terça-feira, maio 29, 2018
segunda-feira, maio 28, 2018
Ainda (e por quanto tempo?...) a Venezuela!
Para: Federica Mogherini - Alta Representante de la Unión Europea para Asuntos Exteriores y Política de Seguridad/Vicepresidente de la Comisión
Extracto: “Grandes obstáculos a la participación de los partidos políticos de oposición y sus líderes, una composición desequilibrada del Consejo Nacional Electoral, condiciones electorales sesgadas, numerosas irregularidades reportadas durante el Día de la Elección, incluida la compra de votos, obstaculizaron unas elecciones justas y equitativas”.
Estimada, Sra. Mogherini,
Yo formé parte del casi centenar de Observadores de las Elecciones Venezolanas del 20 de mayo. Nos reunimos con representantes de alto rango de todos los candidatos y les hicimos planteamientos directamente. Nos reunimos con el presidente y dos vicepresidentes del Tribunal Supremos de Justicia.
Examinamos el sistema electoral en detalle y, el día de las elecciones, observamos los procedimientos de votación en todo el país. Notamos, en particular, no solo la sofisticación del sistema de votación que, en nuestra opinión colectiva, es a prueba de fraude, sino también que cada etapa, desde la votación misma hasta la compilación de declaraciones, su verificación y presentación electrónica se realizó en la presencia de representantes de las partes contendientes.
En cuanto a "informar irregularidades", estaríamos interesados en escuchar ejemplos, ya que el sistema de informes es excepcionalmente riguroso y libre de falsificaciones. Dudamos de que tenga alguna evidencia que respalde el reclamo de la UE de “numerosas irregularidades reportadas”.
Fuimos unánimes al concluir que las elecciones se llevaron a cabo de manera justa, que las condiciones electorales no fueron sesgadas, que las genuinas irregularidades fueron excepcionalmente pocas y de naturaleza muy leve. No hubo compra de votos porque no hay forma de que se pueda comprar un voto. El procedimiento en sí mismo excluye cualquier posibilidad de que alguien sepa cómo un votante emitió su voto; y es imposible, como lo verificamos, que una persona vote más de una vez o que alguien vote en nombre de otra persona.
En resumen, las afirmaciones en su comunicado de prensa son invenciones del tipo más vergonzoso, basadas en rumores y no en evidencias e indignas de la UE. No ha pasado inadvertido que la UE fue invitada a enviar observadores a las elecciones y se negó a hacerlo. Ninguna de las críticas en su comunicado de prensa de la UE, se basa, por lo tanto, en la observación directa de la UE en el terreno.
Estaría encantado de discutir esto más a fondo con usted y ponerle a usted o a sus colegas en contacto con otros observadores, entre los que se encontraban políticos de alto rango, académicos, funcionarios electorales, periodistas y funcionarios públicos de diferentes naciones, incluyendo: España, Reino Unido, Irlanda del Norte, Alemania, Brasil, Argentina, Uruguay, Paraguay, Chile, Honduras, Italia, varios países del Caribe, Sudáfrica, Túnez, China, Rusia y los Estados Unidos.
Atentamente,
Jeremy Fox
Escritor/ Periodista- RU
--
Este email foi enviado para sergio_f_ribeiro@sapo.pt pela acr.secretaria@conquistasdarevolucao.pt
sábado, maio 26, 2018
Um esclarecimento esclarecedor...
... sobre uma questão ideológica essencial que se quer transformar num factor de diversão na luta política essencial, numa armadilha politiqueira:
Posição Política
do PCP
sobre a
provocação da morte antecipada
24 Maio 2018
1. O debate sobre a introdução legal da
possibilidade da provocação da morte antecipada não corresponde à discussão
sobre hipotéticas opções ou considerações individuais de cada um perante as
circunstâncias da sua própria morte. É, sim, uma discussão de opções políticas
de reforçada complexidade e com profundas implicações sociais, comportamentais
e éticas.
A
legalização da eutanásia não pode ser apresentada como matéria de opção ou
reserva individual. Inscrever na Lei o direito a matar ou a matar-se não é um sinal
de progresso mas um passo no sentido do retrocesso civilizacional, com
profundas implicações sociais, comportamentais e éticas que questionam
elementos centrais de uma sociedade que se guie por valores humanistas e
solidários.
A
ideia de que a dignidade da vida se assegura com a consagração legal do direito
à morte antecipada, merece rejeição da parte do PCP.
A
oposição do PCP à eutanásia tem o seu alicerce na preservação da vida, na
convocação dos avanços técnicos e científicos (incluindo na medicina) para
assegurar o aumento da esperança de vida e não para a encurtar, na dignificação
da vida em vida. É esta consideração do valor intrínseco da vida que deve
prevalecer e não a da valoração da vida humana em função da sua utilidade, de
interesses económicos ou de discutíveis padrões de dignidade social.
2. A invocação de casos extremos, para justificar a
inscrição na Lei do direito à morte antecipada apresentando-o como um acto de
dignidade, não é forma adequada para a reflexão que se impõe. Pode expressar em
alguns casos juízos motivados por vivência própria, concepções individuais que
se devem respeitar mas é também, para uma parte dos seus promotores, uma
inscrição do tema em busca de protagonismos e de agendas políticas
promocionais.
A
ciência já hoje dispõe de recursos que, se utilizados e acessíveis, permitem
diminuir ou eliminar o sofrimento físico e psicológico. Em matérias que têm a
ver com o destino da sua vida, cada cidadão dispõe já hoje de instrumentos
jurídicos (de que o “testamento vital” é exemplo, sem prejuízo dos seus
limites) e de soberania na sua decisão individual quanto à abstinência médica
(ninguém pode ser forçado a submeter-se a determinados tratamentos contra a sua
vontade). A prática médica garante o não prolongamento artificial da vida,
respeitando a morte como processo natural recusando o seu protelamento através
da obstinação terapêutica. Há uma diferença substancial entre manter
artificialmente a vida ou antecipar deliberadamente a morte, entre diminuir ou
eliminar o sofrimento na doença ou precipitar o fim da vida.
3. Num quadro em que o valor da vida humana surge
relativizado com frequência em função de critérios de utilidade social, de
interesses económicos, de responsabilidades e encargos familiares ou de gastos
públicos, a legalização da provocação da morte antecipada acrescentaria uma
nova dimensão de problemas.
Desde
logo, contribuiria para a consolidação das opções políticas e sociais que
conduzem a essa desvalorização da vida humana e introduziria um relevante
problema social resultante da pressão do encaminhamento para a morte antecipada
de todos aqueles a quem a sociedade recusa a resposta e o apoio à sua situação
de especial fragilidade ou necessidade. Além disso a legalização dessa
possibilidade limitaria ainda mais as condições para o Estado promover, no
domínio da saúde mental, a luta contra o suicídio.
4. O princípio da igualdade implica que a todos
seja reconhecida a mesma dignidade social, não sendo legítima a interpretação
de que uma pessoa “com lesão definitiva ou doença incurável” ou “em sofrimento
extremo” seja afectada por tal circunstância na dignidade da sua vida. E ainda
mais que ela seja invocada para consagrar em Lei o direito à morte, executada
com base numa Lei da República.
A
vida não é digna apenas quando (e enquanto) pode ser vivida no uso pleno das
capacidades e faculdades físicas e mentais e a sociedade deve assegurar
condições para uma vida digna em todas as fases do percurso humano, desde as
menos autónomas (seja a infância ou a velhice) às de maior autonomia; na
presença de condições saudáveis ou de doença; no quadro da integridade plena de
faculdades físicas, motoras ou intelectuais ou da deficiência mais ou menos
profunda, congénita ou sobreveniente.
O
que se impõe é que o avanço e progresso civilizacionais e o aumento da
esperança de vida decorrente da evolução científica sejam convocados para
garantir uma vida com condições materiais dignas em todas as suas fases.
5. O PCP afirma a sua oposição a legislação que
institucionalize a provocação da morte antecipada seja qual a forma que assuma
– a pedido sob a forma de suicídio assistido ou de eutanásia –, bem como a
eventuais propostas de referendo sobre a matéria.
O
PCP continuará a lutar para a concretização, no plano político e legislativo,
de medidas que respondam às necessidades plenas dos utentes do Serviço Nacional
de Saúde, nomeadamente no reforço de investimento sério nos cuidados
paliativos, incluindo domiciliários; na garantia do direito de cada um à recusa
de submeter-se a determinados tratamentos; na garantia de a prática médica não
prolongar artificialmente a vida; no desenvolvimento, aperfeiçoamento e direito
de acesso de todos à utilização dos recursos que a ciência pode disponibilizar,
de forma a garantir a cada um, até ao limite da vida, a dignidade devida a cada
ser humano.
6. É esta a concepção de vida profundamente
humanista que o PCP defende e o seu projecto político de progresso social
corporiza. Uma concepção que não desiste da vida, que luta por condições de
vida dignas para todos e exige políticas que as assegurem desde logo pelas
condições materiais necessárias na vida, no trabalho e na sociedade.
Perante
os problemas do sofrimento humano, da doença, da deficiência ou da incapacidade,
a solução não é a de desresponsabilizar a sociedade promovendo a morte
antecipada das pessoas nessas circunstâncias, mas sim a do progresso social no
sentido de assegurar condições para uma vida digna, mobilizando todos os meios
e capacidades sociais, a ciência e a tecnologia para debelar o sofrimento e a
doença e assegurar a inclusão social e o apoio familiar.
A
preservação da vida humana, e não a desistência da vida é património que
integra o humanismo real – e não proclamatório – que o PCP assume nos princípios
e na luta.
sexta-feira, maio 25, 2018
Que futuro?
|
quinta-feira, maio 24, 2018
terça-feira, maio 22, 2018
Venezuela - eleições
Sobre a oposição, as eleições
e a democracia na Venezuela
Havia armas de destruição em massa no Iraque? Não. Há ditadura na Venezuela? Não. A democracia na Venezuela é um fato irrefutável, ainda que o presidente dos Estados Unidos diga o contrário.
Alfredo Serrano Mancilla*
Não será a primeira vez nem a última que isso que chamam de comunidade internacional inventa uma desculpa para fazer o que realmente deseja. Há mais de quinze anos, no fatídico 16 de março de 2003, o trio de Açores (Bush-Blair-Aznar) inventaram o que jamais ninguém pôde demonstrar para intervir em um país, bombardeá-lo e ficar com todos os seus poços petroleiros. Hoje, tempo depois, a história se repete.
Neste caso, sobre a Venezuela. O Grupo de Lima e a União Europeia servem de amplificador do que o governo dos Estados Unidos decide. E faz um bom tempo decidiram que na Venezuela havia uma ditadura, apesar de terem sido celebradas 24 eleições em duas décadas. Também decidiram que havia ditadura porque nos anos 2015 e 2016 não foram eleições presidenciais, apesar de isso não corresponder, segundo o mandato constitucional. E agora, quando chegam as eleições esperadas, decidem que há uma ditadura porque a oposição não se apresentou, apesar de existir duas candidaturas (Henri Falcón e Javier Bertucci) com propostas completamente antagônicas às do candidato e presidente Nicolás Maduro. Tanto é assim que Falcón tinha como proposta a dolarização do país e o pedido de empréstimo ao FMI para sair da situação econômica complicada em que vive a Venezuela.
Uma ditadura na qual existem alternativas tão diferenciadas? Uma ditadura que não teve nenhum incidente destacável durante toda a campanha eleitoral? Uma ditadura na qual o principal diário opositor, El Nacional, titula no mesmo dia das eleições: “Falta de garantias e favorecimento mancham o processo eleitoral”? Uma ditadura na qual o órgão eleitoral tem um reitor (Luis Emilio Rondón) que denuncia irregularidades?
Não há democracia perfeita. Nem na Venezuela nem em nenhum outro lugar do mundo. Existem infinitos exemplos de falências procedimentais em qualquer consulta eleitoral. Veja recentemente a Colômbia em suas eleições legislativas, na qual faltaram cédulas eleitorais em muitos centros de votação. Também podem ser discutidas as regras democráticas, como nos Estados Unidos, onde o presidente não é o que obtém mais votos. Alguém fala de ditadura neste país? Podemos não estar de acordo com presidentes eleitos com poucos votos, como é o caso de Mariano Rajoy, na Espanha, que só obteve o voto de 21,74% dos eleitores.
A democracia precisa de qualquer debate possível para que possa ser melhorada. Sempre há que exigir mais. Não só no procedimental, mas também no sentido mais amplo do termo. A Venezuela é um país que tem feito todo o necessário neste século 21 para garantir um sistema democrático mais profundo. Os venezuelanos e, particularmente, os chavistas, gostam de eleições. Mais de uma por ano, em média. Todas em ordem. As que se perderam, inclusive por margem mínima (como o referendo constitucional de 2007), foram reconhecidas. Ninguém pode duvidar da democracia venezuelana que, além disso, tem um sistema de contagem eleitoral muito segura, avalizada até mesmo pelo ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter. O mesmíssimo Zapatero, ex-presidente espanhol, há alguns dias também ratificou que os venezuelanos votariam livremente.
E assim o fizeram’. Os venezuelanos foram às urnas. Em democracia. Elegeram Nicolás Maduro como presidente de maneira maioritária, com 67,7% dos votos, tendo assim todo o respaldo para governar nos próximos anos. A oposição ficou a uma grande distância: Falcón com 21,2% e Bertucci com 10,7%. Falcón fica sem força legítima eleitoral para assumir a tarefa de ser uma alternativa. Os evangélicos aparecem na cena. Veremos o que acontece com eles no futuro. E, por sua vez, a oposição não democrática novamente não voltou a participar da consulta democrática.
*É diretor executivo
segunda-feira, maio 21, 2018
Eleições na VENEZUELA - Sem comentários (por agora...)
Nicolás Maduro ganha as eleições presidenciais na Venezuela
Pelas 22h30 (hora local), a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, apresentou os primeiros resultados, com 92,6% dos votos contados.
O candidato Nicolás Maduro, da Frente Ampla pela Pátria, foi reeleito com 5 823 728 votos (67,7%), numas eleições que decorreram sem incidentes e com um nível de participação de 46,01%, correspondente a 8 603 936 milhões de votos válidos.
O segundo candidato mais votado foi Henri Falcón, da Avanzada Progresista (AP), com 1 820 552 votos (21,1%) dos votos. Em terceiro lugar ficou Javier Bertucci, de Esperanza por el Cambio, com 925 042 votos, enquanto Reinaldo Quijada, do partido Unidad Política Popular 89 (UPP89), obteve 34 614 votos.
domingo, maio 20, 2018
As malhas que o imperialismo tece e a vassalagem
- Edição Nº2320 - 17-5-2018
Vassalos
A violação das resoluções da ONU sobre Jerusalém pelos EUA/Trump deu luz verde ao bárbaro massacre israelita de muitas dezenas de manifestantes palestinianos. Tornou claro, juntamente com o rasgar do acordo nuclear sobre o Irão, que a classe dirigente dos EUA não tem palavra. Não é uma novidade. Há 70 anos que os EUA dão cobertura aos crimes e infindáveis violações da legalidade internacional pelo Estado sionista de Israel. Todas as guerras dos EUA/NATO no último quarto de século violaram a legalidade internacional. A Resolução da ONU (1244) que pôs fim aos bombardeamentos da Jugoslávia pela NATO (com Clinton) reafirmava «a soberania e integridade territorial da República Federativa da Jugoslávia», que foi de seguida desmembrada. O Iraque e a Líbia assinaram acordos de desarmamento mas foram atacados pelos EUA/NATO, e os seus dirigentes assassinados (com Bush e Obama). Para o imperialismo norte-americano, acordos e o desarmamento de terceiros são meros passos que facilitam futuras agressões.
A pútrida classe dirigente dos EUA só conhece a violência e a arrogância nas suas relações internacionais. O ex-chefe da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), o brasileiro Bustani, contou ao The Intercept (29.3.18) que meses antes da invasão do Iraque John Bolton (hoje Conselheiro de Segurança Nacional de Trump, na altura um sub-secretário no governo Bush) apareceu na sede da OPAQ e disse-lhe: «Tem 24 horas para abandonar esta organização, e se não o fizer temos formas de retaliar contra si». Acrescentando: «Sabemos onde vivem os seus filhos. Tem dois filhos em Nova Iorque». Talvez assim se explique a súbita demissão, três dias após o rasgar do acordo sobre o Irão, do chefe da equipa de inspecções da Agência Internacional para a Energia Atómica, o finlandês Varjoranta (RT, 12.5.18). A AEIA tem certificado que o Irão cumpre o acordo (Washington Post, 13.11.17). John Kiriakou recorda os seus 15 anos como agente da CIA, aquando da corrida para a invasão do Iraque: «Tudo se baseou numa mentira. Foi tomada uma decisão e depois criou-se ‘factos’ para sustentar a decisão. Creio que o mesmo se está a passar hoje» (globalresearch.ca, 11.5.18). Kiriakou foi quem denunciou as torturas nas prisões da CIA. Passou dois anos na prisão (no tempo de Obama), enquanto a chefe dum desses centros secretos de tortura, Gina Haspel, foi nomeada por Trump para chefe da CIA. São estes os ‘valores democráticos’ dos nossos ‘aliados atlânticos’. Que mandam na NATO, da qual a UE é, oficialmente, o ‘pilar europeu’.
O repúdio do acordo nuclear tirou o tapete aos fiéis súbditos europeus dos EUA. O anúncio de Trump veio acompanhado da ameaça de sanções às empresas que mantenham relações comerciais com o Irão. O ministro das Finanças francês, indignado, pergunta: «queremos ser vassalos dos EUA [...] ou defender os nossos interesses económicos?» (CBS, 11.5.18). Pergunta legítima, que chega com décadas de atraso. Mas a UE colaborou na destruição do edifício do Direito Internacional nos últimos 25 anos – da Jugoslávia às guerras do Médio Oriente, às campanhas anti-russas, à impunidade dos crimes de Israel. Alimentou o monstro e agora queixa-se da sua ingratidão. E Portugal? Vai insistir na sua vassalagem aos EUA, à NATO e à UE?
Jorge Cadima
Comentário de/à Brecht:
a excepção e a regra
(...)
Estranhem o
que não for estranho
Tomem por
inexplicável o habitual.
Sintam-se
perplexos face ao quotidiano.
Procurem
encontrar remédios para o abuso.
Mas não se esqueçam que o abuso é
sempre a regra!
sábado, maio 19, 2018
Uma efeméride a assinalar (e bem assinalada!)
- Edição
Nº2320 - 17-5-2018
O Avante! legal faz hoje 44 anos
– O órgão central do
Partido e a sua importância
Fernando Correia
Apenas três semanas
depois do 25 de Abril, em 17 de Maio de 1974 – faz hoje precisamente 44 anos –
apareceu pela primeira vez, sob o sol da Liberdade nascente, o Avante!, órgão
central do Partido Comunista Português, cuja luta pela informação, esclarecimento
e mobilização o negrume do fascismo não tinha impedido de guiar os que, na
linha da frente, enfrentando sacrifícios, prisões e a própria morte, combatiam
contra a ditadura. Esses, e também os muitos outros que, não sendo comunistas,
se irmanavam no combate pelo progresso, pela justiça social, pela democracia, e
que também na luta se empenharam e sofreram.
O meio milhão de exemplares dessa edição –
tiragem histórica na imprensa portuguesa – , a forma como foi recebida e o
lugar de referência que o Avante! passou a ocupar na luta da classe operária,
dos trabalhadores e do povo nos tempos que se seguiram, são marcantes na
história do PCP e no combate contra os saudosos do passado, e também contra os
que se deixaram submergir, uns, nas águas turvas da conciliação sem princípios;
outros, no radicalismo inconsequente e, pior do que isso, objectivamente
contra-revolucionário; outros ainda, receosos de que o ímpeto generoso e
destemido das massas fosse mais longe do que eles desejavam, não hesitando
mesmo em cair no anticomunismo e envolver-se em campanhas e acções em conluio
objectivo com a reacção.
Foram tempos difíceis
para o Avante! em que, na nova situação (mas onde em certas regiões do País a
sua circulação estava então sujeita às mesmas condições repressivas do tempo da
clandestinidade...), era imperioso reformular-se como um órgão à altura das
suas tradições do passado, no sentido de acompanhar, e ao mesmo tempo ajudar a
conduzir, enquanto voz e braço do Partido, a dinâmica popular.
Sucederam-se os golpes
contra-revolucionários, de gabinete mas também, os mais conhecidos e
percebidos, de rua – 28 de Setembro, 11 de Março, 25 de Novembro... Na sua
génese estiveram todos os que, unidos ou confluentes na política de direita,
quando não de puro revanchismo anti-Abril, desencadearam e organizaram,
colaboraram ou consentiram, ou se limitaram a permanecer em prudente recato,
numa postura de suspeitosa expectativa.
Publicaram-se edições
especiais em momentos decisivos das movimentação de massas, páginas de informação,
mobilização e alerta circularam de mão em mão nas ruas e nas barricadas,
produziram-se suplementos diários quando das campanhas eleitorais para a
Assembleia Constituinte e para a Assembleia da República. O Avante! impôs-se,
verdadeiramente, como um jornal na Revolução.
Desde cedo se afirmou, e
continua hoje a afirmar-se, não só como o mais importante órgão partidário
português mas também, a nível da imprensa em geral, e para além do seu
compromisso político claramente assumido, como o grande jornal ao serviço de
uma democracia empenhadamente valorizadora dos trabalhadores, do povo e do
País, na defesa, consolidação e avanço dos ideais de Abril. Em pouco mais de
dois anos a tiragem do órgão central do PCP atingia os 80 mil exemplares.
A venda e os leitores
Neste dia de efeméride
será oportuno propor algumas reflexões sobre uma das características mais
próprias da imprensa partidária, cuja actualidade foi de ontem, é de hoje e
será de amanhã: a venda orgânica do jornal, a cargo dos militantes, e também a
sua interligação com a actividade e o funcionamento interno do Partido.
Sempre que devidamente
integrada no trabalho partidário, ela constituiu, desde logo, um elemento
fundamental para a angariação de fundos e um auxiliar indispensável para as
finanças do jornal e do Partido, mas também para o trabalho de propaganda, de
agitação e de organização, no quadro da questão essencial que é a ligação às
massas. Constitui um meio privilegiado de estabelecer contactos e de os manter
e desenvolver entre os militantes mas também com amigos do Partido e outros
democratas, e mesmo com outras pessoas que, para os camaradas que vendem o
Avante! nas ruas, hoje são anónimas, mas para a semana poderão já não o ser.
Tudo depende da forma
como a venda, mas também a angariação de assinantes, forem encaradas pelas
organizações e pelos militantes. O que é preciso é não perder de vista aquilo
que realmente define e distingue o trabalho com o jornal partidário. Promover
campanhas para conquistar novos compradores e aumentar as tiragens é um
objectivo importante e necessário, mas só por si insuficiente. E que nunca será
alcançado, de forma sustentada e perdurável, se não for enquadrado numa visão
mais ampla e profunda daquilo que é e para que serve a imprensa do Partido.
Conquistar um comprador e
não tentar fazer dele um leitor, ou conseguir um assinante e depois
deixá-lo «abandonado», significa não só correr o risco de perder um e outro,
mas também e principalmente não aproveitar as possibilidades que a imprensa
propicia para o aumento da qualidade e da intervenção dos militantes e do
colectivo, a melhoria do trabalho orgânico e o aumento de militantes,
simpatizantes e amigos.
De que falamos quando, a
propósito do Avante!, e o mesmo se poderá dizer de O
Militante, falamos de leitores? Para o jornal partidário, o mais importante é
chegar aos leitores, e aumentar o número destes deverá ser um objectivo
permanente. Mas isto não se pode confundir, obviamente, com a chamada «luta
pelas audiências». Um dos traços distintivos da imprensa comunista é que ela
entende os leitores como sujeitos responsáveis e activos,
e não como simples objectos de consumo; respeitados como cidadãos de
corpo inteiro, e não vistos como meros fregueses do mercado mediático.
Leitura, formação,
educação
A própria evolução da
comunicação social em geral e, paralelamente, a evolução dos interesses e das
exigências individuais, leva-nos a que o relacionamento com a imprensa do
Partido tenha que ser encarado não só como uma manifestação de militância, mas
também como um acto imposto pela necessidade, cada vez mais premente, de uma
informação diferente da que é, em geral, veiculada pelos outros media generalistas,
subordinados aos interesses dos grupos económicos e das políticas e políticos
que os sustentam. Isto é, uma informação alternativa (ainda que em alguns
aspectos possa ser complementar: ler, ouvir e ver também –
mas não apenas! – os outros ajuda-nos a entender aquilo que eles
escondem e querem; ajuda-nos igualmente a referenciar os temas e as
interpretações que eles pretendem impingir e que precisamos de desmontar e
denunciar, dando assim corpo a uma informação que contribua para a compreensão
e intervenção na realidade que nos cerca.
A necessidade deste tipo
de informação, que será sempre também formação, existe para os
comunistas e outros homens/mulheres de esquerda, mas também, mesmo quando não
conscientemente reconhecida, para todos os que, independentemente de pertenças
ou simpatias políticas, sindicais, ideológicas, religiosas ou outras, são
vítimas da mentira e da manipulação, da confusão de valores, do conformismo
ideológico e da passividade cívica que os mecanismos dominantes de fabricação
das opiniões e de manipulação das consciências procuram implantar.
De qualquer modo, ler,
ler sempre. E atenção: muitas vezes, nomeadamente quando se trata de discursos
ou textos do Secretário-geral e outros dirigentes, de documentos da direcção do
Partido ou outros organismos, de artigos de divulgação ou teóricos, não se
trata apenas de ler, trata-se de reler, sublinhar, estudar; debater
com os camaradas, esclarecer o que tiver de ser esclarecido. E conversar com os
amigos não só para os informar (e ouvir) sobre as posições do Partido, mas
também sobre a actualidade política, as condições de trabalho, as lutas a
desenvolver nos locais de trabalho ou nas ruas, o aumento da mobilização, etc.
«O que une o Partido»
Simultaneamente com o
órgão central surgiram na legalidade as Edições Avante!, que de imediato
iniciaram a sua actividade com a edição do Programa do PCP (com
uma tiragem de 75 000 exemplares), depois dos Estatutos (50
000 exs), a que se seguiu uma edição conjunta do Programa e
Estatutos (10 000 exs). Passaram a desenvolver, e continuam a
desenvolver hoje, um trabalho de apoio teórico e aprofundamento ideológico
absolutamente fundamental, com a produção e venda de centenas de obras,
nomeadamente textos de e sobre Marx, Engels e Lénine, assim como de Álvaro
Cunhal e outros dirigentes e intelectuais do Partido, livros com documentos e
conclusões de encontros sectoriais da organização, sobre o movimento comunista
e operário internacional, etc. Para além, claro, dos volumes com todas as
intervenções e outros documentos alusivos aos congressos do Partido. A
«utilização» desta muito rica e vasta bibliografia tem sido, e continua a ser,
essencial para a informação e formação dos militantes, simpatizantes e outros
democratas.
Para Álvaro Cunhal, «um
dos factores determinantes da força orgânica, da influência e da capacidade de
mobilização de massas do PCP é a sua unidade interna», e «sendo a unidade do
PCP uma resultante e uma expressão da sua natureza e da sua actividade global,
os fundamentos da unidade envolvem numerosos aspectos, distintos mas
complementares».i Destaquemos um deles: «A unidade
fundamenta-se na assimilação e na educação ideológica marxista-leninista. O que
une o partido não é qualquer afirmação verbal de ‘fidelidade’ ao
marxismo-leninismo. Tal afirmação, em si, não é mais do que uma declaração de
intenções. O que une o Partido é a assimilação, no fundamental, da teoria que
permite a análise justa da situação e dos novos fenómenos e a definição de uma
justa orientação de classe».
«A assimilação e a
educação marxista-leninista estabelece, aprofunda e dá extraordinária solidez a
conceitos fundamentais de classe, equipa os militantes com critérios e métodos
que lhes permitem uma visão correcta dos acontecimentos e fenómenos, condu-los
pelos seus próprios esforços a uma visão uniforme e comum da realidade e à
descoberta das correctas respostas aos problemas que essa mesma realidade
coloca». ii
O Avante! e a
organização
A questão da imprensa é
inseparável de toda a restante actividade do Partido, entendendo esta na sua
dimensão global atrás referida. Não só porque a deve reflectir nas suas
páginas, mas também porque a imprensa partidária tem assim, necessariamente,
que ser entendida como uma ferramenta indispensável para a concretização dessa
actividade e, em geral, de toda a política do Partido.
São muitas as
possibilidades que o órgão partidário propicia para o aumento da qualidade e da
intervenção dos militantes e do colectivo, interligada dialecticamente com a
melhoria da circulação interna da informação e do debate, tal como o óleo que
circula na máquina e contribui para a fluidez do seu funcionamento. Assim
teremos uma imprensa que, provinda e enriquecida pelo trabalho orgânico, com
mais vigor assegurará a ligação às massas. Uma imprensa que funcione como uma
componente viva e activa do trabalho concreto organizativo e político; um
agente integrador, catalizador e disseminador de experiências, reflexões e
orientações; um elemento simultaneamente motor interno e reflector externo da
vida, da identidade e da intervenção partidárias.
Vale sempre a pena
voltar à lapidar (mil vezes citada mas nem sempre interiorizada) formulação de
Lénine, escrita em 1901 – 1902, numa altura em que ele e os seus camaradas se
empenhavam particularmente na necessidade de alargar a toda a Rússia a
publicação e a influência do jornal do Partido, Iskra (a Centelha), e
através dele a do Partido.
«A função do jornal não
se limita a difundir ideias, a educar politicamente ou a ganhar aliados. O
jornal é não só um propagandista colectivo e um agitador colectivo, mas também
um organizador colectivo, podendo comparar-se com os andaimes colocados num
edifício em construção, que marcam os seus contornos, facilitam o contacto com
os diversos grupos de operários, ajudando-os a distribuir as tarefas e a
perspectivar os resultados obtidos graças a um trabalho organizado». iii
______
i Álvaro Cunhal, O
Partido com Paredes de Vidro, Edições Avante”, 1985, p. 229.
ii Idem, pp. 233-4.
iii V.I.Lénine, Que Fazer? Problemas candentes do nosso movimento, in Obras Escolhidas em três tomos, Edições «Avante!»-Edições Progresso, Lisboa-Moscovo,
tomo 1, 1977, p. 195.
quinta-feira, maio 17, 2018
segunda-feira, maio 14, 2018
O dia seguinte!
EUA mudam embaixada para Jerusalém e Israel
massacra manifestantes em Gaza
Abril
Abril
14 DE MAIO DE
2018
A mudança da embaixada norte-americana
de Telavive para Jerusalém fica associada a um «Dia de Raiva» na Palestina. Na
Faixa de Gaza cercada, os franco-atiradores israelitas massacram os manifestantes.
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Forças militares
israelitas reprimem de forma brutal protestos
da Grande Marcha do Retorno em
GazaCréditos/ trtworld.com
Quando o presidente norte-americano,
Donald Trump, anunciou o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e
a intenção de mudar a Embaixada do seu país de Telavive para essa cidade, ficou
claro que tal passo constituía uma declaração de apoio ao Estado de Israel e à
sua política de ocupação e repressão na Palestina, nomeadamente em Jerusalém.
Várias organizações têm denunciado o
número crescente de ameaças em locais religiosos não-judaicos, na cidade, bem
como a intensificação do plano de «judaização» de Jerusalém Oriental, com o
aumento da construção de colonatos e a expulsão da população palestiniana de
suas casas, que são muitas vezes demolidas.
Declarada por Israel como sua capital,
Jerusalém tem o estatuto, reconhecido pelas Nações Unidas, de cidade ocupada,
sendo Israel a potência ocupante (desde 1967). Os palestinianos querem-na como
sua capital e quem apoia a solução dos «dois estados» reconhece que o Estado da
Palestina tem em Jerusalém Oriental a sua capital.
Repúdio
geral
Logo em Dezembro, foi generalizado o
repúdio internacional pela decisão da administração norte-americana e, a 21
desse mês, materializou-se na aprovação, por esmagadora maioria, na Assembleia
Geral das Nações Unidas, de uma resolução que rejeita essa decisão e insta
todos os estados-membros a não estabelecerem missões diplomáticas em Jerusalém,
de acordo com a resolução 478 do Conselho de Segurança, de 1980.
Esse repúdio face ao reconhecimento de
Jerusalém como capital de Israel também se fez sentir no interior de Israel,
onde académicos, antigos embaixadores e defensores da paz enviaram uma carta a
um representante de Trump, seguntou reportou o periódico Haaretz.
Antecipação
da mudança
Inicialmente, não ficou explícito que a
concretização da mudança da Embaixada dos EUA para Jerusalém estaria associada
ao 70.º aniversário da criação do Estado de Israel, que hoje se assinala, e que
teria lugar na véspera da Nakba – a limpeza étnica levada a cabo pelas forças sionistas e
pelo Estado de Israel, em que mais de 750 mil palestinianos foram
expulsos das suas casas e terras –, uma «catástrofe» que todos os anos os
palestinianos marcam a 15 de Maio.
Na visita que efectuou em Janeiro a Israel, o vice-presidente dos EUA,
Mike Pence, afirmou que essa mudança deveria ocorrer no final de
2019. No entanto, a 23 de Fevereiro, o Departamento de Estado anunciou a
antecipação da mudança para 14 de Maio, o que foi encarado pelos palestinianos
como mais uma acção de «provocação».
Franco-atiradores
israelitas matam dezenas em Gaza
Em protesto contra a mudança da
Embaixada dos EUA para Jerusalém, os palestinianos chamaram «Dia de Raiva»
a este 14 de Maio. Nos territórios ocupados da Cisjordância, há notícia de
mobilizações pelo menos em Ramallah e Hebron. Mas a grande mobilização está a
ter lugar na Faixa de Gaza cercada, junto às vedações que enclausuram perto de
2 milhões de palestinianos – 80% dos quais são descendentes de refugiados – no
pequeno enclave.
De acordo com a PressTV, as forças militares israelitas, que
reforçaram a sua presença tanto em redor de Gaza como na Margem Ocidental
ocupada –, esperavam que 100 mil pessoas se manifestassem nos pontos habituais,
hoje, dia da mudança da Embaixada norte-americana para Jerusalém.
«os palestinianos querem mandar a
mensagem de que não se adaptaram nem se vão adaptar à condição de refugiados»
Sobre o culminar dos protestos pacíficos
da Grande Marcha do Retorno, que se iniciaram a 30 de Março, o ministro
israelita da Educação, Naftali Bennet, do partido de extrema-direita Lar
Judaico, disse a uma rádio israelita que a vedação seria encarada como uma
«Muralha de Ferro» e que quem se aproximasse dela seria tratado como um
«terrorista», refere a PressTV.
A mesma fonte indica ainda que a Força
Aérea israelita lançou panfletos sobre a Faixa de Gaza, ontem e hoje, para
demover os manifestantes de se aproximarem da vedação, mas sem sucesso, já que
estes, segundo refere a Al Jazeera,
têm estado a tentar atravessá-la, «defendendo o seu direito ao regresso, ao
retorno, aconteça o que acontecer».
Um membro do comité organizador da
Grande Marcha do Retorno disse à Al Jazeera que,
ao tentarem atravessar a vedação, «os palestinianos querem mandar a mensagem de
que não se adaptaram nem se vão adaptar à condição de refugiados».
Os franco-atiradores responderam de
forma brutal, matando mais de quatro dezenas de pessoas que se manifestavam
perto da vedação e ferindo perto de 2000, até ao momento.
De acordo com a organização, os
protestos de hoje e os que estão previstos para amanhã – dia da Nakba – devem
ser os mais massivos, sendo o ponto culminante das sete semanas de
mobilizações, fortemente reprimidas pelas forças israelitas, junto à vedação
com a Faixa de Gaza.
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