Friday, May 30, 2008

Cai ou não cai?

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Na próxima terça-feira, dia 3 de junho, o presidente da FIA, a Federação Internacional de Automobilismo, Max Mosley, pode perder seu cargo. Na origem da eventual queda, a divulgação de uma orgia com temática sado-masoquista, apimentada por indumentária e ambientação nazistas.

Gostaria de debater dois aspectos.

Primeiro: você acha que Mosley cai ou não cai no dia 3?

Segundo: o que você acha mais condenável - a fantasia de Mosley, de cunho nazista, ou a divulgação da orgia pelo jornal "News of the world"?

Minha opinião: acho que ele cai, que os dirigentes do automobilismo não querem o incômodo de passar por omissos diante de um caso tão ruidoso. Ao fim e ao cabo, será um gesto hipócrita, porque a condenação, se vier, só virá em função da divulgação pública. Em outras palavras: os cartolas que votarem contra Mosley vão fazê-lo para ficar bem com a chamada "opinião pública". Mas, se soubessem que o velho Max é chegado em um chicotinho e isso não tivesse saído na imprensa, era bem capaz de olharem para ele com um misto de admiração e inveja, ansiando mesmo para serem convidados para suas "festinhas", como disse Nelson Piquet em seu habitual tom de deboche.

Segundo: acho que todos temos nossos esqueletos no armário e prezamos nossa privacidade. Ninguém gostaria de se ver exposto em um tablóide sensacionalista da maneira como Mosley foi. Pessoalmente, acho esse tipo de imprensa abjeta e não hesitaria em processar um veículo se fosse vítima dele. Mas, é o tal negócio, jornalecos como esse existem porque há quem os leia...

Monday, May 26, 2008

O nome da grana

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Hoje, em seu programa semanal de rádio, o presidente Lula afirmou que a América do Sul caminha para ter uma moeda única. Uma questão: como se chamaria o dinheiro do continente sul-americano?

Eu, que já passei por cruzeiro, cruzado, cruzado novo, cruzeiro (de novo), cruzeiro real e real, sempre acho uma perda de tempo essas trocas de nomes. Sempre achei que o dinheiro no Brasil deveria se chamar simplesmente "pau". Afinal, é assim que nos referimos ao preço das coisas, ou não?

"Quanto você pagou nesse tênis?"

"Duzentos paus".

Pronto, oficializa. E, de quebra, faz uma homenagem à origem do nome do país - Pau-Brasil. Só não sei se o resto do continente ia gostar...

E você, que nome daria para a moeda única da América do Sul?

Obrigada

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Certa vez, estava dentro do carro, na frente de um caixa eletrônico, quando vi um homem descer de seu automóvel e se dirigir a esse mesmo caixa. Havia algum movimento na rua, mas nenhuma das pessoas pareceu notar sua presença. Ele entrou, ficou alguns minutos lá dentro e saiu, sem que ninguém fizesse menção de lhe dirigir a palavra. Corintiana que sou, ainda assim fiquei espantada com a indiferença. Era Ademir da Guia, chamado por muitos de "Divino", um dos maiores jogadores que atuaram pelo Palmeiras. Ninguém deu bola.

Noutra vez, no Aeroporto de Guarulhos, reparei em um homem diante de um balcão de café, esperando seu pedido, olhando para o nada do saguão lotado. Sozinho na multidão, era Careca, um dos maiores centroavantes do São Paulo, titular da seleção de 1986.

Fama é assim mesmo. Chega, instala um turbilhão na vida do sujeito, torna-o celebridade e eventualmente rico, mas quase sempre vai embora. E ele que fique com suas lembranças e com seus dividendos.

Gustavo Kuerten foi o maior jogador de tênis da história do Brasil. Fez, com seu esforço, o inimaginável em um país que dá pouca importância para outros esportes que não sejam o futebol. E, ainda no futebol, esquece tão fácil seus ídolos de ontem.

Que Guga tenha uma vida feliz, que possa usufruir o que conquistou. Que seja reverenciado, para sempre. Obrigada, Guga!

Questão de estrela

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Sorte ou competência? O que, afinal, levou Lewis Hamilton à vitória no GP de Mônaco de 2008? Algumas considerações no GPTotal. Leia lá, comente!

Sunday, May 18, 2008

Juntos, outra vez

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Zelia Gattai não morreu ontem, na Bahia. Zelia tornou a viver. Pode ser que demore alguns dias, dias terrenos, essas vinte e quatro horas em que o planeta gira em torno de si mesmo, que convencionamos a chamar de dia. Em algum tempo, em medida que desconhecemos, Zelia reencontrará a vida porque estará de novo com seu grande amor.

Jorge Amado morreu em 2001, deixando para Zelia os dois filhos e os netos, a cadeira na Academia Brasileira de Letras, a solidão na casa do Rio Vermelho. Parece que foi mais cedo para arrumar a casa e esperá-la. Conhecendo Zelia e Jorge por meio dos livros dela, é de se imaginar que a casa estará uma bela bagunça. Zelia chegará para colocar ordem na nova vida dos dois.

Foi assim desde 1945, quando os dois se conheceram, ambos desquitados, militantes do Partido Comunista. Fascinada pelo escritor baiano, a paulistana assumiu a vida do marido como a própria vida. Mudou-se com ele para o Rio, acompanhando-o já eleito deputado federal. Declarado ilegal o partido, foram exilados para Paris, depois Praga, na então Tchecoslováquia, e finalmente, Salvador.

Mulher, desquitada, militante comunista. Zelia mudou-se com Jorge para o mundo deixando tudo para trás. Teve coragem até para deixar o filho, fruto de um primeiro casamento, aos cuidados das irmãs. Não, esse não era um amor qualquer.

Colocou ordem na vida de Jorge, responsabilizando-se até por passar a limpo e revisar seus originais.

Escritor popular, talvez o mais popular do Brasil, Jorge sabia que não era considerado pela intelectualidade como um literato. Talvez não fosse mesmo, mas não parecia se importar com isso. Jorge talvez tivesse a consciência da missão nobre a ele reservada: enfiar a cara de milhares, milhões de pessoas em todo o mundo dentro de um livro. Não há que ser literato para isso, há que ser bom contador de histórias.



E foi o talento para contar histórias que Jorge detectou na mulher, incentivando-a a escrever suas memórias. "Anarquistas graças a deus" foi o livro de estréia de Zelia, aos 63 anos de idade. O conselho dele: escreva de maneira simples, sem parecer literato. Não somos literatos.

Com sua singeleza, Zelia tornou-se uma competente cronista de suas épocas. Da São Paulo dos anos 20 e 30, do Rio de Janeiro dos anos 40, da Europa dos anos 50. Histórias prosaicas, daquelas que aconteciam na vida de qualquer um, transcritas em textos fluidos, sem empáfia.

Zelia, como Jorge, ajudou a despertar em muitos leitores o amor pelos livros. Obrigada, Zelia, vai cuidar do teu baiano romântico e sensual, vai.

Tuesday, May 13, 2008

Vocé é o...?

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O pai é provavelmente a maior enciclopédia viva sobre automobilismo no Brasil. A mãe dá seus pitacos sobre corrida desde 1991. Resultado é que o rapazinho sempre responde do mesmo jeito quando perguntado sobre seu time preferido: "Não gosto de futebol".

E não gosta mesmo. Na TV, nem pensar. Na escola, participa e se diverte nas aulas do esporte bretão, mas de fato canaliza todo interesse em esporte para coisas que se movam, com duas ou com quatro rodas.

Certo dia, o jovem blogueiro acompanhava uma conversa da mãe com a avó. "Puxa, você viu que a filha do Pelé morreu?".

Ele, de imediato: "Quem é Pelé?"

A avó achou um acinte. "Se seu avô fosse vivo, você saberia quem era o Pelé." O avô, torcedor da Lusa, sofreu como todos os outros times com aquele camisa dez do Santos. Mas, como todo brasileiro, era admirador do atleta do século. Contaria histórias de Edson Arantes do Nascimento e o guri saberia, certamente, quem é Pelé.

Mas não sabia, nem se interessou em pesquisar. Dias depois, vai Pelé homenagear Michael Schumacher, que em Interlagos fazia sua última corrida na Fórmula 1.

"Tá lá, Gabriel, tá vendo aquele cara entregando um troféu para o Schumacher? Aquele é o Pelé."

E para ele, provavelmente, Pelé ainda é o sujeito que fez uma homenagem ao alemão no grid do GP do Brasil de 2006.

Monday, May 12, 2008

Esconde que desaparece?

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Ontem, durante o GP da Turquia, algo raríssimo aconteceu: uma ultapassagen, e não uma ultrapassagem qualquer, mas uma manobra que valeu a liderança da corrida.

Quando Lewis Hamilton passou Felipe Massa, durante a transmissão pela Band News e Bandeirantes AM, lembramos que isso não acontecia desde o GP da Europa do ano passado. Naquela corrida, em Nurburgring, foi Fernando Alonso que assumiu a liderança em uma manobra na pista, deixando em segundo, justamente, o mesmo Felipe Massa.

Viva, aleluia, uma ultrapassagem!

É certo que Hamilton perdeu a liderança por conta da estratégia de corrida, obrigado a fazer uma parada a mais nos boxes. Mas foi uma linda manobra, e foi ótimo ver uma ultrapassagem valendo o primeiro lugar, nesses tempos de vacas magras no quesito competitividade na Fórmula 1.

Mas, se você perdeu a corrida e quis ver o compacto no Sportv, provavelmente não está entendendo nada do que escrevi. Simplesmente porque o compacto do Sportv não mostrou a ultrapassagem de Hamilton sobre Massa.

Compreensível: Massa é inatacável. Na disputa direta pelo título, Massa é o herói a ser preservado. Se a TV esconder a ultrapassagem de Hamilton sobre ele, talvez ela deixe de existir.

Uma grande bobagem: a bela ultrapassagem de Hamilton sobre Massa valorizou a vitória do brasileiro. Eu disse isso no ar, cutucando indiretamente a torcida palmeirense: disse que era melhor vencer assim, enfrentando dificuldades, do que ganhar muito fácil, por exemplo, de 5 x 0. Só uma brincadeira, amigos alvi-verdes! Mas a do Sportv...

Thursday, May 08, 2008

Mosca


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Na terça-feira, logo cedo, abri o Blog do Ico e li a notícia sobre a falência da Super Aguri. Na hora, duas coisas me chamaram a atenção: o furo do Ico e o futuro do piloto Takuma Sato.

Furo do Ico, sim senhor. O blog dele anunciou o fim da equipe antes de qualquer site da imprensa brasileira. Vantagens de quem mora na Europa e se liga desde cedo nas notícias.

Juro que, na mesma hora, pensei sobre o futuro de Takuma Sato. Ora, se a Honda criou uma equipe satélite só para empregar o piloto japonês, é lógico pensar que ele não vai ficar a pé, assim, de uma hora para a outra. É provável que a Honda o absorva.

"Será que ele pega o lugar do Rubinho?", pensei.

Pensei mas não escrevi, comi mosca. Ontem, um site italiano levantou essa bola.

Se o simpático Sato tomar o lugar do brasileiro, que seja pelo menos depois do GP do Canadá. Rubens acha que bate o recorde de participações na Fórmula 1 no próximo domingo, superando o italiano Riccardo Patrese. Ele acha, mas muita gente contesta, dizendo que faltariam pelo menos duas provas para que esse recorde fosse realmente batido. Tomara que seja depois do Canadá, para se cumprirem essas tais duas provas, porque vai ser dose aturar mais essa polêmica na carreira de Barrichello...

Saturday, May 03, 2008

Para gostar de ler - Contos de Gabriel García Márquez


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Faz tempo que não escrevo sobre livros, por isso resolvi escrever sobre dois de uma só vez. Recentemente, li dois livros de contos do colombiano Gabriel García Márquez, provavelmente meu escritor preferido.

Desde que li "Cem anos de solidão", em 1984, sempre procurei ler tudo que pudesse desse autor. Até que, há alguns meses, percebi que estavam faltando pouquíssimos livros dele para que eu completasse toda a obra literária de García Márquez. Sempre que vou a uma livraria, dou uma vasculhada na prateleira de autores latino-americanos, para ver se tem algum desses que me faltam. Foi dessa forma que li, em 2008, as coletâneas "Os funerais da Mamãe Grande" e "Olhos de cão azul", exatamente nesta ordem.

É muito interessante ler o "jovem" García Márquez depois de já ter lido o autor consagrado, ganhador do Nobel de Literatura em 1982. Cito o jovem porque os dois livros de contos trazem histórias escritas no início da carreira, antes do sucesso de "Cem anos de solidão". E ambos funcionam como uma espécie de rascunho do que seria a grande obra do autor. Seja pelos temas, pelas referências à fictícia Macondo, onde se passa a trama de "Cem anos", seja pelos toques do chamado realismo fantástico, seja, ainda, pelo estilo em formação do autor, já com suas metáforas e com seu ritmo de texto, que alterna frases longas, algo rebuscadas, com outras, curtíssimas, com o poder de navalhas ultra-afiadas.

"Olhos de cão azul" reúne contos escritos entre 1947 e 1955, em publicações diversas. A coletânea, como livro, só saiu em 1974. Os contos têm em comum o mesmo tema - a morte, tratada de formas diversas. O conto de abertura, "A terceira renúncia", remete a um morto consciente do próprio corpo inerte e da própria morte. Faz lembrar o célebre "Pedro Páramo", conto de Juan Rulfo, tido como grande influenciador de García Márquez e de grande parte da geração de escritores latino-americanos florescida nas décadas de 1950 e 1960.

Está nesse livro, também, o inquietante e opressivo "Isabel vendo chover em Macondo", conto que antecipa a atmosfera de uma importante passagem de "Cem anos de solidão". Meu conto preferido, nesta obra, foi "Nabo, o negro que fez esperar os anjos", menos pela temática, mais pelo incrível parágrafo final, um looping de uma página e meia e um fôlego só, revelador do grande narrador que viria a ser García Márquez nos anos seguintes.

"Os funerais da Mamãe Grande", lançado em 1962, também traz alusões a Macondo. É na fictícia cidade criada por García Márquez que se desenrola o conto que dá nome à coletânea. O colombiano, em várias entrevistas, citou Érico Veríssimo e sua obra "O tempo e o vento" como influência importante de "Cem anos de solidão". Neste "Mamãe Grande", no entanto, há um quê de Jorge Amado, com um universo povoado por representantes de uma casta aristocrática opressora e gente do povo, fartamente oprimida. Deste livro, meu preferido é "Nesta terra não há ladrões", a história de um roubo e a luta de um homem com sua consciência e com sua miséria, para tentar desfazer-se da culpa e das provas de seu crime.

Dizer que recomendo a leitura de García Márquez é redundância. Serei, portanto, redundante: se puder, leia "Os funerais da Mamãe Grande" e "Olhos de cão azul". Se você já leu ou se quiser comentar qualquer coisa sobre as obras e seu autor, o espaço, como sempre, está aberto.