OS SÉCULOS XXI NASCEM EM SETEMBRO
Era cedo, ainda, quando recebemos em casa um telefonema pedindo que ligássemos a televisão. A primeira torre do WTC estava em chamas. Sentados no sofá, eu e Patrícia seguramos nossas mãos. O segundo avião em linha reta, e a história que infelizmente passamos a conhecer tão bem. Lágrimas. Desespero. Nunca fui a NY, mas compreendia o simbolismo da ação terrorista e previa as óbvias conseqüências. Na queda das torres, iniciou-se o novo século político.
Durante anos fora anunciado aos EUA a chegada desse momento. Os homens ensurdeceram presunçosos por sentimentos de onipotência e subestimação dos inimigos. Naquela manhã, revia em minhas lembranças as verdes cenas de outrora apresentadas pela tevê durante a primeira transmissão ao vivo de uma guerra. O Golfo ensangüentado de verde preto. Céu em fumaça de petróleo. Mísseis cadentes cruzando o ar pouco acima dos telhados, e eu, ainda menino, dividindo uma pizza com amigos e irmãos.
É longa essa história toda. Vem da criação de Israel. Mais ainda. Da expulsão dos otomanos. Mas não se trata esse texto de devaneios sobre o passado, e sim do hiato, da fração silenciosa que marca a passagem do antes para o futuro.
Caíram as torres derrubadas. E um novo século então se fez. O mundo berrou contra os infratores e se opôs aos atingidos. A América permaneceu isolada na dubiedade da piedade e na violenta necessidade do dedo em riste. Desta vez, Tio Sam conclamava todas as nações à luta. O eixo do mal. E o que se viu, foi a politização de três esferas: imperialistas, anti-imperialistas e marginais. Um novo século nunca é fácil de ser compreendido em seu nascimento. E quem é capaz de dizer quem está em qual vértice desse triângulo?
Hoje, setembro, como o outro. Alienado entre fazeres, processos criativos, preparações e estudos, opto por me desligar um pouco dos compromissos e retorno aos noticiários. E novamente me deparo frente à história: a informação que o Banco Central americano, o Fed, não vai mais salvar os bancos leva o mercado financeiro a enfrentar a maior crise desde o Crash de 29.
E a história, de maneiras indigestas, vem discordando de sua morte, conforme a anunciara Francis Fukuyama.
A maneira irresponsável pela qual a economia americana fechou os olhos para as hipotecas de imóveis, durante a última década, levou a um processo inflacionário cuja solução provisória fora determinada pelo aumento dos juros. Maiores taxas, proporcionais inadimplências. E o comércio entre títulos levou a um efeito cascata que neste setembro conduziu gigantes das finanças ao precipício. Em outras palavras, proprietários de imóveis que não pagaram seus empréstimos, bancos endividados, seguradoras em perigo, e o mercado internacional condicionado a um caos quase sem precedente.
Para Marx, a dinâmica econômica global se organiza em ciclos decenais. Mas tal processo não condiz com as reviravoltas do neoliberalismo. Estamos mais próximos as ondas longas de Kondratiev. Ciclos de 50 anos, em duas fases. Ascensão e decadência. Os anos de descida determinados por uma dinâmica natural de acomodação do mercado. Os outros, a evolução, induzidos e submetidos a variantes circunstanciais. Para o economista russo, então, a crise é uma inevitável manifestação da história. Em ondas, ciclos que retornam o mercado ao reinício como meio de readequação.
O que os noticiários trouxeram a público não fora apenas a crise anunciada por políticas irresponsáveis, o desarranjo das economias periféricas. Assistimos a outro início. E a economia mundial chega, enfim, ao século XXI.
Junte a isso uma outra configuração da Guerra Fria com os ataques à Geórgia, uma América Latina a um passo do descontrole...
A história retorna seus ciclos. Revivemos por outras faces um passado inglório. Será que todo início de século se consolida na dor de um nascimento? Bem, Dostoievski já havia alertado que sim. Gostamos tanto da surdez cômoda, que agora fica difícil conseguir ouvir qualquer solução.
Durante anos fora anunciado aos EUA a chegada desse momento. Os homens ensurdeceram presunçosos por sentimentos de onipotência e subestimação dos inimigos. Naquela manhã, revia em minhas lembranças as verdes cenas de outrora apresentadas pela tevê durante a primeira transmissão ao vivo de uma guerra. O Golfo ensangüentado de verde preto. Céu em fumaça de petróleo. Mísseis cadentes cruzando o ar pouco acima dos telhados, e eu, ainda menino, dividindo uma pizza com amigos e irmãos.
É longa essa história toda. Vem da criação de Israel. Mais ainda. Da expulsão dos otomanos. Mas não se trata esse texto de devaneios sobre o passado, e sim do hiato, da fração silenciosa que marca a passagem do antes para o futuro.
Caíram as torres derrubadas. E um novo século então se fez. O mundo berrou contra os infratores e se opôs aos atingidos. A América permaneceu isolada na dubiedade da piedade e na violenta necessidade do dedo em riste. Desta vez, Tio Sam conclamava todas as nações à luta. O eixo do mal. E o que se viu, foi a politização de três esferas: imperialistas, anti-imperialistas e marginais. Um novo século nunca é fácil de ser compreendido em seu nascimento. E quem é capaz de dizer quem está em qual vértice desse triângulo?
Hoje, setembro, como o outro. Alienado entre fazeres, processos criativos, preparações e estudos, opto por me desligar um pouco dos compromissos e retorno aos noticiários. E novamente me deparo frente à história: a informação que o Banco Central americano, o Fed, não vai mais salvar os bancos leva o mercado financeiro a enfrentar a maior crise desde o Crash de 29.
E a história, de maneiras indigestas, vem discordando de sua morte, conforme a anunciara Francis Fukuyama.
A maneira irresponsável pela qual a economia americana fechou os olhos para as hipotecas de imóveis, durante a última década, levou a um processo inflacionário cuja solução provisória fora determinada pelo aumento dos juros. Maiores taxas, proporcionais inadimplências. E o comércio entre títulos levou a um efeito cascata que neste setembro conduziu gigantes das finanças ao precipício. Em outras palavras, proprietários de imóveis que não pagaram seus empréstimos, bancos endividados, seguradoras em perigo, e o mercado internacional condicionado a um caos quase sem precedente.
Para Marx, a dinâmica econômica global se organiza em ciclos decenais. Mas tal processo não condiz com as reviravoltas do neoliberalismo. Estamos mais próximos as ondas longas de Kondratiev. Ciclos de 50 anos, em duas fases. Ascensão e decadência. Os anos de descida determinados por uma dinâmica natural de acomodação do mercado. Os outros, a evolução, induzidos e submetidos a variantes circunstanciais. Para o economista russo, então, a crise é uma inevitável manifestação da história. Em ondas, ciclos que retornam o mercado ao reinício como meio de readequação.
O que os noticiários trouxeram a público não fora apenas a crise anunciada por políticas irresponsáveis, o desarranjo das economias periféricas. Assistimos a outro início. E a economia mundial chega, enfim, ao século XXI.
Junte a isso uma outra configuração da Guerra Fria com os ataques à Geórgia, uma América Latina a um passo do descontrole...
A história retorna seus ciclos. Revivemos por outras faces um passado inglório. Será que todo início de século se consolida na dor de um nascimento? Bem, Dostoievski já havia alertado que sim. Gostamos tanto da surdez cômoda, que agora fica difícil conseguir ouvir qualquer solução.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home