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Thursday, November 23, 2017

HÁBITOS IMPORTADOS


Tudo o que sirva o impulso do consumismo expande-se como uma praga. 
É bom que assim seja, defendem uns, com isso se anima o comércio e, com a animação do comércio, a economia. Com isso, cresce o PIB, a senha e o salvo conduto para o bem da humanidade. 
Há dias aconteceu o Halloween, o dia das bruxas, os supermercados enfeitaram-se com esqueletos, teias de aranha, bruxas a voar. Um hábito de importação recente a que os portugueses mais novos aderem de ano para ano com notável entusiasmo. A bem do comércio, da economia do PIB. 

Hoje, quarta quinta-feira de Novembro é dia de Thanksgiving, Dia de Acção de Graças, nos Estados Unidos, Canadá, e em mais alguns países, entre os quais o Brasil!
Durante este fim-de-semana prolongado, entre ontem e domingo, mais de 46 milhões de norte-americanos, vd. aqui, atravessam o país para estar com a família e os amigos. Uma celebração com dimensão idêntica à que no mundo cristão têm o Natal e a Páscoa, que, nos Estados Unidos são menos mobilizadores da reunião das famílias.

Em todo o caso, o Halloween, o Thanksgiving, a Páscoa, e, daqui a dias, o Natal e o Fim do Ano, têm em comum um efeito de enorme relevância no crescimento imparável do consumismo.
Tendo os portugueses aderido tão entusiasticamente ao Halloween é esperável que, mais ano menos ano, estejam alegremente a celebrar o Thanksgiving. Entretanto, enquanto o Thanksgiving não chega, já chegou o Black Friday, a Sexta-Feira Negra, no dia seguinte ao Thanksgiving, isto é, amanhã.
E, neste caso, não há justificações históricas nem religiosas: a Sexta-Feira Negra é mesmo para comprar mesmo sem se saber porquê.  Muitos compram o que não precisam, outros vêm pechinchas onde estão truques de marketing.

No fim, cresce a economia portuguesa?
Os que vêm no crescimento do consumismo uma alavanca do crescimento económico, a ala esquerda do trio que apoia o Governo, não querem reparar no desequilíbrio da balança comercial com o exterior, no crescimento do endividamento do Estado e das famílias. O que lhes importa, sobretudo, é o crescimento dos votos que se entusiasmam com as suas promessas.

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A propósito do Thanksgiving: As suas origens nos EUA deram lugar à congeminação de histórias que, geralmente, deturpam, invertem ou obscurecem alguns factos nada merecedores da celebração nacional em que se tornou o Dia de Acção de Graças.
O Economist desta semana explica aqui, de forma sucinta, porque acontece o "Thanksgiving". 




Neste quadro, pintado entre 1912 e 1915, aparecem colonos britânicos, bem ataviados e nobre aspecto oferecendo comida aos autócones que encontraram após o desembarque em terras do outro
lado do atlântico.

A  provável realidade terá sido totalmente inversa: aos colonos, exauridos pelos tormentos da viagem, famélicos e sequiosos, ofereceram os locais comida e água. A esta recepção de boas vindas seguiram-se lutas e contágios que dizimaram praticamente toda a população indígena. Cerca de meio século depois, os colonos celebraram o Thanksgiving, empalando a cabeça do filho do chefe da tribo que os havia recebido depois de terem derrotado os indígenas numa batalha ocorrida em 1676. 

Friday, June 02, 2017

O PREÇO DA IMITAÇÃO DA POBREZA

A imitação da pobreza continua na moda, mas é cara, muito cara mesmo. 
A Levi´s, suponho que foi a Levi´s, lançou há três décadas a moda dos jeans rasgados, desbotados, quanto mais esfarrapados melhores, e, portanto, mais caros. Compreensível: a aparência de empobrecimento ou leva tempo, e quem não quer andar fora da moda não espera até que o material empobreça, ou exige tratamentos adicionais, que têm custos. 

Uma ou duas décadas antes, a arte povera tinha-se imposto a partir de Itália, e os criativos da moda pegaram na ideia. 



Hoje reparo aqui que uma casa de moda de luxo francesa está a lançar no mercado uma linha de ténis rasgados, a um preço - 1400 euros - que será uma pechincha para quem recebe mesada de vários múltiplos do salário mínimo.


A explicação mais comum para este prestígio da decadência aparente junto dos jovens, com recursos materiais, é a afirmação de rebeldia. Mas não será antes, como sugere uma das inscrições no modelo acima, um sintoma de tédio precoce de jovens enjoados com tanta fartura à volta, mais uma consequência dos efeitos perversos da desigualdade social?

Sunday, March 20, 2016

DEPOIS DOS JACARÉS

7/01/1986

Jacques Cousteau e os seus companheiros continuavam há dias na Amazónia, desta vez com os caçadores de jacarés.

Enquanto esfolava a barriga dos repteis, um entrevistado elucidava que só a pele de baixo lhe interessava por ser  mais macia e boa para cintos. Os restos dos cadáveres jogava-os ao rio para almoço das piranhas. 

- Mas, por este andar, amigo, vocês ainda acabam com os jacarés...  
- Nesse dia vou deixar de caçar, disse o homem com a maior naturalidade deste mundo.

Quem ouviu deve ter chorado lágrimas de crocodilo. 
A perspectiva imediatista comanda as sociedades modernas. A era da incerteza é a era do esgotamento. Morra Marta, morra farta. 
Vão longe os tempos das catedrais. 

Lembrei-me, a propósito, do sr. Perez, um galego que, não sei porque caminhos, caíra um dia nos meus sítios. 
Plantava obsessivamente oliveiras, e, sendo tão velho e sem filhos, ninguém entendia a persistência do caturra.
Morreu o velho Perez há muito tempo já. As oliveiras passaram para a companheira, velha como ele, e dela para os sobrinhos do seu primeiro parceiro, que emigraram, e nunca mais as oliveiras viram donos.  Abraçaram-se a elas os silvados e neste arraial bailavam a pardalada, as rolas e outros solistas, regalando a alma do Perez que por ali pairava nas noites de calmaria. 
Até ao dia em que o fogo a cremou.  

Passaram os anos, em todas as redondezas morreram os olivais. E só ressuscitaram os silvados e as pedras. 

Saturday, March 19, 2016

SÃO MELHORES NÃO DESCASCADAS

Há quem não coma fruta ou porque não gosta ou porque não quer despender o esforço mínimo de a descascar. 

Talvez a pensar nessa gente, a "Whole Foods", uma cadeia de supermercados, colocou à venda laranjas já descascadas acondicionadas em blisters de plástico.
Natalie Gordon , uma criativa publicitária, não gostou da ideia e, ironicamente criticou-a no twitter:
"If only nature would find a way to cover these oranges so we didn't need to waste so much plastic on them" - "Se a natureza tivesse encontrado uma forma de cobrir estas laranjas não teríamos de usar tanto plástico com elas"



A crítica irónica desencadeou uma vaga de protestos de altura suficiente para obrigar a "Whole Foods" e retirar as descascadas de venda e a reconhecer o erro.

Para onde iria a economia mundial se a economia do desperdício fosse anulada pela racionalidade das escolhas dos consumidores a partir de um processo idêntico a este que que travou o sucesso das laranjas descascadas?
Arrisco afirmar que provocaria uma crise económica e social global de magnitude nunca antes observada.

Friday, December 25, 2015

FILHOS DE ABRAÃO

Não há, certamente, manifestação mais evidente da estupidez humana que matarem-se os homens uns aos outros em nome do mesmo Deus. O cartoon de Kal, que coloquei anteontem neste caderno de apontamentos, não podia ser mais acutilante do cúmulo dessa estupidez.

Num artigo do El País de ontemLa ola de violencia arruina la temporada de Navidad en Tierra Santa - o jornalista sintoniza a sua reportagem aos prejuízos causados à indústria turística por uma guerra milenária entre crentes fanáticos ou coercivamente fanatizados das religiões abraâmicas, monoteístas. 


Na foto, um palestiniano lança uma pedra com uma funda contra soldados israelitas enquanto três homens vestidos de São Nicolau deambulam em direcções opostas. Há dez anos que não se observava em Jerusalém uma onda de violência como esta que se exacerba há três meses entre judeus e muçulmanos . Mesmo no meio da luta fratricida, que nunca teve fim à vista entre os filhos de Abraão, passeiam-se impassíveis os negócios da estação festiva cristã. 

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Correl . -

Cristo nació cinco años antes de Cristo, si realmente nació
Turkey´s vote against Christmas
La ola de violencia arruina la temporada de Navidad en Tierra Santa
Diez canciones para celebrar la Navidad más "sexy"

Tuesday, December 08, 2015

IMACULADA CONCEIÇÃO

Jantar convívio da época, dez convivas à volta da mesa.
Às tantas a conversa tomba para os benefícios já adquiridos com a mudança de governo.

Os feriados, por exemplo. O que é que o País ganhou com a redução do número de feriados? Nada!

E vai ganhar alguma coisa com a reposição?
Vai, claro que vai. Amanhã é feriado. As pessoas vão fazer compras, as compras dinamizam a economia, o crescimento económico. E, depois, há a tradição. O respeito pela tradição é o respeito pelos valores culturais, pelos valores históricos ... Acabar com alguns feriados eliminaria uma parte da história do País ...

A propósito, alguém sabe dizer-me o que se celebra com o feriado de 8 de Dezembro?
É o Dia da Mãe
Não. O Dia da Mãe agora é no dia primeiro de Maio. 
Não. O Primeiro de Maio é o Dia do Trabalhador...
O Dia da Mãe agora é no primeiro domingo de Maio. Este ano é no dia 8. O ano passado foi no dia 10 de Maio. É móvel ... Antigamente, era celebrado no dia 8 de Dezembro, mas depois, já não sei quando, passou a ser celebrado no primeiro domingo de Maio, mas não sei porquê.
É em homenagem à Virgem Maria ... porque é no primeiro domingo de Maio e não no segundo, ou terceiro, não sei ...
No Brasil, sei eu, é comemorado no segundo domingo de Maio.
... e também nos Estados Unidos. 

E o 8 de Dezembro, é feriado porquê? Alguém sabe?
Ninguém sabe, mas também não é importante. O importante é o respeito pela tradição, e a tradição vem sempre de longe! O governo anterior não era respeitador da tradição nem das pessoas.
Nem do crescimento económico ... Amanhã vai toda a gente às compras, vai estar tudo caído nos centros comerciais. A economia precisa disso, não?

Wednesday, September 30, 2015

RECAÍDA À VISTA

A poupança das famílias está em queda desde 2013, tendo atingido no 2º. trimestre deste ano o valor mais baixo desde o começo do milénio. 
 
Por outro lado, os portugueses nunca tiveram tanto dinheiro em depósitos à ordem. 
As poupanças aplicadas nos Certificados do Estado, onde as taxas são mais altas, aumentam mas estão longe dos 36 mil milhões depositados pelos particulares nas contas à ordem. Depósitos valem 60% dos activos da banca.
Certificados de Aforro vão render ainda menos em Outubro em consequência dos mínimos históricos consecutivos que têm sido atingidos pelas taxas Euribor.

O que é que está na origem do comportamento dos portugueses reflectido nestas notícias divulgadas pelos jornais nos últimos dias? 

A srª. Manuela Ferreira Leite atribui na sua habitual coluna do Expresso a inusitada preferência pelos depósitos à ordem ao medo ao risco, ( ) e que muito provavelmente poderá estar relacionado, entre outros, com o caso "BES"*.  Mas a confiança, sustentáculo primordial da actividade bancária, abalada por uma sucessão de escândalos, poderá condicionar o comportamento de alguns, mas apenas de alguns, daqueles a quem sobram no fim do mês algumas poupanças. 

A razão de peso da preferência pelos depósitos à ordem, do meu ponto de vista, é outra: as taxas de juro a roçar o zero dos depósitos a prazo e das aplicações em títulos da dívida pública. Entre aplicações amarradas a prazos de vencimento e retribuições abaixo das taxas de inflação e a disponibilidade da liquidez dos depósitos à ordem, muitos daqueles que não gastam tudo o que ganham preferem os DO para o que der e vier. Se a desconfiança fosse suficientemente desmotivadora não teriam os lesados do BES embarcado em aplicações de alto rendimento poucos anos depois da erupção do escândalo  BPN. E quem não confia na banca nem depósitos à ordem lhes confia. 

As taxas de juro motivam a propensão para poupar ou consumir. Neste momento a motivação vai no sentido da preferência pelo consumo, preferencialmente produtos importados. 
E assim se prepara o terreno onde germinam as crises: crédito barato, poupança escassa, consumo importado elevado, desequilíbrio da balança comercial, aumento do endividamento, estagnação económica.
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* "Assim, confio que o distanciamento do Governo em relação a este caso não passe de aparência, porque, apesar de se tratar de matéria do domínio privado tem efeitos que atingem o interesse público. E não é pelo défice, é pelo crescimento económico", escreve, inigmaticamente, MFL a terminar o seu artigo.

Sunday, July 26, 2015

QUANTAS VEZES JÁ PASSOU A CRISE?

Aproximam-se as eleições legislativas.

Novos empréstimos para habitação e consumo cresceram 52% e 25% entre janeiro e maio, voltando a níveis pré-troica. Caiu 32% o crédito às empresas no mesmo período. Cf. aqui
António Costa (jornalista) : Os bancos têm os cofres vazios. Cf. aqui

Foram vendidos 91.075 veículos ligeiros nos primeiros cinco meses de 2015, representando um crescimento homólogo de 30,3%, valor que ultrapassa o número de veículos registados durante o mesmo período de 2011. A manter-se este volume de vendas, o número total de veículos vendidos em 2015 poderá ultrapassar as 200 mil unidades. Renault, Peugeot, Volkswagen, Mercedes-Benz, Citroën e BMW mantêm, por esta ordem, os seis primeiros lugares da tabela de vendas de ligeiros. Cf. aqui
 
Entre março e maio, o défice da balança comercial ampliou-se 611,4 milhões de euros para -2.965,8 milhões de euros e a taxa de cobertura diminuiu 2,2 pontos percentuais para 81,3%. Cf. aqui

Após um crescimento de 0,9 por cento do PIB em 2014, prevê-se uma aceleração para 1,7 por cento em 2015. Cf. aqui

No fim de maio a taxa desemprego era, estatísticamente, de 13,2%, ainda a quinta mais elevada da União Europeia. Cf. aqui

Passos garante que a crise já acabou. "Pusemos a crise para trás" - Cf. aqui

Resumindo: Os bancos têm os cofres vazios mas aumentaram o crédito para habitação e consumo. As vendas de automóveis continuam de vento em popa. Consequentemente, voltou o défice comercial e o aumento da dívida externa privada. O ténue crescimento económico é alimentado pelo crescimento do consumo e este pelo crescimento do crédito externo. 
Passou a crise? 
Quantas vezes?

Monday, June 01, 2015

O INVESTIMENTO DILETO DOS PORTUGUESES

"Portugueses compram 21 mil carros em Maio. Nos primeiros cinco meses de 2015, o mercado matriculou 92.605 veículos automóveis." - cf. aqui

O crescimento das vendas de automóveis em Portugal já não pode atribuir-se apenas à recuperação da queda durante os primeiros anos da crise porque, por um lado, a tendência excepcionalmente crescente já perdura há mais tempo do que o período de contracção sem que tal evolução tenha qualquer correspondência com o aumento de poder de compra dos portugueses em geral, e por outro porque são sobretudo notáveis os crescimentos das vendas de viaturas de gama alta.

Explicação para este entusiasmo automóvel em tempo de crise só pode encontrar-se, parece-me, em dois factores: 

- A redução das taxas de juro que, por um lado, incentiva a expansão de crédito para este tipo de investimentos, que irão contribuir para a retoma do desequilíbrio da balança comercial, e, por outro, desincentiva a poupança, desencaminhando-a para o consumo e equipamentos domésticos, em grande parte importados, reforçando a tendência referida para o desequilíbrio das contas com o exterior provocado pelo aumento do crédito.

- O aumento em tempos de crise dos rendimentos das classes sociais mais abonadas, para o crescimento espantoso das vendas de automóveis de gama alta.
Se as operações de "Quantitative Easing" do BCE vieram aliviar significativamente o custo da dívida das economias mais fragilizadas, ainda que muito tardiamente, os efeitos económicos poderão estar a desviar-se bastante dos objectivos supostamente pretendidos: a liquidez injectada nos mercados não está a dirigir-se ao investimento produtivo mas sobretudo para o consumo e operações financeiras especulativas. 

Os taxas dos depósitos a prazo são agora, salvo um ou outro caso para captura de clientes novos, quase nulas; nestas condições, os depositantes preferem a liquidez dos depósitos à ordem ao rendimento exíguo dos depósitos a prazo. Os certificados de aforro e os certificados do tesouro, apesar de tudo mais compensadores que os depósitos a prazo, também não são competitivos com a tentação do consumo.

E, assim, os automóveis vendem-se como pãezinhos quentes.
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Correl. - (16/06) - "Portugal continua a liderar o crescimento das vendas de carros na Europa" - cf. aqui - " Em Portugal, a venda de carros novos totalizou 18.343 unidades em Maio - um crescimento de 33,1% face ao mesmo mês do ano anterior. Este aumento, que é o mais expressivo de toda a Europa, compara com um crescimento médio de 1,3% na União Europeia."
 

Sunday, December 21, 2014

SE É ARTE, TEM DE SER VERMELHA

O Economist desta semana publica um artigo que merece ser lido - Propaganda: The art is red - sobre a campanha de propaganda lançada por Xi Jinping, actual secretário-Geral do partido comunista chinês, que, tudo leva a crer, pretende reinjectar na população novas doses de fé no partido e nos seus dirigentes, abalada pelos incidentes observados em Hong Kong, caldeados numa vaga de aspirações de liberdade induzidas por pensadores e artistas desalinhados do discurso oficial. 

Segundo o articulista do Economist, desde os tempos de Mao Tse-tung, falecido há 38 anos, que não se observava na China uma campanha tão intensa de propaganda, com cartazes colados por toda a parte apregoando as virtudes da poupança, do esforço de cumprir, da dedicação filial, da civilização chinesa, e do partido comunista chinês. Por outro lado, estão a ser controlados os pensadores e artistas tresmalhados do rebanho do partido. A arte, qualquer que seja a sua forma ou a sua base de expressão, segundo os dirigentes chineses, deve estar ao serviço da política aprovada pelo partido único.

Se considerarmos que a grande maioria dos artigos não alimentares, úteis e inúteis, necessários e supérfluos, que os portugueses compram durante todo o ano, e redobram durante a época do Natal, são made in China e que, por outro lado, em operações de privatização ou nacionalização chinesa, a EDP, a REN, a Fidelidade, a Espírito Santo Saúde, o BESI, são agora total ou quase totalmente chinesas, parece que andamos a trocar o governo de algumas das maiores empresas por toneladas de bugigangas e quinquilharias. 

A política de exarcebamento do nacionalismo chinês, aliás num contexto de nacionalismo generalizado que também atinge a Europa, não augura nada de bom. Mas a distracção com que alegremente vendemos os anéis para comprar toneladas de kitsch chinês também não nos levará a bom porto. E pode levar-nos de novo à asfixia de um partido único.

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Correl. Já depois de ter editado este apontamento leio no Público uma reportagem reconfortante: Indústria têxtil: Um quarto de século depois, há um sector que volta a mostrar a sua fibra.
Precisa-se que outros sigam o exemplo. 

Saturday, December 20, 2014

QUANDO O NATAL ACABAR

Em Prince William habita gente de todo o mundo. Segundo o Censo de 2010, de um total de cerca de 454 mil habitantes (serão 500 mil agora): 57.8% são brancos, 20,2% negros ou afro-americanos, 0,6% nativos, 1,5% indianos, 1,2% filipinos, 1,2% coreanos, 0,8% vietnamitas, 0,6% chineses, 0,1% japoneses , 2,1% de outras origens asiáticas, 0,1% de ilhas do Pacífico, 9,1% de outras origens, 5,1% mistos, de duas ou mais origens. Do total, 20,3% eram de origem hispânica ou latina, de várias raças: 6,8% salvadorenhos, 3,7% mexicanos, 1,8% porto-riquenhos, 1,1% guatemaltecos, 1% peruanos, 0,9% hondurenhos, 0,4% bolivianos, 0,4% colombianos, 0,3% nicaraguense, 0,3% dominicanos.

À diversidade demográfica corresponde a diversidade  religiosa, não muito divergente da observada na totalidade dos EUA*. Em Prince William há 57 "elementary schools" (até ao sexto ano de escolaridade), 16 "middle schools" (até ao oitavo ano), 12 "high schools" (até ao décimo segundo ano), e 4 Universidades. O PIB per capita situa-se acima da média do Estado da Virgínia, que, por sua vez se situa na sexta posição do ranking dos estados norte-americanos.

Até há alguns anos atrás, as escolas fechavam durante a quadra natalícia para ´"Férias do Natal".   Mas por que não também férias por ocasião das celebrações de outros credos?, perguntaram outros crédulos e incrédulos. Resultado: As "Férias de Natal" tornaram-se  "Winter Break", e ficaram todos felizes. Em Prince William e todos os outros condados à volta da capital federal do país.


Ocorreu-me este comentário quando há dias li o artigo do Financial Times, que citei aqui, acerca do crescendo radicalismo que está a apodrecer a paz na Europa.

E se o Natal fosse abolido, o que aconteceria à economia?, pergunta provocatória que titula um artigo publicado aqui hoje, também no Financial Times. Provavelmente, não aconteceria nada, segundo o autor do artigo, e explica porquê. O frenesim das compras que se apodera da generalidade das pessoas nesta época do ano não se inspira no espírito natalício e continuaria a progredir bem sem este.
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* c/p aqui

ReligionPrince William, VAUnited States
Percent Religious36.11%48.78%
Catholic14.81%19.43%
LDS0.98%2.03%
Baptist4.35%9.30%
Episcopalian0.02%0.63%
Pentecostal2.65%1.87%
Lutheran1.05%2.33%
Methodist3.25%3.93%
Presbyterian0.85%1.63%
Other Christian3.40%5.51%
Jewish0.05%0.73%
Eastern0.35%0.53%
Islam4.35%0.84%

Monday, June 23, 2014

VIRA O DISCO

Num comunicado divulgado hoje, disponível aqui*, "os CTT – Correios de Portugal, S.A. (“CTT”) informam sobre a intenção de formalizar o acordo de parceria com o BNP Paribas Personal Finance (Grupo BNP Paribas) para distribuição de produtos de crédito ao consumo, no âmbito do Memorando de Entendimento (MOU) assinado em 8 de maio de 2014." A avaliar pelo comportamento ascendente das acções em bolsa, num dia de queda generalizada, os accionistas parecem apreciar o acordo anunciado.

Tanto a Cetelem como a Cofidis, ambas filhas do mesmo progenitor, o BNP, já estão há vários anos muito activas no mercado português no negócio da concessão de crédito pessoal a quem terá dificuldade em pagá-lo. São estúpidos? Não devem ser, mas é difícil compreender que alguém que saiba fazer contas e conte pagar o que deve contraia empréstimos junto da Cofidis a taxas de juro de TAEG 10,5%, após "análise da capacidade financeira"ou da Cetelem, a uma "ótima (!) taxa para os seus projetos: TAN desde 8,90% e TAEG desde 10,7%. Crédito remodelações, crédito electrodomésticos, crédito mobiliário"
Nos EUA esta prática ficou conhecida por "subprime" e os "produtos" a que deu origem causadores da crise iniciada em 2008, depois de descoberta a marosca, foram considerados tóxicos e a factura da mixórdia apresentada para pagamento, de um modo ou de outro, aqueles que não foram vistos nem achados no enredo da moscambilha.

Já está toda a gente esquecida disto?
Nos EUA, ninguém o ignora, os contratos "subprime" foram embrulhados (securitizados, dizem os especialistas no bródio) em papel baço e atados com fitas actrativas, e vendidos  através de  "fundos de investimento" por todo o mundo. Estarão os CTT a preparar-se para participar num esquema idêntico? E quantos estarão neste mundo  a virar o disco e a tocar o mesmo, já que não é crível que sejam os CTT pioneiros na matéria? 

O que disse o Banco de Portugal, por onde certamente passou o licenciamento do negócio?
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* Nova comunicação aqui

Thursday, February 20, 2014

ÁGUA DA TORNEIRA: MAIS SAÚDE E ALGIBEIRA

Isabel PS comentou aqui o meu apontamento de anteontem - Meter Água - e colocou o endereço deste interessante youtube sobre o assunto:




Obrigado, Isabel.

Outro comentador Anonymous afirma "Em Businessinsider.com, pode ler-se : os USA beberam em 2009 mais água engarrafada do que leite e cerveja. O consumo per capita ultrapassou os 32 galões."
Não consegui localizar essa informação mas confirma-se aqui que o consumo de água engarrafada nos EUA (107 litros per capita em 2010) foi inferior ao observado na Bélgica (148), Alemanha (134), França (132), Espanha (124) Hungria (111), Suiça (108) mas superior ao observado na Republica Checa (92), Áustria (91) e em Portugal em (85, em 2007).  

O valor de 32 galões (cerca de 121 litros) de consumo per capita nos EUA referido por Anonymous é cerca de 20% superior ao da fonte que citei. O que parece estranho porque uma das fontes (Canadean) é citada nos dois quadros. Existem também discrepâncias significativas quanto aos consumos per capita noutros países. Quanto a Portugal os valores distanciam-se de 85 litros (em 2007) para 115 litros (em 2010). Quais são os valores correctos, não sei. O que sei é que o PIB per capita em Portugal medido em termos de paridade de poder de compra é cerca de 46% - vd. aqui- do observado nos EUA. Como a água engarrafada não é um produto de primeira necessidade, o consumo per capita de água engarrafada em Portugal será, por quem se pode dar ao luxo de a consumir, cerca do dobro da consumida nos EUA para idênticos estratos da população num caso e noutro. 

Mas terei de reconhecer que a minha observação do meio que conheço me deu uma ideia errada do que bebem os norte-americanos. Não imaginava que bebessem mais água engarrafada que leite e cerveja. 
Os EUA são, para além de uma grande nação, uma nação muito grande, e qualquer conclusão retirada de uma amostra baseada na observação pessoal de uma pequena parte arrisca-se a ser errada.

Em conclusão: Até os Ianques bebem água engarrafada a mais.

Monday, February 17, 2014

METER ÁGUA

Em qualquer restaurante dos EUA quando o cliente pede água, se ela já não foi servida mesmo sem ter sido pedida, servem-lhe água da torneira num copo avantajado, com cubos de gelo se não forem dadas indicações em contrário ao empregado. Admito que um ou outro cliente peça água mineral, nunca vi, mas deve haver excepções para confirmar a regra. Também admito que haja águas minerais à venda nos supermercados, mas nunca reparei nelas. Em Portugal, pelo contrário, água bebida em restaurante, modesto ou de luxo, é mineral, salvo casos raros. 

Dir-se-á, e eu concordo, que cada qual mete a água que lhe apetece, e que em matérias grastronómicas os norte-americanos não são bons exemplos para ninguém. Em todo o caso não deixa de ser notório que muitos portugueses paguem satisfeitos por bom preço aquilo que a generalidade dos norte-americanos bebe de graça. Poder-se-ia argumentar que a preferência pelas águas minerais decorre da desconfiança pela qualidade da água canalizada, mas segundo relatório publicado no site da ERSAR - Entidade Reguladora dos Serviços e Água e Resíduos, "a água para consumo humano em Portugal confirma a excelente qualidade. Com o indicador de água segura acima dos 98%, pode garantir-se aos portugueses que podem beber água da torneira com confiança." Será tão elevado o indicador de segurança da água mineral? Não sei, e não encontrei informação sobre isso. 

Vem isto a propósito de um e-mail recebido do J Vaz anexando um gráfico que compara os consumos per capita em Portugal e nos outros países da União Europeia. 
Afirma J Vaz, que na Alemanha consome-se muita água engarrafada com gás (CO2) e as embalagens são retornáveis e de vidro. Nos países em crise financeira (Portugal, Espanha, Itália, Hungria, ...) o consumo de água engarrafada é elevado, não existindo nesses países sistemas de retorno das garrafas e muitas delas vão parar à valeta e depois ao Oceano. E pergunta:

Haverá associação entre o comodismo da água engarrafada, sem retorno da garrafa, e a crise financeira?

Caro João,
É muito evidente que a economia se afunda quando lhe entra água a mais pelos cascos. A crise financeira é o redemoínho engolidor provocado por esses afundanço. Ou vice versa. 

Thursday, January 02, 2014

ENFIM, CADA UM O QUE QUER APROVA

 
  
"Vendas de carros reanimam-se e regressam à barreira dos 100 mil veículos. A recuperação contrasta com a trajectória negativa do mercado no conjunto da União Europeia (uma queda forçada por dois gigantes do comércio de carros, Alemanha e França). A compra de automóveis tem sido a principal razão do crescimento homólogo do consumo de bens duradouros. E o aumento da procura e de algum investimento dos particulares é uma das razões que a Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA) encontra para este comportamento do mercado. Mas também o “crescimento significativo das vendas para rent-a-car num ano turístico muito bom”(aqui)

Há quem veja nesta reanimação da procura de carros mais um sintoma de recuperação sustentada da economia. Há quem repare que o crescimento das compras de viaturas, à excepção das realizadas para "rent-a-car", não sendo sustentada pelo crescimento da economia - que voltou ainda a decrescer em 2013, apesar da evolução debilmente positiva observada na segunda metade do ano - só pode ter sido financiada, em geral, pela redução da poupança privada ou pelo aumento do crédito a particulares. Por outro lado, confirma que mesmo a mais ténue recuperação das expectivas dos portugueses se reflecte imediatamente na importação de bens duradouros.

Em qualquer caso, o crescimento da procura interna, seja ela em que for, não vem do lado daqueles que estão as ser vítimas das medidas de austeridade que o governo entende dever ser paga por quem menos contribuiu para as causas que lhe deram origem. 

Friday, November 08, 2013

O FUTURO DOS PAPA GIGABYTES

Se a televisão já tinha colocado a generalidade dos cidadãos ensimesmada horas a fio em frente da "caixa que mudou o mundo", os telemóveis, e toda a gama da mesma espécie, desde os mais elementares aos mais espertos, estão a viciar a espécie humana no consumo intensivo de megabytes.
Segundo estudo realizado nos EUA - Children´s Media Use in America 2013 -, citado aqui, 38% das crianças com menos de dois anos usa smartphone. Parece incrível, mas é esse um dos resultados citados no relatório.
 
Em Portugal, a crise fez disparar o consumo médio de televisão para cinco horas e meia por dia! [P]
e, há duas semanas atrás, os portugueses correram à meia noite para as lojas para adquirirem novos iPhones [N], estando os smartphones em primeiro lugar na lista de preferências das compras de Natal[DD]. Segundo esta notícia, em 2013 o número de telemóveis no mundo será equivalente ao número de habitantes do planeta, cerca de 7 mil milhões. Segundo esta informação, em Portugal, o número médio de telemóveis era, em 2008, de 137 por 100 habitantes, um dos mais elevados da Europa, e é muito provável que aquela relação tenha, entretanto, aumentado apesar da crise. As constantes filas de espera junto aos balcões dos operadores denunciam bastante bem a crescente adoração portuguesa pelos telemóveis. Nos EUA, em 2013, a relação era de 91 telemóveis por 100 habitantes. Significa isto que, para cada 100 habitantes, em Portugal haverá hoje mais de 50% de telemóveis que nos EUA!*
 
Qual será o produto de uma sociedade futura entretida, na maior parte dos casos, a papar gigabytes?
Acabará por enjoar-se? O twitter lançou-se ontem na bolsa, tendo ultrapassado na abertura os 50 dólares por acção, caindo no fecho da sessão para 44,90 [G]. Os analistas acreditam que este nível é insustentável e as cotações irão resvalar mais. Até onde subirá a onda da moda das redes sociais, ninguém sabe.
 
O que sabemos é que as crianças, todas as crianças do mundo, tendem a mandar para o sótão os brinquedos que um dia os embeveceram. Os adultos costumam fazer o mesmo.

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*Para aqueles que acreditam, ou querem fazer acreditar, que o reequilíbrio da balança comercial é uma conquista irreversível do actual programa de ajustamento, a propensão portuguesa para a  procura desenfreada de bens importados, de que os telemóveis são apenas um exemplo, deveria suscitar uma reflexão séria sobre o assunto.

Tuesday, September 04, 2012

O QUE ELES CONSOMEM

The Democratic Consumer

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Saturday, September 01, 2012

OS SUSPEITOS DO COSTUME

Há dias o amigo João Vaz chamou-me a atenção para este artigo de Paul Farrel publicado Market Watch, um dos sites do Wall Street Journal.

Quem é Paul Ferrel? Segundo resumo publicado no Market Watch, onde tem coluna reservada, "Paul Farrell writes the column on behavioral economics. He's the author of nine books on personal finance, economics and psychology, including "The Millionaire Code," "The Winning Portfolio," "The Lazy Person's Guide to Investing." Farrell was an investment banker with Morgan Stanley; executive vice president of the Financial News Network; executive vice president of Mercury Entertainment Corp; and associate editor of the Los Angeles Herald Examiner. He has a Juris Doctor and a Doctorate in Psychology"

Neste artigo - Myth of Perpetual Growth is killing America / Commentary: Everything you know about economics is wrong - há algumas verdades mas também muito exagero e radicalismo. Afirma Farrel, além de mais,  que as conclusões dos economistas se fundamentam em ficções que distorcem tudo. E parte desta premissa elevado a dogma para arrasar todos quantos escrevem sobre temas económicos.  

Não há sempre nem nunca, não há tudo nem nada. Quando Farrel defende que "tudo o que se sabe sobre economia está errado", a questão óbvia que se coloca é se Farrel sabe alguma coisa de economia. E se sabe, que verdade é a dele que, segundo ele próprio, ainda ninguém comprou? 

É inquestionável que o princípio do crescimento perpétuo em que implicitamente acredita meio mundo, porque outro meio não acredita porque não o vislumbra, é tão insustentável como o movimento perpétuo e, como este, falível por esgotamento de energia motora.

Jared Diamond, autor de The Third Chimpanzee, Guns, Germs and Steel, e Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed recorre à história para explicar nesta última obra como a exaustão da energia esteve na origem da queda dos impérios e da extinção de civilizações. Nada de novo, portanto, senhor Farrel. 

A questão que se coloca não é a sustentabilidade do crescimento ao cimo da terra mas a capacidade do homem descortinar à sua volta (ou à volta do que anda) fontes de energia que possam continuar a sustentar esse crescimento.

Acompanha o artigo de Farrel uma fotografia de uma montanha de desperdício, intuindo que crescimento determina inevitavelmente crescimento paralelo da poluição do planeta. Não é necessariamente assim, e há muita gente, reclamando-se economista ou não, que está consciente disso. Nos EUA, como no resto do mundo, há economistas com perspectivas macroeconómicas distintas. Meter todos no mesmo saco e acusá-los de falta de honestidade ou de conhecimentos, é no mínimo sinónimo de uma arrogância que raia o delírio.