Greeceland Anima MMXII / David Zink fecit
A Dimitris Christoulas, em Atenas, Abril de 2012
de súbito
insustentável
na praça Syntagma a relva surgiu vermelha
junto do tronco impassível da árvore abandonada
e toda a Grécia estremece com o espanto de um grito
um grito só e aflito que cruzou a Terra toda
como se fora pequena
como se valesse a pena despertar ainda a aurora
e jaz num corpo vazio que nos perturba a cidade
foi cada passo contado que o levou ao destino
foi a certeza da Vida que lhe aconselhou a morte
e um tiro redentor que suas mãos libertaram
agitaram o torpor das consciências paradas
ali foi digno
Dimitris
contra os tiranos da vida
a provar-nos às mãos-cheias que somos senhores de tudo
e só nós somos os donos da hora da liberdade
quando a centelha da honra se acende dentro de um peito
vestido de humanidade
legou uma nota breve bordada a sangue e a revolta
por não mais o merecerem os tiranos que nomeia
mas o olhar derradeiro abrange este mundo inteiro
adivinha-se fraterno
militante
solidário
numa paz feita na guerra que vestiu de dignidade
como a marca do trabalho na camisa do operário
há-de ter nome de rua
há-de erguer-se em monumento
e ser contado na lenda
se o soubermos merecer
se o sentirmos irmão ao alcance de um abraço
sem fronteiras de lamento
sem o esquecimento eterno
há-de ser céu e inferno
há-de ser a voz do vento
sempre que alguém se levante
num grito só e aflito que estremeça o universo
Dimitris não morreu só
pois com ele morremos nós
cada um para o seu lado
e todos morrendo sós
Dimitris
Dimitris
porque nos abandonaste?
qual o apelo sentido?
qual o rumo que traçaste?
porque nos ecoa ainda
esse grito que legaste?
- Jorge Castro
Canto General (excerto)
(poema de Pablo Neruda;
música de Mikis Theodorakis)
Solista: Maria Farantouri
Maestro: Mikis Theodorakis (1925-)
Maestro: Mikis Theodorakis (1925-)