Espanto
Releio os meus versos
e me aterrorizo com o que faço.
Como pude escrevê-los?
Como me deixei expor
como um quadro na parede
em diferentes formas de estar ali
no plano
e sublinhado por tudo que é subjetivo?
Vontade de voltar a ser criança
e brincar de pique-esconde e lambuzar-me
de mariola e rapadura derretida,
por baixo da cama
jogar as folhas de papel,
doar minha lapiseira
a uma entidade filantrópica
e guardar tudo que sou,
deixar os meus rastros contados,
fotografados e mostrados
somente para minha memória,
e no espanto me desintegrar.
CARDOSO, Carlos. "Espanto". In:_____. Melancolia. Rio de Janeiro: Record, 2019.
2 comentários:
Lindo poema!
Eu também me aterrorizo com esses versos.
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