Feira Livre
Feira
livre. Há quem as condene. Dizem que atrapalha o tráfego, faz muito barulho
desde a madrugada, provoca mau cheiro, transtorna a vida dos moradores das
casas, nas ruas em que elas se instalam. Mas estou quase certo de que esses
mesmos esperam a hora da xepa para comprar os seus artigos mais baratos. É um
passeio capaz de despertar todos os sentidos e paladares.
A
variedade de cores das pirâmides de maçãs, laranjas, tangerinas, mangas; o
amarelo dos melões, o vermelho das talhas de melancia, a variedade de mamões. O
degradê vermelho, amarelo e rosa dos pêssegos, o arroxeado dos figos ordenados
dentro de pequenas caixas de madeira, assim como a sensualidade dos morangos,
aguardando a nossa gulodice. Quiabos, maxixes, jilós; xuxus, beringelas,
abóboras; arroz, feijão, lentilha; alface, couve, cebolinha...e as carnes:
porco, boi, aves, peixes; embutidos diversos...utensilhos de cozinha; ervas
para todas as finalidades; pimentas em espécie e conserva. O assédio, ora
dengoso ora engraçado, dos vendedores, apregoado em prosa, verso e música - é
poesia, irresistível.
Me
refiro as feiras do Rio e de São Paulo. Onde há muito mais opções de frutas,
legumes, verduras, flores, comestíveis em geral. Fico imaginando os adeptos da
comida politicamente correta, ao virem porcos, bois, carneiros esquartejados,
aves depenadas, os olhos vítreos dos peixes, fitando-os. Vegetarianos, avante,
contra os ímpios! E as ervas, os legumes, as verduras, os tubérculos não foram
arrancados e retalhados também? Não vivem? Há pessoas que dizem falar com as
plantas e que elas se não as respondem, sentem. Ora direis, falar com plantas.
De certo perdeste o senso. Falai com elas e ouvirás os seus gemidos quando com
faca afiada as retalham para a vossa deliciosa salada. Eu que sou
declaradamente ímpio, me delicio com carnes, aves, abóboras e até jilós.