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Foi no dia 7 de Maio. A foto, contudo, só agora chega. Documenta a leitura de poemas ocorrida na Casa Fernando Pessoa no âmbito do Festival de Poesia "Tordesilhas". Da esquerda para a direita: Ruy Ventura, Eduardo Jorge, Virna Teixeira e João Miguel Henriques.

VIRNA TEIXEIRA



Detox


Enrolou os ferimentos em gaze. Feridas cicatrizam com o tempo. Ainda que restem entalhes. Memórias desenhadas nos ossos, adornos.

Tirou fotografias como registros. Meses após o trauma. Sem sangue nas conjuntivas.

Deixou para trás a câmera. Travesseiro, lençol branco, a água morna do banho. Inverno, lembrança noturna.

A transformação do rosto. Quando retirou as ataduras, as suturas.

No dia da partida, árvores. De perfil no trem, a luz sobre os cabelos, castanhos.



Titan


contava histórias
nos desenhos
da pele


mensageiro do submundo
mercúrio


um vulto
de mãos velozes
na poeira lunar


em trânsito
visões onde


se escondeu
das crateras
sulcos - mofados


na outra
superfície


Virna Teixeira nasceu em 1972 na cidade de Fortaleza, mas vive desde há vários anos em São Paulo (Brasil). Os dois poemas publicados são retirados do seu livro Trânsitos, recentemente publicado na Lumme Editor. Gostei da sua maneira de escrever logo na primeira leitura, acontecida numa antologia da nova poesia brasileira publicada entre nós. Da maneira como lida com uma linguagem elíptica, criadora de segredos e de um mundo suspenso, prestes a acontecer ou ainda acontecendo. Do "quase", do não-dito ou por-dizer. Corpos, os poemas não se abrem; deixam que sejamos nós a abri-los lentamente. Ou permitem a construção de uma relação interactiva, sempre inacabada e, por isso, incessante.