28.3.21

Carlos Cardoso: "Espanto"

 



 Espanto



Releio os meus versos

e me aterrorizo com o que faço.


Como pude escrevê-los?


Como me deixei expor

como um quadro na parede

em diferentes formas de estar ali

no plano

e sublinhado por tudo que é subjetivo?


Vontade de voltar a ser criança

e brincar de pique-esconde e lambuzar-me

de mariola e rapadura derretida,


por baixo da cama

jogar as folhas de papel,

doar minha lapiseira

a uma entidade filantrópica

e guardar tudo que sou,


deixar os meus rastros contados, 

fotografados e mostrados 

somente para minha memória,


e no espanto me desintegrar.





CARDOSO, Carlos. "Espanto". In:_____. Melancolia. Rio de Janeiro: Record, 2019.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo poema!

Anônimo disse...

Eu também me aterrorizo com esses versos.