22/03/2016

Iniciação



"Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!"
(Mario Quintana)


Tragam a noite espúria onde vive
o réprobo dos bichos e dos homens,
o que negou a paz dos lobisomens
ao se benzer nas águas do Estige.

Tragam corvos, chacais & prostitutas
(que hoje eu vou queimar, mas não sozinho):
não quero mais a musa, quero as putas!
não quero mais amor, quero mais vinho!

Amigos, peço, imploro, rogo, clamo:
tragam da veia mansa o teso mel,
o gozo que verteu em terra Onã,
o sangue que Caim tomou de Abel.

Vampiros, nossos filhos de amanhã.


A. F.



25/01/2016

Retrato da galinha enquanto morre


Uma galinha, que engraçada,
se derramando, e tão discreta
: sua natureza degolada
mantém algo de secreta
em sua morte desvelada.
Essa galinha é poeta.

Mas a galinha na calçada,
em sua forma de morrer,
parece não saber de nada
do que é ser ou é não ser.
Pobre galinha degolada,
sabe morrer sem nem saber.

Pobre galinha, degolada
bem antes mesmo de nascer.
Nesse cenário (a calçada),
toda encolhida (que engraçada),
achou sua forma de morrer.
Essa galinha é tudo ou nada.

E morre, e morre pra valer,
essa galinha, que engraçada.
O sangue jorra sem saber
o que é carne o que é calçada
nessa paisagem degolada,
nesse cenário que é morrer.

A. F.