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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CADA ROSTO


Cada rosto é um mistério a ser desvendado.
Ao recordar os dias de sua infância, suspirando, ela ponderou: “Esta vida é um dia, um instante, um sopro.”
Ontem, brincávamos; amanhã, onde estaremos?
O tempo se encarrega de levar embora o que o destino nos emprestou: a força, a agilidade, a saúde.
Com sorte, nos permite manter algo da poesia que na alma levamos.
E acerca da poesia, o que sabemos?
Uma das maneiras de se compreender o poético é defini-lo como uma quebra da experiência habitual, automatizada, da realidade.
Há beleza em tudo. Mas nem todos são capazes de ver.
O suave sol da manhã, e todas as possibilidades que cada novo amanhecer descortina.
O novo dia que nos convoca a sempre seguirmos adiante, rumo ao melhor de nós mesmos. Acordar antes do Sol, ouvir o silêncio do dia nascendo.
E naquela manhã, ao dirigir um olhar amoroso em direção à sua tataraneta, como somente as tataravós sabem cultivar, ela refletiu:.“Este mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de um dia ter que partir...” “Por mais que me digam das delícias do céu, se tivesse escolha, aqui ficaria. Contento-me com as delícias da terra...”
“Velar o sono da minha tataraneta tão querida, cantar-lhe aos ouvidos canções de ninar. Quão breve, quão bela a vida.”
O insondável mistério da fugacidade, da brevidade, da finitude da existência terrena. Breves décadas que num sopro se desmancham, desaparecem. Por sorte, dizem que algo do olhar das gerações que passam no olhar das gerações que sucedem, permanece.
Um amor assim tão pungente não há de ser inutilmente. “Recria tua vida sempre, sempre! Remove pedras e planta roseiras. E faz doces.”

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

AUTOCONSCIÊNCIA




Uma das etapas mais marcantes do desenvolvimento infantil é a fase da percepção da autoconsciência corporal.

A auto-referência consciente, a consciência dos movimentos do corpo, – a criança se percebe como sujeito, e não mais como uma extensão da mãe que a gerou.

A percepção do Eu corporal, o reconhecimento de si e dos movimentos e sensações do seu corpo, movido por quereres e vontades.

Para a criança pequenina a percepção e o domínio dos movimentos corporais são motivo de comemoração e alegria.

Ela ainda terá um longo caminho pela frente até que consiga se equilibrar e andar, mas cada conquista é motivo de alegria e encantamento.

São apenas os primeiros movimentos de uma longa caminhada que, assim como todas as demais crianças, haverá de empreender. Os primeiros movimentos, mas nem por isso menos importantes.

Quantas vezes haverá de cair e se levantar até adquirir o equilíbrio necessário para empreender sua jornada, sua caminhada, pelo mundo?

Se refrescará em rios de água cristalina? Passeará por praias, deleitando-se com a vista do mar infinito?

Estes pés pequeninos, que por ora esboçam os primeiros movimentos, haverão de embelezar a vida com passos da nobre arte da dança? Um livro aberto, um mar de possibilidades é a vida terrena. O rio da existência corre fluente, enquanto passeamos por este mundo tão belo.

Quantas gerações vieram e se foram antes da nossa? Se banharam no mar do tempo por um breve intervalo, e partiram, tal qual nós partiremos.

As nuvens e as pessoas passam; o céu e o mar continuam. Da mesma forma como a autoconsciência corporal possibilita à criança pequenina trilhar sua jornada pelos caminhos do mundo,.é preciso cultivar a autoconsciência espiritual, de modo que a nossa jornada existencial seja banhada de sabor e sentido, e venha a nos conduzir à plenitude da experiência terrena.

“O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos”, diziam os povos antigos.

O verdadeiro dia de nascimento talvez seja aquele em que manifestamos pela primeira vez a autoconsciência espiritual.

Como usar o tempo a nosso favor? Como fortalecer as nossas asas espirituais?

Cuidar dos olhos e do olhar, cuidar do coração, do sentir e do pensar. “Bem-aventurados os que buscam com mãos puras”, “Bem-aventurados os que buscam a Luz”, “Bem-aventurados os puros de coração”, ensinou-nos o amado Mestre.

“Tua vista te é por Mim confiada; não permitas que o pó dos desejos vãos lhe anuvie o brilho.” “Teu coração é Meu tesouro; não permitas que a mão traiçoeira do ego te roube as pérolas que nele entesourei”, nos aconselham as Escrituras.

“Ó Amigo! No jardim de teu coração, nada plantes salvo a rosa do amor...” Bahá’u’lláh

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

ALGUÉM ESTÁ CONTIGO



Nunca estarás a sós... Ante a névoa das lágrimas, quando a incompreensão de outrem te agite os sentimentos, lembra-te de alguém que sempre te oferece entendimento e conforto.

Ante a deserção de pessoas queridas, quando mais necessitavas de presença e segurança, pensa nesse benfeitor oculto que jamais te abandona.

Ante as ameaças do desânimo, nos obstáculos para a concretização de tuas esperanças mais belas, considera o amparo desse amigo certo que, em tempo algum, te recusa bom ânimo.

Ante a queda iminente na irritação, capaz de induzir-te à delinquência, refugia-te no clima desse doador de serenidade que te guarda o coração nas bênçãos da paz.

Ante as sugestões do desequilíbrio emotivo, suscetíveis de te impulsionarem a esquecer encargos que assumiste, reflete no mentor abnegado que jamais te nega defesa, para que usufruas a tranquilidade de consciência.

Ante prejuízos, muitas vezes acusados por amigos dos quais empenhaste generosidade e confiança, medita nesse protetor magnânimo que nunca te desampara e que promove, em teu favor, sempre que necessário, os recursos precisos à recuperação de que careças.

Ante acusações daqueles que se te fazem adversários gratuitos, amargurando-te os dias, eleva-te em pensamento ao instrutor infatigável que sempre te convida à tolerância e ao perdão.

Ante as crises da existência que te sugiram revolta e desespero, recorda o mestre da paciência que te resguarda constantemente na certeza de que não há problemas sem solução para quem trabalha e serve para o bem sem perder a esperança.

Ante os desgostos e contratempos que te sejam impostos pelos entes amados, não te emaranhes no cipoal das afeições possessivas, refletindo no companheiro que te ama desinteressadamente muito antes que te decidisses a conhecê-lo.

E quando perguntares quem será esse alguém que nunca te desampara e que te garante a vida, em nome de Deus, deixa que os teus ouvidos se recolham aos recessos da própria alma e escutarás o coração a dizer-te na intimidade da consciência que esse alguém é Jesus.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

JA DIZIA NELSON CAVAQUINHO




Sei que amanhã

Quando eu morrer

Os meus amigos vão dizer

Que eu tinha um bom coração

Alguns até hão de chorar

E querer me homenagear

Fazendo de ouro um violão

Mas depois que o tempo passar

Sei que ninguém vai se lembrar

Que eu fui embora

Por isso é que eu penso assim

Se alguém quiser fazer por mim

Que faça agora.

Me dê as flores em vida

O carinho, a mão amiga

Para aliviar meus ais

Depois que eu me chamar saudade

Não preciso de vaidade

Quero preces e nada mais.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O MUNDO DO FAZ DE CONTA



Recentemente uma professora, que veio da Polônia para o Brasil ainda muito jovem, proferia uma palestra e, com muita lucidez, trazia pontos importantes para reflexão dos ouvintes.
Já vivi o bastante para presenciar três períodos distintos no comportamento das pessoas, dizia ela.

O primeiro momento eu vivi na infância, quando aprendi de meus pais que era preciso ser. Ser honesta, ser educada, ser digna, ser respeitosa, ser amiga, ser leal.

Algumas décadas mais tarde, fui testemunha da fase do ter. Era preciso ter. Ter boa aparência, ter dinheiro, ter status, ter coisas, ter e ter.

Na atualidade, estou presenciando a fase do faz de conta. Hoje, as pessoas fazem de conta e está tudo bem.

Pais fazem de conta que educam, professores fazem de conta que ensinam, alunos fazem de conta que aprendem, profissionais fazem de conta que são competentes, governantes fazem de conta que se preocupam com o povo e o povo faz de conta que acredita.

Pessoas fazem de conta que são honestas, líderes religiosos fazem de conta que são representantes de Deus, e fieis fazem de contam que têm fé.

Doentes fazem de conta que têm saúde, criminosos fazem de conta que são dignos e a justiça faz de conta que funciona e faz de conta que é imparcial.

Traficantes fazem de conta que são cidadãos de bem e consumidores de drogas fazem de conta que não impulsionam esse nefando mercado do crime.

Pais fazem de conta que não sabem que seus filhos usam drogas, que se prostituem, que estão se matando aos poucos, e os filhos fazem de conta que não sabem que os pais sabem.

Corruptos se fazem passar por idealistas e terroristas fazem de conta que são justiceiros.

E a maioria da população faz de conta que está tudo bem. Mas uma coisa é certa: não podemos fazer de conta quando nos olhamos no espelho da própria consciência. Podemos até arranjar desculpas para explicar nosso faz de conta, mas não há como justificar.

Importante salientar, todavia, que essa representação no dia a dia, esse faz de conta, causa prejuízos para aqueles que lançam mão desse tipo de comportamento. A pessoa que age assim termina confundindo a si mesma e caindo num vazio, pois nem ela mesma sabe quem é, de fato, e acaba em uma frustração sem fim.

Raras pessoas são realmente autênticas. Por isso elas se destacam em seus ambientes. São aquelas que não representam, apenas são o que são, sem fazer alarde disso. São profissionais éticos e competentes, amigos leiais, pais zelosos na educação dos filhos, políticos honestos, religiosos fieis aos ensinos que ministram. São, enfim, pessoas especiais, descomplicadas, de atitudes simples, mas coerentes e, acima de tudo, fieis consigo mesmas. Pessoas realmente autênticas são raras. ,as existem. Na maioria das vezes, são pessoas felizes.

O médico Dráuzio Varella nos ensina. Se não quiser adoecer, não viva de aparências. Quem esconde a realidade, finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar ser perfeito, bonzinho, etc, está acumulando toneladas de peso, uma estátua de bronze, mas com os pés de barro. Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

Se é fácil enganar os outros, é impossível enganar a nós mesmos. Afinal, não é aos outros que prestaremos contas das nossas ações, e sim, à nossa própria consciência.