Turista?
A casa onde
nasci, ficava a beira do Igarapé de Manaus. Quando o rio Negro enchia muito o
quintal virava uma piscina natural. Diziam. Nunca vi. Pois, com dias de nascido
minha avó materna me levou para a fazenda Iracema, no Amatari, onde morava, e
lá me criou até os oito anos de idade. A viagem foi de lancha e devia durar
umas seis ou oito horas, rio Amazonas a baixo.
Quando voltei
para Manaus, para estudar, a família não morava mais na casa da Rua Joaquim
Nabuco, a beira do Igarapé, mas na Rua Epaminondas, longe do rio. Casa, na qual,
sofri a minha adolescência. Parece que essas duas primeiras viagens marcaram
muito a minha futura visão de mundo. Pois um dos passeios solitários que mais
gostava de fazer era: visitar o “Roadway”, principalmente nos dias de chegadas
ou partidas de navios.
No Ginásio, era
apaixonado pelas aulas de geografia do professor Agnelo Bittencourt. Passei a
gostar de mapas. A poesia de Branca Menescal de Vasconcelos me apresentou o
mar. Ansiei por conhecê-lo. Até que um dia tomei um navio no norte (parodiando Caimy)
e vim a Fortaleza, onde tinha parentes. E
conheci os verdes mares bravios... de Alencar. E entendi também que viajar era
preciso.
Quando comecei a
trabalhar pra valer, passava o ano inteiro juntando uns trocados para nas
férias fazer uma viagem. Os meus colegas de trabalho, no Rio, diziam que eu era
como os componentes das escolas de samba. Eles passavam o ano inteiro
economizando para o carnaval, eu, para as viagens.
Assim, viajei o
Brasil, de norte ao sul, de leste a oeste. Viajei, não, ainda viajo. Creio que
não há no mundo país mais mutante que o Brasil. Cinco anos de ausência – e o
lugar já não é o mesmo. Ainda que as cidades não mudem, creio que nunca se faz
a mesma viagem. Cada viagem é uma nova viagem. Ninguém vê tudo. Principalmente
nos lugares onde as estações são bem definidas.
Ganhei o título
de turista. O que sempre me propus ser. Não o “Turista Aprendiz”, de Mário de
Andrade, talvez, um turista apressado, tout court.