Antes de mais, alerto quem teve a pachorra de ter chegado agora até aqui, que não sei mais do que dizem as últimas sondagens, que ressaltam a importância relativa dos votos dos indecisos (22%)
Eu não faço parte dos indecisos, e já decidi: não vou votar.
Porquê? Não seria relevante a minha resposta.
Feita esta "declaração de interesses". Vou tentar explicar a aparente falta de razoabilidade do título deste apontamento.
Segundo as sondagens mais recentes, a distância entre AD e o PS é suficientemente estreita para poder ser ultrapassada, num sentido ou noutro, pela votação dos indecisos, ou daqueles que, entretanto, ou à última hora se decidirem a votar.
É com base nestas permissas, e mais nenhumas, que penso que quem ganhar, perde; quem perder, ganha, independentemente de o vencedor ser um ou outro dos dois que se perfilam na primeira linha de hipóteses de ganhar.
Comecemos por Montenegro.
A AD, segundo as sondagens saídas anteontem, situava-se 5 pp acima do PS.
Montenegro teve uma semana cheia de incidentes que obrigaram o homem em vir atrás tentar limpar o que outros sujaram. Já tinha na equipa (ou tinha sido obrigado a ter) um bronco machista fadista, e depara-se com a obrigação de limpar uma proposta de intenções de reabertura (proposta conhecida em plena recta final da campanha eleitoral) da questão da legalização do aborto, quando já ninguém se lembrava disso.
Depois, para além de intervenções desastradas de outros participantes menores, aparece Passos Coelho a falar de imigração e falta de segurança no mesmo período. Montenegro deve-se ter coçado, mas aguentou.
Entretanto, Montenegro tinha levado com um projéctil de tinta verde na cara. Estoicamente, aguentou, mas não lhe safou a amargura dos dias anteriores.
Ontem, num discurso, não percebi onde, Nuno Melo embalou (isto estava a correr tão bem, disse ele para quem estava por perto, o microfone também) e pediu alto e bom som que os portugueses votassem em Pedro Nuno Santos. A sala gelou, se houvesse ali um buraco, o Nuno Melo tinha-se enfiado nele, mas reequilibrou-se.
Com a ajuda destes amigos, Montenegro tem muitas possibilidades de perder.
E se perder, ganha. Ganha o quê?
Não ter de enfrentar uma frente de reclamantes sem freio e o desafio de não aumentar da dívida pública acima do nível a que receber do governo cessante.
Pode Passos Coelho tentar interpor-se aceitando o Ventura como companheiro da alegria? Pode mas partirá o PSD ao meio e ganha o Chega. De qualquer modo, Montenegro estará, sorte dele, fora de jogo.
Quando a Pedro Nuno Santos (PNS) o imbróglio será idêntico.
António Costa manteve o "país tranquilo" com a invenção da geringonça. Os sindicatos recebiam indicações da CGTP, a CGTP recebia indicações do Partido. Com as eleições que deram maioria absoluta ao PS, os partidos à esquerda deste foram arrasados e mais arrasados ficaram com a emergência do Chega a introduzir-se em alguns sindicatos críticos, e a entrada de outros à rédea solta.
Com o arrasamento do Partido e seus próximos, a CGTP foi a mais arrasada.
Se PNS ganhar, e perde Montenegro, PNS não tem quem lhe segure o freio dos reclamantes, e perde.
A menos que, sem medo de pôr a tremer as pernas dos credores externos, aumente a dívida e aguente a situação até assinar contrato com a troica.
Obs - O jogo do "perde ganhas" é o "jogo de damas" ao contrário: quem perde, ganha.
Há quem garanta que no "perde ganhas", ganha quem sair primeiro. Não sei se é verdade.