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COMO FOI A PRIMEIRA REPÚBLICA
Opiniões de uma testemunha ocular republicana:
Fialho de Almeida in Saibam quantos...




"Este Portugal republicano é aquele mesmo [...] que crê parvamente em Messias políticos e bruxas, que vive d' indústrias fictícias e agriculturas rutinárias, e com um jornalismo pedante de reporters, uma ciência de copistas e uma literatura de decalcos [...]." (1/11/1910, p. 15)


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"[...] Para implantar no país essas reformas, não vale a pena derribar o monarca para assentar no trono o presidente.
O que é preciso é ter confiança na capacidade mental e moral do cidadão. O que é preciso é ter fé na sinceridade e honra política dos chefes. O que é preciso é curar da disciplina austera dos grupos. E tudo isto não é a forma de governo que o dá, mas uma instrução e uma educação singularmente perfeitas e solícitas. [...]" (pp. 17-18)


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"[...]
Políticos, politicantes, peste!...
Em toda a parte a política é uma ocupação subalterna que só tenta os faladores e os intrigantes, e em geral se abandona às gentes de pequena virtude que a exploram como uma alquilaria ou uma tenda.
[…] E o resultado é este! Corrupção, ignorância, anarquia geral e marcado retrocesso em todas as representações da vida pública e privada.
Partidos recrutados por senhas de bónus pulverizando-os em patrulhas que inviabilizam o parlamento, tornando a queda de ministérios num sport d’ aventureiros e bravucões. Uma burocracia cleptómana que açambarcou os cargos, com mote de não deixar medrar na vida pública ninguém que não seja do can-can. Meses e meses d’ assembleia onde os deputados fazem lutas d’ apaches, ou exploram narizes de cera, abandonando o terreno quando algum assunto sério vem à fala. Uma imprensa que, aparte três ou quatro jornais, sintomatiza bem o descalabro da terra, tão desorientada e ignorante como o parlamento, vivendo de bagatelas e difamações injuriosas, ou reportagens tão reles que por elas se aquilata a complacência estúpida e a degradação moral de quem na lê. Nem literatura, nem ciência, nem arte, nem marinha, nem exército, nem agricultura bastante ao sustento da gente, nem indústria capaz de resgatar as dezenas de milhões em que, com importações estrangeiras e juros da dívida se esgotam os recursos da mesquinha epargne nacional!... (pp. 191-192)

A GRANDE BARRELA

Começou ontem oficialmente a grande barrela chamada "Comemorações do Centenário da República". Ora dizendo que apenas devemos comemorar a revolução de 1910 olhando para o futuro (para esquecermos o triste passado). Ora afirmando que a má imagem da Primeira República foi uma criação propagandística da ditadura do Estado Novo. Ora lançando para os olhos dos portugueses a poeira dos "pequenos erros" do período compreendido entre 1910 e 1926, de forma a ocultar os desmandos graves do jacobinismo sectário e anti-democrático que foram, de facto, os principais responsáveis pelos 48 anos de ditadura vividos pelo nosso país no século XX.
Basta lermos os textos de vários republicanos desinteressados e clarividentes que acompanharam os acontecimentos como testemunhas oculares (como por exemplo Fialho de Almeida) para chegarmos à conclusão de que estas comemorações são um erro e uma imensa campanha de propaganda destinada a manipular a consciência história de todos nós, de maneira a não vermos com olhos limpos o que se passa neste momento em Portugal.
Voltarei ao assunto, eu, republicano que não se revê em nenhuma das três repúblicas que dominaram a história nacional a partir de 1910, republicano que não confunde regime com forma de governo (no fundo o importante não é a república, regime político, mas uma forma de governo, a democracia - de que estamos ainda muito distantes).


Imagem: Bandeira nacional a partir da opinião do poeta republicano Guerra Junqueiro, que afirmou: "O Campo azul e branco permanece indelével. É o firmamento o mar o luar, o sonho dos nossos olhos o êxtase eterno das nossas almas. Os castelos continuam em pé inabaláveis, de ouro de glória, num fundo de sangue ardente e generoso ... A cruz do calvário, as das cinco chagas essa não morre, é o abraço divino, o abraço imortal... A coroa do Rei, coroa de vergonhas, já o não envilece, o não vislumbra. No brasão dos sete castelos e das quinas erga-se de novo a esfera armilar da nossa glória... E ao símbolo augusto do nosso génio ardente e aventuroso, coroemo-lo enfim de cinco estrelas em diadema dos cinco astros de luz vermelha e verde [ ...] dessa manhã heróica da rotunda." - Guerra Junqueiro, citado em "Do Azul-Branco ao Verde-Rubro. A Simbólica da Bandeira Nacional", de Nuno Severiano Teixeira, 1991