fugir sem força, sem enfeitinhos,
e sendo velhos regressar novinhos!
Estamos presos à margem da vida
como uma pedra em seu colar pendente
e apenas encanta a visão suspensa
um murmúrio de fronde estremecida
ao canto silencioso de uma fonte
de claro alento e solidão imensa.
Acaso essa amargura nos espante
e mais padeça o coração mesquinho
quando tal sede advirta ao caminhante
a falta de repouso em seu caminho.
Mas junto à montanha sem assombros
verá com olhos de inquietude ufana
a carga de crepúsculos, leviana
e vibrante de amor sobre seus ombros.
In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madri: ALLCA XX, 1996, p. 98.
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quinta-feira, 29 de março de 2012
William Blake: "The tiger" (Tradução de Adriano Nunes)
"THE TIGER" - William Blake
TIGER, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?
In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?
And what shoulder and what art
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand and what dread feet?
What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?
When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did He smile His work to see?
Did He who made the lamb make thee?
Tiger, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?
"O tigre"
(Tradução de Adriano Nunes)
Tigre! Tigre! Grã clarão
Nas selvas da escuridão,
Qu'olho ou mão imortal v'ria
Criar sua horrível simetria?
Em quais abismos ou céus
Queima o fogo d'olhos seus?
Com que asas ousou se alçar?
Que mão tal fogo ousou pegar?
E qual ombro, e quais as artes
Torceram do seu peito as partes?
E ao bater do coração,
Que terríveis pé ou mão?
Que martelo? Que corrente?
Que forno fez sua mente?
Que bigorna? Impulso qual
Forjou seu terror letal?
Quand' astros lançam raios seus,
Cobrindo de pranto os céus,
Sorriu por tal obra ver?
Quem o fez, a ovelha fez viver?
Tigre! Tigre! Grã clarão
Nas selvas da escuridão,
Qu'olho ou mão imortal v'ria
Criar sua horrível simetria?
In: The Complete Poetry & Prose of William Blake". Edited by David V. Erdman and commentary by Harold Bloom. Los Angeles: University California Press, 2008.
TIGER, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?
In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?
And what shoulder and what art
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand and what dread feet?
What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?
When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did He smile His work to see?
Did He who made the lamb make thee?
Tiger, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?
"O tigre"
(Tradução de Adriano Nunes)
Tigre! Tigre! Grã clarão
Nas selvas da escuridão,
Qu'olho ou mão imortal v'ria
Criar sua horrível simetria?
Em quais abismos ou céus
Queima o fogo d'olhos seus?
Com que asas ousou se alçar?
Que mão tal fogo ousou pegar?
E qual ombro, e quais as artes
Torceram do seu peito as partes?
E ao bater do coração,
Que terríveis pé ou mão?
Que martelo? Que corrente?
Que forno fez sua mente?
Que bigorna? Impulso qual
Forjou seu terror letal?
Quand' astros lançam raios seus,
Cobrindo de pranto os céus,
Sorriu por tal obra ver?
Quem o fez, a ovelha fez viver?
Tigre! Tigre! Grã clarão
Nas selvas da escuridão,
Qu'olho ou mão imortal v'ria
Criar sua horrível simetria?
In: The Complete Poetry & Prose of William Blake". Edited by David V. Erdman and commentary by Harold Bloom. Los Angeles: University California Press, 2008.
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William Blake: "Night"
"Night" - William Blake
The sun descending in the west,
The evening star does shine;
The birds are silent in their nest,
And I must seek for mine.
The moon, like a flower,
In heaven's high bower,
With silent delight
Sits and smiles on the night.
"Noite"
(Tradução/transcriação de Adriano Nunes)
O sol despencando no oeste,
A estrela d'alva brilha;
As aves silentes num cipreste,
Eu procuro uma trilha.
A lua, feito flor,
No celeste esplendor,
Com prazer silente
Pousa à noite sorridente.
The sun descending in the west,
The evening star does shine;
The birds are silent in their nest,
And I must seek for mine.
The moon, like a flower,
In heaven's high bower,
With silent delight
Sits and smiles on the night.
"Noite"
(Tradução/transcriação de Adriano Nunes)
O sol despencando no oeste,
A estrela d'alva brilha;
As aves silentes num cipreste,
Eu procuro uma trilha.
A lua, feito flor,
No celeste esplendor,
Com prazer silente
Pousa à noite sorridente.
In: The Complete Poetry & Prose of William Blake". Edited by David V. Erdman and commentary by Harold Bloom. Los Angeles: University California Press, 2008.
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quarta-feira, 28 de março de 2012
Adriano Nunes: "Uma palavra continuará"
"Uma palavra continuará"
Uma palavra continuará
A ser uma palavra, mas o amor
Pode transformá-la naquele pássaro
Distante, distraído com o seu voo,
Naquela libélula louca, solta
De si, buscando o seu reflexo em água
Cristalina, nessa lua tão alta
A iluminar a noite, qualquer noite.
Ou neste poema, porque é de amor,
Porque é preciso entregar-me ao o infinito.
Uma palavra continuará
A ser uma palavra, mas o amor
Pode transformá-la naquele pássaro
Distante, distraído com o seu voo,
Naquela libélula louca, solta
De si, buscando o seu reflexo em água
Cristalina, nessa lua tão alta
A iluminar a noite, qualquer noite.
Ou neste poema, porque é de amor,
Porque é preciso entregar-me ao o infinito.
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Adriano Nunes: "Entre silêncios de silício"
"Entre silêncios de silício"
A tarde se esvai,
Entre gritos de grafite, gestos gastos e ais.
Nenhum indício da tua existência,
Só a saudade impregnando os livros e essa
Angústia presa às palavras,
Para lembrar-me do que é preciso ser dito.
Tonto, o meu coração tropeça
No ritmo de tudo que me sinto.
Teu espectro surpreende-me,
Enquanto escrevo estes versos, às pressas.
A tarde se esvai,
Entre silêncios de silício...
Vingam os vestígios da inconsciência, e
A solidão me encarcera. Será regra?
Outro signo se solta do eclético tédio.
Cego, o meu coração tolera
O metro de tudo que me penso.
À socapa, teu espectro embaraça-me,
Enquanto a noite despenca
Do infinito do que em mim quero.
A tarde se esvai,
Entre gritos de grafite, gestos gastos e ais.
Nenhum indício da tua existência,
Só a saudade impregnando os livros e essa
Angústia presa às palavras,
Para lembrar-me do que é preciso ser dito.
Tonto, o meu coração tropeça
No ritmo de tudo que me sinto.
Teu espectro surpreende-me,
Enquanto escrevo estes versos, às pressas.
A tarde se esvai,
Entre silêncios de silício...
Vingam os vestígios da inconsciência, e
A solidão me encarcera. Será regra?
Outro signo se solta do eclético tédio.
Cego, o meu coração tolera
O metro de tudo que me penso.
À socapa, teu espectro embaraça-me,
Enquanto a noite despenca
Do infinito do que em mim quero.
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Adriano Nunes: "olvido" - Para Sulamita Ferreira Teixeira, Carmen Silvia Presotto, Carmen Lucia Lima Sarmento e Elsa Maria Cunha
"olvido" - Para Sulamita Ferreira Teixeira, Carmen Silvia Presotto, Carmen Lucia Lima Sarmento e Elsa Maria Cunha
bálsamo preciso é o olvido,
diz-me o coração, num gemido.
bálsamo preciso é o olvido,
grita o coração, já perdido.
bálsamo preciso é o olvido,
repito ao coração, contido.
bálsamo preciso é o olvido,
insiste o coração, ferido.
daqui do meu lab'rinto íntimo,
tento (penso que é mesmo o mínimo
que posso fazer) ganhar de Cupido
as flechas, sem ser atingido.
bálsamo preciso é o olvido,
diz-me o coração, num gemido.
bálsamo preciso é o olvido,
grita o coração, já perdido.
bálsamo preciso é o olvido,
repito ao coração, contido.
bálsamo preciso é o olvido,
insiste o coração, ferido.
daqui do meu lab'rinto íntimo,
tento (penso que é mesmo o mínimo
que posso fazer) ganhar de Cupido
as flechas, sem ser atingido.
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segunda-feira, 26 de março de 2012
Adriano Nunes: "o sol" - Para meu amigo Dr. Mariano
"o sol" - Para meu amigo Dr. Mariano
o sol é a sobra
da sombra.
pouco de si, só
penumbra.
solto de si, nos
vislumbra.
imerso em si, nos
assombra.
do solo,
co' os meus olhos,
imolo-o.
o sol é a sobra
da sombra.
pouco de si, só
penumbra.
solto de si, nos
vislumbra.
imerso em si, nos
assombra.
do solo,
co' os meus olhos,
imolo-o.
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Adriano Nunes: "Apenas acontece"
"Apenas acontece"
Às vezes, acontece
- como se fosse um susto,
um súbito sorteio,
outro sonho sem fim -
o amor, o amor, o amor...
E a lida fica farta
de sóis, felicidade.
Desejar mais o quê?
Às vezes, acontece,
apenas acontece.
Às vezes, acontece
- como se fosse um susto,
um súbito sorteio,
outro sonho sem fim -
o amor, o amor, o amor...
E a lida fica farta
de sóis, felicidade.
Desejar mais o quê?
Às vezes, acontece,
apenas acontece.
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Adriano Nunes: "O soneto da intensidade"
"O soneto da intensidade"
Sou mesmo intenso.
Às vezes, finjo quem me sinto
E esqueço-me no labirinto
Íntimo do ser que me penso.
Se amo, vingo plural, instinto
E não ligo para o bom-senso.
Abrigo-me aberto e propenso
Ao infinito. A vida consinto
À felicidade, não minto.
Às vezes, eu sou quem me penso
E esqueço-me no labirinto
Íntimo do ser que me sinto.
Se amo, tudo é total, intenso,
Ao amor propenso.
Sou mesmo intenso.
Às vezes, finjo quem me sinto
E esqueço-me no labirinto
Íntimo do ser que me penso.
Se amo, vingo plural, instinto
E não ligo para o bom-senso.
Abrigo-me aberto e propenso
Ao infinito. A vida consinto
À felicidade, não minto.
Às vezes, eu sou quem me penso
E esqueço-me no labirinto
Íntimo do ser que me sinto.
Se amo, tudo é total, intenso,
Ao amor propenso.
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sábado, 24 de março de 2012
Adriano Nunes: "O que falaram do amor" - Para Marlos Barros
"O que falaram do amor" - Para Marlos Barros
O que falaram do amor
Passou, não mais me interessa.
O qu' inda podem supor
É só tolice, qual essa.
Infinito? Eterno? Por
Que tal conversa não cessa
De vez, que tem tanto o amor,
A grã quimera inconfessa?
O que falaram do amor
Passou, perpassou, depressa.
A que 'inda podem se opor?
Que crendice, falta expressa!
O que falaram do amor
Passou, não mais me interessa.
O qu' inda podem supor
É só tolice, qual essa.
Infinito? Eterno? Por
Que tal conversa não cessa
De vez, que tem tanto o amor,
A grã quimera inconfessa?
O que falaram do amor
Passou, perpassou, depressa.
A que 'inda podem se opor?
Que crendice, falta expressa!
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José Gorostiza: "Poema de Esperanza"
"Poema de Esperanza" - José Gorostiza
Ya tengo frío
y enrojecen mis manos y mi cara
y entre mis venas se desliza un río
pausadamente, como si temblara
de frío.
!Si la alondra cantara!
Y el viejo sol de invierno, tristemente,
saliese a calentar mis manos y mi cara,
si yo pudiera adivinar el orto
como se adivina
la forma de los senos bajo una muselina...
Y acerco mi sitial a la vidriera,
Como el mundo,
es muy larga la espera
! Y el sol no asoma
ni atraviesa el cristal de mi vidriera!
Están rojas mis manos y mi cara
y siento adormecerme en el mullido
sitial. ! Y el sol me encontrará dormido!
Si la alondra cantara...
"Poema de Esperança"
(Tradução de Adriano Nunes)
Já tenho frio
e enrubescem-se as minhas mãos e a face
e entre minhas veias desliza um rio
pausadamente, como se agitasse
de frio.
Se esse cuco cantasse!
E o velho sol de inverno, tristemente,
saísse a esquentar minhas mãos e a face,
se eu pudesse adivinhar o devir
como se adivinha
a forma dos seios por baixo da musselina...
Como o mundo,
é mui longo o que ameaça
E o sol não assoma
nem atravessa o cristal da vidraça!
Estão roxas minhas mãos, minha face
e sinto-me adormecer em macio
sítio. E o sol encontrar-me-á adormecido!
Se esse cuco cantasse...
In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madri: ALLCA XX, 1996, p. 99.
Ya tengo frío
y enrojecen mis manos y mi cara
y entre mis venas se desliza un río
pausadamente, como si temblara
de frío.
!Si la alondra cantara!
Y el viejo sol de invierno, tristemente,
saliese a calentar mis manos y mi cara,
si yo pudiera adivinar el orto
como se adivina
la forma de los senos bajo una muselina...
Y acerco mi sitial a la vidriera,
Como el mundo,
es muy larga la espera
! Y el sol no asoma
ni atraviesa el cristal de mi vidriera!
Están rojas mis manos y mi cara
y siento adormecerme en el mullido
sitial. ! Y el sol me encontrará dormido!
Si la alondra cantara...
"Poema de Esperança"
(Tradução de Adriano Nunes)
Já tenho frio
e enrubescem-se as minhas mãos e a face
e entre minhas veias desliza um rio
pausadamente, como se agitasse
de frio.
Se esse cuco cantasse!
E o velho sol de inverno, tristemente,
saísse a esquentar minhas mãos e a face,
se eu pudesse adivinhar o devir
como se adivinha
a forma dos seios por baixo da musselina...
Como o mundo,
é mui longo o que ameaça
E o sol não assoma
nem atravessa o cristal da vidraça!
Estão roxas minhas mãos, minha face
e sinto-me adormecer em macio
sítio. E o sol encontrar-me-á adormecido!
Se esse cuco cantasse...
In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madri: ALLCA XX, 1996, p. 99.
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quarta-feira, 21 de março de 2012
Adriano Nunes: "Throw"
"Throw"
I need your dreams
Because I do not have anything.
But you say to me:
Your words are empty,
Let me alone here!
I need your feelings
Because I have committed some sins,
Delicious sins.
Then you say to me:
Your world is an enigma!
I need your fears
Because I need
To understand myself.
And you say to me:
Just love the inevitability!
I need your dreams
Because I do not have anything.
But you say to me:
Your words are empty,
Let me alone here!
I need your feelings
Because I have committed some sins,
Delicious sins.
Then you say to me:
Your world is an enigma!
I need your fears
Because I need
To understand myself.
And you say to me:
Just love the inevitability!
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terça-feira, 20 de março de 2012
Federico García Lorca: "Canción Otoñal"
"Canción Otoñal" - Federico García Lorca
Hoy siento en el corazón
un vago temblor de estrellas,
pero mi senda se pierde
en el alma de la niebla.
La luz me troncha las alas
y el dolor de mi tristeza
va mojando los recuerdos
en la fuente de la idea.
Todas las rosas son blancas,
tan blancas como mi pena,
y no son las rosas blancas,
que ha nevado sobre ellas.
Antes tuvieron el iris.
También sobre el alma nieva.
La nieve del alma tiene
copos de besos y escenas
que se hundieron en la sombra
o en la luz del que las piensa.
La nieve cae de las rosas,
pero la del alma queda,
y la garra de los años
hace un sudario con ellas.
¿Se deshelará la nieve
cuando la muerte nos lleva?
¿O después habrá otra nieve
y otras rosas más perfectas?
¿Será la paz con nosotros
como Cristo nos enseña?
¿O nunca será posible
la solución del problema?
¿Y si el amor nos engaña?
¿Quién la vida nos alienta
si el crepúsculo nos hunde
en la verdadera ciencia
del Bien que quizá no exista,
y del Mal que late cerca?
¿Si la esperanza se apaga
y la Babel se comienza,
qué antorcha iluminará
los caminos en la Tierra?
¿Si el azul es un ensueño,
qué será de la inocencia?
¿Qué será del corazón
si el Amor no tiene flechas?
¿Y si la muerte es la muerte,
qué será de los poetas
y de las cosas dormidas
que ya nadie las recuerda?
¡Oh sol de las esperanzas!
¡Agua clara! ¡Luna nueva!
¡Corazones de los niños!
¡Almas rudas de las piedras!
Hoy siento en el corazón
un vago temblor de estrellas
y todas las rosas son
tan blancas como mi pena.
"Canção outonal"
(Tradução de Adriano Nunes)
Sinto hoje no coração
um vago tremor de estrelas,
mas minha senda se perde
no âmago daquela névoa.
A luz me esfacela as asas
e a dor de minha tristeza
vai molhando as tais lembranças
no manancial da ideia.
Todas as rosas são brancas,
tão brancas quão minha pena,
e não são as rosas brancas
porque nevou sobre elas.
Antes tiveram o íris.
Também sobre a alma neva.
A neve da alma tem
flocos de beijos e cenas
que se fundiram na sombra
ou na luz de quem as pensa.
A neve some das rosas,
porém a da alma fica
e a garra de todos anos
faz um sudário com elas.
Descongelará tal neve
quando a morte nos levar?
Ou pós virá outra neve
e outras rosas mais perfeitas?
Haverá paz entre nós
como Cristo nos ensina?
Ou nunca será possível
a solução do problema?
E se o amor só nos engana?
Quem a vida nos alenta
se o crepúsculo nos funde
na verdadeira ciência
do Bem que quiçá não há,
e do mal que pulsa perto?
Se essa esperança se apaga
e a Babel se principia,
que tocha iluminará
os caminhos sobre a Terra?
Se o azul é uma ilusão,
o que será da inocência?
que será do coração
se o amor não possui mais flechas?
E se a morte é mesmo morte,
o que será dos poetas
e as coisas adormecidas
que já ninguém as recorda?
Oh sol dessas esperanças!
Água clara! Lua nova!
Os corações dos meninos!
Almas rústicas das pedras!
Já sinto no coração
um vago tremor de estrelas
e todas as rosas são
tão brancas quão minha pena.
Hoy siento en el corazón
un vago temblor de estrellas,
pero mi senda se pierde
en el alma de la niebla.
La luz me troncha las alas
y el dolor de mi tristeza
va mojando los recuerdos
en la fuente de la idea.
Todas las rosas son blancas,
tan blancas como mi pena,
y no son las rosas blancas,
que ha nevado sobre ellas.
Antes tuvieron el iris.
También sobre el alma nieva.
La nieve del alma tiene
copos de besos y escenas
que se hundieron en la sombra
o en la luz del que las piensa.
La nieve cae de las rosas,
pero la del alma queda,
y la garra de los años
hace un sudario con ellas.
¿Se deshelará la nieve
cuando la muerte nos lleva?
¿O después habrá otra nieve
y otras rosas más perfectas?
¿Será la paz con nosotros
como Cristo nos enseña?
¿O nunca será posible
la solución del problema?
¿Y si el amor nos engaña?
¿Quién la vida nos alienta
si el crepúsculo nos hunde
en la verdadera ciencia
del Bien que quizá no exista,
y del Mal que late cerca?
¿Si la esperanza se apaga
y la Babel se comienza,
qué antorcha iluminará
los caminos en la Tierra?
¿Si el azul es un ensueño,
qué será de la inocencia?
¿Qué será del corazón
si el Amor no tiene flechas?
¿Y si la muerte es la muerte,
qué será de los poetas
y de las cosas dormidas
que ya nadie las recuerda?
¡Oh sol de las esperanzas!
¡Agua clara! ¡Luna nueva!
¡Corazones de los niños!
¡Almas rudas de las piedras!
Hoy siento en el corazón
un vago temblor de estrellas
y todas las rosas son
tan blancas como mi pena.
"Canção outonal"
(Tradução de Adriano Nunes)
Sinto hoje no coração
um vago tremor de estrelas,
mas minha senda se perde
no âmago daquela névoa.
A luz me esfacela as asas
e a dor de minha tristeza
vai molhando as tais lembranças
no manancial da ideia.
Todas as rosas são brancas,
tão brancas quão minha pena,
e não são as rosas brancas
porque nevou sobre elas.
Antes tiveram o íris.
Também sobre a alma neva.
A neve da alma tem
flocos de beijos e cenas
que se fundiram na sombra
ou na luz de quem as pensa.
A neve some das rosas,
porém a da alma fica
e a garra de todos anos
faz um sudário com elas.
Descongelará tal neve
quando a morte nos levar?
Ou pós virá outra neve
e outras rosas mais perfeitas?
Haverá paz entre nós
como Cristo nos ensina?
Ou nunca será possível
a solução do problema?
E se o amor só nos engana?
Quem a vida nos alenta
se o crepúsculo nos funde
na verdadeira ciência
do Bem que quiçá não há,
e do mal que pulsa perto?
Se essa esperança se apaga
e a Babel se principia,
que tocha iluminará
os caminhos sobre a Terra?
Se o azul é uma ilusão,
o que será da inocência?
que será do coração
se o amor não possui mais flechas?
E se a morte é mesmo morte,
o que será dos poetas
e as coisas adormecidas
que já ninguém as recorda?
Oh sol dessas esperanças!
Água clara! Lua nova!
Os corações dos meninos!
Almas rústicas das pedras!
Já sinto no coração
um vago tremor de estrelas
e todas as rosas são
tão brancas quão minha pena.
In: "Poesía Completa". Ed. Delbosillo.
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sábado, 17 de março de 2012
Adriano Nunes: "Nostalgia"
"Nostalgia"
Le di todo lo que tenía...
Mi corazón,
Algunas quimeras mágicas,
Un dragón de estimación,
Mi poesía.
Hoy yo soy
Un pájaro libre,
Pero sin canto.
¿Dónde está la gayola?
Le di todo lo que tenía...
Mi corazón,
Algunas quimeras mágicas,
Un dragón de estimación,
Mi poesía.
Hoy yo soy
Un pájaro libre,
Pero sin canto.
¿Dónde está la gayola?
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sexta-feira, 16 de março de 2012
Adriano Nunes: "Pour tout, merci!"
"Pour tout, merci!"
Tive medo de crescer e cresci
Entre taras, trajes, alguns amigos,
Tardes intensas e móveis antigos.
Com prazer vos digo: pour tout, merci!
Tive medo de sonhar e sonhei
A vida adiante, o desassossego
De sombras.... (Que vasta ilusão carrego
Em meu coração!) Cosmos barganhei!
Tive medo de amar e amei tanto
O amor, que em mim o pude amalgamar.
(O amor vinga amor em que patamar?)
Tive medo de amar... Hoje o amor canto!
Tive medo de crescer e cresci
Entre taras, trajes, alguns amigos,
Tardes intensas e móveis antigos.
Com prazer vos digo: pour tout, merci!
Tive medo de sonhar e sonhei
A vida adiante, o desassossego
De sombras.... (Que vasta ilusão carrego
Em meu coração!) Cosmos barganhei!
Tive medo de amar e amei tanto
O amor, que em mim o pude amalgamar.
(O amor vinga amor em que patamar?)
Tive medo de amar... Hoje o amor canto!
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terça-feira, 13 de março de 2012
Adriano Nunes: "Da vaidade do discurso quase indireto"
"Da vaidade do discurso quase indireto"
Se perguntarem por mim,
Digam assim:
Vai bem, sem ninguém.
Vai por aí,
Sem saber mesmo aonde quer ir.
Sem preocupação, culpa ou mágoa,
Vai curtindo cada segundo que passa...
Está feliz,
Como outrora quis.
Não quer mais nada.
Se perguntarem por mim,
Digam assim:
Vai bem, sem ninguém.
Vai por aí,
Sem saber mesmo aonde quer ir.
Sem preocupação, culpa ou mágoa,
Vai curtindo cada segundo que passa...
Está feliz,
Como outrora quis.
Não quer mais nada.
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Adriano Nunes: "Motim"
"Motim"
A vida vê-se inclusa
Na luz da tua blusa.
Ela não mais te assusta,
Sim, tem a estampa justa.
Que alegria te furta
Co' aquela explosão curta?
Outra quimera brusca-
Mente agora te busca.
Enfim, a vida pura-
Mente, a vida, não dura.
Mas a voz te circunda,
Para sempre, profunda.
A vida vê-se inclusa
Na luz da tua blusa.
Ela não mais te assusta,
Sim, tem a estampa justa.
Que alegria te furta
Co' aquela explosão curta?
Outra quimera brusca-
Mente agora te busca.
Enfim, a vida pura-
Mente, a vida, não dura.
Mas a voz te circunda,
Para sempre, profunda.
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segunda-feira, 12 de março de 2012
Adriano Nunes: "era para ser uma canção de exílio"
"era para ser uma canção de exílio"
meu canto de exílio
é o ruído de um riacho quase seco,
é isso.
nunca vi sabiás
nem saberia dizer como é um.
palmeiras? só as conheço
de longe.
mas o meu coração abriga o
infinito.
meu canto de exílio
é o ruído de um riacho quase seco,
é isso.
nunca vi sabiás
nem saberia dizer como é um.
palmeiras? só as conheço
de longe.
mas o meu coração abriga o
infinito.
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Adriano Nunes: "Essa chuva antecipa a madrugada"
"Essa chuva antecipa a madrugada"
Essa chuva antecipa a madrugada.
Embaraça-se a cidade, mas nada
Chega a ser clichê. Pela vidraça,
A minha solidão quimeras caça.
Oprimidos os carros seguem, quase
Formando, em lentidão, sólida base.
Sem propósito, o amor se liquefaz,
Enquanto córregos sangram em paz.
Violentamente chove... A morte avança,
À socapa. Vestígio de esperança
Não vinga... Perigoso ter palavra
Imersa nos olhos, qualquer palavra.
Essa chuva antecipa a madrugada.
Embaraça-se a cidade, mas nada
Chega a ser clichê. Pela vidraça,
A minha solidão quimeras caça.
Oprimidos os carros seguem, quase
Formando, em lentidão, sólida base.
Sem propósito, o amor se liquefaz,
Enquanto córregos sangram em paz.
Violentamente chove... A morte avança,
À socapa. Vestígio de esperança
Não vinga... Perigoso ter palavra
Imersa nos olhos, qualquer palavra.
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Adriano Nunes: "O coxo e cego Tirteu" - Para Péricles Cavalcanti
"O coxo e cego Tirteu" - Para Péricles Cavalcanti
De Atenas, partiu Tirteu
Para Esparta, com o seu
Canto, e todos convenceu.
Coxo e cego, caduceu
à mão, caminha Tirteu
Com o exército, co' o seu
Canto de ânimo, plebeu.
Para os espartanos deu
Grande alegria, apogeu,
O coxo e cego Tirteu!
De Atenas, partiu Tirteu
Para Esparta, com o seu
Canto, e todos convenceu.
Coxo e cego, caduceu
à mão, caminha Tirteu
Com o exército, co' o seu
Canto de ânimo, plebeu.
Para os espartanos deu
Grande alegria, apogeu,
O coxo e cego Tirteu!
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sábado, 10 de março de 2012
Adriano Nunes: "palavra" - Para Antonio Cicero.
"palavra" - Para Antonio Cicero.
alegr(a-me a
palavra)
sem rédea.
palavra?
concede-a
ao ver-
so: ver-
se a vida
por ela,
sortida,
singela,
sem rédea.
alegr(a-me a
palavra)
sem rédea.
palavra?
concede-a
ao ver-
so: ver-
se a vida
por ela,
sortida,
singela,
sem rédea.
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Adriano Nunes: "Felicidade"
"Felicidade"
Por se despir
Das horas vagas,
Meu coração
Feliz dispara:
Quer só teu ser...
Pancada por
Pancada, só.
Por se despir
Das horas vagas,
Meu coração
Feliz dispara:
Quer só teu ser...
Pancada por
Pancada, só.
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sexta-feira, 9 de março de 2012
Adriano Nunes: "Ai, meu coração nada me concede!"
"Ai, meu coração nada me concede!"
Atira-se da calota celeste
Essa tarde de insólita tristeza.
Lanço à vista as lágrimas... Talvez à
Medida que em sonhos meu ser investe.
Despenca a pênsil tarde de vez, a-
Inda disforme, febril, inconteste.
Provo do vasto pranto que me veste,
Subitamente, com vã sutileza.
Ai, que dor ululante me atravessa!
Cai a tarde, sem aquela promessa
De esperança, e pesada se despede.
Ai, meu coração nada me concede!
Esvai-se estreita tarde, mas é de
Supor que viver tanto me interessa.
Atira-se da calota celeste
Essa tarde de insólita tristeza.
Lanço à vista as lágrimas... Talvez à
Medida que em sonhos meu ser investe.
Despenca a pênsil tarde de vez, a-
Inda disforme, febril, inconteste.
Provo do vasto pranto que me veste,
Subitamente, com vã sutileza.
Ai, que dor ululante me atravessa!
Cai a tarde, sem aquela promessa
De esperança, e pesada se despede.
Ai, meu coração nada me concede!
Esvai-se estreita tarde, mas é de
Supor que viver tanto me interessa.
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quinta-feira, 8 de março de 2012
Adriano Nunes: "de la bruta felicidad"
"de la bruta felicidad"
a veces, yo quiero la eternidad
de un delicioso mirar.
otras veces, yo quiero la
ilusión, sólo.
las piernas en las piernas,
la lengua versátil rompiendo
las fronteras y el silencio...
además, nada.
y la sal de tu cuerpo
sobre cualquier intención...
?después? !la sangre
de la bruta felicidad!
a veces, yo quiero la eternidad
de un delicioso mirar.
otras veces, yo quiero la
ilusión, sólo.
las piernas en las piernas,
la lengua versátil rompiendo
las fronteras y el silencio...
además, nada.
y la sal de tu cuerpo
sobre cualquier intención...
?después? !la sangre
de la bruta felicidad!
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domingo, 4 de março de 2012
Adriano Nunes: "A formiga infeliz e a cigarra cantante" - Para Aetano Lima
"A formiga infeliz e a cigarra cantante" - Para Aetano Lima
Pensar cansa, certa é a cigarra que canta.
Bom mesmo é perder o juízo, correr risco,
Dar aquele grito imprevisto, não ser santa,
Porque muito adianta, neste tempo arisco.
Penar cansa... Esperta a cigarra que se ufana.
Perigo é voltar ao paraíso, ao Olvido,
Ter que reprovar de novo o fruto proibido,
Enquanto na tocaia urbana a vida é tirana.
Então descansa, descasca a tua laranja,
Arrisca, alegra-te, canta, já é possível
Ser quem és, quem queiras. Sensato é ser terrível,
Mandar tudo pro espaço, pois tudo se arranja.
Pensar cansa, certa é a cigarra que canta.
Bom mesmo é perder o juízo, correr risco,
Dar aquele grito imprevisto, não ser santa,
Porque muito adianta, neste tempo arisco.
Penar cansa... Esperta a cigarra que se ufana.
Perigo é voltar ao paraíso, ao Olvido,
Ter que reprovar de novo o fruto proibido,
Enquanto na tocaia urbana a vida é tirana.
Então descansa, descasca a tua laranja,
Arrisca, alegra-te, canta, já é possível
Ser quem és, quem queiras. Sensato é ser terrível,
Mandar tudo pro espaço, pois tudo se arranja.
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Adriano Nunes: "Tensa noche" - Para Carmen Silvia Presotto
"Tensa noche" - Para Carmen Silvia Presotto
Es noche, otra noche
En mi tonto corazón.
El infinito es sólo
Este deseo roto
Ante el temor (!El inmenso temor!)
De ser quien yo soy.
Es noche, otra noche
Sin rostro,
Sin nombre...
Un dolor asoma (!El mayor dolor!)
Pero yo oso, poco a poco,
Ya ser quien yo soy.
Es noche, tensa noche
En mi triste corazón.
El infinito es sólo
Otro sueño, sólo.
Esos ojos de grafito qué son,
Cuándo yo soy lo que soy?
Es noche, otra noche
En mi tonto corazón.
El infinito es sólo
Este deseo roto
Ante el temor (!El inmenso temor!)
De ser quien yo soy.
Es noche, otra noche
Sin rostro,
Sin nombre...
Un dolor asoma (!El mayor dolor!)
Pero yo oso, poco a poco,
Ya ser quien yo soy.
Es noche, tensa noche
En mi triste corazón.
El infinito es sólo
Otro sueño, sólo.
Esos ojos de grafito qué son,
Cuándo yo soy lo que soy?
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Adriano Nunes: "mi canto"
"mi canto"
mi canto
es poco...
y sólo,
es sólido.
yo oso.
mi canto
es todo,
!espanto!
es flojo.
soy loco.
mi canto
es otro.
(?qué tanto?)
es lógico.
!yo lloro!
mi canto
es poco...
y sólo,
es sólido.
yo oso.
mi canto
es todo,
!espanto!
es flojo.
soy loco.
mi canto
es otro.
(?qué tanto?)
es lógico.
!yo lloro!
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