terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A história de muita gente






Anderson estudou do primário até a sexta série com Paulinho, os dois moravam na mesma rua e eram amigos inseparáveis. Anderson se formou em medicina e Paulinho trabalha como mecânico em uma oficina. Hoje os dois se encontraram num dos corredores do supermercado, Paulinho ficou muito feliz e Anderson passou por ele fazendo de conta que não o havia visto.
Paulinho não entendeu...
Carla era amiga de Rebeca e Ana Luisa, elas fizeram balé, catecismo, teatro e inglês juntas. Sempre que podiam as meninas se reuniam para ir ao shopping passear, para ir ao cinema, ou simplesmente para papear. Elas eram grandes amigas. Carla se tornou uma grande atriz de cinema e novela, Rebeca trabalha de secretária e Ana Luisa tem um pequeno box numa galeria onde vende tranqueiras importadas da China. Hoje elas se encontraram num salão de cabeleireiro e enquanto Rebeca e Ana Luisa ficaram muito felizes ao ver Carla, ela foi para uma sala privada do salão e fez de conta que não conhecia nenhuma das duas.
Rebeca e Ana Luisa não entenderam.
Antônia foi babá de Alfredo, cuidou dele desde o nascimento até quando ele completou treze anos. Ela era uma verdadeira mãe pra ele, pois a mãe biológica trabalhava o dia todo e era Antônia quem dava carinho, atenção e educação para o menino. Hoje, Alfredo tem uma rede de restaurantes, e Antônia, aposentada, passa a vida com seu marido em sua casa, cuidando dos netos. Alfredo saiu de um de seus restaurantes e Antônia estava em frente esperando o ônibus no ponto, a velhinha viu “seu menino” saindo e ficou feliz em vê-lo, Alfredo a reconheceu, e por isso, levantou os vidros de seu carro passando por ela desviando o olhar.
Antônia não entendeu.
Jânio começou a trabalhar desde menino na loja de seu Valter, este foi seu primeiro emprego. Seu Valter ensinou o pequenino Jânio a ter responsabilidade e também o ofício que é ser um vendedor. Seu Valter era muito generoso e ajudou Jânio a pagar sua faculdade, e depois de formado, quando ele saiu para trabalhar numa grande indústria como gerente administrativo, Seu Valter acertou todos os seus direitos e ainda deu-lhe uma ótima gratificação pelos anos em que o menino fora tão fiel em vestir a camisa da sua lojinha. Hoje os dois vinham pela mesma calçada, Seu Valter ficou feliz em ver Jânio de terno e gravata vindo em sua direção, a imagem daquele menino pobre que um dia ele acolhera e ensinara tudo o que sabia na sua loja, veio à sua mente, e o velhinho sentiu-se orgulhoso. Jânio a poucos metros de Seu Valter, olhou pra ele como se olhasse uma paisagem e atravessou a rua, virando a cara como se não o tivesse reconhecido.
Seu Valter não entendeu...
Paulinho, Rebeca, Ana Luisa, dona Antônia e Seu Valter não conseguiram entender, porque durante todo o relacionamento que tiveram com seus amigos, sempre foram sinceros e nunca usaram máscaras. Seus corações eram puros, e eles não entendiam como uma pessoa poderia ter mudado tanto com o passar dos anos.
O que eles não sabiam, é que essas pessoas que hoje os ignoraram, na verdade não mudaram nada. Apenas não haviam tido a chance "até hoje" de mostrarem quem eles eram de verdade.
Por isso eles ficaram tristes, por isso eles ficaram sem entender. Afinal eles gostavam dos amigos e possivelmente ainda vão continuar gostando, porque em suas mentes, essa atitude de hoje vai ser apagada, e apenas as lembranças dos velhos tempos e que vão continuar vivas. Porque eles são amigos, e amigos são para sempre.






terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

A crença e a loucura da crença.






            Deus criou o mundo.
            Criou? Tem gente que fala que não.
            Quem diz que não, acredita no big bang, nas forças cósmicas, na evolução da espécie e nos astronautas antigos.
            No que é mais fácil acreditar?
            Jesus é o próprio Deus encarnado em um homem.
            Encarnado num homem? Tem gente que fala que não.
            Quem diz que não, acredita apenas que ele seja um profeta, ou um espírito evoluído, ou que ele nem existiu. Ainda existe a teoria de que Buda, Jesus, Gandhi e tantos outros, sejam a mesma pessoa.
            No que é mais fácil acreditar?
            O problema não é acreditar no mais fácil, e sim, acreditar no que sua compreensão entender. É difícil entender um Deus que criou tudo, e que viu essa criação se perder, e que para redimir essa criação, ele mandou seu próprio filho, que na verdade em essência é Ele mesmo, para morrer sem pecado e assim justificar a todo aquele que nele crê.
            Isso é loucura!
            Mais loucura ainda é formular uma ideia onde a gente não é nada, e que dentro do nosso nada, somos totalmente dependentes de Cristo para virarmos algo! Nosso ego não deixa uma ideia dessas florescer na nossa mente. Nossa falta de humildade não nos deixa pensar assim. Na verdade, nós achamos que o homem vai evoluir tanto que um dia vai virar um deus. Afinal, nós usamos apenas 15% de nosso cérebro...
            É loucura mesmo gente.
            Eu também acho loucura o islâmico chegar ao ponto de ser um homem bomba, acho loucura um monge tibetano viver recluso no mosteiro a vida inteira, acho loucura o Haitiano ter como religião oficial o Vodu, acho loucura o hinduísmo com milhares de deuses e divindades... Eu não entendo isso! No meu entendimento cristão eu tenho certeza que estou no caminho certo, mas no entendimento desses que citei e de outros incontáveis tipos de religião, eles também tem certeza de que estão no caminho certo.
            A crença é uma loucura! Mas a crença em Jesus é a mais louca delas, e é por isso que os cristãos acreditam que é necessário que o Espírito Santo de Deus, (que na verdade também faz parte da essência Dele assim como Jesus), tem que primeiro tocar no coração do homem, para que o homem através da Bíblia e do poder dessa força do Espírito Santo, possa assim ter o discernimento de quem é Deus e da dificuldade que é seguir seus preceitos, e assim poder aceitar ou rejeitar a Jesus.
            Sei que é mesmo difícil de entender, por isso, proponho uma meditação sobre o assunto, porque eu sou cristão, me acho dono da verdade, mas como eu já disse, a verdade de cada um depende da sua capacidade de entendimento. Talvez a sua capacidade seja tão elevada que eu ainda terei que penar para chegar ao seu entendimento, mas talvez, o meu entendimento seja melhor que o seu... Pra isso somos humanos. Feitos da mesma massa, vivendo no mesmo mundo, mas professando crenças diferentes, afinal estamos em tratamento. Alguns cristãos se acham eleitos de Deus e o resto é resto, eu, já acho que Deus, através do sacrifício de Jesus Cristo, quer alcançar a todos, e salvar os que crerem. Mas apenas os que crerem... 
                Pense nisso!
           




            

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Baú de fantasias







          Ele abriu o guarda roupas, e remexeu as colchas e cobertas, até que lá no fundo encontrou o velho baú.
            Com cuidado ele colocou o baú sobre a cama e depois de pensar um pouco sobre os anos e as lembranças que aquele baú lhe traria, criou coragem e abriu.
            Dentro do baú estavam dobradas, uma em cima da outra, bem arrumadinhas, as velhas fantasias de carnaval que ele usara no passado. Cada fantasia era de uma fase de sua vida, e por isso, algumas fantasias traziam bons e engraçados momentos, mas outras, traziam pensamentos tristes, que ele queria esquecer pra sempre.
            Naqueles anos, a vida era outra, uma vida inconsequente, sem regras e sem lei. Ele vivia por viver, queria chegar ao fim de cada dia com o sentimento de que não poderia ter feito melhor... Coitado!
            Os anos se passavam e as desilusões vinham aos montes, e como se sua vida fosse uma bateria de celular, carregando além do necessário, ele acumulava essas desilusões até quase estourar, mas, como num passe de mágica, essa carga negativa era gasta em uma maratona frenética que durava cinco noites e quatro matinês!
            Cada uma daquelas fantasias dentro do baú significava um descarrego desses, cada fantasia um carnaval, onde ele se transformava no folião mais feliz do mundo!
            Pena que depois dos cinco dias o celular já estava novamente na tomada carregando sua bateria.
            O tempo passou e ele percebeu que a vida não pode ser isso. Um acúmulo de coisas ruins, gastas em parcos momentos de euforia. Ele percebeu que a vida tem que ser vivida de forma que as energias negativas, os pensamentos e desilusões, não façam ninhos em sua cabeça e nem entrem como inquilinos em seu coração.
            Ele dobrou as fantasias e as guardou novamente no baú.
            Pensou em jogar o baú fora, mas isso seria covardia com o seu passado, e por isso, apenas o guardou novamente lá no fundo do guarda roupas.
            Ele sorriu, porque caindo em si, percebeu que não precisava mais desses cinco dias de folias desenfreadas para ser feliz, e o pior, ele balançou a cabeça caçoando dele mesmo, quando lembrou que em sua trilha sonora diária não tem nenhuma marchinha de carnaval, nem pagode e nem axé! Aliás, ele detesta axé!
            “– Meu Deus, - disse consigo mesmo – como sou mais feliz hoje!”





terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Santa ignorância Batman; final






            Eu comecei um raciocínio aqui no blog a duas postagens atrás, me baseando no documentário “Decifrando heróis” do canal History, onde se mostra que os super heróis foram usados pelo governo americano ao longo da história para massificar ideias e diretrizes de conduta para a sociedade americana, e que de tabela (essa conclusão é minha), as sociedades de outros países acabaram incorporando esse mesmo pensamento, e que por isso o mundo se americanizou tanto.
            Depois eu coloquei na conversa, alguns artistas brasileiros que ficaram famosos por fazerem anti-heróis, como eles mesmos classificaram seus personagens, que através do humor, quebravam todas as regras do que hoje se chama politicamente correto.
            Nos anos 80 pelo menos 5 de cada 10 crianças e adolescentes tinham o hábito de ler histórias em quadrinhos, e hoje, infelizmente esse dado despencou. Eu conversei com um amigo dono da banca de jornais e ele me disse que quem lê hoje em dia é o cidadão de trinta e cinco anos pra frente, e que a moçada não quer mais saber de quadrinhos. Lógico que alguns gatos pingados adolescentes ainda acompanham tudo o que é lançado, colecionam, debatem, discutem, entendem, mas não tem 20 amigos reais, (não virtuais), que tem o mesmo gosto que eles. Por isso, pelo fato de ser uma criança dos anos 80, e saber da situação dos quadrinhos hoje em dia, é que optei por esse tema.
            Usei os quadrinhos para levantar a ideia de que a arte pode servir tanto para construir, como para destruir ideias e paradigmas, mas poderia falar de cinema, literatura, jornalismo, televisão, que tudo daria na mesma conclusão.
            Infelizmente nossos intelectuais se infectaram com o gramscismo, que é uma teoria elaborada pelo filósofo marxista Antônio Gramsci, onde a desconstrução da sociedade é necessária para a reforma da mesma nos moldes marxistas. Nossos políticos, principalmente do PSDB e PT, ao atingirem o poder começaram lenta e paulatinamente essa desconstrução, e um dos pilares fundamentais da sociedade que é a educação foi o mais atingido. Nossos artistas e intelectuais, (logicamente que não generalizando), embarcaram nessas ideias e influenciaram muita gente, talvez até inconscientemente trabalhando para esse caminho.
            O que eu achei engraçado aqui nessas postagens é que alguns amigos comentaram que realmente os heróis americanos influenciaram a sociedade do mundo em geral, mas não concordaram que os quadrinhos brasileiros influenciaram a sociedade daqui! Acho isso uma incoerência de pensamento ou algum tipo de bairrismo, mas isso é facilmente explicado quando a gente nota que essas pessoas agiram com o coração, e por isso enxergaram o micro e não o macro.
            Aliás, nossos maiores erros existem porque sempre enxergamos o micro, que nos é importante e pessoal, e não enxergamos o macro, que tem uma importância muito maior, mas é impessoal num primeiro momento, mas que se formos seguindo as pistas, vamos ver que somos sim indiretamente atingidos.
            Não dá dizer que a imprensa e a mídia, seja ela escrita, falada, jornalística ou artística não influenciam o cidadão comum.
            Eu acho até bonito as pessoas inocentemente lutarem para defender a ideia de que seus artistas e ídolos, escondidos atrás da palavra ARTE, se tornam seres além do bem e do mal, e por isso, incontestáveis, mas esse modo de pensar não cabe mais nos dias de hoje.
            Não se trata de caretice, e nem chatice, nem puritanismo, se trata de dialogar e olhar para o macro! Nossa arte está doente, nossa escola está doente, nossa sociedade está doente, e nós só estamos olhando para o nosso mundinho. Eu me incluo nessa.
            Um amigo que atacou ferozmente essa série de postagens, me chamou em off no facebook e me parabenizou por ter a coragem de falar contra a maioria, e disse que mesmo não concordando 100% com o que eu disse, o nosso bate papo aqui serviu para ele pensar em coisas que nem tinha se tocado. Fiquei feliz com isso, pois foi essa mesma, a ideia da postagem.
            Obrigado pelos seus comentários, afinal, à favor ou contra, nós estamos dialogando e isso é bom!