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Foi a história do fim de semana na Inglaterra, é a história de hoje em todos os sites, blogs e demais veículos ligados ao automobilismo. O presidente da FIA, Max Mosley, seria o personagem principal de um vídeo no qual aparece em suposta orgia com cinco prostitutas. A notícia foi divulgada no tablóide sensacionalista "News of the world".
Seria mais um escândalo sexual não fosse um detalhe desastroso do ponto de vista da imagem pública de Mad Max. Consta que, na tal orgia, Mosley teria vestido um uniforme nazista e é visto no vídeo proferindo palavras em alemão, como se capitaneasse uma sessão de tortura nos moldes dos campos de concentração. Pelo menos uma das prostitutas veste um uniforme de prisioneira, daqueles listrados na horizontal. Contexto histórico importante: os pais de Mosley, Oswald Mosley e Diana Mitford, eram próximos de Adolf Hitler a ponto deste ser convidado de honra no casamento de ambos.
De ontem para hoje, reações diversas, inclusive de entidades ligadas à comunidade judaica internacional. Bernie Ecclestone já fala em assunto de foro íntimo. O ex-piloto Stirling Moss pede a cabeça do compatriota. Em resumo, sujou brabo pro cartola, que não negou nada até agora.
O que eu acho?
Se o fulano da foto é mesmo Max Mosley, merece o título de maior vacilão do ano. Ninguém tem nada a ver com a vida privada de ninguém, mas um homem público como ele participar de um "evento" de exaltação nazista e ainda se deixar registrar, come on!
Fico triste, de novo, em ver a Fórmula 1 mergulhada em mazelas. No ano passado, tivemos sabotagem, espionagem, delação, racismo, xenofobia. Começamos 2008 com escândalo sexual e neo-nazismo. Ou seja, a Fórmula 1 é igualzinha ao mundo que a cerca. Que pena.
Agora, é com vocês.
Monday, March 31, 2008
Sunday, March 30, 2008
Insustentável Fiesp
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Congestionamentos servem para duas ou três coisas, como ouvir música no carro, pensar na vida, sei lá mais o quê. Parada no trânsito da Paulista, peguei-me admirando o prédio da Fiesp. Não que eu goste dele de maneira especial, acho até que não gosto, mas não se pode negar que é um tremendo marco da avenida.
Fui pesquisar a respeito e encontrei este ótimo texto do arquiteto e professor Igor Guatelli, analisando principalmente a função do edifício como espaço público. Para quem não sabe, o prédio da Fiesp foi concebido para ter uma espécie de praça pública em seu térreo, pelo projeto original do escritório Rino Levi Arquitetos Associados, da década de 1970. Circunstâncias da obra e as transformações no entorno do edifício desviaram o projeto desse objetivo inicial. Nos anos 1990, um projeto de adequação do térreo, a cargo do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, incumbiu-se de reabilitar a função pública do espaço.
Confesso que não era nada disso que passava pela minha cabeça, enquanto esperava o trânsito andar. Pensava em como os conceitos de modernidade são atropelados de uma época para outra. No final dos anos 1960, quando a Fiesp decidiu construir um prédio que fosse um marco da avenida, era natural eleger como vencedor um projeto daquele, que previa não um prédio, mas uma pirâmide urbana. Era natural conceber um prédio sem janelas, na medida em que luz artificial e ar condicionado eram sinônimos de modernidade e de desenvolvimento. Era a Fiesp, era na Paulista, afinal. Era o exercício máximo de poder, de avanço, de pujança.
Quase quarenta anos depois da idéia inicial, vivemos o tempo da ecoeficiência, ou pelo menos da busca por ela. Queremos - ou, antes, precisamos - de prédios que aproveitem a luz do dia e a circulação de ar natural. É imperioso que gastemos menos com energia elétrica, as empresas (as indústrias de São Paulo!) esforçam-se em programas de redução de gastos com eletricidade, e já não o fazem por consciência ecológica apenas, mas porque poerceberam que também economizam um bom dinheiro com isso. E a Fiesp, a representante delas mesmas lá, sem janelas, sem luz natural, sem circulação de ar.
Redesenhamos os layouts de nossos escritórios para aproveitar melhor cada espacinho, e ocuparíamos bem melhor esse vazio que a pirâmide da Paulista cria com esse prédio inclinado. Repare: pode ter sido uma genial obra de arquitetura, mas o fato é que o edifício da Fiesp acabou criando um nada que vai crescendo a cada andar.
Se o conceito de sustentabilidade passa pelo aproveitamento adequado de recursos como energia elétrica e espaço físico, acho que o prédio da Fiesp é um totem de insustentabilidade.
Congestionamentos servem para duas ou três coisas, como ouvir música no carro, pensar na vida, sei lá mais o quê. Parada no trânsito da Paulista, peguei-me admirando o prédio da Fiesp. Não que eu goste dele de maneira especial, acho até que não gosto, mas não se pode negar que é um tremendo marco da avenida.
Fui pesquisar a respeito e encontrei este ótimo texto do arquiteto e professor Igor Guatelli, analisando principalmente a função do edifício como espaço público. Para quem não sabe, o prédio da Fiesp foi concebido para ter uma espécie de praça pública em seu térreo, pelo projeto original do escritório Rino Levi Arquitetos Associados, da década de 1970. Circunstâncias da obra e as transformações no entorno do edifício desviaram o projeto desse objetivo inicial. Nos anos 1990, um projeto de adequação do térreo, a cargo do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, incumbiu-se de reabilitar a função pública do espaço.
Confesso que não era nada disso que passava pela minha cabeça, enquanto esperava o trânsito andar. Pensava em como os conceitos de modernidade são atropelados de uma época para outra. No final dos anos 1960, quando a Fiesp decidiu construir um prédio que fosse um marco da avenida, era natural eleger como vencedor um projeto daquele, que previa não um prédio, mas uma pirâmide urbana. Era natural conceber um prédio sem janelas, na medida em que luz artificial e ar condicionado eram sinônimos de modernidade e de desenvolvimento. Era a Fiesp, era na Paulista, afinal. Era o exercício máximo de poder, de avanço, de pujança.
Quase quarenta anos depois da idéia inicial, vivemos o tempo da ecoeficiência, ou pelo menos da busca por ela. Queremos - ou, antes, precisamos - de prédios que aproveitem a luz do dia e a circulação de ar natural. É imperioso que gastemos menos com energia elétrica, as empresas (as indústrias de São Paulo!) esforçam-se em programas de redução de gastos com eletricidade, e já não o fazem por consciência ecológica apenas, mas porque poerceberam que também economizam um bom dinheiro com isso. E a Fiesp, a representante delas mesmas lá, sem janelas, sem luz natural, sem circulação de ar.
Redesenhamos os layouts de nossos escritórios para aproveitar melhor cada espacinho, e ocuparíamos bem melhor esse vazio que a pirâmide da Paulista cria com esse prédio inclinado. Repare: pode ter sido uma genial obra de arquitetura, mas o fato é que o edifício da Fiesp acabou criando um nada que vai crescendo a cada andar.
Se o conceito de sustentabilidade passa pelo aproveitamento adequado de recursos como energia elétrica e espaço físico, acho que o prédio da Fiesp é um totem de insustentabilidade.
Friday, March 28, 2008
Balestre e a quase barriga
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No jargão jornalístico, "barriga" é a notícia falsa, que depois precisa ser desmentida. Um dos maiores dissabores na vida de um jornalista é dar uma barriga. Quase dei uma barriga por causa de Jean-Marie Balestre, ex-presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), que morreu hoje na França.
Em 1991, eu trabalhava na editoria de Esporte da Folha de S. Paulo. Durante um fechamento, estava redigindo uma nota sobre a eleição que aconteceria no dia seguinte na Fisa, o braço esportivo da FIA. Balestre era presidente da entidade desde 1978 e parecia fossilizado no cargo, daqueles que só largam o osso depois de mortos.
Parecia tão certo que se elegesse novamente que meu editor, na época, chegou a sugerir que o título fosse: "Balestre se reelege hoje na Fisa". Dei uma olhada de canto de olho. "Mesmo?" Ele reafirmou, depois reconsiderou, concordou com a neutralidade. Ficou algo como "Fisa realiza eleições hoje".
No dia seguinte, o fechamento seria às três da tarde, um suplício que nos era imposto duas vezes por semana. Por conta daquelas questões industriais da gráfica, o caderno precisava rodar antes e tínhamos de chegar cedo à redação, não no final da manhã, como nos outros dias. Cheguei por volta das oito e fui dar uma espiada na sala do telex, para ver se tinha alguma novidade da eleição.
"Max Mosley é eleito presidente da Fisa".
Rasguei a pedaço de papel da máquina e fui falar com o editor, que estava em reunião com o secretário de redação. Embora ainda fosse "foca" (outro jargão jornalístico, que designa o jornalista em início de carreira), percebi que aquela notícia era importante e tive a cara de pau de interromper o colóquio. Estendi o telex para ele, que leu e me devolveu um sorriso cúmplice.
Não dei a barriga, mas me sobrou a tarefa de escrever o perfil de Balestre. Foi talvez a melhor matéria que escrevi na Folha. Preciso perguntar a minha mãe se ela ainda a guarda...
No jargão jornalístico, "barriga" é a notícia falsa, que depois precisa ser desmentida. Um dos maiores dissabores na vida de um jornalista é dar uma barriga. Quase dei uma barriga por causa de Jean-Marie Balestre, ex-presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), que morreu hoje na França.
Em 1991, eu trabalhava na editoria de Esporte da Folha de S. Paulo. Durante um fechamento, estava redigindo uma nota sobre a eleição que aconteceria no dia seguinte na Fisa, o braço esportivo da FIA. Balestre era presidente da entidade desde 1978 e parecia fossilizado no cargo, daqueles que só largam o osso depois de mortos.
Parecia tão certo que se elegesse novamente que meu editor, na época, chegou a sugerir que o título fosse: "Balestre se reelege hoje na Fisa". Dei uma olhada de canto de olho. "Mesmo?" Ele reafirmou, depois reconsiderou, concordou com a neutralidade. Ficou algo como "Fisa realiza eleições hoje".
No dia seguinte, o fechamento seria às três da tarde, um suplício que nos era imposto duas vezes por semana. Por conta daquelas questões industriais da gráfica, o caderno precisava rodar antes e tínhamos de chegar cedo à redação, não no final da manhã, como nos outros dias. Cheguei por volta das oito e fui dar uma espiada na sala do telex, para ver se tinha alguma novidade da eleição.
"Max Mosley é eleito presidente da Fisa".
Rasguei a pedaço de papel da máquina e fui falar com o editor, que estava em reunião com o secretário de redação. Embora ainda fosse "foca" (outro jargão jornalístico, que designa o jornalista em início de carreira), percebi que aquela notícia era importante e tive a cara de pau de interromper o colóquio. Estendi o telex para ele, que leu e me devolveu um sorriso cúmplice.
Não dei a barriga, mas me sobrou a tarefa de escrever o perfil de Balestre. Foi talvez a melhor matéria que escrevi na Folha. Preciso perguntar a minha mãe se ela ainda a guarda...
Wednesday, March 26, 2008
Eu não acredito
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... na superioridade absoluta da Ferrari, na perda de rumo da McLaren, no blá-blá-blá de Briatore, e em tanta coisa. Quer saber onde mais reside meu ceticismo? Vai lá no GPTotal, vai. Depois me fala.
... na superioridade absoluta da Ferrari, na perda de rumo da McLaren, no blá-blá-blá de Briatore, e em tanta coisa. Quer saber onde mais reside meu ceticismo? Vai lá no GPTotal, vai. Depois me fala.
Sunday, March 23, 2008
Baked potato
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Depois de rodar e de ficar fora do GP da Malásia, Felipe Massa disse que teve uma "sensação estranha" ao sair da curva, na qual acabou rodando e indo parar na caixa de brita.
Talvez a sensação estranha seja a do carro saindo de traseira. Alguém precisa avisar a ele que essa "sensação estranha" se cura com uma coisinha simples: é preciso corrigir a trajetória. Era aquilo que o controle de tração fazia antes.
Ou talvez a sensação estranha seja a da batata assando.
Minha análise sobre a corrida e seus desdobramentos vai ao ar na quarta-feira, no GPTotal. Quem passar por lá pode conferir a coluna pós-GP do colunista Eduardo Correa.
Depois de rodar e de ficar fora do GP da Malásia, Felipe Massa disse que teve uma "sensação estranha" ao sair da curva, na qual acabou rodando e indo parar na caixa de brita.
Talvez a sensação estranha seja a do carro saindo de traseira. Alguém precisa avisar a ele que essa "sensação estranha" se cura com uma coisinha simples: é preciso corrigir a trajetória. Era aquilo que o controle de tração fazia antes.
Ou talvez a sensação estranha seja a da batata assando.
Minha análise sobre a corrida e seus desdobramentos vai ao ar na quarta-feira, no GPTotal. Quem passar por lá pode conferir a coluna pós-GP do colunista Eduardo Correa.
Saturday, March 22, 2008
Nas ondas do rádio
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Agora, é para o ano todo. Depois das participações especiais em 2007, quando comentei duas corridas pela Band/Band News FM como convidada, aceitei o convite de Odinei Edson para ser comentarista durante toda a temporada de 2008.
Já estive presente na transmissão do GP da Austrália, e logo mais estarei ao vivo, comentando o GP da Malásia, ao lado também de Fábio Seixas, Jan Balder e na companhia de Luis Fernando Ramos, o Ico, que fala diretamente de Sepang.
Fica o convite para quem quiser ver pela TV, com o som do rádio, ou simplesmente ouvir pelo rádio, o que pode ser muito útil para quem estiver longe da TV na hora da corrida.
As sintonias, para quem estiver em São Paulo, são as seguintes:
Bandeirantes AM - 840 KHz ou 90,9 FM
BandNews FM - 96,9
Também é possível ouvir as duas transmissões pela internet, diretamente dos sites da Bandeirantes e da BandNews.
Quem escutar, por favor, depois comente o que achou.
Agora, é para o ano todo. Depois das participações especiais em 2007, quando comentei duas corridas pela Band/Band News FM como convidada, aceitei o convite de Odinei Edson para ser comentarista durante toda a temporada de 2008.
Já estive presente na transmissão do GP da Austrália, e logo mais estarei ao vivo, comentando o GP da Malásia, ao lado também de Fábio Seixas, Jan Balder e na companhia de Luis Fernando Ramos, o Ico, que fala diretamente de Sepang.
Fica o convite para quem quiser ver pela TV, com o som do rádio, ou simplesmente ouvir pelo rádio, o que pode ser muito útil para quem estiver longe da TV na hora da corrida.
As sintonias, para quem estiver em São Paulo, são as seguintes:
Bandeirantes AM - 840 KHz ou 90,9 FM
BandNews FM - 96,9
Também é possível ouvir as duas transmissões pela internet, diretamente dos sites da Bandeirantes e da BandNews.
Quem escutar, por favor, depois comente o que achou.
Tuesday, March 18, 2008
A gente somos medíocre
Felipe Massa foi mal em Melbourne, como seu companheiro Kimi Raikkonen. Mas como Raikkonen é campeão do mundo, ao surgir o boato de que a Ferrari já contratou Sebastian Vettel para a próxima temporada, imediatamente já se demite Massa. Massa fora da Ferrari em 2009, vai correr na Toro Rosso, na melhor das hipóteses.
Nelson Ângelo Piquet foi muito mal em Melbourne, ao contrário de seu companheiro Fernando Alonso. Não importa que "Nelsinho" tenha feito sua primeira corrida na Fórmula 1 e que tenha como parâmetro um bicampeão do mundo que fez sua estréia na categoria em 2001.
Rubens Barrichello foi muito bem em Melbourne, milagrosamente levando seu Honda a pontuar na estréia da temporada. Só que entrou no box quando não podia, e saiu quando não devia. Stop, go & gancho. Punição e desclassificação. Foi-se pelos ares a salvação verde-e-amarela na Austrália.
Podemos decretar desde já, com 1/18 do campeonato definido, que os brasileiros da atual Fórmula 1 são um bando de medíocres. Ou podemos considerar que:
- dos 22 pilotos que largaram, apenas sete terminaram
- a pista de Melbourne é um descalabro. Timo Glock bateu em um "morrinho artilheiro", como definiu Cacá Bueno na transmissão da Band, ou seja, no nada, levantou vôo e espatifou seu Toyota. Ah, se fosse em Interlagos, esse país de medíocres. Cancele-se a prova!
- Massa foi medíocre por ter sido abalroado por um tiozinho que já deveria ter se aposentado, tentou culpar o brasileiro e terminou elegendo como réus os... ehr... espelhos retrovisores!
- "Nelsinho" foi mal e chegou a tomar dois segundos de diferença em relação a Alonso, mas ninguém sabe se o entrevero da largada, entre ele, Fisichella e Glock deixou algum dano no carro do brasileiro. Aliás, ninguém viu a corrida do brasileiro. Eu não vi, porque só vejo o que a TV mostra, e a TV praticamente só mostrou "Nelsinho" parando. Você viu algo mais?
- Barrichello fez uma corrida majestosa, mas entrou no box para reabastecer quando não poderia. Erro de estratégia da equipe. Saiu com a luz vermelha, culpou o excesso de botões a apertar por não ter visto o sinal vermelho. Mas, mesmo que tivesse visto, teria ficado quanto tempo parado no box, esperando o vermelho se apagar? Corrida comprometida, inexoravelmente.
Menos, menos... Foi só a primeira corrida.
Saturday, March 15, 2008
Nas ondas do rádio
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Se você ainda está por aqui, não foi dormir ainda ou não ligou a TV para assistir ao GP da Austrália, um aviso tardio, mas antes tarde do que nunca.
Estarei mais uma vez na transmissão da corrida pela Bandeirantes AM e Band News FM, ao lado dos chapas Odinei Edson, Fabio Seixas, Jan Balder e do meu brother Luis Fernando Ramos, o Ico, este falando diretamente de Albert Park, em Melbourne.
As sintonias, para quem está em São Paulo: Bandeirantes AM - 840 e Band News FM - 96,9.
Também é possível ouvir a transmissão pela internet, nos sites da Bandeirantes ou da BandNews.
Boa corrida!
Se você ainda está por aqui, não foi dormir ainda ou não ligou a TV para assistir ao GP da Austrália, um aviso tardio, mas antes tarde do que nunca.
Estarei mais uma vez na transmissão da corrida pela Bandeirantes AM e Band News FM, ao lado dos chapas Odinei Edson, Fabio Seixas, Jan Balder e do meu brother Luis Fernando Ramos, o Ico, este falando diretamente de Albert Park, em Melbourne.
As sintonias, para quem está em São Paulo: Bandeirantes AM - 840 e Band News FM - 96,9.
Também é possível ouvir a transmissão pela internet, nos sites da Bandeirantes ou da BandNews.
Boa corrida!
Friday, March 14, 2008
Feliz campeonato novo
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Meus palpites, tentando responder as questões do post abaixo, já estão no ar no GPTotal. Vai lá, vai.
Meus palpites, tentando responder as questões do post abaixo, já estão no ar no GPTotal. Vai lá, vai.
Tuesday, March 11, 2008
Amarelo piscando
Daqui dois dias, na noite de quinta-feira, horário de Brasília, os carros estarão na pista de Melbourne para os primeiros treinos livres do primeiro GP deste ano.
Meus palpites para o campeonato de Fórmula 1 de 2008 estarão na coluna de sexta-feira, no GPTotal.
Até lá, quero ouvir vocês. Quem topa?
Para orientar os palpites, algumas questõezinhas da pré-temporada:
1) Que equipe(s) começa(m) o ano como favorita(s)?
2) Quais pilotos vão brigar pelo título?
3) Como será o desempenho da Renault, com Alonso de volta?
4) O que esperar do ano de estréia de Nelson Angelo Piquet?
5) E Felipe Massa, que papel terá na Ferrari?
6) Será que a BMW é tão ruim quanto seus próprios pilotos têm falado?
7) E a Williams, melhorou mesmo ou é uma espécie de Guaratinguetá?
(Porque, fala sério, você não acha que o Guará vai ser campeão paulista, né?)
Vamos, estou esperando.
Friday, March 07, 2008
Samba ela canta assim
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Em seu disco de 1977, Elis Regina aparece sentada em uma cadeira de balanço, vestindo uma bata escura de tecido pesado. As feições, ligeiramente alteradas, são o sinal mais evidente do que a roupa não mostrava de maneira clara - estava grávida do terceiro filho. Já depois de sua morte, quando comecei a colecionar sua discografia, sempre me dediquei a escrutinar também as capas dos discos. Enquanto escutava esse e examinava sua capa, o tempo parava para eu olhar para aquela barriga. Era Maria Rita quem estava lá dentro e eu nunca deixei de ter esperança de que ela fosse cantora.
Talvez por isso eu tenha uma lente meio turva para avaliar tudo que Maria Rita canta e grava. Essa relação afetiva - da qual ela jamais tomou parte efetivamente, claro, porque nem a conheço - deve atrapalhar meus juízos de valor mais imparciais. Talvez por isso eu até evite ler as críticas de seus discos e shows, ainda que sejam escritas por queridos amigos virtuais, como Pedro Alexandre Sanches ou Marcio Gaspar.
Ganhei o terceiro CD da Maria Rita no meu aniversário. Um disco de sambas. Hum... Estou em uma fase quase exclusivamente roqueira, tomando doses industriais de U2, The Police, Rolling Stones, Red Hot Chilli Peppers todos os dias. Sambas? Well, é Maria Rita, vamos lá.
Chama-se "Samba meu" o disco, e foi inevitável lembrar de "Samba eu canto assim", primeiro LP "adulto" que Elis gravou, em 1965. Nas primeiras faixas, não me entusiasmei. A base musical continua boa. A diferença, na primeira metade do disco, é que Maria Rita abadonou um pouco a base enxuta e meio jazzística que a acompanhou nos primeiros trabalhos - piano, baixo e bateria - e cercou-se de muitos cavaquinhos e pandeiros. OK, é um disco de samba.
O problema era a pobreza das letras. Rimas facílimas, óbvias, ingênuas até. Tento varrer de mim o preconceito. Oras, trata-se de música popular, popularíssima, vá com suas rimas ricas para lá. Muitas composições de Arlindo Cruz, um habitué das rodas de samba cariocas. É o que se tem no momento. Mas sempre persiste em mim a semente do possível. Cartola fazia música popular, era popularíssimo ele mesmo. E não se rendia à facilidade dos versos clichês. Nelson Cavaquinho também. Mas, que fazer? Estão mortos os dois, como Elis. Maria Rita que se vire com o que há.
E ela se virou fazendo algo que - lá vem... - Elis fazia com dedicação e ardor juvenil: garimpar compositores novos. É da metade do disco para a frente que a veia desbravadora da intérprete salta. Deu-me a impressão de que mesmo ela, como eu, estava sentindo falta de um pezinho no jazz, de um suingue diferente naquela batucada.
Foi a partir da segunda metade do disco que me encantei com o álbum. É ali que surgem as composições, por exemplo, de Edu Krieger, jovem compositor carioca, dessa geração que está reabilitando a Lapa boêmia. Edu despontou no cenário quando criou a trilha sonora do "Auto da Compadecida", festejada versão para o cinema da peça de Ariano Suassuna. Nos sambas de Edu presentes em "Samba meu", Maria Rita optou por uma sonoridade menos mesa de boteco, mais jam session. Adorei, me encontrei, desculpem, talvez seja preconceito meu, mas gosto mais desse samba que do outro, o da caixinha de fósforo...
Ironia foi a música de que mais gostei no disco - "Novo Amor" - que não é samba, mas um choro, de autoria de Edu Krieger. Depois dela, "Maria do Socorro", outra do mesmo autor, singela "homenagem" a uma beldade do morro, nesses tempos de bailes funks. Na seqüência, "Corpitcho", que pelo título não me pareceu boa coisa, mas revelou-se deliciosa crônica da contemporaneidade carioca, além de um excelente desafio vocal, pelo qual Maria Rita passou com distinção e louvor.
Aliás, gostando menos ou mais de cada música, esse detalhe me chamou a atenção. Sempre achei Maria Rita afinada e eventualmente com uma voz mais aguda que a de Elis, mas me parece que ela está cantando ainda melhor que nos primeiros CDs.
Acabei gostando tanto da últimas músicas que vou retomar as primeiras, para ver se o entusiasmo da segunda parte contamina a primeira. Ou talvez eu continue achando o terreno jazzístico mais saboroso que o terreiro do boteco. Sorry, periferia, eu sou fresquinha mesmo.
Em seu disco de 1977, Elis Regina aparece sentada em uma cadeira de balanço, vestindo uma bata escura de tecido pesado. As feições, ligeiramente alteradas, são o sinal mais evidente do que a roupa não mostrava de maneira clara - estava grávida do terceiro filho. Já depois de sua morte, quando comecei a colecionar sua discografia, sempre me dediquei a escrutinar também as capas dos discos. Enquanto escutava esse e examinava sua capa, o tempo parava para eu olhar para aquela barriga. Era Maria Rita quem estava lá dentro e eu nunca deixei de ter esperança de que ela fosse cantora.
Talvez por isso eu tenha uma lente meio turva para avaliar tudo que Maria Rita canta e grava. Essa relação afetiva - da qual ela jamais tomou parte efetivamente, claro, porque nem a conheço - deve atrapalhar meus juízos de valor mais imparciais. Talvez por isso eu até evite ler as críticas de seus discos e shows, ainda que sejam escritas por queridos amigos virtuais, como Pedro Alexandre Sanches ou Marcio Gaspar.
Ganhei o terceiro CD da Maria Rita no meu aniversário. Um disco de sambas. Hum... Estou em uma fase quase exclusivamente roqueira, tomando doses industriais de U2, The Police, Rolling Stones, Red Hot Chilli Peppers todos os dias. Sambas? Well, é Maria Rita, vamos lá.
Chama-se "Samba meu" o disco, e foi inevitável lembrar de "Samba eu canto assim", primeiro LP "adulto" que Elis gravou, em 1965. Nas primeiras faixas, não me entusiasmei. A base musical continua boa. A diferença, na primeira metade do disco, é que Maria Rita abadonou um pouco a base enxuta e meio jazzística que a acompanhou nos primeiros trabalhos - piano, baixo e bateria - e cercou-se de muitos cavaquinhos e pandeiros. OK, é um disco de samba.
O problema era a pobreza das letras. Rimas facílimas, óbvias, ingênuas até. Tento varrer de mim o preconceito. Oras, trata-se de música popular, popularíssima, vá com suas rimas ricas para lá. Muitas composições de Arlindo Cruz, um habitué das rodas de samba cariocas. É o que se tem no momento. Mas sempre persiste em mim a semente do possível. Cartola fazia música popular, era popularíssimo ele mesmo. E não se rendia à facilidade dos versos clichês. Nelson Cavaquinho também. Mas, que fazer? Estão mortos os dois, como Elis. Maria Rita que se vire com o que há.
E ela se virou fazendo algo que - lá vem... - Elis fazia com dedicação e ardor juvenil: garimpar compositores novos. É da metade do disco para a frente que a veia desbravadora da intérprete salta. Deu-me a impressão de que mesmo ela, como eu, estava sentindo falta de um pezinho no jazz, de um suingue diferente naquela batucada.
Foi a partir da segunda metade do disco que me encantei com o álbum. É ali que surgem as composições, por exemplo, de Edu Krieger, jovem compositor carioca, dessa geração que está reabilitando a Lapa boêmia. Edu despontou no cenário quando criou a trilha sonora do "Auto da Compadecida", festejada versão para o cinema da peça de Ariano Suassuna. Nos sambas de Edu presentes em "Samba meu", Maria Rita optou por uma sonoridade menos mesa de boteco, mais jam session. Adorei, me encontrei, desculpem, talvez seja preconceito meu, mas gosto mais desse samba que do outro, o da caixinha de fósforo...
Ironia foi a música de que mais gostei no disco - "Novo Amor" - que não é samba, mas um choro, de autoria de Edu Krieger. Depois dela, "Maria do Socorro", outra do mesmo autor, singela "homenagem" a uma beldade do morro, nesses tempos de bailes funks. Na seqüência, "Corpitcho", que pelo título não me pareceu boa coisa, mas revelou-se deliciosa crônica da contemporaneidade carioca, além de um excelente desafio vocal, pelo qual Maria Rita passou com distinção e louvor.
Aliás, gostando menos ou mais de cada música, esse detalhe me chamou a atenção. Sempre achei Maria Rita afinada e eventualmente com uma voz mais aguda que a de Elis, mas me parece que ela está cantando ainda melhor que nos primeiros CDs.
Acabei gostando tanto da últimas músicas que vou retomar as primeiras, para ver se o entusiasmo da segunda parte contamina a primeira. Ou talvez eu continue achando o terreno jazzístico mais saboroso que o terreiro do boteco. Sorry, periferia, eu sou fresquinha mesmo.
Wednesday, March 05, 2008
Tem explicação?
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Depois de cada corrida, sempre ganhamos uns lanchinhos da organização da prova. Isotônico, frutas, barrinhas de cereais. Na corrida de domingo, patrocinada pela Montevérgine, ganhei a barrinha cuja embalagem escaneei.
Repare no selo impresso do lado direito do produto: isso era destinado - ou pelo menos deveria ser - à merenda escolar de uma cidade no Paraná.
Já escrevi um e-mail para a Montevérgine, pedindo uma explicação sobre o caso.
Será que roubei comida de criança de escola?
Como é que é isso?
Atualização: recebi hoje mesmo a resposta da Montevérgine. Segue a íntegra:
Prezada Srª Alessandra
Peço desculpas pelo que aconteceu.
Nós fornecemos o produto para merenda escolar, mas é um produto inteiramente destinado a este fim, nunca, deveria ter acontecido isso.
Como nós temos o produto em linha, pode ter havido alguma confusão, pois as embalagens são iguais, se diferindo somente pelas inscrições da merenda.
De qualquer maneira, se a Srª ainda tiver o produto, gostaria de retirar e repor, pois isso seria de extrema importância para que eu possa levantar em que ponto houve a falha.
Agradeço a informação e gostaria de ressaltar que irei investigar os motivos de tal erro, que jamais poderia ter acontecido.
Aguardo
Atenciosamente
Andrea de Almeida Alterio
Engº de Alimentos especialista em Nutrição
Garantia da Qualidade
Depois de cada corrida, sempre ganhamos uns lanchinhos da organização da prova. Isotônico, frutas, barrinhas de cereais. Na corrida de domingo, patrocinada pela Montevérgine, ganhei a barrinha cuja embalagem escaneei.
Repare no selo impresso do lado direito do produto: isso era destinado - ou pelo menos deveria ser - à merenda escolar de uma cidade no Paraná.
Já escrevi um e-mail para a Montevérgine, pedindo uma explicação sobre o caso.
Será que roubei comida de criança de escola?
Como é que é isso?
Atualização: recebi hoje mesmo a resposta da Montevérgine. Segue a íntegra:
Prezada Srª Alessandra
Peço desculpas pelo que aconteceu.
Nós fornecemos o produto para merenda escolar, mas é um produto inteiramente destinado a este fim, nunca, deveria ter acontecido isso.
Como nós temos o produto em linha, pode ter havido alguma confusão, pois as embalagens são iguais, se diferindo somente pelas inscrições da merenda.
De qualquer maneira, se a Srª ainda tiver o produto, gostaria de retirar e repor, pois isso seria de extrema importância para que eu possa levantar em que ponto houve a falha.
Agradeço a informação e gostaria de ressaltar que irei investigar os motivos de tal erro, que jamais poderia ter acontecido.
Aguardo
Atenciosamente
Andrea de Almeida Alterio
Engº de Alimentos especialista em Nutrição
Garantia da Qualidade
Sunday, March 02, 2008
In Zé we trust
Quinze minutos para a largada. Zé acondiciona nossos pertences em sua enorme sacola, uma espécie de mãe-de-todos que acomoda pequenas sacolas e mochilas de quase todos os integrantes da Equipe Conexão. Não se precisa de muito para participar de corridas de rua, mas sempre é bom levar uma camiseta sobressalente, uma toalha, essas coisas. Antes de seguir para o guarda-volumes, Zé me diz: "Espera que tem um negócio para você", e logo abre um zíper lateral, sacando de dentro da bolsa um copo d´água e um frasco de comprimidos. Tira três deles e me manda tomar. Pego um. "Os três", corrige. Pergunto o que é aquilo. Está quase na hora, depois te explico. Técnico tem que ser como pai e mãe para um atleta. Você pode não saber por que ele faz, mas tem que saber que é para o seu bem. Tomei.
A prova eram os 12 km de abertura do circuito da Corpore. O cenário, nossa velha conhecida Cidade Universitária. Quem acompanha este blog sabe que, em dezembro passado, obtive minha melhor marca para 10 km, fazendo o percurso do Circuito das Estações em 49 minutos. Uma prova não tem nada a ver com a outra, a começar pelos locais. Mas é óbvio que eu tinha a expectativa de fazer os 12 km em menos de uma hora, para repetir a marca de dezembro, ou pelo menos ficar dentro de uma hora. Aviso logo: não deu. Fiz em 1h03, mas não desista da leitura, porque a experiência dessa corrida foi muito enriquecedora.
Largamos às oito, com céu azul e sol forte. A organização do evento anunciou 12 mil inscritos. A crônica da muvuca anunciada previa congestionamento nos arredores da USP, por isso procuramos otimizar as caronas. Éramos quatro no carro do Zoca. Chegando à ponte, sobre o Rio Pinheiros, o trânsito parou. Meia volta, estacionamos para além do rio, caminhamos um bom trecho e tivemos a aprazível sensação de respirar o odor fétido do Pinheiros. Pouco antes da largada, o tradicional pit stop nos detestáveis banheiros químicos. Eu e Lara esperávamos nossa vez sem nos dar conta de que aqueles banheiros eram apenas para homens. Um tiozinho nervoso nos expulsou de lá. "A farra do boi acabou, o banheiro de vocês é lá!" Achamos o "lá" e levamos imensa vantagem, porque não tinha fila e os banheiros estavam até limpinhos, para o padrão de um banheiro químico.
Oito em ponto, soa a sirene. O habitual trânsito congestionado de cotovelos e pisões. Primeiro quilômetro em seis minutos. Ruim, mas normal. No segundo quilômetro, a única subida de fato da prova. Com muita gente, o ritmo caiu ainda mais. E o calor era cada vez mais forte. O percurso saía da USP e pegava um trecho de uns dois quilômetros e meio praticamente sem sombra nenhuma. Nesse pedaço, três experiências para me distrair a atenção. Primeiro, um corredor jovem, que se postou ao meu lado por um bom tempo. O menino era a cara do Kurt Cobain. Não resisti e falei: "Puxa, Kurt Cobain não morreu!", ao que ele respondeu, espirituoso e ofegante: "Ah, mas vai morrer já, já!" Lembrei do meu colega Henry, o grilo falante da prova de dezembro. Ele me daria uma bela bronca se me visse falando durante a prova. Na verdade, se ele estivesse me puxando, eu não ousaria olhar para o lado, e é bom que se diga que o Zé também não estava perto de mim nesse momento.
Depois do Nirvana, um odor estranho. Do nada, a pista começou a exalar cheiro de sabão de coco, um perfume que eu detesto. Forte, muito forte. Deve ter fábrica de sabão de coco por ali. E como se não bastasse Kurt e o coco, ainda me aparece um motoqueiro com uma espécie de lambreta dos infernos, queimando um óleo desgraçado, enchendo de fumaça a pista ao lado de onde corríamos. São Paulo, essa selva...
Não vou dizer que eu estivesse alheia ao efeito dos comprimidos. Só estava tentando não me influenciar por eles. O que quer que fosse, não estava me fazendo sentir mal. Depois da metade da prova, comecei a conjecturar o que seria aquilo. Cheguei a pensar que podia não ser nada. Se fosse um mero placebo, e o objetivo era apenas me estimular psicologicamente, o alvo do Zé naturalmente teria sido certeiro. Porque sou de fato muito influenciável por esse tipo de coisa. Tendo tomado "alguma coisa", eu me sentiria comprometida a ter um rendimento melhor. Mas não criei nenhuma neurose em torno do assunto.
No entanto, comecei a sentir, lá pelo quilômetro oito, que meu corpo era capaz de responder sem cansar ao estímulo maior. Meu ritmo na corrida foi de 5min17 por quilômetro. Considerando que fiz os primeiros trechos acima dos 6min, eu de fato estava recuperando bastante tempo naquele final. Apertei bastante o ritmo, a ponto de fazer os dois últimos quilômetros em estado ofegante, o que para mim significa batimento cardíaco acima dos 180 bpm. Outro detalhe era o calor, ainda mais forte perto das 9h do que na largada. Naquele sprint final, eu podia não saber o que eram os comprimidos, mas tinha certeza de que haviam me ajudado.
Cruzei a linha de chegada ao som de "Start me up", dos Stones, outra velha habitué das corridas. Depois, uma surpresa para as mulheres, antecipando a comemoração pelo Dia Internacional, em 8 de março. Após receber a medalha, todas ganhávamos um botão de rosas e um cosmético de uma empresa patrocinadora. Os rapazes que entregavam as rosas eram bem bonitinhos, mas o cosmético era um creme anti-celulite, o que achei politicamente incorreto!
Depois de reunir a turma, bater os retratos e comemorar a primeira prova do ano, Zé me explicou o que eram os comprimidos. Aminoácidos de Cadeia Ramificada (Branched Chain Amino Acids, BCAA, em inglês). O suplemento reúne os três principais aminoácidos requeridos pelo músculo durante o exercício: Valina, Leucina e Isoleucina. Zé explicou que, durante exercícios prolongados, a queda de concentração dos BCAA no sangue está relacionada à perda de massa muscular. Os BCAA atuam como fonte de energia durante o exercício e são importantes para a recuperação. Por isso eu me sentia mais "inteira" no final da prova.
Sou uma verdadeira xiita quando se trata de remédio. Só tomo com prescrição médica e fico horrorizada quando vejo gente tomando toda sorte de medicação por conta própria. Não era o caso. José Eduardo Pompeo, técnico da Equipe Conexão, é professor de Educação Física graduado pela Unesp, professor de uma das mais importantes redes de academia de São Paulo, atleta de alto desempenho e, sobretudo, estudioso e consciente. Se o Zé mandou, eu não discuto. Não contesto especialistas.
Acho que esse recado é fundamental: tomei o BCAA porque meu técnico, um estudioso do assunto, indicou, porque ele tinha certeza de que me faria bem. Este texto não é uma apologia da suplementação nutricional, por mais que, neste caso, estejamos falando de algo não agressivo à saúde. Se você faz atividade física e se estimulou com esta história, fale com seu treinador, com um especialista em nutrição ou com um médico e veja se vale a pena tomar.
O próximo desafio deve ser a Meia Maratona Corpore, em 13 de abril. Até lá, muito treino, sob a orientação segura do Zé.
Saturday, March 01, 2008
Majestic
Durante muitos anos, minha família passava férias em Águas de Lindóia. Todo ano em Águas de Lindóia, uma adorável estação de águas do interior paulista. É certo que existem outras adoráveis estações termais em São Paulo, no sul de Minas. Mas era Águas de Lindóia, sem apelação.
A raiz de tal obsessão era minha avó Maria, que não passava sem seus tratamentos nas águas do balneário de Águas de Lindóia. Vó Maria era do tipo que ditava as regras e ninguém ao redor ousava desobedecer. Hoje, fico pensando como os adultos da família deviam acalentar o sonho de ir para outro lugar. Que fosse Poços de Caldas, São Lourenço, Araxá, outras termas, tudo bem, haveria um balneário para a matriarca banhar-se, mas outro lugar, pelo amor de Deus! Mas não. Havia de ser Águas de Lindóia. E havia de ser o Majestic, um badalado hotel naqueles tempos.
Com meus sete, oito anos, eu não achava nada de errado naquela insistência. Esperava com ansiedade pelo grande dia, o da viagem, e ia no carro lendo o caminho inteiro, imagine, até hoje não sei como não tinha náuseas. Lia e comia bolacha Maria ou Maizena, que vó Maria levava. Meu irmão, em compensação, coitado, chamava o Hugo a qualquer ameaça de serra. Bastava o carro subir ou descer um morro e ele já começava a passar mal. E eu lá, devorando bolachas e páginas.
Lembro da sensação com nitidez cristalina. Ao deitar, na primeira noite, no quarto do hotel, eu ficava pensando: "Não acredito que estou aqui, que bom, que bom!" E acordava para uma seqüência de dias quase sempre iguais.
A manhã começava cedo. Tomávamos café lá pelas oito. O restaurante do Majestic era gigantesco, aos meus olhos, pelo menos. Tinha uma gigantesca mesa bem no centro. De manhã, ela se enchia de frutas, sucos, pães, queijos, geléias. Íamos para a piscina lá pelas nove e era entre as nove e as onze que eu colocava meus ombros a prêmio. Naqueles tempos, crianças, não se ouvia falar de filtro solar e eu, Branca como a de Neve, me enfiava na piscina para não queimar muito a pele. Sempre acabava com os ombros de fora, sempre os tinha vermelhos ao fim do dia, sempre ouvia a mesma coisa da minha mãe. "Bem que eu avisei para sair do sol...".
< balneário de Águas de Lindóia
Minha mãe era a heroína dessas viagens, hoje eu sei. Ela não gosta de piscina nem de tomar sol, mas passava todas as manhãs conosco, quarando naquele calor de janeiro. O pior, no entanto, vinha na hora do almoço. Meu irmão, que sofria de bronquite e não comia direito, era a fonte maior de preocupação da minha avó, a banhista das termas. A matriarca atormentava minha mãe com o pouco apetite do menino. Sábia, para não estressar-se ainda mais, nem ao ambiente, minha mãe deu um olé na sogra. Passou a pedir o almoço do raquítico no quarto, longe das vistas da avó. Ele não comia, do mesmo jeito, mas isso fica entre nós, porque o discurso era bem outro. "Puxa, no quarto, sem as distrações do restaurante, ele come tão bem...".
No almoço, a mesa do café transformava-se em mesa de saladas. Em um dos cantos, uma bandeja que sempre me impressionou. Um leitãozinho inteiro, com a indefectível maçã na boca. Jamais provei. Evitava até olhar. Ao lado da mesa, instalavam um carrinho para os pratos quentes. E quem não gostasse das opções ainda podia pedir um filé com fritas! A cada estação no Majestic, a família devia engordar unida o equivalente a um novo integrante. Adulto.
As tardes eram reservadas para os passeios. Ir até cidades vizinhas, como Monte Sião, e suas árvores cortadas em formatos diversos, Serra Negra ou Jacutinga. Ou andar pela praça de Águas de Lindóia, onde uns homens ganhavam a vida empurrando carrinhos divertidos para crianças. Fico pensando em que mundo viemos parar, porque há trinta anos não tinha nada de mal em deixar uma criança de quatro ou cinco anos com um adulto desconhecido que a levaria para passear em um carrinho por uma enorme praça, longe das vistas dos pais.
Era normalmente à tarde, também, que arranjávamos uns papelões e descíamos pelo barranco gramado da praça em frente ao hotel. Um tobogã de graça, que devia arruinar a grama em todos os verões. Alguns anos depois, voltamos a Águas de Lindóia, e vimos que a prefeitura tinha plantado mudas de árvores no barranco. Acabaram com o tobogã, os sem-graça, mas permaneci com a sensação de ter causado mina primeira intervenção urbana, que orgulho.
No final da tarde, começo da noite, de banho tomado e com as melhores roupas, sim, porque era um desfile de moda aquele hotel, descíamos para algo que ainda não sabíamos, mas se chamava happy hour. No bar do Majestic, Toninho preparava um coquetel magnífico, o Sol de Verão, preferência das damas, enquanto eu me acabava com suco de tomate e amendoins. Meu tio tomava Campari e eu achava impossível que aquela bebida, tão linda, fosse tão amarga quanto diziam. Depois provei, e era.
O banquete nababesco do almoço não parecia superável, mas o Majetic conseguia. A mesa, aquela do café da manhã, que virava mesa de saladas, à noite se transmutava em mesa de sobremesas! O maitre, Seu Davi, era um gentleman por natureza. No almoço, guardava croquetes de carne para meu irmão, o enjoado, comer à noite, visto que ele não provava mais nada do lauto bufê. Voltávamos à noite para a praça, a do tobogã, para "fazer a digestão". Custo a acreditar que a memória não me trai, mas o fato é que subíamos para o quarto, para dormir, pouco depois das nove.
Eu deitava, a partir do segundo dia, e tinha aquela sensação de estar boiando, aquilo que se sente quando se fica muitas horas na água.
Sempre adormecia pensando: "Eu não acredito que estou aqui, que bom, que bom..."
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