segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Amor"

"Amor"


Lanço o dado...
Amor, sinto-o.
Amor, sinto
Ser amado.


Labirinto?
Lado a lado, o
Lábio, atado
Ao amor, pinto

Co' o matiz
Que decanto
Deste canto,

Pois me fiz
Mais feliz
E co' encanto.









Adriano Nunes: "Arquitetura da rotina" - Para Domingos da Mota.

"Arquitetura da rotina" - Para Domingos da Mota.


Esquecer o tédio do dia.
Adiar a tempo o diálogo
Com o que me penso, mas logo
Divertir-me: Tudo irradia!

Na gaveta, guardar o verso
Para Ovídio... Dar por temido
O instante mágico, o gemido
Da palavra, no gesto, imerso.

Seguir sempre em frente à procura
Dos dióxidos dos oxímoros,
Fluir leve através dos poros
Da rotina, ater-me à aventura


De escrever, no infinito, o amor,
Como tento, contente, agora.
Enganar Átropos, a Moira,
E à Vida a Esperança propor.






domingo, 26 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Equação" - Para Péricles e Lídia.

"Equação" - Para Lídia e Péricles.



O amor não cabe na cabeça
O amor não cabe na razão
O amor não cabe em pensamento
O amor não cabe nas sinapses
O amor não cabe em coração
O amor não cabe em batimento
O amor não cabe... não se esqueça!
O amor não cabe em folha ou lápis
O amor acaba-se em silêncio.



Adriano Nunes: "A rosa" - Para Márcia Frazão

‎"A rosa" - Para Márcia Frazão.



De forma formosa
Faz-se a rara rosa,
Faz-se luz, senhora
Das flores, lá fora.

O infinito agora
Dessa vida aflora:
Ó, rainha da flora,
O tempo se cora

De tempo, devora-a.
Primavera, ó rosa,
Que importa? Tal hora,
Desabrocha, rosa.





Adriano Nunes: "ex-pan cada pop creta"

"ex-pan cada pop creta "



o mito ad mito é tudo
is so com que me iludo o
pr óprio in finito mudo

é tudo as sim recôn dito
entre o dito e o não dito
édi po e es finge e e dito

o mito ad mito é nada
dis so: forte pan cada
no si gno tu do e nada

é o mundo en fim transc rito
na mente um ver e dito
todo o amor ir restrito




sábado, 25 de setembro de 2010

Adriano Nunes: Leitura (análise poética) do meu poema "Confissão" pelo poeta Paulo Sabino.

Aos amigos,



Recomendo a leitura do meu poema "Confissão" feita pelo poeta e amigo Paulo Sabino, uma verdadeira aula de análise poética, um clarão!


Blog Prosa em Poema: http://prosaempoema.wordpress.com/2010/09/24/confissao/
http://prosaempoema.wordpress.com/2010/09/24/confissao/








Adriano Nunes: "Cola"

"Cola"



A hipotenusa
(Coisa confusa!)
Sempre ao quadrado
Cateto é lado
A hipotenusa
(Não é Medusa
Do tal Perseu)
Pronome: Seu
Prefixo: Per-
Feito: Super-
Homem sou eu
Memória some...
Medo tem nome
A hipotenusa
(Será Medusa
Do tal pronome?)
Cateto ao lado
Feito Perseu
Medo do nome
Prefixo: pre-
sente pra sempre
A mente some...
Coisa confusa
Que mais sou eu?




sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Despsia" - Para Décio Pignatari

‎"Despsia" - Para Décio Pignatari



o

poe
pois
pois é
pois é poe
pois é poesia

é vida só vida
é só a vida
é a ida
ida
dia
d
é

p
o
e m

s
i

a

v
i
d
a

voai)des(psia




Adriano Nunes: "Pequenas pirâmides popconcretas"

‎"Mercadoria" - Para Joca Libânio.



me
me ca
me rci
me rcê
me rcado
me rcador
me rcadoria
me rcador
me rcado
me rcê
me rci
me ca
me





"Sou todo seu"



eu
só sou
sou seu só
sou seu sol sol(to do) ser
sou seu sol solto seu sou todo
sou seu sol sol(to do) ser
sou seu só
só sou
eu





‎"Manhãzinha concreta" - Para Lídia Chaib.




a
am
ama
amanhã
a manhã
ama a manhã
am a a ma a ma a ma a
ama a manhã
a manhã
amanhã
ama
am
a





quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Confissão"

"confissão"




engulo gullar
durmo com drummond
sou uma pessoa
ando muito a pé
pecador de ofício
dou tanta bandeira
na visão, dois campos
na razão, mil anjos
às quintas, quintana
que sei mais de mim?
descubro cabral
conto pra caminha
confesso a vieira
onde está waly?
no ar? nos túneis? nada!
eu, nunca? nem ela,
minha piva, adélia.
pra circe ou cecília?
os outros, os outros...
lamento, leminski!





domingo, 19 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Oração" - Para Paulo Leminski.

"Oração" - Para Paulo Leminski.

Surja solto,
Ó poema,
Surja sol,

Ó poema,
Surja sem
Juras, ó

Meu poema,
Surja, só,
Sem esquema

Matemático,
Sem o tempo
De devir

Indevido,
Indivíduo,
Indizível,

Nessa lida,
Ó poema,
Surja já,

Supra-sumo,
Sempre sonho,
Só poema!




sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "O mar" - Para Péricles e Lídia.

"O mar" - Para Péricles e Lídia



amor sem muro
amor sem rumo
do amor, o sumo
amor só, puro

amor em onda
amor em nado
amor mudado
ó mar,responda!

o som do mar
amor de cor
colar calor
amalgamar

o sol domar
um som maior
mel do melhor
amado mar!




quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "o poema" - Para Antonio Cicero

"o poema" - Para Antonio Cicero


hoje o poema está
com a agenda lotada:
abrigou-se no tempo
do silêncio da sala,
não precisa louvar
mais nada, nem a flor
de lótus, nem a lógica
do agora, logaritmos,
sequer de ser as fórmulas.

o poema não quer
sorte ou sorteio - fez-se in-
traduzível, à face
do que está cheio,  corre
o risco de ser só
vivo pensar, seu mundo
finca-se além, à tez
do que existe, consome-se,
e ao poeta resiste.

quer explodir o nexo,
feito uma dinamite, o
cerne de cada verso.
sem ceder à vontade
alheia, feito teia
de deserto, sem medo
de porvir, feito susto,
às vezes, tende a vir
de quimeras, abrupto.



com a agenda esgotada,

hoje o poema sabe-se:
abrigou-se no umbigo
do mistério da fala,
decantar não precisa
nem matéria nem alma.
sua mágica vale-se
de ver-se livre da
preguiça das sinapses.


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Aos poucos. Um pouco"

"Aos poucos. Um pouco"



A face se faz
Aos poucos. Um pouco
De pó... Que rapaz
Mais voraz e louco!

Colore o nariz
De vermelho. Vive
A ouvir: Bis! Feliz...
Por um triz, não vive

O passado. À luz
De ser, o espetáculo
Em tudo reluz.
Disse-lhe um oráculo:

(Ou somente a voz
do coração?) Vale
A vida, essa foz,
A pena! Propale

O riso! De vez,
Refletiu: que faço?
E, sem timidez,
Vibrou: sou palhaço!






sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "À deriva" - Para Fred Girauta

"À deriva" - Para  Fred Girauta

Deixo o nexo
À deriva...
Solto sal-
To do céu

Nuvem viva
Nave ao léu
Queda livre
Quase c'al

Ma... Teria
Novo voo
Pouso perto:
Era um verso.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Valsa avulsa VIII" - Para Marcelo Diniz.

"Valsa avulsa VIII" - Para Marcelo Diniz.

expulso
do vácuo
do ventre
da foz
talvez
um útero
um cais
um cubo
um filtro
ou mais...
palpável
projeto
secreto
pra nada

expurgo
do fato
do feto
da voz
de vez
um número
a mais
um tubo
de vidro
mil ais...
provável
proveta
sagrada
pra tudo

no estúdio
do cérebro
abriga-se em
silêncio
a fera
sináptica a
quimera
perpétua
à espera
do aviso
elétrico:
'resista,
ó, verso!'



domingo, 5 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Do que não podemos"

"Do que não podemos"



Dizer a palavra
Que expresse a saudade
De ti... Toda a busca
Abrupta, por vida.
Mas não há saudade...

Há apenas um vácuo,
Um buraco negro
No âmago de tudo,
Entre os meus ventrículos,
Uma ideia de morte.

Então será mesmo
O nada? Silêncios...
Sucessivos sumos
Do que não podemos
Com o pensamento.




sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Aurora"

‎"Aurora"


Em todo infinito
Há um deus inscrito...

Invento o intervalo
Em que se esvaem os 

Gritos de grafite.


Mas, de vez em quando,
Evito calá-los.
Berro alto, solto 

Outros verbos, deixo
A língua liberta,


Sem amarra ou eixo.
Erato? Co' a lira 

Ofertando os versos,
Recitando a vida
Para mim, contemplo-te.

Teus dedos imergem
Em meus dedos. Técnica e
Desejo. Teu flerte 

Reflete o meu ver-te
Em mim. Poesia.


Registras quimeras

Nas folhas, e afago-as.
A morte? A impaciente.

Que não se apavore e
Dê-se convidada,

Descanse ao sofá
Da sala, sossegue,
Lance-se a um bom livro,
Enquanto preparo um

Café. É manhã!






quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Ars Poetica"

"Ars Poetica


O pêndulo
Do pensamento
Apenas pesa o 

Poema.

Ó, que prazer
É não poder

Em mim prever
As consequências!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Adriano Nunes: "Prescrição" - Para Péricles Cavalcanti

"Prescrição" - Para Péricles Cavalcanti

Entre um verso e outro, vou
Percebendo o quanto sou
Solto: por vezes, alço voo...
Invento um cérebro novo.


Onde fica o fim do poço?
Vejo que nada mais ouço.
Traços ou troços? Bem, roço
O eco do ser, arcabouço

De um mundo e outro. Talvez,
Um pouco de mim, de vez.
Mas com quanta lucidez,
Sou eu do encéfalo à tez?




Adriano Nunes: "O dia em que Maria perdeu o juízo"

"O dia em que Maria perdeu o juízo"



Nenhuma paixão tem tanto poder a ponto de dominar uma alma e subjugá-la. Nem as etéreas. Nem as transcendentais. Assim pensava Maria enquanto tecia comedidamente o seu enxoval. O casamento está próximo. Não posso ficar perdendo tempo com sonhos infantis e ingênuos. Que falta ainda, meu Deus?

Se pudéssemos tocar e sentir todos esses tecidos, todas essas vestimentas, todos os adereços, compreenderíamos bem por que Maria estava há três dias sem sair de casa.

Sua máquina de costurar era de uma antiguidade herdada da sua avó, mas as idéias de Maria calhavam com a modernidade dos acontecimentos peremptórios do seu tempo e até mais além. Cada peça era cosida formidável e implacavelmente como se deusas gregas tivessem engendrado uma disputa contemporânea entre Maria e Aracne. Nada, nenhum detalhe passava despercebido por seus dedos e olhos. O seu vestido de noiva refletia a realeza de uma grande cerimônia, algo incomum para uma cidadezinha como Campos Floridos. Maria de tão cansada adormecera.

Noite boa é aquela em que a farra se perpetua além da madrugada. Os amigos de Zé sabem disso como se tivessem decorado a cartilha do ABC e aquelas regras gramaticais primárias de acentuação gráfica. Todas as proparoxítonas são acentuadas! E o riso invadia rostos e almas ululantes.

--Juca, traz mais uma!

--Beleza, Zé!

Véspera de casamento. Despedida de solteiro. Embriaguez assídua. Desejos e taras à tona. Conversas paralelas. Flertes alcoólicos e perigosas frases de efeito postas à mesa como um petisco cheio de libido. Passavam das onze... Desde cedo esse grupo de mancebos confraternizava-se.

Não só homens estavam ali. Algumas garotas se juntaram à reunião festiva e deliciosamente divertida. Amantes, paqueras, as noturnas, ex-namoradas, as que remoem dividendos e multiplicam rancores... E também os homem que, à socapa, ardem de desejo por outros homens. Secretamente e sem tino, a essa altura, todos se desvencilharam das regras. As brincadeiras deram lugar a jogos da verdade os quais evocam um erotismo comum em mesas de bares.

O sono de Maria era uma nebulosa, um vestígio de morte insípida e colorida. As pálpebras cerradas, cortinas opacas para o mundo dos sentidos e das perdas, tremiam e oscilavam entre as descobertas que só os espíritos conseguem quando estão nesse estado de torpor ilusório. Maria começara a sonhar.

Que angústia, nesse instante, trucidava agressivamente o seu coração? Uma taquicardia súbita e regular fez com que o sangue alcançasse ao cérebro como as águas que despencam de uma cascata e chocam-se com as pedras e a areia embaixo. O cérebro de Maria encheu-se de sinapses confusas e divisoras de momentos. Pensou...

Ou melhor, sonhou que o seu casamento poria um fim em sua liberdade, que estaria para sempre numa redoma de vínculos morais, que acordaria às cinco da manhã diariamente e prepararia o café para o seu esposo, que cozinharia e que lavaria pratos e roupas sem poder descansar, que perderia as amigas, que as conversas femininas iriam ficar restritamente relacionadas às outras mulheres casadas e cansadas, muitas das quais arrependidas, outras atemporais e felizes. Que engordaria, que ficaria velha, que seria traída...

O sonho ia tomando forma e matizes próprios. Maria se viu na hora do "sim" em pleno altar, cercada de gente sorrindo e chorando e se projetou sorrindo e chorando e, mesmo dormindo, uma lágrima caiu fugindo dos olhos ou do destino que está por vir. O sono era um coma e o sonho, um túmulo.

A despedida de solteiro rompera a manhãzinha. Se orgias ocorreram, não sei dizer. Dormi o sono de Maria e pus-me a ficar em sua mente. Zé era alegria e medo... O álcool forte das intempestivas ações carnais dominara o seu corpo e seus impulsos eram tigres famintos. Jorraram gozos e uma sujeira de pernas, braços, órgãos, mãos, bocas e olhos se arquitetaram num espetáculo de decisiva hora: o casamento se aproxima!

Bêbado, barba mal feita, hálito cetônico, olhos avermelhados e uma cefaléia pulsátil fizeram com que Zé se apressasse lentamente do seu próximo mundo, da sua embriagada nova vida, de cama de casal, de comidinha pronta, de alianças trocadas... Do Seu Zé da Dona Maria!

O susto de ter que levar uma vida quase vazia despertou Maria. Sem saber que escolha fazer, ela olhou para o relógio e percebeu que só faltavam duas horas para o seu casamento. Quis correr contra o tempo. Não, quis parar os ponteiros. Desesperava-se com seus medos e dúvidas. Imaginou rasgar o vestido e o véu e queimar o buquê.

Sentou-se na cama. Um sorriso, nunca antes visto, acrescentou à sua face delicada um aspecto irônico e sem motivação. Quis voltar no tempo e lembrou-se dos namorados que teve. Zé era o melhor deles. Fora o escolhido. Esse era o momento de confirmar as dúvidas e deliciar-se com o prazer de tê-lo até que a morte os separasse. Maria vestida de noiva era uma dádiva de Hera.

A cerimônia foi relâmpago. Os convidados logo se dispersaram. Os sons agora são os gemidos e sussurros do sexo convulsivo de uma tarde ensolarada de núpcias. Maria gozou alucinadamente. Sabe que fez a escolha mais adequada. Seus mamilos eriçados, quase pétreos, recebem a língua e a saliva de Zé. Delira.

O ventilador não consegue esfriar o calor do vai-e-vem das objetividades corpóreas e fluidas. Maria perdera o juízo e a sua loucura fizera-lhe feliz e mulher.

Adriano Nunes: "Cabeça, traços e membros"

‎"Cabeça, traços e membros"




A ereção súbita fez Dimitri suspirar e pensamentos libidinosos e recheados de tara invadiram a sua mente. Ser vassalo dos desejos inconscientes, numa hora dessas, deitado na cama, apenas de cueca, depois de um dia intenso e de preocupações, proporcionou aos corpos esponjoso e cavernoso uma dilatação prazerosa.

As mãos inicialmente tímidas roçaram os pelos pélvicos que, como uma trilha, alcançavam um emaranhado de outros pelos suados. Um vai-e-vem de alisamentos e de toques, de batidas rápidas e de delírios visuais concretizou o êxtase. Deliciosos ais e jargões vulgares completaram o espetáculo. Cecile era mesmo capaz de ter participado desse cinema secreto e voluptuoso?

Os encontros casuais não eram suficientes para acalmar a alma de Dimitri. Ele compreendia que possuir alguém, como espectro, não sacia vontades e não devolve a certeza de que sonhos podem tornar-se reais. O trabalho diário, as visitas à mãe aos domingos, o futebol, os jogos de baralho, a cerveja e toda a sujeira dos bordéis violentamente não eram decisivos para a sua felicidade.

Um vazio insólito, uma intranquilidade contemporânea, uma solidez solitária, um vagar atrás de quem possa se enquadrar em seu mundo de perspectivas, tudo era só ruína e desalento. Faltava Cecile!

Compromissada com os estudos, sua vida nada tinha de esplendor ou descomedidas aventuras amorosas. Suas paixões eram os livros e os discos. Gostava de pôr na vitrola um disco de Caetano, Araçá Azul, e ficar horas e horas repetindo as músicas e encantando-se com o que fora feito "para entendidos".

Ou deliciava-se com as imagens cruas e secas quando bebia de João Cabral de Melo Neto. Nunca reparava em homem algum a não ser os dos romances franceses e das tragédias gregas e shakespearianas. Amar era uma vaidade ilusória que não calhava com seus planos profissionais e pessoais.

Queria ser uma jornalista ou uma arquiteta. Desvencilhava-se das atividades burocráticas e cheias de inveja e disputas por ascensão.

Se naquele instante Dimitri tivesse admitido que a amava há muito tempo, tudo também não estaria resolvido como não está agora. Seus dotes sexuais, seu cheiro de macho copulador, sua mandíbula, todo o seu corpanzil, a sua virilidade explícita, nada mesmo e nem os seus olhinhos brilhantes, faróis mais perdidos que os navios de sua alma, conseguiriam atrair Cecile para seu nicho de sentimentos puros e veementemente carnais.

O tempo passou e Cecile sequer se lembra de como foi abordada por aquele homem, por aquela cantada insípida e incolor.

Vidas opostas. Desejo único e agressivo invadindo corpo e espírito. Carreira profissional, diploma, felicitações, viagens, culpas, desesperos. Cecile já não se encontra à vista. Partira em busca de seus ideais.

Queria ser entendida. Arquitetara seus estudos numa batalha jornalística e a grande Capital abraçara o seu esforço e a sua determinação. Chegara a flertar com alguns garotos da turma, mas sempre sentia que ainda não lhe era permitido traçar por paixões infantis, meramente tentadoras de gozo certo, contínuo.

Se a masturbação era a conquista do objeto não possuído, Dimitri não economizava em suas tentativas vãs e alicerçadas de finalidades com clímax e êxtases. Gozava a felicidade de ser bem dotado e de satisfazer todas as suas amantes sem que o amor atracasse em seu coração.

Sexo era o ato de sentir que a sua potência proporcionava às mulheres um delírio indizível e imensurável. Cada gota de suor e sêmen transcendiam ao pedido daquelas que imploravam por algo a mais...

Quero você para sempre! Você é tudo de bom! Serei eternamente a sua amante! Frases sem força ou impulso que não o impressionavam. Apenas sorria e uma alegria momentânea assombrava o seu semblante.

Festa de reencontro com amigas é a dádiva cotidiana das ações humanas. Saudade sempre mata a gente quando não existe mais. Rever é bem mais intenso do que perder de vista. Sorrisos e novidades, detalhes de como é uma grande cidade, sobre os homens e as mulheres, moda, culinárias, cinemas e baladas...

Tudo sob a ilusão de que já não adiantam pedidos de regresso ou de estada definitiva. Cecile voltara para visitar os pais. Solteira ainda. Leve libélula. Dimitri a viu de longe. Não teve empolgação. Continuava amante de muitas...