Quem viveu os anos cinquenta do séc. XX em Alvalade, bairro de Lisboa que recentemente se construíra, certamente estará recordado da modesta pastelaria de nome Bagdá (assim mesmo se escrevia, ainda que se referisse e homenageasse a cidade de Bagdade) aberta ao público na Rua Acácio de Paiva, lá ao cimo do lado esquerdo, antes de se chegar à Rua Luís Augusto Palmeirim.
A grande atracção era uns quadrados, que o Sr. Gonçalves cortava de um enorme tabuleiro normalmente mantido num frigorifico, sendo que aí, por cima de uma base de pão de ló, havia um belíssimo creme de chocolate (que mais tarde viria a ser designado vulgarmente de "mousse"), coberto esse mesmo por uma camada de pão de ló fininha ainda barrada levemente de um pouco do dito creme.
Custava esse bolo quinze tostões, um bom bocado mais caro do que os outros vulgares, que se adquiriam por doze tostões. Mas valia a pena. Eu aguardava por vezes que o Sr. Gonçalves vendesse todo o conteúdo de um tabuleiro e repimpava-me, com sua autorização, a rapar os copiosos restos que lhe ficavam agarrados.
Depois da minha criteriosa “limpeza”, a Srª. D. Lina tratava do resto, silenciosamente. Ela era o contrário do marido, trabalhando incansavelmente, limitando-se a isso mesmo. Ele era o artista que, ainda que com alguma modéstia, gostava de explicar as voltas a que a sua obra de arte obrigava.
A pequenez da loja e a simplicidade do local não estavam de acordo com o sucesso merecido, de modo que o casal passou para a Avenida da Igreja à esquina com a Rua José Duro, do lado direito de quem sobe. E o nome passou a ser de “Nova Bagdá”. Era uma pastelaria/café, já com dimensão, que, albergando um bom conjunto de mesas, logo passou a ser o nosso local de estudo e... de deleite: os “Bagdás” , como o Sr. Gonçalves lhes chamava, eram atracção, não só nossa, mas de cada vez maior clientela. Julgo que depois este tipo de bolo se vulgarizou como “Garibaldi".
Custava esse bolo quinze tostões, um bom bocado mais caro do que os outros vulgares, que se adquiriam por doze tostões. Mas valia a pena. Eu aguardava por vezes que o Sr. Gonçalves vendesse todo o conteúdo de um tabuleiro e repimpava-me, com sua autorização, a rapar os copiosos restos que lhe ficavam agarrados.
Depois da minha criteriosa “limpeza”, a Srª. D. Lina tratava do resto, silenciosamente. Ela era o contrário do marido, trabalhando incansavelmente, limitando-se a isso mesmo. Ele era o artista que, ainda que com alguma modéstia, gostava de explicar as voltas a que a sua obra de arte obrigava.
A pequenez da loja e a simplicidade do local não estavam de acordo com o sucesso merecido, de modo que o casal passou para a Avenida da Igreja à esquina com a Rua José Duro, do lado direito de quem sobe. E o nome passou a ser de “Nova Bagdá”. Era uma pastelaria/café, já com dimensão, que, albergando um bom conjunto de mesas, logo passou a ser o nosso local de estudo e... de deleite: os “Bagdás” , como o Sr. Gonçalves lhes chamava, eram atracção, não só nossa, mas de cada vez maior clientela. Julgo que depois este tipo de bolo se vulgarizou como “Garibaldi".
Texto de Nuno Roque da Silveira
(excerto do artigo "Grandes artistas do efémero", que vai sair no nº 8 do boletim "ALDRABA", actualmente na tipografia)