O único episódio do recém-finado verão que talvez mereça registro foi o ocorrido em 22 de janeiro, quando mais uma daquelas enxurradas estranhésimas desabaram sobre o Norte da Ilha (que, cada vez mais me convenço, é outro planeta). A rua começou a alagar, do sentido do mar para minha casa. Prevenida com a única enchente que já se havia abatido sobre meu pedacinho de chão, pedi a opinião do sempre atento hunny:
- Não sei. Mas acho que se a água chegar nesse piso aqui (apontei com o dedão do pé no segundo piso cerâmico da varanda), a gente foge pra casa da minha mãe.
Ele olhava a chuva forte caindo pesado e começou a observar que os vizinhos da parte mais baixa da rua começavam a estacionar seus carros ali na frente de casa. E a água subindo.
Cinco minutos depois da minha sentença, o sempre ágil hunny começou a suspender as coisas de dentro de casa: estabilizador, sofá, máquina de lavar roupa, os calçados que sempre deixo pra guardar amanhã.
Nem forrei o banco do carro: indiquei a meus amados Lola, Fidel e Sebastiana a porta traseira do Clio novinho e eles rapidamente se pirulitaram lá pra dentro. Catei o notebook, entrei no carro e assim empreendemos nossa fuga. Eu com minhas chinelas Crocs, camiseta batidinha do IF-SC e um short jeans nada a ver, no Clio; o sempre zeloso hunny em seu Sandero, e todos nós desviando de poças e buracos durante o trajeto até a casa da minha mãe - onde, incrível, não caía um pingo de chuva.
Lá chegamos, o susto passou, liguei para a vizinha da casa ao lado e estava tudo bem - a água tinha subido por alguns instantes, mas logo escoou. Voltamos para casa e tudo estava em ordem.
Refletindo depois do episódio, fiquei tentando entender por que diabos eu peguei o computador e não me dei conta de separar uma muda de roupa. Ou os óculos de grau. E nem sei se é o caso de Freud explicar.
Depois dessa, vale ressaltar, comprei um par de botas sete léguas. Estilosas, até.