Antro Particular

29 setembro 2008

FIM DE ENTULHO

Entulho chegara ao fim.

Obrigado a todos os visitantes, os discursos apaixonados, conversas, emails dos que assistiram, dos que não puderam e mesmo assim trataram de estar junto de alguma maneira. Nada é mais importante que o diálogo. Conduzir um grupo tão heterogêneo não é fácil. E não há como descrever o quanto o prazer tem sido infinitamente maior do que as dificuldades.

Obrigado aos atores da cia. Giuliana, Raiani, Carol, Gabriela e Tiago pelo suporte e eficiência em tornar Entulho nosso cartão de visita ao teatro. Nada disso seria possível não fosse a paciência e generosidade de vocês.

Diego, querido, que tanto inquieta nossa rotina. Substituto (re)criador. Não há como agradecer o que fizeste. Que outro usaria um momento único para dedicá-lo a outro? Suas mãos no rosto do Guilherme eram também as minhas no seu.

Gui, dirigir é, muitas vezes, tomar decisões impossíveis. E você me mostrou estar certo em iniciar nossa trajetória com sua arte. A cumplicidade em tornar de todos um trabalho que poderia ser apenas teu. Obrigado por suas gentilezas, pelo empenho.

Priscila, a quem devo tudo isso. Muito, muito obrigado por ter-me aceito desde a noite em que nos conhecemos.

E, ainda, Gustavo, que tanto tem conduzido a todos a um aprimoramento de suas capacidades, e a quem espero logo poder trazer aos nossos palcos.

Fred, suas fotos deram o rosto e cor à cia. Sinta-se sempre bem-vindo.

Alexandre, enfim nossa aproximação. E como esse primeiro contato revelou o quanto precisamos de seus conselhos.

Obrigado também Flávia e Cris Fusco. Muito de tudo isso é parte da eficiência do trabalho de vocês. Espero estarmos junto no próximo e próximo e sempre.

Kiki, Guga e toda a Rio Verde, o que dizer? Com que adjetivos agradecer a quem nos deu o primeiro sopro?

E, sobretudo, Patrícia. Sempre. Pelo delicado e inteligente trabalho que tanto acresceu à identidade do espetáculo e da própria cia. Por me questionar todo o tempo. Por me revelar o óbvio. Por me traduzir o impercebível. Te amo também por isso. Pela artista que é. Por ser a menina a sorrir e alegrar nossas reuniões. Por ser a mulher ao meu lado.

Fim de Entulho. Sigamos ao próximo: Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade.

A vida se justifica por momentos de histórias...

26 setembro 2008

ENTULHO por Guilherme Gorski

"Fim de Entulho.
Todo mundo passado,
Menos as camisetas..."

Guilherme Gorski.

São Paulo, Av. 9 de Julho.
03h30.
Noite tipicamente de garoa...

24 setembro 2008

BLOG DE DIEGO TORRACA

Bom, eu iria escrever sobre algumas coisas, pessoas. Um pouco de Celso Sim, Gero Camilo, Fernando Meirelles e Walter Salles, Fuerza Bruta. Ficam para depois...

Entre acontecimentos daqui e do mundo, um, em especial, respira minha melhor atenção. É com imensa alegria que anuncio mais outro nessa imensa blogsfera.

http://diegotorraca.blogspot.com/

Mais outro? Impossível.

Diego Torraca é um dos atores mais inquietos que conheço. Companheiro de criação, de sonhos, de crises. Braços direito e esquerdo e muito do meu próprio cérebro. Nos telefonemas, emails, nas conversas em ensaios, bares, nas trocas de livros, nas trocas de referências.

Acordar todos os dias passa a ser mais interessante.

Seja bem-vindo, Dieguito. Que suas palavras consigam elucidar os silêncios que hoje me consomem.

Beijos
RUY FILHO

23 setembro 2008

ENTULHO - 25 de setembro: ÚLTIMA APRESENTAÇÃO

17 setembro 2008

satyrianas dose dupla

Aceitei dirigir a peça da Priscila Nicolielo no Satyrianas. O que posso fazer se a garota é dona do melhor uso de adjetivos na dramaturgia atual? Não deu pra resistir...

16 setembro 2008

satyrianas 2008

Não sei como farei e talvez nem devesse, mas, sim, confirmei ao Ivam minha participação no Satyrianas. Como não iria? Afinal, Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade, surgiu na tenda do Dramamix, em 2007. Conclusão: pra que dormir em outubro? Fiquei muito feliz por saber que a Priscila também foi convidada. Parabéns, Pri... E obrigado Ivam pelo convite.

OS SÉCULOS XXI NASCEM EM SETEMBRO

Era cedo, ainda, quando recebemos em casa um telefonema pedindo que ligássemos a televisão. A primeira torre do WTC estava em chamas. Sentados no sofá, eu e Patrícia seguramos nossas mãos. O segundo avião em linha reta, e a história que infelizmente passamos a conhecer tão bem. Lágrimas. Desespero. Nunca fui a NY, mas compreendia o simbolismo da ação terrorista e previa as óbvias conseqüências. Na queda das torres, iniciou-se o novo século político.

Durante anos fora anunciado aos EUA a chegada desse momento. Os homens ensurdeceram presunçosos por sentimentos de onipotência e subestimação dos inimigos. Naquela manhã, revia em minhas lembranças as verdes cenas de outrora apresentadas pela tevê durante a primeira transmissão ao vivo de uma guerra. O Golfo ensangüentado de verde preto. Céu em fumaça de petróleo. Mísseis cadentes cruzando o ar pouco acima dos telhados, e eu, ainda menino, dividindo uma pizza com amigos e irmãos.

É longa essa história toda. Vem da criação de Israel. Mais ainda. Da expulsão dos otomanos. Mas não se trata esse texto de devaneios sobre o passado, e sim do hiato, da fração silenciosa que marca a passagem do antes para o futuro.

Caíram as torres derrubadas. E um novo século então se fez. O mundo berrou contra os infratores e se opôs aos atingidos. A América permaneceu isolada na dubiedade da piedade e na violenta necessidade do dedo em riste. Desta vez, Tio Sam conclamava todas as nações à luta. O eixo do mal. E o que se viu, foi a politização de três esferas: imperialistas, anti-imperialistas e marginais. Um novo século nunca é fácil de ser compreendido em seu nascimento. E quem é capaz de dizer quem está em qual vértice desse triângulo?

Hoje, setembro, como o outro. Alienado entre fazeres, processos criativos, preparações e estudos, opto por me desligar um pouco dos compromissos e retorno aos noticiários. E novamente me deparo frente à história: a informação que o Banco Central americano, o Fed, não vai mais salvar os bancos leva o mercado financeiro a enfrentar a maior crise desde o Crash de 29.

E a história, de maneiras indigestas, vem discordando de sua morte, conforme a anunciara Francis Fukuyama.

A maneira irresponsável pela qual a economia americana fechou os olhos para as hipotecas de imóveis, durante a última década, levou a um processo inflacionário cuja solução provisória fora determinada pelo aumento dos juros. Maiores taxas, proporcionais inadimplências. E o comércio entre títulos levou a um efeito cascata que neste setembro conduziu gigantes das finanças ao precipício. Em outras palavras, proprietários de imóveis que não pagaram seus empréstimos, bancos endividados, seguradoras em perigo, e o mercado internacional condicionado a um caos quase sem precedente.

Para Marx, a dinâmica econômica global se organiza em ciclos decenais. Mas tal processo não condiz com as reviravoltas do neoliberalismo. Estamos mais próximos as ondas longas de Kondratiev. Ciclos de 50 anos, em duas fases. Ascensão e decadência. Os anos de descida determinados por uma dinâmica natural de acomodação do mercado. Os outros, a evolução, induzidos e submetidos a variantes circunstanciais. Para o economista russo, então, a crise é uma inevitável manifestação da história. Em ondas, ciclos que retornam o mercado ao reinício como meio de readequação.

O que os noticiários trouxeram a público não fora apenas a crise anunciada por políticas irresponsáveis, o desarranjo das economias periféricas. Assistimos a outro início. E a economia mundial chega, enfim, ao século XXI.

Junte a isso uma outra configuração da Guerra Fria com os ataques à Geórgia, uma América Latina a um passo do descontrole...

A história retorna seus ciclos. Revivemos por outras faces um passado inglório. Será que todo início de século se consolida na dor de um nascimento? Bem, Dostoievski já havia alertado que sim. Gostamos tanto da surdez cômoda, que agora fica difícil conseguir ouvir qualquer solução.

09 setembro 2008

Próximo passo...

Dezembro de 2007. Um telefonema de NY. Do outro lado da linha, Gerald dizia coisas aparentemente sem sentido, mas na verdade era eu que não conseguia mais ouvir. ‘Vocês precisam se conhecer...’, ‘Vocês têm que trabalhar juntos!’ Eu tentava entender, porém aquelas palavras soavam como um sonho estranho.

‘Sim, Gerald, eu tenho uma peça. Quero montar no ano que vem a cena que apresentei no Satyrianas’. Na verdade, a peça era apenas uma cena de quinze minutos e muitas idéias soltas.

De janeiro até agora muito foi construído, destruído, refeito, abandonado. E hoje, enfim, posso afirmar sem temor: eu tenho uma peça. Correção: nós temos. A Cia. de Teatro Antro Exposto estréia em novembro seu segundo trabalho: Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade.

E quem era ele, o tal cara com quem eu deveria muito trabalhar, afinal? Apenas, e somente, o compositor Patrick Grant. E como apresentá-lo? Bom, Patrick tem realizado músicas originais para The Living Theatre e Robert Wilson, entre tantos outros artistas.

Pois é. A nova montagem da cia. terá a participação de Patrick como compositor, com uma pesquisa sobre Edgar Morin e Gilles Deleuze. E não só isso. Muito mais vem por aí. Como escrevi antes, cada informação tem o seu tempo. Mas as boas notícias não acabam agora.

Nesse instante, quero me embriagar com os ensaios e com a música de Patrick. E convidar a todos que participem dessa maravilhosa loucura chamada Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade.

A Cia. de Teatro Antro Exposto não cabe em si. Felicidade é pouco...





08 setembro 2008

café, cerveja e canção

Aos que estiveram presente ao aniversário surpresa que a Cia. Antro Exposto preparou para o Diego, muito obrigado. Tudo bem que ele apareceu com a camiseta rabiscada de "eu já sabia". Ainda assim, foi ótimo reunir os amigos. E o melhor ficou para quem aguentou até a madrugada. Quer algo melhor do que, numa noite linda, assistir ao ar livre o curta Café com Leite e se dar ao desfrute de ouvir por horas Gero Camilo e Kiki Vassimon improvisarem no violão e baixo? Por tudo que temos trabalhado, já fazia tempo que merecíamos uma boa festa.

feitos um só

Quarta-feira. Quando cheguei ao ensaio e vi Guilherme ainda com o braço imobilizado, um frio subiu pela espinha. Era preciso tomar uma decisão e esta tinha de ser imediata. As páginas do Uol e Terra divulgaram o retorno do espetáculo. Caracteres em programas televisos também. E tudo se resumiu em uma rápida pergunta: "Diego, você faz a peça amanhã?".
Um encontro. Mudanças em cima da hora no roteiro original. Uma noite de insônia.
Quinta-feira. O público nem imagina que será Diego o ator. Nas últimas horas, dedicamo-nos (Eu, Diego e Guilherme) não ao ensaio, mas à recriação. Outro início. Outros caminhos narrativos. Diego insistia em se colocar em risco, afinal, Entulho é uma peça performática. E decidimos que o dirigiria em cena.
O público. Diego. Eu, tremendo de ansiedade (literalmente) na luz e som, visível a todos.
A apresentação foi incrível. Diego foi ao limite de suas forças. Guilherme emocionado à homenagem feita em improviso. Lágrimas de quem gostaria de estar no palco. Lágrimas de quem soube ser grande e gentilmente conduzir um outro em seu lugar.
Segurei as minhas. Frutos da certeza de possuir hoje um grupo impressionante de atores. Desses que o futuro se vê brilhar nos olhos, na humildade em ser cúmplice em qualquer situação.
Dois meninos, ainda. Guilherme Gorski e Diego Torraca. Guardem esses nomes...

02 setembro 2008

apenas nesta quinta

ansioso, à espera de 2009...

Boas surpresas acontecem sem aviso. Assim foi ontem, no Masp, na leitura de O Inferno sou Eu, texto de Juliana Rosenthal, sobre a vinda de Simone de Beauvoir e Satre ao Brasil, na década de 1960. Focando nos pensamentos e idéias de Simone, Juliana constrói delicados diálogos e uma personagem poética e forte. Um texto singelo, nada panfletário. Supreendente no uso do humor, das contradições, dos conflitos. A delicadeza da interpretação de Marisa Orth foi um show à parte. Linda. Com timbres perfeitos de quem conhece o ofício e sabe o papel de uma atriz em uma leitura. Ficou a vontade de ver tudo pronto, de assistir Marisa mergulhada na personagem e descobrir por ela até onde tudo isso pode ir. É esperar a montagem prevista para o próximo ano. Conheço Juliana a alguns anos, desde os cursos de Samir Yazbek. E nada é mais delicioso que acompanhar a maturidade de uma artista. Parabéns, Ju. Ontem fizeste com que o teatro me trouxesse novamente um pouco da paixão.