quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Foi lançado o caderno temático "Cataventos do Concelho de Moura"









A biblioteca da Casa do Alentejo em Lisboa acolheu no passado dia 29/10/2024 o lançamento e a 1.ª apresentação pública do caderno temático da Aldraba "Cataventos do Concelho de Moura".

O ex-presidente da Câmara Municipal de Moura e atual diretor do Panteão Nacional, Santiago Macias, brindou os presentes com uma inspirada apresentação do tema, acompanhada de notas pessoais sobre a importância destes objetos na identidade das populações, e da relevância dos trabalhos de investigação como este na preservação das memórias.

Os dois co-autores, os nossos companheiros Luís Maçarico e Ana Isabel Veiga, expuseram depois o percurso, as dificuldades encontradas e a forma como as superaram, na execução deste seu trabalho.

A assistência interagiu de forma muito rica com a mesa.

Irão seguir-se novas apresentações deste caderno temático na cidade de Moura e nas vilas de Cuba e de Idanha-a-Nova, cuja marcação está a ser tratada com amigos dessas localidades. 

JAF (texto e fotos)

 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

O "peixe-diabo-negro" descoberto nas costas da ilha da Madeira




A ALDRABA está atenta ao património natural do nosso país, e às notícias que lhe dizem respeito. Assim, pela curiosidade que contém este episódio da nossa história natural, reproduzimos uma reportagem publicada no "Diário de Notícias" sobre a descoberta na Madeira, em 1885, de um peixe com aspeto causador de terror, que ficou designado por "Melanocetus johnsonii", em honra do cientista inglês que o descobriu, James Yate Johnson: 

Dos mares da Madeira emergiu no séc. XIX um “diabo” aquático

Costa norte da ilha da Madeira, freguesia de São Vicente, ano de 1885. Um intrépido naturalista inglês desce ao cerne da terra. Os habitantes do lugar informaram o cientista da existência da boca de uma gruta rasgada na rocha de origem vulcânica. A placidez do lugar, um vale viçoso a correr em direção ao Atlântico, engana o tumulto da sua história pretérita. Há 890 mil anos, uma erupção vulcânica ocorrida a sul, nas alturas do Paul da Serra, lançou torrentes de lava rumo ao litoral. Do cataclismo nasceria uma rede de túneis. James Yate Johnson, nascido em 1920, então com 65 anos, não hesitou perante o negrume das mais tarde batizadas Grutas de São Vicente. Entrou na bocarra de origem vulcânica e assumiu a descoberta oficial do lugar. Johnson apaixonara-se pela Madeira muitos anos antes, em 1851.

Nas décadas seguintes, o britânico percorreria milhares de quilómetros nos caminhos madeirenses. Também singrou no mar. O clima suave do território contrastava com a aspereza da Kendal natal de Johnson, localidade do noroeste de Inglaterra. Peixes, ouriços-do-mar, crustáceos, esponjas, aranhas terrestres, flores e musgos, tudo serviu o interesse e a curiosidade científica de James Yate. Um afã que levou o naturalista a recolher espécimes para catalogação própria, mas também a pedido de colegas naturalistas como George Busk, paleontólogo e botânico britânico de origem russa.

Seria do mar, a 24 de dezembro de 1863, que James Yate Johnson colheu a criatura que alimentou a matéria para inúmeros manuais de zoologia nos anos seguintes. Já nas mãos do responsável de zoologia do Museu de História Natural de Londres, o zoólogo Albert Günther, o ente marinho com pouco mais de dez centímetros de comprimento e a pesar cerca de oito gramas, mereceu a primeira descrição da sua morfologia, sintetizada nos seguintes termos: “Este peixe singular distingue-se pela desproporção das várias partes do corpo (...), a cabeça, de forma tetraédrica, é a parte mais extensa de todo o animal. A boca é enorme (...) A extensibilidade lateral da boca não é menor do que a vertical; de modo que a presa que aí é recebida pode exceder o tamanho do próprio peixe”.

As palavras vertem da obra de 1885, The Annals and magazine of natural history; zoology, botany, and geology (vol. 15). O animal em questão seria classificado pela ciência como Melanocetus johnsonii, em honra do cientista que o descobriu. À vista, a criatura parece-nos saída de um conto de terror lovecraftiano. O também denominado Peixe-Diabo Negro, é um ser abissal, habita profundidades até ao 1,5 Km, na zona batipelágica, onde a temperatura média ronda os 4°C e a pressão atinge os 400 Kg por cm2. A vida do Melanocetus johnsonii decorre em regiões afastadas do olhar humano. O pequeno peixe com um comprimento máximo de 18 cm, disseminado em todos os oceanos, atrai as presas com um falso isco luminoso bolboso que lhe eclode do focinho. As fêmeas apresentam olhos subcutâneos, enevoados, e exibem um espinho curto na barbatana dorsal. A pele e os dentes excretam um dos venenos mais letais para as criaturas marinhas. A toxina botulínica causa paralisia muscular, eventual paralisia do sistema respiratório, a anteceder a morte.

Entre os inúmeros mistérios a envolver a existência do Melanocetus johnsonii, um deteve a atenção de ictiólogos ao longo de décadas. Nenhum macho deste peixe das profundidades fora capturado. Em 1924, o britânico Charles Tate Regan percebeu a existência de um pequeno peixe que parasitava um exemplar da criatura descoberta cerca de 60 anos antes por James Yate Johnson. Regan percebeu tratar-se de um macho de Melanocetus johnsonii em processo de reprodução. Esta espécie conta com um dos mais notáveis exemplos de dimorfismo sexual, com a ocorrência de indivíduos do sexo masculino e feminino de uma espécie com características físicas não sexuais marcadamente diferentes. O macho do Peixe-Diabo Negro não mede mais de 3 cm e depende da fêmea para se alimentar.

Em 2014, a comunidade científica saudou as filmagens que chegavam das profundidades do mar ao largo do estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Um espécime de Melanocetus johnsonii fora filmado, pela primeira vez, no seu habitat. O submersível Doc Ricketts, operado pelo Monterey Bay Aquarium Research Institute, captava num filme de poucos segundos o carácter extraordinário do peixe.

James Yate Johnson morreu na cidade do Funchal no ano de 1900. Permaneceu no arquipélago atlântico perto de cinco décadas, sem esconder a afeição pelo território. Em 1860, escreveu o guia para viajantes Madeira, its climate and scenery, um detalhado manual para conhecimento das ilhas. Geografia física, conselhos médicos, história, gentes, monumentos, paisagem e jardinagem, clima, zoologia, entre inúmeros temas, perpassam as páginas do livro. Não faltam curiosidades. Nos idos da década de 1860, a viagem entre o Funchal e a Calheta era périplo para oito horas e amiúdes paragens para descanso dos viajantes.

Jorge Andrade, DN, 21/10/2024

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Caderno temático "Cataventos do Concelho de Moura" lançado na Casa do Alentejo na 3ªf, dia 29/10/2024, às 18h


 










É com a maior satisfação que anunciamos para o próximo dia 29 de outubro de 2024, 3.ª feira, pelas 18 horas, o lançamento público do caderno temático n.º 2, que a nossa associação acaba de editar, com o título "Cataventos do Concelho de Moura".

Assim se concretiza um objetivo fixado no nosso Plano de Atividades para o corrente ano de 2024, e por cuja materialização nos vínhamos batendo há bastante tempo.

Este caderno temático consiste numa publicação etnográfica de 75 páginas, profusamente ilustrada (com 30 páginas de fotografias a cores), da autoria dos antropólogos Ana Isabel Veiga e Luís Filipe Maçarico, e prefaciada pelo também antropólogo Eddy Chambino.

A apresentação estará a cargo do historiador Santiago Macias, antigo Presidente da Câmara Municipal de Moura, arqueólogo no Campo Arqueológico de Mértola e atual Diretor do Panteão Nacional.

A sessão de lançamento terá lugar na biblioteca da Casa do Alentejo, na Rua das Portas de Santo Antão, 58, em Lisboa.

Apela-se à comparência e participação de todos os associados e amigos, e à vossa colaboração na divulgação do evento.

JAF

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Nomes de localidades em azulejos (cont.43)







Desta vez, a Aldraba foi desencantar uma nova placa toponímica do Automóvel Club de Portugal na povoação vinícola de Runa.

Runa é uma localidade da atual União de Freguesias de Dois Portos e Runa, no concelho de Torres Vedras, do distrito de Lisboa e da atual sub-região do Oeste.

Com a divulgação desta placa, passamos a averbar um total de 176 placas toponímicas publicitadas, situadas em 83 concelhos do país e na totalidade dos 18 distritos do continente.

Mantem-se o total de 158 localidades diferentes aqui representadas, pois já havíamos publicitado uma primeira placa de Runa, em 17.8.2011 - aliás, em muito melhor estado de conservação do que a de hoje...

JAF



sábado, 12 de outubro de 2024

As trouxas da Malveira



Segundo a Wikipédia, “as trouxas da Malveira são um tipo de bolo, de origem conventual, que consistem em tortas ou travesseiros, de pequenas dimensões, recheadas com um creme de baunilha e frutos secos.  É uma prestigiada e antiga iguaria doce da região de Mafra, com uma grande aceitação por parte de toda a população, representando assim um testemunho etnográfico da cultura saloia local”.

“… A confeção destes bolos consiste, inicialmente, na preparação de uma massa de torta, que se assemelha a um pão de ló, com ovos, farinha, açúcar e fermento. Posteriormente, corta-se a massa em pequenos retângulos que se recheiam com um creme abaunilhado, feito a partir de leite, ovos, baunilhafrutos secos (amêndoas torradas), entre outros ingredientes”.

“… As trouxas da Malveira derivam de uma receita conventual, originária do Convento de Odivelas, inicialmente denominadas de “tortinhas de amêndoa”. Foram levadas até á Malveira pela D. Emília Sousa Antunes, que trabalhava para as freiras do convento, juntamente com D. Teresa, amiga de D. Emília e doceira do convento. D. Emília fundou e estabeleceu, na vila da Malveira, terra onde nasceu, a Fábrica das Trouxas da Malveira, em 1906”.

“… A denominação destas pequenas tortas recheadas com um creme abaunilhado, surge da admiração de D. Emília pela sua mãe, que trabalhava como lavadeira para as senhoras de Lisboa, pois estes bolos fazem lembrar as trouxas de roupa levadas na cabeça das lavadeiras”.

Reproduzimos agora um folheto promocional da Fábrica das Trouxas:

“Maria Celeste Esteves França da Costa conta: ‘A minha tia-avó, Emília Sousa Antunes, fundou a Fábrica das Trouxas da Malveira em 1906. Começou por fazer pastéis de grão, mas porque a sua mãe era lavadeira, lembrou-se de fazer um doce com a forma de uma trouxa de roupa’”.

“Em 1922, Maria Emília Antunes Lopes Esteves, sobrinha de Emília Sousa Antunes, é a nova diretora da Fábrica. A marca é registada em 1945. Nessa época, o Carnaval de Torres Vedras trazia verdadeiras multidões à Fábrica da Malveira. Quatro pasteleiros iniciavam o processo de bater a massa logo de madrugada, para que pudesse ser retirado do forno um tabuleiro de trouxas de três em três minutos”.

JAF