"Aos olhos da saudade
como o mundo é pequeno"
Charles Baudelaire
Um amor quando distante,
Machuca esfola, maltrata.
É noite é desespero que
Come a carne da gente.
E quando esse amor vive em segredo
É ainda pior, pois na saudade
Mora a vontade de chorar.
Mas isso não lhe é permitido.
Então, vem uma vontade
De gritar o seu nome.
Aos quatro costados.
Mas isso não lhe é permitido.
Você é prisioneiro em seu próprio peito,
Enquanto que algoz de si mesmo.
Quando o amor existe em segredo
Dilacera as entranhas, sufoca o peito,
E este claustro fica deveras pequeno.
Na alma, a mortalha da saudade
Comprime-te, mas também isso
Tem que ser segredo e você sorri.
E tenta contentar-se quando vir
A ampulheta do tempo a girar, girar, girar.
Talvez, mas apenas talvez, teu amor
Também sofra agora. Mas, nem isso é certo.
Seu amor talvez possa estar
Mais distante do que se imagina.
Talvez tão distante que você nem mais o alcance.
Talvez teu amor tenha se cansado
De sofrer de ausência (sempre tão presente).
E tenha saído para balada. Talvez, apenas talvez,
Tenha encontrado alguém que se fez interessante.
Alguém que se fez próximo. Talvez próximo até demais.
E essa dor é lancinante
Tanto que a vontade de se matar
Já se apresenta plausível.
Talvez plausível até demais.
Dirão: é a lei da selva!
Sim. Pode ser!
Mas, um amor quando distante
Metamorfoseia-se na saudade.
Esse veneno da alma da gente
Que tem por cria o ciúme.
Ciúme que se alimenta de dúvidas
Numa antropofagia insana
E isso mata a gente quando o amor
Tem que ser distante e em segredo.
Élcio