Fernando Laidley Com o título acima publicou Fernando Laidley, em Junho de 1976, na revista “BOA NOITE”, de que era diretor e proprietário, o artigo que a seguir reproduzo e que, por mero acaso, me veio parar às mãos.
Recorde-se que Fernando Augusto Águas Guardado Laidley, era natural de Luanda (Angola), onde nasceu em 30 de março de 1918, vindo para a Figueira da Foz, terra de seus pais e avós, apenas com um ano de idade.
Para a história ficou como sendo o primeiro português que deu a volta a África em automóvel, percorrendo 46 mil quilómetros.
Fernando Laidley faleceu em Lisboa, no ano transato, contando 92 anos (22 de Abril de 2010).
E aqui vai o artigo, sob o título já referido de “O que é um colonialista?”, assinado por um figueirense pelo coração.
“Como já calculávamos, a publicação da adaptação do poema de Kipling, “Se…”, provocou celeuma e, claro, não faltou quem me chamasse de “colonialista” e de “saudosista”, à mistura com os habituais “fascista” e “reacionário” com que hoje todos se chamam uns aos outros, o que nos levará a supor que só existem fascistas e reacionários em Portugal.
A quadra que deu origem a essa celeuma foi:
Se concebes a Pátria reduzida
À modesta extensão do continente
Dentro do qual sem espaço a nossa gente
Venha a ser mortalmente comprimida
E concluía assim:
Se conduzido por caminhos tortos,
Sentes coragem de cuspir nos mortos
Que fizeram Portugal maior,
Serás cubano, russo, hindu, chinês,
Terás honras de escravo e de traidor,
Mas não és, nem por sombras, Português.
Ora, como é evidente, se publiquei o poema em questão, é porque estava (e estou) de acordo com o seu conteúdo.
Eu “não concebo a Pátria reduzida à modesta extensão do continente”, porque a “descolonização exemplar” não foi feita com o acordo das populações de Angola e Moçambique.
O dr. Almeida Santos, um dos responsáveis por essa “exemplar descolonização” lançou publicamente um desafio para que fosse apresentada outra solução. Pois eu respondo ao desafio, não do sr. Ministro da Comunicação Social, mas do sr. Dr. Almeida Santos, cidadão português por opção (como eu) um dos responsáveis pela exemplar descolonização.
Pois a resposta a esse desafio é muito simples: bastava conceder-se a auto-determinação aos povos do ultramar português, ou seja, conceder a esses povos o legítimo direito de escolherem o seu destino, em referendo, devidamente fiscalizado por representantes da ONU, da OUA, do governo português e dos movimentos terroristas (ou emancipalistas, se preferirem). Nesse referendo participariam os naturais desses territórios, negros, mestiços e brancos.
Confesso que não alimentava grandes ilusões a respeito de Moçambique, mas quanto a Angola, não tenho a mais pequena dúvida: tanto quanto me permite o conhecimento desse território (minha terra natal e onde a minha família estava estabelecida há cinco gerações) e das suas gentes, conhecimento muitíssimo superior ao de qualquer dos conspícuos senhores autores da “descolonização exemplar” dos cem mil mortos e do milhão de desenraizados, posso afirmar categoricamente que a maior parte da população negra, mestiça e branca, optaria pela nacionalidade portuguesa, com maior incidência nas populações do planalto central e do sudoeste angolano. O povo bacongo, do norte de Angola, votaria, talvez 75% contra, bem como parte dos cuanhamas, duma pequena faixa do território angolano, junto à fronteira da Namíbia (os ovambos) que sofrem a influência da SWAPO, movimento emancipalista daquele território.
Mas a auto-determinação não convinha a determinadas forças políticas ao serviço duma potência estrangeira, e assim, consumou-se o maior crime de toda a nossa história.
Espero não morrer antes de ver publicamente castigados os que entregaram a MINHA QUERIDA TERRA DE ANGOLA a uma infame – essa sim – forma de imperialismo, que nada tem a ver – essa sim, também – com as pobres gentes de Angola.
É claro que, à auto-determinação opõem os senhores da descolonização exemplar o argumento de que a guerra continuaria. É possível, mas sem a força moral que animava os terroristas (ou emancipalistas, se gostarem mais) antes do 25 de Abril. Sem o apoio da ONU e da OUA, a resistência acabaria por se extinguir docemente.
Mas mesmo que assim não acontecessem, ninguém poderá imaginar que amanhã o território nacional na metrópole fosse invadido por qualquer força estrangeira – espanhola, cubana ou cochinchinesa – e não se combatesse, com o argumento de que a resistência ao inimigo provocaria baixas, em mortos e feridos. É para defender o nosso território que se fundou uma Academia Militar, se constituem e sustentam quadros e se mantém um exército. As espingardas dos militares não devem servir de meros jarros para flores. Poderá ser muito bonito, muito bucólico, mas não é essa a sua finalidade: as armas são para serem utilizadas quando a integridade da Pátria está ameaçada. E Angola passaria a fazer parte legítima da Nação.
Como resultado duma auto-determinação, não só teríamos evitado o êxodo de centenas de milhares de brancos de Angola, como disporíamos de um vasto território para recebermos os refugiados de Moçambique, Guiné, Cabo Verde, S. Tomé e de Timor e, a médio prazo, todos os desempregados da Metrópole.
É esta a razão porque eu não “concebo a Pátria reduzida à modesta extensão do continente”.
Se isso é ser colonialista, então sou mesmo colonialista…”