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Foto:Augusto Macedo
"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
Havia um homem deitado na areia como um valete de copas,
Mas morto.
Estava seco o vinco da sua cara rascunho,
Secos os olhos, secas as pestanas,
Fartas as sobrancelhas
De despejar nos baldes sorrisos e gargalhadas
Silenciosas e pobres como as esmolas.
Do homem valete, de cara virgulada, lembrando uma haste de óculos ou
Somente uma carta de jogo
Disse-se, na altura, pouco ou quase nada…
Falou-se numa morte vagarosa, numa espécie de lume brando,
Num mito.
Certo é que havia um homem deitado numa areia de uma praia qualquer,
Morto e seco.
De cara semi – escrita, tomada numa nota apressada, que lhe saiu
Como uma finta.
Na praia não havia mais ninguém a não ser uma caneta Bic sem tinta
Para escrever
Qualquer coisa.
Pus o meu sonho num navio
E o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
Para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
Do azul das ondas entreabertas,
E a cor que escorre dos meus dedos
Colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
A noite se curva de frio;
Debaixo da água vai morrendo
Meu sonho, dentro de um navio…
Chorarei quanto for preciso,
Para fazer com que o mar cresça,
E o meu navio chegue ao fundo
E o meu sonho desapareça.