terça-feira, 30 de abril de 2024

O número 35 da revista "Aldraba" está no prelo

 

Encontra-se na gráfica para impressão o n.º 35 da nossa revista, que contamos esteja concluído e disponível para distribuição dentro de dias.

Também muito em breve anunciaremos a sessão pública de lançamento.

Sumário do n.º 35 da "Aldraba":

EDITORIAL


Mulheres bem-comportadas raramente fazem história


Marta Barata

 

OPINIÃO


Um “ex-voto” singular


J. Fernando Reis Oliveira

A minha vivência no 25 de Abril de 1974

Carlos Fernandes Maria

LUGARES DO PATRIMÓNIO

A mulher rural e o 25 de Abril

Carlos Vicente

Higiene ou sua ausência nas aldeias, nos anos 60 do séc. XX

Jorge Branco

ASSOCIATIVISMO E PATRIMÓNIO

As colectividades de Alcântara

Luís Filipe Maçarico

Associações, grupos e outras coletividades com que a associação Aldraba interagiu


José Alberto Franco

 

SONS COM HISTÓRIA


“Orfeu é o Deus da música e da poesia” – Arnaldo Trindade


Ana Isabel Veiga

 

VULTOS A ADMIRAR

Alexandre O´Neill – poeta da ironia e do riso

João Coelho

CRÓNICAS DO QUOTIDIANO

A Studywing faz 10 anos

Patrícia Melro

A experiência da Mariana

Susana Andrade

Lisboa das muitas e variegadas gentes

Nuno Roque da Silveira

ALDRABA EM MOVIMENTO


Novembro de 2023 a Abril de 2024


José Alberto Franco









terça-feira, 23 de abril de 2024

MULHERES BEM-COMPORTADAS RARAMENTE FAZEM HISTÓRIA












Pré-publicação do editorial do n.º 35 da revista ALDRABA, que se encontra no prelo:

A Aldraba nasceu há 19 anos, no dia 25 de Abril, no regaço da Revolução de 1974 que agora comemora os seus 50 anos!

Quero hoje lembrar as sábias palavras da nossa querida e saudosa dirigente Maria do Céu Ramos que, em abril de 2014, neste mesmo espaço, escreveu sobre o papel da Aldraba: “Só preservamos o que conhecemos e amamos. O nosso contributo para o desenvolvimento é este”. Sendo a nossa matriz a preservação da memória, registe-se então um breve apontamento sobre Mulheres.

Como alguém disse: “Mulheres bem-comportadas raramente fazem história”.

Em 1975, decorria o Ano Internacional da Mulher, um pequeno grupo de mulheres organizou uma intervenção pública feminista. Pretendiam as autoras, simbolicamente, demonstrar o que sentiam ser o lugar atribuído às mulheres na sociedade portuguesa ainda nessa data. Uma sociedade vista como profundamente redutora, de um conservadorismo há muito ultrapassado em quase todo o ocidente e até mesmo nas capitais das ex-colónias.

Viviam-se tempos de grande fervor revolucionário. Tudo era questionado: a paz, a educação, a saúde, a habitação, a economia. Tudo. Tudo, menos a condição da mulher portuguesa e qual o seu lugar na nova sociedade saída da Revolução.

Como se veio a provar, a sociedade portuguesa não parecia estar ainda preparada para este embate e, por muito tempo, permaneceu machista, ultraconservadora e profundamente opressora no que às mulheres diz respeito.

Esta intervenção pública, que decorreu a 13 de janeiro (quase um ano após o 25 de Abril e do extraordinário julgamento das 3 Marias), marcará tristemente o percurso da Revolução dos Cravos. Um desfecho humilhante e traumático para tão corajosa ação.

Resumidamente, um restrito grupo de mulheres, algumas com os filhos pequenos pela mão, dirigiu-se ao Parque Eduardo VII no intuito de realizar uma simbólica ação performativa.

Algumas, munidas de cartazes, outras caracterizadas com visuais estereotipados: vamp, enfermeira, professora, doméstica, noiva... queriam, no espaço público, denunciar o papel que lhes cabia na sociedade: ser filhas obedientes, castas noivas, esposas dedicadas, trabalhadoras abnegadas ou mulheres fatais, em suma, cuidadoras atentas, pacientes, dóceis e, sempre, submissas ao homem. 

O final da performance, que não chegou a acontecer, culminaria na destruição da coisificação que as agrilhoava, símbolos simples, mas comuns e entendíveis por todos, como por exemplo, aventais, revistas pornográficas e até o próprio Código Civil. Mas acabou por ser “um desastre”. No local encontravam-se mais de dois mil homens à espera.
 Todas foram aviltadas, ofendidas verbal e fisicamente. Todas não... a noiva ficou incólume!

Lembro bem este acontecimento, apesar dos meus cinco anos. Um pai de três meninas pequenas chegou a casa no final desse dia, cheio de soberba (teria participado também?), a relatar o sucedido. Não precisamos exatamente quais as palavras, mas ficou a pairar a ameaça: “tiveram o que pediram”. Era este homem de esquerda e profundamente empenhado na ação revolucionária. “Tinha acontecido o 25 de Abril, mas a mentalidade não tinha mudado”.

Muito foi conquistado desde então. As mulheres têm sabido exigir o seu lugar na sociedade e na vida, a distância na paridade de géneros é vertiginosamente menor e, contudo, ainda significativamente acentuada.

Os atuais números sobre a violência exercida sobre as meninas e mulheres são reveladores de que ainda há muito caminho a percorrer. Prova disso é o mito que teima em prevalecer sobre este triste episódio e que ainda hoje é lembrado como o dia em que as mulheres foram para o Parque Eduardo VII “queimar sutiãs”!

Escrevo este texto e não me sai da cabeça que uma “Mulher na Democracia não é biombo de sala”, o refrão do cantautor que, entre tantos que me acompanham, soube tão bem expressar o amor à liberdade.

Saímos há poucos dias de umas eleições legislativas em que o escrutínio do povo foi expressivo de mudança para um retrocesso que já parece evidente. Após a revisão em 2019 da Lei da Paridade, que fixou em 40% a percentagem mínima na Assembleia da República para cada um dos sexos nas listas eleitorais, em 2024 apenas 76 mulheres, 33,0%, ocupam os 230 mandatos atribuídos (em 2022 tinham sido eleitas 85 deputadas, representando 36,9% do Parlamento).

Hoje, tal como antes, existem avanços e recuos aos direitos conquistados. Nunca como agora a nossa Constituição de 1976 deve ser protegida, defendida e cumprida.

Viva o 25 de Abril... Sempre!

Marta Barata