Não vou dizer toda aquela balela de que você não nos ouve, de que não se cuida direitinho, afinal, de nada adiantará e o acontecido já é suficiente, acredito eu. Além disso, depois desse susto acho que podemos melhorar essas questões e o nosso diálogo, não é mesmo? Morar na cidade e passar os finais de semana na fazenda seria uma boa ideia para início de conversa, e a dieta agora vai ter que seguir bem certinho, ainda bem que temos uma nutricionista vigiando aí né?! E ela sabe que é permitido puxões de orelha!
E tem mais meu Gordinho, o que adiantará eu me formar uma médica (quem sabe geriatra) se não tiver um dos meus velhinhos preferidos, que mais amo, para eu poder cuidar? Pode esperar aí, porque ainda temos muito para vivermos juntos, como sempre foi! O Senhor sabe que é como um pai para todos os seus netos - Felipe, eu e Artur que moramos em Goianésia e praticamente na fazenda com vocês que o diga! Você que sempre esteve ao nosso lado Gordinho, em todos os bons momentos e em todas as dificuldades, como atualmente...só Deus é capaz de saber tamanha minha gratidão pelos seus cuidados comigo aqui em BH, junto de meus pais me proporcionando o melhor para que eu consiga ter uma boa graduação e receber com louvor meu diploma. Se eu estou estudando, em grande parte, é pelo seu apoio, não só financeiro, mas também moral, como um dos meus maiores incentivadores. Assim sendo, não pode ficar faltando nossa foto no meu álbum de formatura, sentirei-me injustiçada se só o Felipe tiver uma dessa!
Sei que daqui de BH não posso fazer nada além de orar pela sua saúde e recuperação. Contudo, saiba que meu coração só agora está se reconstituindo do susto dessa noite e mesmo assim a cada pedacinho reconstituído um outro se despedaça por não poder estar ao seu lado e de toda a família nesse momento. De qualquer forma, também aprendi com o Senhor a ser forte e sempre seguir em frente, portanto, continue com toda essa força e determinação que sempre teve durante toda sua vida que logo, logo, estará confortável em casa. E no feriado de 7 de setembro quero poder chegar aí e te encontrar bem forte, fofinho e quentinho para poder te abraçar com toda a minha força, te implicar como sempre, te fazer rir com todas as minhas palhaçadas (vou até pensar em um novo repertório!), fazer cosquinhas, te chamar de meu gordinho, mexer com seu ralo cabelo branco, puxar suas orelhas e todos aqueles carinhos (muitos diriam: "de mula") a que estamos acostumados a fazer um ao outro.
Nesses momentos a distância parece ser maior do que é, entretanto, nem por isso me deixarei abater, afinal, sei que meu Gordinho está em ótimas mãos, com os melhores médicos, com o melhor aparato hospitalar disponível, com toda a família de olho e com Deus mais do que nunca cuidando de todos nós. Devemos acreditar que nada acontece em vão, que Deus faz tudo como deve ser, que só Ele sabe o que é melhor para nós e só pelos Seus caminhos poderemos ser felizes, então, vamos acreditar que Ele só queria nos passar um sustinho bobo para prestarmos mais atenção em como conduzimos nossas vidas. Talvez até para me ensinar a dizer mais vezes o quanto amo minha família e o quanto gostaria de poder estar sempre ao lado de vocês. Sei que muitas vezes sou uma neta desnaturada, que fica dias sem ligar, o que mostra o contrário dentro de mim, porque não esqueço um único dia dos meus dois gordinhos, não deixo passar um dia sem orar por vocês, não fico um dia sem sentir a falta de vocês aqui. Posso dizer que a saudade é a minha maior companheira enquanto estou longe de vocês. Agora, acho que só tenho a agradecer a Deus por ter permitido que meu Gordinho continue ao meu lado, por permitir que eu tenha nascido em uma família tão linda e unida como a nossa - esqueçam todas aquelas brincadeiras de que eu não pedi para nascer e de que não tive a chance de escolher em qual berço nascer, são só minhas palhaçadas com vocês, não haveria lugar melhor para eu poder nascer, sou muito feliz por estar ao lado de todos vocês. É impossível descrever o quanto os amo, o quanto amo você meu Gordinho e o quanto gostaria de estar ao seu lado segurando suas mãos ou, ao menos, ao lado de toda a família amparando-a. E, ainda bem que nos falamos no dia dos pais e eu pude dizer que o amo!
Por fim, acalma esse coração e avise-o que o trabalho dele não pode parar, que ele ainda tem muita sístole e diástole para fazer, muito sangue (agora, sem excesso de gordura, diga-se de passagem) para passar por ele, muito tum-tum-tum para eu poder ouvir com meu estetoscópio durante as férias, treinando minhas habilidades médicas, muita pressão arterial para eu treinar a aferição, muitas palhaçadas e aprendizados para fazermos juntos e muitas visitas prometidas sua para me fazer aqui em BH.
A minha intenção não era prolongar essa carta, porém é difícil não prolongar uma resposta de carinho, afeto, atenção e amor vividos ao longo de 19 anos unidos. Hoje passei um tempão olhando nossa foto tirada no Rio Araguaia quando eu tinha apenas 6 meses de vida, que vontade de poder cantar novamente o "ã, ã, ã" para você, de "fazer bixinho", de tentar aprender a jogar baralho, às vezes crescer nem é tão bom...(e depois dessa quero que o senhor prometa que não vai deixar o resto da família fazer bullying comigo, curtindo com a minha cara quando eu chegar aí, me mandando cantar e etc e tal! Pensando bem, isso vai ser inevitável! Risos!).
O mais importante é que você está lendo essa carta e compreendendo tudo o que quero dizer, que se resume em poucas palavras: AMO VOCÊ INCONDICIONALMENTE! Como também amo cada momento que passamos e iremos passar juntos!
Beijos,
De sua neta Letícia Vieira da Cunha.
OBS.: Essa carta foi escrita nessa tarde do dia 15 de agosto de 2012, um dia após meu avô paterno sofrer um infarto agudo do miocárdio. Ele ainda está internado na UTI do Hospital do Coração Anis Rassi, mas é uma fortaleza e está se recuperando muito bem e logo estará em casa novamente! Só estou compartilhando porque senti a necessidade de dizer publicamente o quanto o amo e também para que outras pessoas se espelhem nessa história e não percam tempo com brigas e desavenças, porque o amor que sentimos pela nossa família nunca morre, só se desenvolve, cresce, aumenta, e, lamentavelmente, quase nunca dizemos isso a eles. De qualquer forma, continuo orando não só pela saúde da minha família, mas também pelo amor...