POEMA MARGINAL
Ainda não se enxerga a madrugada
quando o novo poema prepara seu iminente parto.
Fermenta na vesúvica erupção da mente,
para depois fluir em brasa, folha abaixo,
na inesperada torrente lávica das palavras.
Nasce às vezes sonoro, às vezes grave,
noutras por entre loucos, alarves e insanos risos.
Brota dos desconexos gestos báquicos,
irreflectidos, no escárnio cínico dos espelhos.
Acabou de mijar, sem pudor algum,
nas delicadas esquinas de convenções
secular e laboriosamente trabalhadas,
escarnecendo, a mostrar os dentes podres,
do que é o simples e vulgar bom senso.
Não posso nem te quero segurar,
poema sem amarras.
Foi opção tua vir assim ao mundo:
livre e marginal.
Meu poema vivo,
poema sem-abrigo.
Lisboa, 2009-02-02
Aníbal Raposo