A cidade do pecado e a cidade da paz e do amor
Apenas uma hora de avião separa Las Vegas de São Francisco. Apenas uma hora nos separa de uns abafados 44 graus de uns enublados 20. Num momento estamos numa cidade que verdadeiramente nunca dorme e no outro estamos numa que adormece e acorda cedo. Mas é na diferença, tão próxima, que está a piada dos Estados Unidos.
Do Grand Canyon a Las Vegas foram sensivelmente 4.30h de carro. Estradas vazias e intermináveis, paisagens desertas de terra avermelhada, uma vegetação áspera que nos arranha a pele só de olhar e uma imensidão constante. Árida, seca. Saímos cedo para fugir ao calor, mas depois de duas horas de viagem, ainda só eram 9.30 da manhã, o sol começou a apertar. Se o Arizona é um dos estados mais quentes dos Estados Unidos, o Nevada também deve ser. 44 graus e ainda não era meio-dia. Insuportável calor. De cortar a respiração. A passagem pela Hoover Dam foi dolorosa e abafada. E sem darmos por isso estávamos no Nevada e o calor apertava ainda mais. Cinco minutos depois da tabuleta a indicar "Welcome to Nevada" estava um casino. Literalmente no meio do nada. Não há nada - ou praticamente nada - à volta de Las Vegas. Só deserto. Vegas é uma espécie de oásis onde se vai à procura de diversão e de sorte. Aquilo que se conhece da televisão é aquilo que ela é. Mas com pulso é outra sensação. Uma cidade que na prática é uma rua de hotéis gigantescos com três mil quartos com casinos, imitações de monumentos, capelas e piscinas estilo resort, com palmeiras e cascatas de água. Subsiste o falso, a luz, a imitação, o abstrair da realidade. Por isso é que o que por lá acontece, por lá fica.
Em São Francisco o que lá aconteceu espalhou-se e teve um significado. Mas a São Francisco de hoje não era bem o que estava à espera (perdoa-me R.). Talvez seja errado fazer a inevitável comparação com Nova Iorque. Falamos de duas realidades totalmente diferentes. São Francisco é pacata e residencial. Permanece uma paz e uma ligeireza que se assemelham a estar no campo. A primeira impressão foi terrível. Inúmeros vagabundos, errantes e lunáticos passevam-se nas ruas, mas sem incomodar ninguém. Habituámos-nos a eles. Há qualquer coisa nas cidades viradas para o Pacífico. Seattle também tinha uma aura estranha. Decidi dar uma segunda oportunidade e acabei por me surpreender. Afinal, havia mais que os vagabundos na rua. São Francisco tem qualquer coisa de passado, como se ainda ali existisse a paz e o amor, o LSD e a beat generation. Passei pela casa do Jimmi Hendrix e estive na rua onde tudo aconteceu. Onde a Janis Joplin, o Jimmi Hendrix ou os Grateful Dead se juntavam para fumar erva e fazer música. Infelizmente, e por desconhecimento, não consegui ir ao bairro da beat generation, onde Kerouac terá escrito alguns dos seus conhecidos livros. Também me falhou Alcatraz (bilhetes esgotados para uma semana!!!). Mas não falhou o passeio na Golden Gate, com um frio e uma ventania irritante. São parecidas, as pontes. A msma cor e arquitectura, mas a Golden Gate é mais baixa que a 25 de Abril... e por falar em comparações. De São Francisco segui para Nova Iorque. Para ver se ainda estava na mesma...