Wednesday, December 31, 2008

Feliz 2009



Faltam menos de oito horas para a São Silvestre. Mesmo sendo uma corrida festiva, mais uma celebração do que propriamente uma competição para mim, é a única prova do ano que me deixa muito ansiosa.

Enquanto a hora não chega, aproveito para desejar a todos os leitores do blog um excelente 2009. Gostei muito da campanha publicitária do Bradesco, que lançou um criativo 2000inove. Gostei mais ainda do e-mail que recebi de um amigo corintiano, destacando o 9, bem grande, em referência ao novo camisa 9 do Corinthians...

E, como já é tradição, deixo minha mensagem a cargo da aniversariante do dia, Rita Lee (61 anos hoje). Com a letra de "Coisas da Vida", uma de suas melhores baladas, bem apropriada para a data, esses dias em que as pessoas costumam fazer promessas e traçar planos para um novo ano.

Feliz Aniversário, Rita. Feliz 2009, todo mundo!

Amanhã, o tradicional relato da São Silvestre. Até lá!

Coisas da Vida
(Rita Lee)

Quando a lua apareceu
Ninguém sonhava mais do que eu
Já era tarde
Mas a noite é uma criança distraída

Depois que eu envelhecer
Ninguém precisa mais me dizer
Como é estranho ser humano
Nessas horas de partida

É o fim da picada
Depois da estrada começa
Uma grande avenida
No fim da avenida
Existe uma chance, uma sorte,
Uma nova saída
São coisas da vida
E a gente se olha, e não sabe
Se vai ou se fica

Qual é a moral?
Qual vai ser o final
Dessa história?
Eu não tenho nada pra dizer
Por isso digo
Que eu não tenho muito o que perder
Por isso jogo
Eu não tenho hora pra morrer
Por isso sonho

Aaah... são coisas da vida
E a gente se olha,
E não sabe se vai ou se fica

Thursday, December 25, 2008

Reabilitando o "Tema da Vitória"

Associação inevitável: aos primeiros acordes do "Tema da Vitória", mesmo quem não estivesse assistindo à corrida sabia que Senna tinha vencido mais uma. A música, composta por Eduardo Souto Neto, não nasceu para ser o tema das vitórias de Ayrton Senna. Na verdade, não nasceu nem para ser a música oficial das vitórias brasileiras na Fórmula 1.

A primeira vez que a TV Globo tocou-a foi após o GP do Brasil de 1984, vencido pelo arqui-rival de Senna, Alain Prost. Era para ser uma assinatura da transmissão, um fecho apoteótico de cada corrida, mas logo guardou-se a música apenas para os triunfos brasileiros. Foi naquele mesmo ano que Senna estreou, conseguindo sua primeira vitória no ano seguinte. Piquet ainda venceria um campeonato sob vigência do "Tema da Vitória", em 1987, e faria a música tocar por treze vezes (seu número de vitórias entre 1984 e 1991). Mas a música ficou indelevelmente associada a Senna, que teve todos os seus 41 triunfos embalados pelo indefectível tan-tan-tan.

A partir de 1º de maio de 1994, o tan-tan-tan passou a suscitar reações bem diferentes. Tão associado a Senna estava que virou quase marcha fúnebre. Era tocar e um monte de gente chorar. O "Tema da Vitória" virou o tema da imolação do brasileiro. A música só sairia do arquivo da Globo, para registrar uma vitória brasileira, em Hockenheim 2000, com o primeiro dos nove GPs vencidos por Rubens Barrichello. Mas não teve como apagar essa identificação da memória de quem acompanhou a carreira de Senna pela Globo. As gerações que se acostumaram a ouvir a música nos tempos de Senna ainda acusam a associação inevitável.

No entanto...

Meu filho, que tem oito anos e começou a acompanhar Fórmula 1 há cerca de um ano e meio, não faz esse tipo de associação. Até porque ele ouve a transmissão da Rádio Bandeirantes/Band News FM, na qual a mãe comentou a temporada de 2008, e só eventualmente escuta o "Tema da Vitória". Mesmo sem realizar esse movimento pendular - da euforia à tristeza profunda, por causa da música - ele de fato gosta do "Tema da Vitória". Foi por esse interesse dele que voltei a escutar a música com maior freqüência nos últimos tempos.


Tan-tan-tan... tan-tan-tan

E a música revelou uma característica que eu não havia notado, até então. Que coisa mais anos 80! Ouça com mais atenção, qualquer dias desses. Aquele solo de saxofone é uma marca ultra-típica da música pop daquele tempo. O sax, que está para o jazz mais ou menos como a guitarra está para o rock, que revelou músicos geniais como Charlie Parker, Miles Davis, Sonny Rollins, foi "descoberto" pela música pop nos anos 80. Se você é daquela época, há de se lembrar do mega-hit "Your latest trick", do grupo Dire Straits, que tinha como grande destaque o solo de saxofone no começo e entre uma estrofe e outra. O "Tema da Vitória" e "Your latest trick" são contemporâneos. O sax ganhou força na música pop dos anos 80 com um apelo meio sensual (que é o caso da música do Dire Straits), meio exótico.

Quase quinze anos após a morte de Senna, e quase vinte cinco após a estréia do "Tema da Vitória", talvez só agora, com gerações menos impactadas pelo luto, a música comece a ser apenas uma música - muito associada a seu tempo - mas apenas uma música, não uma senha para as lágrimas.

Wednesday, December 24, 2008

Sem originalidade, com amor




No ano passado, também usei uma imagem de John & Yoko para expressar meus votos de Feliz Natal para todos vocês.

Um novo ano se foi, outro já vem, e o que você fez?

Eu fiz uma pá de coisas, vocês acompanharam muitas delas. Obrigada pela companhia. Ainda volto aqui, provavelmente, antes de 2009. Se não voltar, pelo menos no dia 1º de janeiro aqui estarei, para o já tradicional post sobre a São Silvestre.

Mais um ano se foi, e a imagem de John & Yoko, símbolo de amor, prevalece em minha memória. Feliz Natal, Yoko. Feliz Natal, John. Feliz Natal, você!

Monday, December 22, 2008

Antes tarde do que nunca!

Amigos deste blog, desculpem pela demora!

Na semana do GP do Brasil, este blog chegou à sua 300ª postagem e, em comemoração, ofereci um exemplar do livro "O Boto do Reno" entre os leitores que acertassem o campeão mundial de Fórmula 1 deste ano.

Fizemos o sorteio há algumas semanas, com o papel sendo retirado pelo autor do livro, meu dileto Flavio Gomes. Quem bateu a foto, na ocasião, atrapalhou-se na hora de gravar a imagem, mas lembrou-se de guardar o papel, para comprovar o vencedor.



Portanto, Adriano Oliveira, entre em contato comigo, pelo e-mail aalves77@gmail.com e me passe seu endereço, para que eu possa enviar o livro.

Parabéns e obrigada a todos que participaram!

Wednesday, December 17, 2008

O grande duelo





Está prestes a acontecer um dos maiores duelos de todos os tempos na história da Fórmula 1. Se o suíço Sebastien Buemi for confirmado na equipe Toro Rosso, ele protagonizará, ao lado do polonês Robert Kubica, uma acirrada disputa pelo título de "o piloto mais feio da Fórmula 1 atual".

Os dois podem ser ótimos pilotos, Kubica até já venceu uma corrida (Canadá 2008), mas os dois bichinhos são feios demais, sô!

Quem será que levaria esse troféu? Em quem você vota?

Monday, December 15, 2008

Um conto são-paulino

Adoro histórias de arquibancada, contadas por testemunhas do lado de lá do alambrado. Quem acompanha esportes há muito tempo, como é o meu caso, coleciona muito da dita história oficial dos eventos esportivos. Mas, pela visão do torcedor, às vezes surgem relatos ótimos, revelando lados diferentes de um mesmo fato. Este me foi contado pelo amigo Ammar Hussein, membro da Equipe Conexão.

Novembro de 1993, São Paulo 3 x Guarani 2, Estádio do Morumbi

O São Paulo fazia seu último jogo pelo Campeonato Brasileiro antes de viajar para Tóquio, de onde voltaria com o bi do Torneio Mundial Interclubes. Eram os tempos de Telê Santana no comando daquele esquadrão que tinha Zetti no gol, Cafu na lateral direita, Toninho Cerezo e Leonardo no meio de campo, Muller e Palhinha no ataque. O Guarani tinha o goleiro Neneca - informação importante para o clímax desta história.



Ammar foi ao estádio com seu tio e se sentou ao lado de um fulano que passou o jogo inteiro xingando o lateral Cafu. Bastava o jogador pegar na bola que o torcedor tricolor gritava os maiores impropérios. "Você é muito ruim, Cafu", "Telê, tira o Cafu" e outros gracejos do tipo.

Até que, em um inspiradíssimo momento, Cafu recebeu um passe ideal, avançou pela grande área, aplicou um chapéu em um dos zagueiros do Guarani, chapelou mais um adversário e perpetrou o gol mais bonito do jogo. O estádio, naturalmente, explodiu em comemoração. Ammar não se esqueceu de deter o olhos no colega que passara o jogo inteiro xingando Cafu. O fulano estava meio atônito, dividido entre o impulso de comemorar e a vergonha.

Passado o momento de explosão da torcida, o estádio voltou àquele silêncio típico de bola rolando. Nesse momento, o desafeto de Cafu novamente se levantou e gritou, plenos pulmões: "Pô, Neneca, mas você é muito frangueiro, hein?! Leva gol até do Cafu!"

Saturday, December 13, 2008

São Silvestre bizarra

Com quase uma semana de atraso (muito trabalho, só isso) consigo agora registrar o treino que a Equipe Conexão fez no domingo passado. Alguns dias antes da São Silvestre, habitualmente fazemos um simulado da prova, percorrendo o mesmo trajeto em um domingo pela manhã. Tem que ser na manhã de um domingo por conta do Minhocão, que fica fechado aos carros nesse dia.

O resto do percurso fazemos preferencialmente pelas calçadas, embora alguns trechos (como o viaduto do Memorial da América Latina) não tenham calçada. Mas, sete e pouco da manhã, no domingo, geralmente é fácil percorrer os 15 km do trajeto que sai da Paulista e volta até ela.

É um treino de reconhecimento de terreno e de auto-avaliação. A preocupação com os carros nos faz, eventualmente, ter de esperar o fechamento de alguns faróis. Perdemos tempo com isso, mas ninguém está ali para buscar tempo. A auto-avaliação se dá mais no sentido de acostumar o corpo e o espírito às dificuldades dessa prova.

Engraçado, mesmo, é circular no Centro de São Paulo nas primeiras horas do domingo. O bando de corredores de camiseta laranja passa por vários grupos de boêmios em fim de noite. Boates caidaças, bares, danceterias moderninhas: todos vão despejando gente ávida por cama, um pessoal que nem disfarça aquela cara de gaveta de meia que não vê arrumação há uns seis meses.

Foi assim na avenida Rio Branco. Ali, os bares vão se enfileirando. Logo depois de cruzar a Duque de Caixas, passamos em frente a um bar bem movimentado. Uma senhora de cabelos loiríssimos (oxigenadíssimos, seria mais honesto dizer) sai do bar com um copo na mão e um cigarro na outra. A mão da coitada parecia uma garra, atrofiada na posição de segurar o bastonete de alcatrão e nicotina que deve lhe ser mais fiel que todos os outros companheiros de copo ali presentes. À nossa passagem, a mulher demonstra todo seu entusiasmo de fim de jornada de trabalho. Levanta os braços e vem em direção ao técnico José Eduardo Pompeu, que liderava o grupo. Na hora, lembrei do lunático que arruinou a maratona de Vanderlei Cordeiro de Lima, na Olimpíada de Atenas. O estado dela, no entanto, não parecia permitir tamanha agilidade. Apenas deu um tapa nas costas do técnico e profetizou: "Ah, cê vai ganhar!". Nilton, o autor da foto deste post, passou em seguida e eu, logo atrás. Nilton escapou, mas eu também levei um tapão da dita cuja. Depois, divagações diversas sobre o delírio da dama. "Nossa! Quanto tempo fiquei nesse bar? Entrei no dia 6 e, quando percebo, já está passando a São Silvestre!"




Pouco mais adiante, no Largo do Paissandu, paramos em um boteco para comprar água. É a única parada que fazemos no treino, e não dura mais de cinco minutos. Tempo suficiente para que eu notasse um plaquinha na geladeira do bar: "Aluga-se este espaço". Conjecturei sobre o que estaria posto à disposição. Se o bar inteiro ou apenas a lateral da geladeira, para algum anúncio. Creiam: a poluição visual do bar faria qualquer um supor que o dono de fato aluga a lateral da geladeira para publicidade.

Dali para frente, faltam pouco mais de três quilômetros para o fim, ou seja, um quinto da prova. Hidratados e com a perspectiva de terminar logo, aumentamos o ritmo no trecho final. Mais bizarrice. Ao lado do Teatro Municipal, um albergue ou bandejão concentrava grande número de moradores de rua pela calçada. Passando pelo grupo, despertamos o instinto primitivo de um deles. Saiu correndo atrás de nós, gritando: "Ei, volta aqui, seus caloteiros! Você está me devendo, não corre não!" Chegamos a temer pela agressividade do fulano, que não parecia estar brincando, mas logo ficou claro que ele não teria pique para correr mais do que até a esquina. Dito e feito.

Terminando o trajeto, fomos para a academia, onde o Zé nos deu um alongamento caprichado e onde tiramos a foto.

O dia estava bem quente, com sol forte pelo menos desde as oito da manhã. Quando chegamos à Paulista, o movimento de carros era bem maior do que no início do treino, mas, ainda assim, minha avenida preferida se mostrava acolhedora e familiar, como sempre surge aos meus olhos. A Paulista, por muitos motivos, é meu lar. Isso também ajuda a explicar por que gosto tanto de correr a São Silvestre.

Dia 31, tem mais.

Friday, December 12, 2008

Carta ao editor

O carro ou o piloto? Quem é mais importante? Meu antigo chefe, Flavio Gomes, acha que é o carro. E eu aproveito a instigação para mais uma coluna no GPTotal. Vai lá, vai...

Friday, December 05, 2008

Não serve para nada...

Quando comecei a escrever para o GPTotal, nos idos de 2004, levei castimbadas de todo lado, por conta de uma coluna chamada "A Fórmula 1 não serve para nada".

Está lá, nos arquivos do GPTotal (vá até Colunas, selecione meu nome e escolha Colunas antigas de Alessandra - infelizmente, não tem link direto para esse conteúdo). Para quem não quiser ler, um trechinho:

"(...) Se não estão lá para desenvolver nada, por que diabos as grandes marcas desembarcaram em peso na Fórmula 1 nos últimos anos? A resposta confirma a tese deste comentário. O grande atrativo da categoria é sua imagem. Para Mercedes-Benz, BMW, Honda, Toyota, Ford (com Jaguar), estar na Fórmula 1 é aparecer, consolidar suas marcas, associá-las à elite do esporte mundial. Estão na Fórmula 1 pela grandiosidade de seus eventos, pela audiência que ela gera no mundo inteiro.(...)"

A tese, a que me refiro no trecho acima, é a de que a Fórmula 1, hoje, é muito mais um instrumento de marketing das corporações do que propriamente um banco de provas para novas soluções automotivas.

Hoje, no Japão, a Honda confirmou sua saída da categoria. A fala do presidente não deixa dúvidas: vamos sair desse negócio, um sorvedouro de dinheiro, para nos concentrar no nosso negócio de fato (o chamado "core business" no jargão corporativo) - produzir e vender carros. Ou seja, a Fórmula 1, para a indústria automotiva, é um apêndice, um cartão de visita, um investimento de marketing.

Eu avisei...

E vocês, o que acham?

Sunday, November 23, 2008

Meu joelho esquerdo



Notaram a ausência de postagens sobre minhas corridas nos últimos tempos? Não foi falta de escrever sobre elas, não. Eu simplesmente não fazia uma corrida desde o segundo domingo de agosto, quando encarei a Corrida do Centro Histórico. Desde então, minha equipe, capitaneada pelo treinador José Eduardo Pompeu, fez três corridas, e perdi as três por conta da Fórmula 1. Deixei de fazer a Corrida da Paz, no dia do GP da Bélgica, a Corrida das Estações/Primavera, no dia do GP de Cingapura, e a Meia Maratona do Rio, que aconteceu no mesmo dia do GP do Japão.

Lamentei perder todas, especialmente a Meia do Rio. Seria a chance de fazer mais uma meia maratona este ano (fiz uma em abril), além de ter sido uma viagem muito divertida feita pela Equipe Conexão. Durante esse período, não deixei de treinar religiosamente toda semana mas, prova mesmo, necas. Neste domingo, 23 de novembro, voltei a disputar uma prova de rua, e ela veio cercada de desconfiança.

Há pouco mais de duas semanas, senti algo estranho no meu joelho esquerdo, depois de um treino na esteira. Pensei que fosse uma dor de esforço qualquer, que normalmente passa em um ou dois dias, mas a danada ficou. Melhorava com gelo, pomada e, sobretudo, quando eu não corria. Bastava correr que a dor voltava. Nada lancinante, nada que me impedisse de correr. Depois de aquecido o corpo, eu nem me lembrava da dor. O problema era depois. De fato, até agora não sei o que está motivando a dor, e como ela não me inutiliza, tenho treinado. Fui nesse espírito para a Corrida Zumbi dos Palmares, da Corpore, que tradicionalmente acontece no final de novembro, sempre na região do Ibirapuera.

O local é um dos mais bonitos de São Paulo. Largamos em frente à Assembléia Legislativa, corremos em direção à avenida República do Líbano, talvez a minha preferida na cidade, por seu corredor de árvores e por margear o parque. Passamos ao lado do lago e seguimos em direção à avenida Rubem Berta, quase chegando ao aeroporto. Um trajeto simples, com longas retas, e várias subidas e descidas. Nada de arrancar o couro, mas um trajeto desafiador.



No ano passado, com muito calor e largando no fim do pelotão, fiz um tempo que me decepcionou - 53min. Este ano, a organização da prova dividiu os corredores pela expectativa de tempo de cada um. Mandei ver 50 minutos e, com isso, fui parar lá na frente. Uma bela ajuda, pois a largada foi tranquila, ninguém me atropelou e consegui imprimir um ritmo forte desde o primeiro quilômetro.

Cumpri os dois primeiros quilômetros em rigosos cinco minutos cada, coisa rara de se fazer em provas tão concorridas quanto essa, que costuma reunir mais de 10 mil atletas. A partir do terceiro quilômetro, comecei levemente a aumentar a velocidade, de olho no relógio e ligada no joelho. Não sentia nada, vambora.

No primeiro posto de água, uma cena me tocou. Passei direto pelas mesas, pois não estava sentindo sede nem necessidade de me refrescar. No entanto, um senhor, atleta amador como eu, estendeu seu copo de água pela metade, provavelmente achando que eu não tinha conseguido me abastecer. Peguei o copinho e agradeci. Molhei os pulsos e a nuca e lamentei, naquela hora, que provavelmente não encontraria o colega depois da prova para agradecer-lhe novamente. A corrida às vezes me leva a essas divagações e pensei que expressões como "nunca mais" e "para sempre" podem ser um tanto angustiantes. Não sei se vou encontrar o senhor novamente, querido colega, mas saiba que seu gesto me tocou muito. Obrigada, do fundo do coração.

O clima contribuiu bastante, sem sol e até um certo friozinho extemporâneo. Fiz a prova inteira sem sentir nada, nadica no joelho. E o ritmo forte, na casa de 4min50 por quilômetro. Faltando dois quilômetros, tive certeza de que melhoraria muito o tempo do ano passado e não teve erro. Contra os 53min de 2007, 48min48 (correção: pelo tempo oficial da Corpore - 48min42. yeah!) em 2008. E sem dor. Para falar a verdade, o bom tempo obtido foi um bônus. Meu foco, de verdade, era sentir como se comportaria o joelho. E mesmo agora, quatro horas depois de terminada a corrida, não sinto nada.



Por isso, assim que cruzei a linha de chegada, fiz meu tradicional agradecimento mental, acrescentando um nome importante, desta vez. "Obrigada, meu joelho esquerdo!"

Tuesday, November 18, 2008

Para gostar de ler - Veneno remédio



Meu amigo Idelber Avelar detesta quando nós, seus colegas de blogosfera, o chamamos de "professor". É sua profissão de fato, e ele não é apenas professor - é Professor Titular, o mais alto posto na carreira acadêmica, da Universidade de Tulane, em New Orleans. Entendo a bronca desse adorável atleticano com a alcunha, posto que não somos, aqui, seus alunos, mas realmente seus colegas. Não deixo de levar, no entanto, as indicações de Idelber com o respeito de quem convive com um mestre (e tenho a sorte de conviver com alguns amigos que representam, na minha vida, o papel de professores, mas isso é outra conversa). Há alguns meses, Idelber escreveu um post sobre "Veneno Remédio - O futebol e o Brasil", de José Miguel Wisnik, e descreveu a obra com enorme entusiasmo.

Como diz no post, Idelber leu o livro em uma única noite, dando prova da qualidade da obra, de sua capacidade de instigação, de sua riqueza de informações, de sua lógica e, naturalmente, da fluidez do texto desse outro mestre das Letras, o professor Wisnik.



Não consegui nem de longe acompanhar o ritmo de Idelber. Nesse corre-corre que é minha vida, às vezes mal conseguia ler dez das 446 páginas do livro por dia, o que me enchia de pena, pela vontade de continuar sempre um pouco mais. Já o terminei há algumas semanas, mas o corre-corre também me impediu de escrever antes.

Leia em uma noite ou vá aos poucos, mas leia.

"Veneno Remédio" é um ensaio fundamental da literatura, da sociologia, da antropologia brasileiras. É uma obra fundadora, em certo sentido, por reunir algo inédito no ramo dos livros sobre futebol. Como o próprio Zé Miguel menciona, os livros de futebol, em geral, dividem-se em dois grupos: os livros que falam de futebol (jogos, jogadores, números, fatos, anedotas, curiosidades etc.) e os livros que falam sobre futebol (análises de toda sorte - esportiva, sociológica, filosófica, antropológica etc.). Escritos, em geral, por autores que "não se freqüentam": quem escreve de futebol em geral considera os intelectuais do esporte uns divagadores; quem escreve sobre futebol vê os registros relatoriais com certo desdém. "Veneno Remédio" une as duas correntes. É um livro de e sobre futebol.

O estudioso Zé Miguel traz informações sobre as origens históricas dos jogos de bola, traça comparações magníficas entre sociedades a partir da predominância de um determinado tipo de jogo de bola (o futebol, na Europa; o football, nos EUA), adentra na origem do futebol brasileiro e vai, pouco o pouco, construindo e reforçando sua revolucionária tese, que subverte o que se tem repetido à exaustão nas análises sobre o Brasil e o futebol. Para Zé Miguel, o futebol do Brasil não é um reflexo da nossa sociedade (paternalista, elitista, racista, excludente etc.). Pela tese do professor, o futebol não é reflexo, mas causa, sendo um fator de importância fundamental na formação da sociedade brasileira.

À medida que o leitor avança pela obra, vai também avançando no tempo. Zé Miguel não se propôs a recontar a história do futebol, mas acabou fazendo uma análise da transformação da sociedade brasileira, a partir do futebol, em seqüência cronológica. E o envolvimento torna-se cada vez maior. É interessante acompanhar o mergulho do intelectual Zé Miguel Wisnik nos fatos: torcedor do Santos, testemunha ocular de Pelé e cia., Zé Miguel não se prende ao rigor das análises acadêmicas e escancara sua própria vivência como torcedor e observador do futebol. Assim, o livro fica ainda mais envolvente quando o autor chega ao período que ele mesmo viveu e acompanhou, somando às informações e referências bibliográficas tantas sua própria experiência.

Interessante, também, acompanhar a seleção de referências bibliográficas que Zé Miguel escolheu. Sem preconceito, ele mistura textos de intelectuais "puros" a pensadores de outras áreas, como o cineasta Pier Paolo Passolini, o compositor Chico Buarque, o ex-jogador e comentarista Tostão. Aliás, Tostão exerce um papel de destaque na obra, seja pela análise de sua atuação na Copa de 1970, seja por suas próprias análises como observador lúcido de futebol. (Particularmente, fiquei muito reconfortada com essa "reabilitação" do Tostão. Alguém precisava pedir desculpas publicamente a esse genial jogador, em nome de Gilberto Gil, que é tão simpático e cordato, mas perpetrou um verso muito indelicado contra ele, na igualmente genial "Meio de campo" - "(...) e eu não sou Pelé, nem nada, se muito for eu sou um Tostão." hehehe)

À medida que lia "Veneno remédio - O futebol e o Brasil", de forma meio pretensiosa, comecei a acalentar uma idéia. Eu gostaria de ler um livro com esse tipo de análise, sobre automobilismo. Quem sabe não o escrevo um dia?

Monday, November 17, 2008

Um pouco de poesia

Amigos, queridos,

Desculpem pela ausência nos últimos dias. Excesso de trabalho, nada mais.

Passei o final de semana fora de São Paulo, na companhia de um livro excepcional de meu amigo e mestre Zuza Homem de Mello (será um dos próximos "Para gostar de ler" deste blog). O livro é "Eis aqui os Bossa Nova", reedição de uma obra de Zuza lançada originalmente em 1976. Vou falar mais longamente desse excepcional documento em breve.

Por enquanto, deixo vocês na companhia de uma das letras citadas na obra, do grande poeta da Bossa Nova, Vinícius de Moraes.

Que beleza de versos... (A melodia é de Baden Powell)

Samba em prelúdio

Eu sem você
Não tenho porquê
Porque sem você
Não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem amor
Amor sem se dar

Eu sem você
Sou só desamor
Um barco sem mar
Um campo sem flor
Tristeza que vai
Tristeza que vem
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém

Ah, que saudade
Que vontade de ver renascer nossa vida
Volta, querida
Os meus braços precisam dos teus
Teus abraços precisam dos meus
Estou tão sozinho
Tenho os olhos cansados de olhar para o além
Vem ver a vida
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém

Thursday, November 06, 2008

A escolha de Vettel


Desde que foi anunciado como sucessor de David Coulthard na Red Bull, o alemão Sebastian Vettel tem levantado uma dúvida entre muitos analistas da Fórmula 1.

Será que o alemão fez uma boa escolha? Afinal, pilotando o carro da Toro Rosso, time B da Red Bull, Vettel conquistou, entre outras coisas, uma pole e uma vitória na temporada de 2008, resultados muito superiores a tudo que Coulthard e Mark Webber fizeram juntos neste ano.

Minha análise desse tema é um pouco diferente.

Lembra daquela piada sobre Hillary e Bill Clinton? Os dois param em um posto de combustível, um funcionário cumprimenta Hillary e Clinton lhe pergunta quem é. Hillary explica que o cara tinha sido seu namorado na juventudo, ao que Bill responde: "Tá vendo, se você tivesse se casado com ele, hoje era mulher de um funcionário de posto, não do presidente dos EUA." Hillary: "Engano seu, my dear. Se eu tivesse casado com ele, ELE seria presidente dos EUA."

Não duvido que, com Vettel por lá, a Red Bull comece a andar muito melhor que a Toro Rosso. Vettel é o cara. Talvez não para 2009. Mas, para logo, logo.

Em tempo: o Saco de Batatas está fazendo uma enquete sobre a temporada de 2008. Vote lá!

Wednesday, November 05, 2008

Black is beautiful




Muito significativo. Histórico. Emocionante.

E duas mulheres, cada qual nessas mesmas posições... quando será?

Monday, November 03, 2008

Interlagos, in loco (4)

O GP já passou, mas aproveito para descarregar mais alguns clicks que fiz em Interlagos.

E peço desculpas pelo atraso no sorteio do livro. Amanhã (terça-feira) devemos ter o nome do vencedor.

Nas fotos: Fernando Alonso, dando entrevista depois da prova, para a imprensa espanhola, a medalha de ouro Maurren Maggi, o big boss Bernie Ecclestone, Sebastian Vettel, batendo um papo com os antigos patrões da BMW (gente, esse menino é tão magro que, de frente, parece que está de lado!), Rubens Barrichello chegando com os filhos, Eduardo e Fernando (a esposa, Silvana, aparece atrás, passando pela catraca), ao lado, o arrumadinho Nico Rosberg, uma turminha na sala de imprensa (Julyana Travaglia, do globoesporte.com, o farrista Flavio Gomes, eu e o colega Fábio Seixas), Niki Lauda, batendo um papo com a repórter da Globo.








Som e fúria

Do nada, emerge Timo Glock, para definir o Mundial de Fórmula 1 de 2008. Um coadjuvante transformado em personagem principal. Lewis Hamilton e Felipe Massa: nas mãos do alemão. Mais? No GPTotal. Vai lá, depois comente tudo o que quiser sobre a corrida de ontem. Desde já, candidatíssima ao título de GP do Brasil inesquecível.

Sunday, November 02, 2008

Interlagos, épico, sorteio

Amigos, final de semana intensíssimo. Por tudo o que aconteceu em Interlagos neste domingo, não foi possível fazer o sorteio do livro entre os que apostaram em Hamilton. Mas não se preocupem. Nesta segunda-feira, sai o vencedor. Aguarde, e aguardem também minha coluna no GPTotal.

Saturday, November 01, 2008

Interlagos, in loco (3)







Mais imagens do dia.

Dia de pole de Felipe Massa, de Hamilton em quarto, de ovação em Interlagos.

Na ordem: Viviane Senna bate um papo com Titônio Massa depois do Treino
Classificatório, Stefano Domenicalli e Flavio Briatore, parlando alguma coisa, a galera das cabeças vermelhas, Nelson Piquet, em pose francamente desfavorável, conversando com Ingo Hoffmann, que aparece na foto seguinte. Por fim, o honorável Emerson Fittipaldi, com um cabelo nem tanto.

Interlagos, in loco (2)

As primeiras fotos do dia.

Panorâmica da sala de imprensa, Victor Martins, do site Grande Prêmio, eu, por Victor Martins





Interlagos, in loco (1)

Falta pouco mais de meia hora para começar o último treino livre, marcado para as 11h deste sábado.

Na chegada, sem a máquina fotográfica pronta, cruzei com Fernando Alonso, Flavio Briattore, Mario Thiesen e Nico Rosberg. Aliás, entrei junto com o Nico, o que deve ter me causado uma situação constrangedora, saindo como "papagaio de pirata" nas fotos do loiro. (Em jargão jornalístico, para quem não sabe, papagaio de pirata é o sujeito anônimo que sai na foto, junto de uma celebridade qualquer).

Daqui a pouco, coloco umas fotos aqui.

Tuesday, October 28, 2008

Meu GP do Brasil inesquecível



Cheguei em casa no final da tarde, com a roupa molhada, o rosto queimado de sol, alguns passos além da euforia, querendo banho e cama, quase tão cansada quanto feliz. Minha mãe me recebeu em diapasão diferente, ainda tensa com o dia intenso, como se quisesse contar em detalhes tudo o que eu mesma tinha visto, ao vivo. Tinha visto, mas não tinha ouvido. Eu tinha visto a primeira vitória de Ayrton Senna em um Grande Prêmio do Brasil, espremida na arquibancada de alvenaria do Setor A, de Interlagos. Mas não tinha ouvido a narração pela TV, não conhecia o drama que antecedeu a glória.

24 de março de 1991, meu primeiro GP do Brasil. Admito, abri com chave de ouro. Naquela época, indo para o quarto ano da faculdade, eu ainda não era jornalista, embora já arriscasse textos aqui e ali, principalmente em jornais de bairro e do interior. Eu queria, mesmo, ser repórter de Esportes, e estar perto de eventos esportivos - de preferência, dentro - era meu objetivo permanente. Com essa obstinação, e com um conhecido de alta patente na Polícia Militar, fui parar dentro do Autódromo Internacional José Carlos Pace.

A história inteira dessa epopéia será contada no livro "Interlagos, em teu lar", trabalho de conclusão de curso do colega Andrei Spinassé, do Tazio, motivo pelo qual não entro em detalhes, para não "furar" o jovem jornalista.

Relembro, apenas, as últimas voltas dessa dramática vitória de Senna. Quem não assistiu à corrida na época nem teve acesso a seu videotape talvez estranhe a afirmação sobre a dramaticidade da prova. Afinal, se examinar o "volta-a-volta" da prova, verá Senna largando na pole e liderando de ponta a ponta. Onde estaria a tensão? Ah, só quem esteve lá sabe. Ou não.

Eu estava lá. Fui munida de um radinho com fone de ouvido, na vã esperança de escutar a transmissão pelo rádio. Minha boa intenção foi afogada em ruídos de motor lá pela oitava volta. No começo, o pelotão passava todo junto. Quando se afastava, eu conseguia ouvir perfeitamente a transmissão da Rádio Bandeirantes, naquela época com narração de Éder Luiz e comentários de Edgard Mello Filho. Depois, a diferença entre os líderes e os últimos já era tanta que praticamente a todo tempo tinha algum carro passando na minha frente. Não ouvia mais nada, desliguei o radinho e fiquei só olhando para a pista.

Tudo era festa. Senna vinha firme em primeiro. Mansell seguiu-o até a 59ª volta, quando abandonou com problema de câmbio. Patrese assumiu o segundo lugar. Tudo era festa. O escudeiro de Senna, Gerhard Berger, não conseguia acompanhar o ritmo do italiano, mas tudo bem. Senna estava na frente. Tudo era festa. Começou a chover fraco. Ótimo, melhor que Senna, na chuva, não há.

Senna passava. A arquibancada conseguia rezar um Pai-Nosso inteiro antes que Patrese passasse. E lá vinha Berger. E, muito depois, os outros. Senna passava. A gente até percebia que o Pai-Nosso tinha que ser mais rapidinho, para acomodar a diferença para Patrese, que parecia menor. Mas, tudo bem. Tudo era festa. Foram doze voltas nessa toada. A cada passagem, até era possível notar que a vantagem do brasileiro ficava menor, mas ninguém ali seguia os tempos oficiais. Sem rádio, sem cronômetro, tudo era festa. É certo que, na última passagem, mal daria para fazer o sinal da cruz, entre o vruuuuum meio engasgado de Senna e o vraaaaaaaaam potente de Patrese, mas dane-se. Senna venceu pela primeira vez no Brasil. Tudo era festa.

Foi só quando cheguei em casa e vi a gravação da corrida, em VHS, que soube da progressiva quebra de marchas da McLaren de Senna. Que ouvi Galvão Bueno definir, em milésimos segundos, a diferença cada vez menor entre o brasileiro e o italiano. Que ouvi o mesmo Galvão, desesperado, apelar pelo fim da prova para o então diretor do GP, Mihaly Hidasi. Que vi Senna erguer o troféu com um braço meio débil, esgotado.

O meu GP do Brasil inesquecível foi muito menos dramático do que pareceu pela TV. E o seu GP do Brasil inesquecível, qual foi?

Sunday, October 26, 2008

Quitando dívidas



Aproveito este post para saldar dívidas recentes, trazendo minha posição em assuntos que foram comentados nas caixas de comentários dos posts mais novos.

A eventual falta de atualidade, por exemplo no caso da eleição municipal, deve-se exclusivamente à falta de tempo para postar antes.

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Eleição municipal em São Paulo - votei na Soninha no primeiro turno e na Marta, no segundo. Apesar de ter votado em duas mulheres, não foram votos pautados por esta questão. Ou seja, não votei na Soninha e na Marta por elas serem mulheres, mas pelas idéias defendidas por ambas, nos dois momentos da eleição. Soninha é uma referência antiga na minha vida, já que estudamos na mesma escola, o Colégio Santana, como conto neste post. Tenho enorme admiração por ela em vários sentidos - pela profissional que ela é, pela cidadã, pela mãe, pelo engajamento em causas que considero fundamentais, como a inclusão social e a consciência ambiental. Não gosto de ver Soninha em um partido como o PPS, que parece sigla de aluguel, sem uma ideologia definida. Soninha brigou de forma traumática com o PT, partido pelo qual se elegeu vereadora. Parecer ter suas razões, mas lamento que tenha ido para um partido como esse. No segundo turno, Soninha ficou neutra em São Paulo. Eu não tenho grande identidade com Marta Suplicy e com o governo que ela fez em São Paulo, entre 2001 e 2005. Acho que ela gastou mal o dinheiro público em obras como os túneis que passam sob a Avenida Faria Lima, mas reconheço ações como o Bilhete Único e os CEUs, que beneficiaram a camada menos favorecida da sociedade. Marta quase perdeu meu voto quando apelou, em sua campanha eleitoral, para insinuações sobre a vida privada do seu oponente, o atual prefeito. A grita dos eleitores de Kassab - e de boa parte da mídia - também me desagradou, denotando enorme hipocrisia. Ao longo dos últimos anos, Marta foi alvo de inúmeras colocações preconceituosas por parte de seus opositores. "Acusada" de "largar o marido" para casar com um argentino - como se ambas as escolhas fossem crimes - passou a ser identificada, à boca pequena, com codinomes como "vaca" ou "dona flor e seus dois maridos". Baixaria lá, baixaria aqui. Não gostei das insinuações a Marta, não gostei da insinuação a Kassab, não gosto desse tipo de tática. Mas eu não voto no DEM, sem chances. Não voto no PFL, que é, afinal, a origem desse partido. E não anulo meu voto por princípio. Já o fiz, mas me arrependi. Para mim, anular o voto é como abdicar da prática da democracia. Votei em Marta sabendo que perderia, mas em paz com minha ideologia.

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O falso diálogo de Barrichello com a Ferrari - há uns dois meses, enquanto corria na Cidade Universitária, fiquei sabendo do tal diálogo reproduzido em um livro do jornalisa Lemyr Martins, supostamente entre Rubens Barrichello e componentes da Ferrari durante as últimas voltas do GP da Áustria de 2002. Quem me contou foi um colega da Equipe Conexão, o Nilton. Achei tudo tão bizarro que tomei como piada. Não comentei com ninguém porque tive convicção de que era uma anedota. Na semana passada,certamente embalada pelo GP do Brasil, a editora intensificou a divulgação do livro. O jornal Lance! publicou trechos do suposto diálogo, que pode ser lido na íntegra aqui. Para meu supremo espanto, a repercussão do diálogo revelou que ele foi publicado como se fosse verdadeiro. Amigos atuantes em sites noticiosos de automobilismo, como Victor Martins, Bruno Vicária e Ivan Capelli, além do colega Luis Fernando Ramos, o Ico, deram contribuições várias sobre o tema, falando com o próprio Lemyr, com o editor responsável pelo lançamento do livro e com o assessor de imprensa da Ferrari. Vale a pena navegar pelos sites para ler o imbróglio todo. O que eu acho? Foi a pergunta de alguns leitores e amigos. Acho que Lemyr, um jornalista que cobre a Fórmula 1 há quase quarenta anos, recebeu pela internet o tal diálogo - que foi publicado em um fórum inglês há mais de seis anos, logo depois do tal GP da Áustria. Acreditou que fosse verdadeiro e publicou, sem atentar para o monte de absurdos que ali estão. Acreditou, sobretudo, que nessa altura da vida, montado em cima do nome prestigiado, pode publicar qualquer coisa que ninguém vai contestar. Não contava com a sagacidade dos meus colegas e com as ferramentas de busca da internet.

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Eu voltei - em um comentário abaixo, fui cumprimentada pelo retorno do meu "ex-time" à Série A. Peralá, minha gente! É verdade que eu me aposentei em 13 de outubro do ano passado, depois de trinta anos de serviços prestados como torcedora ao Sport Club Corinthians Paulista. Mas não quer dizer que ele se tornou meu ex-time. Apenas parei de assistir a todos os jogos, de sofrer em desespero a cada derrota, de decorar a escalação da equipe. Passei a me comportar como legítima aposentada, guardando afeição e respeito ao antigo emprego, visitando o local eventualmente, cultivando os bons momentos lá vividos. Ontem, infelizmente, não pude acompanhar o jogo contra o Ceará, que garantiu a volta do Corinthians à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Mas procurei as reportagens nos telejornais noturnos e fiquei sinceramente feliz com o feito. Tenho acompanhado de longe o trabalho do técnico Mano Menezes e da atual diretoria do Corinthians. Acho que estão no caminho certo. Estou feliz com a volta do Timão. Mas, sofrer como antes, acho que nunca mais. 30 anos de serviços prestados. Mereço sossego.

Thursday, October 23, 2008

Tá explicado

"Sempre fui absolutamente fã de Nelson Piquet. Admiro o jeito irreverente dele, gostava de vê-lo nas pistas. Quem sabe vou poder conhecê-lo. Hoje em dia também acabei torcendo pelo filho dele, o Nelsinho."

A frase é da cantora Fafá de Belém, escalada para cantar o Hino Nacional Brasileiro antes do GP do Brasil. Fafá arrasta, há mais de duas décadas, a fama de pé frio. A explicação: primeiro, ela gravou uma bela música de Milton Nascimento dedicada a Teotônio Vilela. O político morreu logo depois. Então, Fafá começou a aparecer pendurada em Tancredo Neves, e o presidente eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral, também morreu, antes de assumir.

No dia da morte de Tancredo, 21 de abril de 1985, assim que foi dada a notícia, a Rede Globo colocou no ar um vídeo com Fafá cantando o hino, em versão lacrimosa e ligeiramente alterada na melodia. Esse vídeo e a canção "Coração de Estudante" foram a trilha sonora daqueles dias de funerais do presidente.

Agora, Fafá declara ser torcedora de Nelsinho. Está explicado o desempenho claudicante do rapaz neste seu ano de estréia.

Pobre Felipe Massa...

Wednesday, October 22, 2008

Top model



Quer ser piloto de Fórmula 1? Quer ganhar rios de dinheiro?

Pois prepare-se. Não me refiro aos riscos de atingir velocidades acima de 300 km/h, de pilotar máquinas indóceis berrando a 19 mil giros, nem muito menos de viver feito cigano.

Isso tudo parece fácil perto da seqüência de micos públicos aos quais os pilotos são submetidos hoje em dia. Dá a impressão de que o sujeito é, antes de tudo, um garoto propaganda. Por acaso, piloto.

Nos últimos tempos, Lewis Hamilton teve de participar de um espetáculo teatral/circense no qual surgia voando, Fernando Alonso teve de vestir avental de cozinheiro e ir para a frente das câmeras fingir que preparava uma gororoba qualquer, David Coulthard passou a vergonha suprema de subir ao pódio, em Mônaco, aquela Mônaco glamourosa do príncipe, vestindo uma... capa de Super Homem, pois a equipe Red Bull estava levando uma grana para divulgar o filme. Isso sem falar em micos menores, como Nick Heidfeld pilotando um trem de metrô na Malásia ou o mesmo Heidfeld e seu companheiro Robert Kubica, abrilhantando uma degustação de queijos em algum país qualquer da Europa.

Agora, aparece esta seqüência de fotos promocionais do tênis da McLaren, protagonizada por Hamilton e Heikki Kovalainen. Não vou dizer que está ruim. Lewis trabalhou bem a musculatura nos últimos tempos, não faz feio diante das câmeras. Mas que é um mico transatlântico fazer umas poses dessas, ah, isso é. Para não mencionar o peitoral de franguinho caipira do finlandês, e mais não digo para não ferir as fãs de Heikki que freqüentam este blog.

Fico imaginando figuras como, sei lá, Clay Regazzoni, Nelson Piquet, Mario Andretti, Niki Lauda, Jody Scheckter, Jack Brabham sendo obrigados a posar para fotos desse tipo. Não, não fico imaginando. É impossível.

Por outro lado, penso que François Cevert, Graham Hill, James Hunt até poderiam encarar uma sessão do tipo, diante das câmeras.

E você, o que acha? Quem não faria? Quem faria?

Monday, October 20, 2008

Aproveita que eu tô boazinha



Well, folks, agora só tem dois na disputa pelo Mundial de Fórmula 1.

Hamilton ou Massa.

Na mensagem comemorativa aos 300 posts, abri a bolsa de apostas, que ainda incluía Robert Kubica. Como o polonês já não tem chances e estou boazinha hoje, vou aceitar a troca de palpites daqueles que jogaram suas fichas em Kubica.

Mas, por favor, concentrem os palpites no post de número 300, OK?

Sunday, October 19, 2008

O inferno são os outros

Lewis Hamilton ganhou o GP da China e ficou mais perto do título. O segredo para uma vitória tão fácil? Ausência de rivais. Mais? No GPTotal. Vai lá, vai. Depois, comente.

Friday, October 17, 2008

Turning point



Você aí, que gosta de Fórmula 1, talvez já tenha percebido que estamos vivendo um momento histórico da categoria. Uma nova geração de pilotos despontando, uma das temporadas mais disputadas de todos os tempos, novidades como o primeiro GP noturno, entre outros aspectos.

Mas, desculpe a pretensão, você talvez não tenha se dado conta de que estamos assistindo a um momento ultra-crítico da carreira de Lewis Hamilton, nascido na Fórmula 1 no ano passado, rapidamente guindado à condição de favorito em sua temporada de estréia. Se perder novamente o título, pelo segundo ano consecutivo, por erros próprios, Hamilton tende a desabar do Olimpo da Fórmula 1, caindo sem direito à apelação no submundo dos ex-futuros campeões.

A Grã-Bretanha é fértil na produção desse tipo de quase ídolo. Ainda estão por aí dois belos exemplares da espécie - David Coulthard e Jenson Button. Hamilton tem mais talento em uma das rodas que os dois juntos, em toda a carenagem. Mas é afoito, legítima vacalouca. Uma pesquisa realizada nesta semana por um jornal londrino sondou a confiança do público local na conquista do título pelo inglês - a maioria acha que Hamilton não será campeão. A pressão, naturalmente, é enorme.

Se for campeão, Hamilton sobe inexoravelmente para o panteão dos deuses da categoria. Se perder, por sucumbir ao momento e falhar, vai virar um pobre diabo. Não que perca todas as chances de ser campeão no futuro, mas vai acabar como um Nigel Mansell menos espontâneo e mais sarado, lembrado como um piloto audaz, rapidíssimo, mas excessivamente ousado, que poderia ter ganho muito mais do que conquistou.

Na sua opinião, o que será de Lewis Hamilton no final desta temporada?

Wednesday, October 15, 2008

Eu e a Fórmula 1, ano 25



A história inteira eu prometo contar no GPTotal. Por enquanto, gostaria apenas de registrar que hoje, 15 de outubro de 2008, completam-se 25 anos do segundo título de Nelson Piquet na Fórmula 1. Se o velho Nelson não parece ser o tipo de pessoa que dá muita bola para datas, eu sou o contrário.

Ainda mais porque, neste caso em especial, a efeméride faz parte da minha própria vida. Considero que foi nesta corrida, o GP da África do Sul de 1983, que me liguei inexoravelmente à Fórmula 1. Não que tenha sido meu primeiro GP, nada disso. Durante toda a infância, sempre me interessei por esportes, a Fórmula 1 entre eles.

Mas essa corrida, selando o segundo título de Piquet e prenunciando a entrada de Ayrton Senna, no ano seguinte, foi por mim adotada como pedra fundamental.

Vamos lá, meus amigos, respondam: que corrida ou que campeonato vocês identificam como suas pedras fundamentais na Fórmula 1?

Tuesday, October 14, 2008

300 - Aposte e concorra!

Com estas parcas linhas, este blog chega a seu post de número 300. O primeiro, levado ao ar em 29 de janeiro de 2006, foi "migrado" da caixa de comentários do blog do jornalista Pedro Alexandre Sanches, eterno padrinho, inspirador e instigador deste espaço.

Como naquelas propagandas de lojas de móveis e utilidades domésticas, "o blog está em festa mas quem ganha presente é você!".

Resolvi fazer uma brincadeira, com direto a prêmio.

Quem você acha que vai ser o campeão do Mundial de Pilotos de Fórmula 1 de 2008?

1) Lewis Hamilton
2) Felipe Massa
3) Robert Kubica

Responda na caixa de comentários. Entre os que acertarem, vou sortear um livro "O boto do Reno", do jornalista Flavio Gomes. Prometo total lisura no processo, com direito a foto do dia do sorteio. Se alguém da Price quiser vir auditar (de graça, claro), esteja convidado.

Bóra, gente!

Sunday, October 12, 2008

A tartaruga e a lebre


Terminado o GP do Japão, durante a transmissão da Bandeirantes-Band News FM, encerrei minha participação com o seguinte comentário: o desempenho de Robert Kubica nesta temporada faz lembrar a fábula de Esopo - "A tartaruga e a lebre".

Devagar e sempre, Kubica continua na luta pelo título, ao contrário do finlandês Kimi Raikkonen, que neste domingo deu adeus à disputa. Se Felipe Massa tem agora apenas cinco pontos de desvantagem em relação a Lewis Hamilton, é verdade que o polonês da BMW Sauber tem tarefa ainda mais dura para desempenhar. Precisa descontar doze pontos em relação ao inglês da McLaren.

Voltando ao passado.

Primeiro, o passado recente. Em 2007, faltando duas provas para o final do campeonato, Raikkonen estava 17 pontos atrás de Hamilton. Venceu na China e no Brasil, contando com dois erros do próprio Hamilton para conquistar seu primeiro título mundial.



Mas a Fórmula 1 já assistiu a outras viradas memoráveis, como a de Nelson Piquet rumo ao seu segundo título, em 1983. Vinte e cinco anos atrás, faltando também duas provas para o final, Piquet estava, como Kubica, em terceiro no campeonato. É certo que o brasileiro, naquela época, tinha desvantagem bem menor - cinco pontos em relação ao então líder Alain Prost.

Kubica, neste ano, vai se beneficiando do regulamento, que privilegia a regularidade. Em 16 corridas, o polonês só deixou de pontuar em três (Austrália, Inglaterra e Cingapura). Sete pódios - uma vitória, três segundos lugares, três terceiros. O que parece dificultar a tarefa de Kubica é a evidente inferioridade de seu carro em relação à Ferrari de Massa e à McLaren de Hamilton, algo que o distancia do feito de Raikkonen, no ano passado, que tinha um carro do mesmo nível dos rivais.

Mas um erro dos líderes aqui, uma falta de sorte ali - e 2008 consagra um improvável Kubica campeão. Será?

E você, ouviu a transmissão pela Bandeirantes-Band News? Quer comentar o trabalho da equipe comandada por Odinei Edson?

Friday, October 10, 2008

Hamilton mudou

Nos últimos três meses, Lewis Hamilton não venceu nenhuma corrida, mas conquistou 26 pontos. Felipe Massa, vencedor de duas corridas no mesmo período, somou 23. A regularidade do inglês parece comprovar uma mudança em sua estratégia. Quer mais? Vai lá no GPTotal, vai. Depois, me fala.

Thursday, October 09, 2008

Não é, mas parece (3)


Chico César é este cantor e compositor de cabelo extravagante que ficou conhecido quando sua música "À primeira vista" foi gravada por Daniela Mercury e incluída na trilha sonora de uma novela da TV Globo. (Quando não tinha nada, eu quis/ Quando tudo era ausência, esperei/ Quando tive frio, tremi/ Quando tive coragem, liguei).

Paraibano de Catolé do Rocha, Chico César oscila entre a delicadeza extrema de canções de amor como essa e a crítica social de obras como "Mama África" e "Respeitem meus cabelos, brancos".

Pouco depois do grande sucesso de "À primeira vista", também gravada pelo autor, freqüentou as rádios uma outra canção romântica chamada "Pétala por pétala". Na primeira vez que ouvi a música, cheguei a pensar que se tratava de Caetano Veloso. O timbre da voz de Chico César é, por vezes, muito parecido com o do cantor e compositor baiano. Nesta canção, além da voz, algumas construções melódicas e trechos da letra parecem muito inspirados pela obra também romântica de Caetano.



A parte final da canção - que começa com "Pétala por pétala/ Que um tolo pode colher/ Sem saber que é amor" - constrói um caminho melódico e harmônico extraordinário, em um crescendo que sugere a inquietação em não se saber se é amor o que se está sentindo, a ansiedade na busca pelo ser amado, o sofrimento por sua ausência, desaguandando serenamente na confirmação do sentimento e na súplica por sua presença, no singelo arremate "vem".

Não é de Caetano, mas ele assinaria.


"Pétala por pétala"

Chico César

A sua falta me fez ver
O que de mau a vida pode ter
E a sua volta me dá mais
De todo o mel que eu ousaria querer

Sua presença me faz rir
Nos dias feitos pra chover
Nao há revolta pra sentir
Nem há milagre pra não crer

Vinda que finda
A tinta de pintar tristeza
E deixa os mistérios plenos de sentido
A flor da vida toda

Pétala por pétala
Que um tolo pode colher
Sem saber que é amor

Vem e aumenta em mim
O único que sou
E subtrai do que em mim passou
É amor, vem...

Monday, October 06, 2008

Para gostar de ler - Esta história


Há alguns meses, quando foi realizada a mais recente edição da Festa Literária de Paraty, a Flip, deparei-me com essa obra na Livraria Cultura. Expostos, alguns livros cujos autores estavam em Paraty, para o evento. Entre eles, "Esta história", do italiano Alessandro Baricco.

Eu já havia lido algumas resenhas de livros desse autor de 50 anos, mais conhecido pelo romance "Seda", que também estava na mesa "promocional" da livraria, naquela tarde. No entanto, não havia hipótese de meus olhos não serem magnetizados pela capa de "Esta história", mostrando uma miniatura de um carro de corrida antigo, com piloto a bordo, de capacete e luvas.

De cara, achei o título do livro risivelmente pobre. Ora, "Esta história"... Qualquer livro poderia assim chamar-se. E, depois de lido, persistiu a impressão: de tudo, a pior coisa do livro é justamente seu título. Baricco, nas notas finais, expõe-se com transparência - não transita no mundo da velocidade, pouco parece saber sobre corridas, equipes e pilotos. O que não o impediu de escrever um romance complexo, envolvente e, sobretudo, muito bem escrito, que tem no automobilismo apenas seu pano de fundo.

O livro tem uma estrutura heterodoxa. Cinco longos capítulos, mais uma introdução, aqui chamada de "Ouverture", e um epílogo. Cada um desses trechos é escrito sob a ótica de um eu-narrador diferente. Personagens que vivenciam fases da vida do protagonista, o italiano Ultimo Parri, cuja existência foi marcada, desde sempre, por carros, corridas e circuitos.



A introdução narra uma famosa corrida disputada no início do século passado, em 1903, entre Paris e Madri. Narração algo desconexa, sobreposição de imagens não necessariamente lineares, com o nítido objetivo de criar a sensação de velocidade e vertigem, como se o leitor de tornasse um espectador à beira da estrada, nas precárias condições em que as provas pioneiras eram disputadas.

Nos capítulos seguintes, a história propriamente dita se desenrola, com a infância do protagonista, a decisão de seu pai de vender as vacas leiteiras da família para montar uma oficina - em um lugar onde não havia estradas, muito menos carros. Em um segundo momento, o narrador passa a ser o pai de um colega de Ultimo, morto na Primeira Guerra. É naquele ambiente limite, o front de guerra, descrito pelo pai enlutado, que o protagonista consolida seu sonho de construir uma pista de corrida.

O sonho se realiza algumas décadas depois, quando Ultimo, tornado rico graças a uma inesperada herança, compra uma velha pista de pouso na Inglaterra e ali constrói seu improvável autódromo. Antes de chegar lá, no entanto, envolve-se com a exilada russa Elizaveta, que acaba se tornando o principal fio condutor da narrativa, e a própria conclusão da história, ao empreender anos de sua vida - e páginas da obra - para encontrar a pista de seu antigo amor.

Quem é tarado por corrida, que saiba desde já: não é um livro sobre automobilismo. É um livro diferente, com uma estrutura complexa, com narrativas se sucedendo sem uma lógica linear. Imerso em conceitos do automobilismo, "Esta história" é um livro quase existencialista. A riqueza do texto e a habilidade do autor em lidar com visões tão díspares de uma mesma história valem a leitura.

Wednesday, October 01, 2008

Kimi Capitu


Nesses dias de centenário de Machado de Assis, "Dom Casmurro" na cabeça. O cerne dessa obra machadiana - afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? - bem que poderia fazer eco na Fórmula 1.

(Lá vai a Alessandra e suas viagens...)

Capitu é descrita como tendo um "olhar de cigana oblíqua e dissimulada".

Pois às vezes me pergunto se Kimi Raikkonen não está sendo mais dissimulado do que a própria Capitu de Machado. Ora, vejamos.

Kimi não tem feito uma temporada excepcional, mas só deixou de ter chances ao título na última corrida.

Seguidamente, tem feito a melhor volta das provas, mostrando que não desaprendeu para que serve o pedal da direita. Como se dissesse, a toda corrida: "Vejam, quando eu quero, eu acelero."

Aqui e acolá, pipocam referências à ajuda que Kimi pode dar a Massa, para a conquista do título.

Ora, que ajuda Kimi pode dar, se está sempre largando atrás de Massa, se não tem brigado por vitórias desde a Bélgica, se levanta dúvidas quanto a ser um segundo piloto menos eficiente que Heikki Kovalainen?

Será que Kimi quer bancar o segundo piloto? Será que ele não está, como se diz na linguagem futebolística, fazendo corpo mole?



Pela expressão de seu rosto, jamais saberemos. Esse parece ser cria legítima de Capitu. Haja dissimulação.

Não é, mas parece (2)


Seguindo a série de posts sobre músicas que não são de um artista, mas poderiam ser, selecionei uma que é tão óbvia, mas tão óbvia, que o próprio artista "original" percebeu a referência, foi lá e gravou a canção.

A música é "Resposta", parceria entre Samuel Rosa, vocalista do Skank, e Nando Reis.

É até engraçado que dois compositores tão ligados ao rock, com influências tão perceptíveis de artistas mais hardcore, tenham produzido juntos algo com tanta cara do "Clube da Esquina".

O Skank lançou "Resposta" em 1998, no CD Siderado. A música foi um dos maiores sucessos do disco, assim como "Saideira". Conta Milton Nascimento que, certa vez, ouviu "Resposta" no rádio e ficou embasbacado. "Era como seu eu tivesse composto aquilo, naqueles tempos do 'Clube da Esquina', com Lô Borges, por exemplo", disse o falso mineiro.



A própria referência de Milton é auto-referente! No disco Anima, de 1982, Milton gravou "Certas Canções", que começa assim: "Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim que perguntar carece como não fui eu que fiz." Esta "Certas Canções", como tantas outras escritas por Milton, tinha sido idealizada para a voz de Elis Regina, que morreu no começo daquele ano de 1982. Milton habitualmente se refere a Elis, que era "só" intérprete, como co-autora das músicas que gravava, pois sua interpretação conferia tanta personalidade à música que era como se ela mesma as tivesse composto.

Cerca de dois anos depois da gravação de "Resposta", pelo Skank, Milton foi participar ao vivo do programa "Domingão do Faustão", na TV Globo. Perguntando sobre o começo da carreira de Milton, o apresentador se interessou pelo fato de que ele tinha sido crooner de orquestra, e pediu para o cantor/compositor lembrar algumas músicas que costumava cantar "nos bailes da vida". Ao deixar o palco, Milton tinha seu CD seguinte todo na cabeça - faria um CD apenas com músicas de outros compositores, revivendo um pouco seu ofício de vocalista de banda.

Foi assim que ele gravou "Resposta", e como a referência a Lô Borges havia se cristalizado desde o começo, chamou o amigo para dividir os vocais. Alguns meses depois, durante a entrega de um prêmio, reuniram-se no palco Milton, Lô, Samuel Rosa e Nando Reis para cantar "Resposta".

A ligação mais direta da canção com o universo "Clube da Esquina" talvez esteja no próprio Samuel, que é mineiro e, apesar de roqueiro arretado, não deixa de transparecer muita influência tropeira, cigana (by PAS), contemplativa em algumas de suas canções, especialmente nas baladas. A letra, ao que parece, foi composta por Nando Reis, que acrecenta pitadas daquele existencialismo meio hermético que o leva a criar achados como "desfaz o vento o que há por dentro, deste lugar que ninguém mais pisou". Frases lindas, poéticas, bem sujeitas a interpretações múltiplas - o que será que isso quer dizer? Diga você! É como tentar decifrar o que é "O segundo sol", outra de suas criações. Pode ter algum sentido original, mas também pode se prestar à sua própria interpretação.

Resposta
Samuel Rosa / Nando Reis

Bem mais que o tempo
Que nós perdemos
Ficou prá trás
Também o que nos juntou...

Ainda lembro
Que eu estava lendo
Só prá saber
O que você achou
Dos versos que eu fiz
E ainda espero
Resposta...

Desfaz o vento
O que há por dentro
Desse lugar
Que ninguém mais pisou...

Você está vendo
O que está acontecendo
Nesse caderno
Sei que ainda estão...

Os versos seus
Tão meus que peço
Nos versos meus
Tão seus que esperem
Que os aceite...

Em paz eu digo que eu sou
O antídoto do que vai adiante
Sem mais eu fico onde estou
Prefiro continuar distante...