Antro Particular

23 janeiro 2009

quatro anos...

Foi agora, dia 21 de janeiro, o quarto aniversário do blog.
Estou feliz.

novamente ALBERTO GUZIK

ainda sobre "história de amor" e "complexo sistema”

os dois espetáculos ainda estão rondando na minha cabeça. agora por conta das dramaturgias. em "história de amor" o texto de jean-luc lagarce desconstrói as estruturas instaurando a narrativa dramática, e não o drama, como foco da ação. isso obriga o espetáculo a se estruturar enquanto jogo entre personagens e atores, e estes oscilam entre dar vida ou descrever as ações dessas personagens. há uma diferença enorme entre uma coisa e outra. a modernidade da dramaturgia de lagarce fez com que antonio araújo e seus atores poderosos buscassem o máximo de simplicidade na encenação da história de um trio de amantes que convivem harmoniosa e prazerosamente por um tempo, antes de se separarem de forma dolorida. esse despojamento foi atingido, mas ainda assim, tanto na extrema sutileza dos atores quanto na requintada encenação de tó araújo, há a marca registrada do teatro da vertigem, uma companhia que, em tudo que faz, desde as grandes superproduções, como "apocalipse, 1,11" até exercícios de intimismo total, como "história de amor", busca sempre a verdade. não a verdade do realismo, que é limitada, mas a verdade do ato teatral.

"complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade", por sua vez, propõe um jogo interessantíssimo entre o roteiro fragmentário, descosturado, apocalíptico, de ruy filho, e a soberba partitura musical composta pelo artista norte-americano patrick grant, que veio ao brasil especialmente para realizar esse trabalho. artista de ponta nos eua, autor de trilhas para cinema, e teatro, compositor da música de espetáculos de gerald thomas, entre muitos outros, grant foi absurda e estupidamente ignorado pela imprensa durante sua passagem pelo brasil, para fazer a trilha sonora de "complexo sistema". essa é a cara da imprensa cultural local. aonde chegamos! o trabalho de grant é estupendo. já o conhecia pelas contribuições poderosas a "terra em trânsito" e "rainha mentira". em "complexo sistema" ele estabelece um diálogo ininterrupto com as palavras e as ações, leva a níveis de extrema intensidade o jogo arriscado que os atores de ruy filho enfrentam. o diálogo entre a música e as construções sonoras de grant, de um lado, e o desfile de situações repressivas e violentas concebido por ruy, de outro, não poderia ser mais contundente. aqui, roteiro, texto e trilha sonora compõe de modo uníssono e indestrinçável a dramaturgia do espetáculo. o resultado é forte.

complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade pelo blog NOITE VAZIA

É impressionante como a violência física ou psicológica desperta a atenção dos seres humanos. A peça do Ruy Filho, que reestréia hoje no Espaço dos Satyros 2, desenvolveu esse aspecto, faz com que o público não desgrude os olhos da ação, permaneça tenso com a situação de tortura apresentada. E mesmo com o desenrrolar da história, as pessoas saem do espetáculo incomodadas.

Alguns dias atrás, tomando um café com o Ruy e conversando sobre Gerald Thomas, ele mesmo me disse que sempre teve interesse em incomodar. Despertar a discussão. Criar elementos que não se encaixariam. E de fato eles estão presentes na peça, também concordei com ele que se tudo se encaixasse o espetáculo não provocaria esse incômodo.

Os atores Guilherme Gorski e Diego Torraca interagem no palco com uma sintonia impressionante, e garantem que apesar da pancadaria, não se machucam de verdade. Além de serem amáveis, simpáticos e… melhor conferir em cena outros atributos (rs). Aliás o pessoal do Grupo Antro Exposto promete ainda muita coisa boa pela frente. Fica aqui minha sugestão, para quem estiver procurando um espetáculo não-convencional e interessante.

complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade pelo blog POLLYANA BARBARELLA

Uma das coisas de que eu mais gosto é discutir idéias. Principalmente quando na discussão os pontos de vista se colocam à prova reciprocamente. Concordar sempre é fácil, o divertido é tentar convencer, sem usar a força física, alguém a questionar o próprio modo de pensar a ponto de cogitar mudar de opinião. Acho que por isso tenho tendência a gostar de espetáculos de teatro no estilo de A Coleira de Bóris, texto de Sérgio Roveri, e O Arquiteto e o Imperador da Assíria, texto de Fernando Arrabal. Em ambas as peças, somente dois personagens com posicionamentos diferentes à respeito de algum assunto - a liberdade no primeiro, o conhecimento/ignorância - no segundo, discutem entre si. Os dois diálogos são maravilhosos. Deixam idéias em aberto para que o público tenha sua própria interpretação, mas não deixam de ser consistentes, de apresentarem um conteúdo. Estão na minha lista Top 5, até hoje.

Uma vez, conversei com o Antunes Filho e ele me disse que, para ele, diálogos e poesias são as coisas mais difíceis de se escrever com qualidade - e eu concordo plenamente, não por ser ele quem disse, mas porque eu mesma tenho uma dificuldade enorme com isso. Segundo ele, pouquíssimas pessoas têm esse dom (entre elas, senão o único na poesia, Fernando Pessoa), e as que têm devem ser aclamadas.

Acho que é porque um bom diálogo apresenta o embate entre pontos de vista diferentes e ambos precisam ser bem embasados, precisam ter força. Qualquer pessoa, mesmo um dramaturgo, um jornalista, um escritor, geralmente tem um conjunto próprio e fechado de idéias, e é difícil deixar as convicções pessoais de lado, adotar a imparcialidade e construir argumentos para justificar algo que não é o que a gente pensa. Além disso, um bom diálogo, na minha opinião, é o que fala não só com as palavras, mas por meio das entrelinhas. E ter a sutileza e a sensibilidade de transmitir idéias que não foram ditas é uma proeza para poucos.

Hoje, quarta-feira, estréia no Espaço dos Satyros II, na Praça Roosevelt, um outro espetáculo que conseguiu me chamar a atenção pelos diálogos: Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade. Com texto e direção de Ruy Filho, apresenta um tordurador e um garoto que, submetido a todo tipo de violência física e psicológica, consegue subverter seu agressor usando apenas as palavras. Mais do que a aura tensa, criada com chutes, cadeiras de rodas, balões de oxigênio, referências a delírios, cenário obscuro e efeitos sonoros, o que faz a platéia sair perturbada do espetáculo é a discussão sobre esse sistema de enfraquecimento da sensibilidade pelo qual somos dominados e que nos faz aceitar submeter nossas vidas à uma certa mediocridade, sem nenhum questionamento. É daqueles espetáculos que deixam o público sem piscar do início ao fim. Para quem não tem medo de ser provocado. A trilha sonora original do compositor nova-iorquino Patrick Grant completa o clima e se faz indispensável. Guilherme Gorski e Diego Torraca dão um show de interpretação*.

*além de serem lindos e fofos! (desculpem, meninos, sei que o talento é mais importante, e vocês têm de sobra, mas eu tinha que falar! ;) )

22 janeiro 2009

complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade por ALBERTO GUZIK

Para quem não está familiarizado com a pessoa, Guzik é ator dos Satyros, escritor, dramaturgo, professor... Foi durante décadas crítico de teatro. Desses que cada vez mais fazem falta para nós.
Obrigado Guzik por participar de nossa reestréia.

RUY FILHO



teatro de grupo

ontem fui ver o fascinante exercício cênico "complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade", texto e direção de ruy filho no satyros 2.
ao sair do teatro, me dei conta de que em poucos dias vi dois trabalhos de grupo, processos, exercícios mesmo, ambos muito diferentes entre si e muito bons. no domingo, fui assistir a um maravilhoso "não espetáculo", uma leitura que na verdade é um espetáculo. seu nome é "história de amor - últimos capítulos", de jean-luc lagarce, com direção do antônio araújo e no elenco três senhores atores do vertigem, roberto audio, luciana schwinden e sérgio siviero. texto inteligentíssimo, montagem e atuações idem. o vertigem, por falar, está inaugurando espaço seu na r. 13 de maio. finalmente e em boa hora.

e ontem, depois de um importante ensaio da "velha" com chico ribas, fui ao satyros 2 ver o "complexo sistema", com o pessoal do antro exposto, guilherme gorski e diego torraca comandando o elenco. ruy desenhou uma proposta de montagem visceral, violenta, suja e bela. "complexo sistema" e "história de amor" são duas criações totalmente diversas, uma de trupe veterana, que tem década e tanto na estrada, e que envereda por novos territórios cênicos. outra de um povinho novo que está começando agora. mas são ambos projetos radicais, que estabelecem caminhos de trabalho, rumos de experimentação, sobre os quais voltarei a escrever. estou saindo pro ensaio. só queria registrar que num espaço de quatro dias vi dois espetáculos que envolvem, atraem, pesquisam e fazem pensar. não é pouca coisa.

21 janeiro 2009

quando se tem o que dizer e para quem

Gerald Thomas escreveu um dos post mais lindos que já li. Imperdível. Lúcido e emotivo. Sincero e sonhador. Está lá no blog dele...

14 janeiro 2009

contagem regressiva

Agora é fato, daqui uma semana iniciamos a nova temporada da peça nos Satyros 2. As reuniões já reiniciaram, os ensaios idem.

Iria escrever algo sobre o começar outro ano, mas fico com a precisão do texto de Diego. Nada mais a dizer sobre o assunto, tudo está lá. Decidi por comentar alguns blogs quais sou leitor assíduo, e a inveja me consumiu na vontade de estar próximo daqueles aventureiros de praias e países. Não que não tenha eu também descansado. Dormi durante uma semana o sono de alguns meses.

Pra variar me reencontrei no blog de Gerald, com seus últimos posts brilhantes e lúcidos, desses de tirarem o sono por estampar na face a responsabilidade por estarmos vivos.

E uma surpresa boa: saber que César Ribeiro estará nos Satyros no mesmo período é delicioso. Não o conheço, antes que me acusem de coleguismo. Como já afirmei por aqui, César é um inquieto pensador do teatro e do mundo. Gosto de estar próximo a essas pessoas, ainda que pela mera vizinhança dos trabalhos.

O ano de 2009 caminha para uma sucessão de loucuras. Já começamos a estudar a dramaturgia para um espetáculo realista escrito por Priscila. Também um convite para o segundo semestre que espero ver vingar no melhor de sua ousadia, numa inesperada e óbvia parceria. E a continuidade de nossa parceria e residência com o Centro Cultural Rio Verde, com perspectivas ousadas para a constituição do lugar em um importante espaço para discussões e encontros. Ao todo, são hoje onze caminhos a percorrer. Possibilidades. Dessas que não se nega. Dessas que podem dar errado e deixar de existir de um dia pra noite. A Cia. de Teatro Antro Exposto abre o peito e serve ao destino nesse ano louco. Não sabemos o que virá ou será, apenas o que queremos. E isso é muito!

Quanto a mim, acho que vou precisar perder as férias de 2010 para recuperar o sono outra vez...

13 janeiro 2009

nova temporada

06 janeiro 2009

Abaixo Assinado pela Construção do AnhangaBaú da Feliz Cidade

Zé Celso me envio esse abaixo assinado ainda no ano passado. Na loucura de tanto trabalho, o mesmo permaneceu entre tantos outros emails. Nunca é tarde, porém, e ei-lo aqui para todos nós.

Assine aqui.

Abaixo assinado do povo do Bexiga e outras regiões do Brasil e do Mundo, em apoio à construção no entorno tombado do Teatro Oficina, juntamente com Silvio Santos, os Poderes Públicos, Privados, e todo Povo de São Paulo, do "AnhangaBaú da Feliz Cidade", proposto pelo Teat(r)o Oficina, um dos mais importantes teatros do mundo contemporâneo, que este ano completa seu meio século de existência.

A construção do AnhangaBaú da Feliz Cidade é uma proposta social, cultural, educacional, artística, inspirada no prazer de viver e crescer na metrópole de São Paulo, a ser realizada juntamente com Silvio Santos. O próprio nome batizado por um verso do samba do poeta, músico e professor José Miguel Wisnik revela esse desejo de que uma luta de 28 anos transforme-se em parceria.

Este ato desencadearia um ciclo inédito de revitalização da área do Bixiga, atraindo novos empreendimentos e público, para um bairro conhecido por seus teatros, cantinas, Escola de Samba Vai Vai, sua boemia, apostando no renascimento do Bairro do Bixiga, agora em decadência ocasionada pelas destruições da especulação imobiliária, que renasceria como umbigo natural de São Paulo: ponto de encontro de todos os guetos pobres ou ricos da cidade.

Com toda sua contribuição para cultura brasileira, até hoje, a população do Bexiga não possui praças, áreas verdes para descontração, meditação, cultura, educação e cultivo do corpo, mente, e alimentação, que poderiam vir a existir com a construção deste lugar sem grades, sem a tirania dos cifrões para entrar.

Em que consiste o projeto:

1 - uma Universidade Antropófaga, inspirada num antigo morador deste bairro: o grande poeta modernista e antropófago: Oswald de Andrade, que formaria não somente atores para o teatro, cinema ou TV, mas atuadores na sociedade nas zonas de conflito, áreas de risco, formados na experiência do estudo e contato com os pontos tabus, que impedem nossa evolução democrática para liberdade, incorporando o ensino com crianças, adultos, através de experiências artísticas, filosóficas, científicas, mergulhando nos temas tabus, evitados pela educação do péssimo padrão de hoje.

2 - um Teatro de Estádio para mais de cinco mil pessoas, aonde serão encenadas peças de toda a dramaturgia mundial alternando-se, misturando-se Companhias de todas as procedências, onde serão realizados grandes Festivais de Teatro Nacionais e Internacionais: "As Dionisíacas".

3 - uma Área Verde : uma Oficina de Florestas, expandido-se por todo Bairro.

4 - uma Ágora do Bexiga, praça pública, em torno e sob o Minhocão, espaço de convivência, diversão, prazer, com alimentação aproveitando-se o sacolão, música ao vivo e performances, mas principalmente local de encontro dos habitantes do bairro e de toda a cidade misturando-se para conversarem sobre seus problemas, soluções e principalmente sobre seus sonhos. Do outro lado do Minhocão, em dois terrenos, seria criada a Torre da Memória do Teatro Paulista e Brasileiro e a administração do AnhangaBaú da Feliz Cidade.

A construção desse complexo cultural tem por objetivo aumentar as áreas de prazer, diversão, e recuperar as já existentes, mas sobretudo permitir a ascenção da cultura desse povo do bairro, que em vez de expulso, será a base da criação e transformação da região. A era das grades, da violência e da criação em cativeiro, não será superada com as fortalezas dos Shoppings e Condomínios. O mundo em plena transformação com a queda do Império pede a criação de espaços públicos para todas as classe sociais, onde a cultura, a educação e a diversão não serão exclusivamente sinônimo de compra e venda, mas fator de crescimento, capacitação e poder humano.

Por essas razões, e muitas outras, nós abaixo assinados apoiamos a iniciativa de construção do Anhangabaú da Feliz Cidade no bairro do Bexiga.

Teatro Oficina Uzyna Uzona