Ela, querendo encostá-lo à parede, procurava um beijo.
Ele, mais por pudor do que por falta de vontade, olhava em volta, atrapalhado, comprometido, sabe-se lá com o quê, sabe-se lá porquê.
Um jovem de manga curta empurrava compenetrado um carrinho de bébé carregando um petiz. O miúdo envergava um garrido barrete andino e, gozando a feliz circunstância da infância, sorvia visualmente tudo o que se lhe oferecia em redor.
Mudei a mala de ombro.
Segui caminho.
Na praça de táxis entremeavam-se mágoas carpidas e prognósticos para o jogo do Sporting.
Um pouco mais à frente, um desses novos nichos passíveis de análise antropológica e sociológica: os grupos de pessoas que se agregam para fumar um cigarro à porta dos prédios onde trabalham.
Uma senhora, de blusão de pele, saia curta e meias de renda, auto-contemplava-se. Quando reparou que eu olhava, sorriu. Um daqueles sorrisos que diz: "sou muito gira!". Mandei-lhe, na volta do correio, outro sorriso. Um daqueles que diz: "claro que és!".
Ao dobrar da esquina, uma velhinha de andarilho expressava facialmente aquele misto de cansaço e de desespero de quem não se vê chegar ao destino. Pensei: "Força, irmã!"
A vida pode não ser um mar de rosas. Ainda assim, e avaliando tudo o que nos é oferecido aproveitar ou desaproveitar, consciente ou inconscientemente, cada vez mais me convenço de que o pior inimigo que podemos ter reside dentro de nós próprios.
Sejamos bons. Sejamos cada vez melhores e até tudo em nosso redor adquirirá um brilho de renovado fulgor.
Hoje estou feliz! Vou rever um grande amigo.
É seguir a canção: "(...) vive, como por magia, a vida num só dia."
A vida num só dia
Rádio Macau
19 abril 2012
22 março 2012
Retalhos de um dia improvável
Um almoço:
Restaurante XXX (não interessa o nome), gerido por um senhor de provecta idade e suas duas filhas, moçoilas na casa dos trintas.
Repto lançado por um cliente:
- Ó Daniela (nome fictício)... está na berra um restaurante onde as empregadas andam a servir à mesa de lingerie e em topless.
Resposta pronta:
- Olha que boa ideia, eu e a minha irmã nesses propósitos. Até lhe arranjava uma mesinha mesmo ao pé do meu pai que, entretanto, estaria ao grelhador, de tanga padrão leopardo, a virar frangos no carvão.
Um café depois de almoço:
Bar da Biblioteca Nacional (não... não é fictício).
Eu ao balcão, duas empregadas a atender. Cavaqueira séria. O tema: celulite.
- Xiii, nem te digo. Sou uma desgraçada. É bués, aqui nas nalgas.
- Eu, nem por isso. Só uma beca aqui nas gambas (disse, batendo com as mãos nas coxas).
E o edifício, esse santuário da língua de Camões, sofreu um convulsivo estertor. Era, certamente, o reflexo telúrico do poeta às voltas na cova.
Restaurante XXX (não interessa o nome), gerido por um senhor de provecta idade e suas duas filhas, moçoilas na casa dos trintas.
Repto lançado por um cliente:
- Ó Daniela (nome fictício)... está na berra um restaurante onde as empregadas andam a servir à mesa de lingerie e em topless.
Resposta pronta:
- Olha que boa ideia, eu e a minha irmã nesses propósitos. Até lhe arranjava uma mesinha mesmo ao pé do meu pai que, entretanto, estaria ao grelhador, de tanga padrão leopardo, a virar frangos no carvão.
Um café depois de almoço:
Bar da Biblioteca Nacional (não... não é fictício).
Eu ao balcão, duas empregadas a atender. Cavaqueira séria. O tema: celulite.
- Xiii, nem te digo. Sou uma desgraçada. É bués, aqui nas nalgas.
- Eu, nem por isso. Só uma beca aqui nas gambas (disse, batendo com as mãos nas coxas).
E o edifício, esse santuário da língua de Camões, sofreu um convulsivo estertor. Era, certamente, o reflexo telúrico do poeta às voltas na cova.
11 janeiro 2012
Dizem-me
As tuas mãos são humildade.
Os teus lábios, gozo e sabedoria.
Os teus olhos são mistério.
As tuas mãos gostam de mim.
Os teus lábios tratam-me bem.
Mas os teus olhos, os teus olhos estão longe.
Lá, tão longe, onde o teu corpo não chega mas onde só tu sabes onde, se é que o sabes.
Alio (Mazurka)
Naragonia
Os teus lábios, gozo e sabedoria.
Os teus olhos são mistério.
As tuas mãos gostam de mim.
Os teus lábios tratam-me bem.
Mas os teus olhos, os teus olhos estão longe.
Lá, tão longe, onde o teu corpo não chega mas onde só tu sabes onde, se é que o sabes.
Alio (Mazurka)
Naragonia
24 dezembro 2011
21 dezembro 2011
Sacrilégio
É ou não um sacrilégio estar fechado em casa a trabalhar, abrir a janela, deixar entrar uma brisa de mar e sentirmo-nos obrigados a ficar entre quatro paredes, porque o tempo é curto e os compromissos académicos não se compadecem com estes apelos da água?
Estava melhor na ponta de um esporão da Costa.
São estas pequenas coisas que trazem à liça a cegueira de uma vida passada inconscientemente às voltas. Como um dia disse o "nosso" Variações, "só estou bem, aonde não estou"...
Triste esta (pelo menos minha) condição de permanente insatisfação. Não se explica. Ou, melhor dizendo (ou escrevendo): não consigo explicar.
A vida será assim mesmo. Nada de percursos lineares. O nosso percurso é esta espiral que transmite a sensação errónea de avanços e recuos quando, de facto, se trata apenas de um progresso feito de aprendizagem e forçosa revisão da matéria dada.
- Mas olha que o tempo voa...
- Também o meu espírito. Muito mais rápido e muito mais alto do que a própria vida.
- Mas como ele anda! E para onde voa o teu espírito?
- Nem eu próprio lhe adivinho o destino. Não lhe conheço sequer o propósito.
-Deixa-o ir livre e sem destino que ele saberá onde pousar.
Eu sei que sim!
Não sei o "como" e só muito vagamente percebo os mistérios que me assistem.
A vida é uma puta!
Há putas que se vendem por vender, pelo aparente benefício do acto.
Outras há que se vendem para poder satisfazer necessidades outras: subsistência, providência, vícios...
E assim somos nós, transigindo por vezes as nossas mais profundas convicções em função de um "assim tem que ser" que se nos atravessa no caminho.
Avançamos no caminho. Retrocedemos na condição.
Muito invejo essas fortalezas de carácter, baluartes de existência, seres humanos extraordinários que não vacilam, independentemente das expectáveis consequências.
O privilégio de conhecer três homens assim é incomensurável. O meu tio João Henrique e o Comandante Martins e Silva (Marinha de Guerra), ainda vivos, e outro tio meu, Carlos Pereira dos Santos, infelizmente já falecido.
O seu conhecimento não me fez como eles. Não chego a tanto. Não o consigo.
Mas quando chega a hora de ter pontos de referência, quando se trata de tentar fazer justiça a referências que tenhamos na vida, eles estão sempre lá, para me orientar ou para para me confrontarem com a vergonha de uma qualquer decisão que lhes não faça justiça.
É! Esta vida é assim mesmo: uma carpete de veludo carmim que percorremos como estrelas de cinema mal vestidas.
Era bom que pudéssemos tratar a nossa consciência como apenas um sonho mau. Acordar e fazer "reset"...
Que bom que seria...
Que merda, este passado que nos atormenta. É aprendizado. Certo! Mas que me importa a mim, consciente que estou de que nem precisava de saber mais para ter aprendido de outra forma?
Resignação? Não me é fácil!
Destino? É como reza o fado: o destino só destina quem já nasce conformado.
Por vezes apetece-me partir em direcção ao pôr-do-sol e com ele desaparecer.
Depois lembro-me dos meus dois preciosos filhos.
Não é apenas em mim que devo pensar...
Isso sim: seria um sacrilégio.
19 dezembro 2011
Dias de Berlim
Final de tarde num dos terraços do ISCTE.
A luz que se esvai quase sem disso darmos conta; a brisa invernal que surge repentinamente; os aviões a voar baixo em aproximação ao seu destino; o frio, que sem contemplações nos sobe pelas pernas... tudo a lembrar os dias de uma certa "pandilha da museologia" em Berlim.
Berlim, a ilha dos museus, metrópole indescritível.
Não é falta de vontade. É o reconhecimento da minha incapacidade para o fazer. Já no decurso da nossa estadia, ao consultar alguns dos diferentes guias que entre nós levávamos, achei que, na esmagadora maioria dos casos, não havia texto que, por mais eloquente, colorido e desenhado para turista, fizesse jus à cidade.
Berlim é uma deliciosa salada arquitectónica, uma colmeia de gente diversa que nos transmite diferentes sensações, um misto de ambientes que nos traz, aqui e ali, em diferentes tempos da história.
Berlim é esse paradoxo: o dos museus que pretendem juntar diferentes tempos num só lugar, e o de uma cidade que encerra diferentes identidades espaciais num único momento temporal.
Os dias foram preenchidos por museus até à exaustão das nossas pernas que, a princípio, haviam jurado ser capazes de suportar tamanha maratona. Mentirosas!
Impelidos por aquela voracidade de conhecimento própria de quem gosta verdadeiramente de uma determinada coisa, pulverizámo-nos por Berlim em função das preferências temáticas de cada um, juntando-nos para visitar conjuntamente aquilo de que gostávamos em comum.
Se os dias foram maravilhosos, as noites não lhes ficaram a dever rigorosamente nada.
Incursões à gastronomia tradicional alemã, antecedidas pela abertura das hostilidades na primeira cervejaria onde nos cheirasse a Weißbier (cerveja de trigo). Notem que o "tuga" é capaz de desenvolver um faro de perdigueiro num muito curto espaço de tempo.
Os finais de dia com incursões ao bas-fond berlinense, foram experiências a raiar a alucinação.
Jornada de imensa aprendizagem (tirei cerca de mil e setecentas fotos), de exercício de uma amizade sentida que, felizmente, perdura ainda entre alguns de nós.
Como lembranças maiores ficam:
- Uma noitada passada na rua com -13 graus, na companhia da Estela, porque, descobrimos tarde demais, o bloco de apartamentos onde estávamos alojados não tinha painel de campainhas e os colegas tinham os telemóveis desligados;
- Uma visita ao Reichstag, (parlamento alemão), depois de nos termos abastecido no supermercado. Foi um festival de gargalhada geral ao passar na segurança, com os enlatados e as litradas de cerveja a desfilar nos monitores da polícia como top models em Paris.
Assim foram os dias de Berlim.
Hoje, levanto os olhos do caderno e é já noite em Lisboa.
A luz que se esvai quase sem disso darmos conta; a brisa invernal que surge repentinamente; os aviões a voar baixo em aproximação ao seu destino; o frio, que sem contemplações nos sobe pelas pernas... tudo a lembrar os dias de uma certa "pandilha da museologia" em Berlim.
Berlim, a ilha dos museus, metrópole indescritível.
Não é falta de vontade. É o reconhecimento da minha incapacidade para o fazer. Já no decurso da nossa estadia, ao consultar alguns dos diferentes guias que entre nós levávamos, achei que, na esmagadora maioria dos casos, não havia texto que, por mais eloquente, colorido e desenhado para turista, fizesse jus à cidade.
Berlim é uma deliciosa salada arquitectónica, uma colmeia de gente diversa que nos transmite diferentes sensações, um misto de ambientes que nos traz, aqui e ali, em diferentes tempos da história.
Berlim é esse paradoxo: o dos museus que pretendem juntar diferentes tempos num só lugar, e o de uma cidade que encerra diferentes identidades espaciais num único momento temporal.
Os dias foram preenchidos por museus até à exaustão das nossas pernas que, a princípio, haviam jurado ser capazes de suportar tamanha maratona. Mentirosas!
Impelidos por aquela voracidade de conhecimento própria de quem gosta verdadeiramente de uma determinada coisa, pulverizámo-nos por Berlim em função das preferências temáticas de cada um, juntando-nos para visitar conjuntamente aquilo de que gostávamos em comum.
Se os dias foram maravilhosos, as noites não lhes ficaram a dever rigorosamente nada.
Incursões à gastronomia tradicional alemã, antecedidas pela abertura das hostilidades na primeira cervejaria onde nos cheirasse a Weißbier (cerveja de trigo). Notem que o "tuga" é capaz de desenvolver um faro de perdigueiro num muito curto espaço de tempo.
Os finais de dia com incursões ao bas-fond berlinense, foram experiências a raiar a alucinação.
Jornada de imensa aprendizagem (tirei cerca de mil e setecentas fotos), de exercício de uma amizade sentida que, felizmente, perdura ainda entre alguns de nós.
Como lembranças maiores ficam:
- Uma noitada passada na rua com -13 graus, na companhia da Estela, porque, descobrimos tarde demais, o bloco de apartamentos onde estávamos alojados não tinha painel de campainhas e os colegas tinham os telemóveis desligados;
- Uma visita ao Reichstag, (parlamento alemão), depois de nos termos abastecido no supermercado. Foi um festival de gargalhada geral ao passar na segurança, com os enlatados e as litradas de cerveja a desfilar nos monitores da polícia como top models em Paris.
Assim foram os dias de Berlim.
Hoje, levanto os olhos do caderno e é já noite em Lisboa.
17 dezembro 2011
12 dezembro 2011
Uma contínua Primavera
...no outro lado do sonho,
o volume do teu peito, perfeito;
o consolo da tua presença, intensa.
Arrival of the birds
The Cinematic Orchestra
o volume do teu peito, perfeito;
o consolo da tua presença, intensa.
Arrival of the birds
The Cinematic Orchestra
15 novembro 2011
Mais alto.
Carruagens quase desertas. Não é de espantar. É hora de almoço.
Desci para o andar de baixo, procurei uma cadeira virada de frente para o sentido de marcha. De costas para o que está pela frente, só aos remos de um barco.
Sentei-me.
Os phones em riste nas orelhas.
Lá tentei acomodar as duas malas que levava comigo. Computador numa; caderno, agenda e livros, noutra. Aquilo a que a minha avó chamava uma "mula de carga".
Alheado que ia, só um pouco depois da composição arrancar reparei numa senhora, sentada do outro lado do corredor, que, ao telefone, suplicava qualquer coisa que não consegui perceber, chorando desalmadamente.
Que pena! - pensei.
Decidi não olhar para o lado fazendo de conta que nada se passava.
Não há coincidências!
Se aquela mulher e eu estávamos ali, no mesmo sítio, à mesma hora (e lembrando a máxima: Só está quem tem que estar; onde tem que estar; e quando tem que estar), decidi dirigir-me à sua egrégora espiritual pedindo autorização para o que a seguir fiz: rosa e branco de um cardíaco para outro, violeta envolvendo todos os seus corpos.
E pedi-lhe:
- Minha irmã: deixa fluir em ti e através de ti a energia do universo, o sopro de Deus, pois que ambos mais não são do que expressões diversas de uma única e mesma coisa.
E assim foi, da ponte 25 de Abril até Sete Rios.
Parou de chorar? Parou!
Saiu mais calma? Saiu!
Foi consequência da projecção de energia? Não sei!
Sei que o propósito foi bom. Sei que me fez/faz muito sentido o acto de fazer bem, sem olhar a quem.
Diz-se que a modéstia manda guardar para nós as nossas boas acções. Discordo em absoluto. E por várias razões. As nossas ditas "boas acções" deviam ser entendidas, não como tal, mas como obrigações. Compete-nos a todos, cientes que possamos estar da nossa condição, tentar, sempre que possível, auxiliar a evolução de todos aqueles com quem nos cruzamos. Se estão, ou não, em condições de ser ajudados ou de, sequer, o merecer, já é algo que nos transcende.
Teremos feito o que pudermos.
E quanto ao guardar para nós o que de bom fazemos... Há que apregoá-lo aos quatro ventos. Levemos connosco tantos quantos pudermos neste caminho do bem fazer, do bem gostar.
É este o caminho que nos permitirá subir, um dia de cada vez, um degrau de cada vez, até onde onde os cegos vêem e as ruas são douradas...
Can you take me higher?
To a place where blind men see.
Can you take me higher?
To a place with golden streets.
Higher
Creed
Desci para o andar de baixo, procurei uma cadeira virada de frente para o sentido de marcha. De costas para o que está pela frente, só aos remos de um barco.
Sentei-me.
Os phones em riste nas orelhas.
Lá tentei acomodar as duas malas que levava comigo. Computador numa; caderno, agenda e livros, noutra. Aquilo a que a minha avó chamava uma "mula de carga".
Alheado que ia, só um pouco depois da composição arrancar reparei numa senhora, sentada do outro lado do corredor, que, ao telefone, suplicava qualquer coisa que não consegui perceber, chorando desalmadamente.
Que pena! - pensei.
Decidi não olhar para o lado fazendo de conta que nada se passava.
Não há coincidências!
Se aquela mulher e eu estávamos ali, no mesmo sítio, à mesma hora (e lembrando a máxima: Só está quem tem que estar; onde tem que estar; e quando tem que estar), decidi dirigir-me à sua egrégora espiritual pedindo autorização para o que a seguir fiz: rosa e branco de um cardíaco para outro, violeta envolvendo todos os seus corpos.
E pedi-lhe:
- Minha irmã: deixa fluir em ti e através de ti a energia do universo, o sopro de Deus, pois que ambos mais não são do que expressões diversas de uma única e mesma coisa.
E assim foi, da ponte 25 de Abril até Sete Rios.
Parou de chorar? Parou!
Saiu mais calma? Saiu!
Foi consequência da projecção de energia? Não sei!
Sei que o propósito foi bom. Sei que me fez/faz muito sentido o acto de fazer bem, sem olhar a quem.
Diz-se que a modéstia manda guardar para nós as nossas boas acções. Discordo em absoluto. E por várias razões. As nossas ditas "boas acções" deviam ser entendidas, não como tal, mas como obrigações. Compete-nos a todos, cientes que possamos estar da nossa condição, tentar, sempre que possível, auxiliar a evolução de todos aqueles com quem nos cruzamos. Se estão, ou não, em condições de ser ajudados ou de, sequer, o merecer, já é algo que nos transcende.
Teremos feito o que pudermos.
E quanto ao guardar para nós o que de bom fazemos... Há que apregoá-lo aos quatro ventos. Levemos connosco tantos quantos pudermos neste caminho do bem fazer, do bem gostar.
É este o caminho que nos permitirá subir, um dia de cada vez, um degrau de cada vez, até onde onde os cegos vêem e as ruas são douradas...
Can you take me higher?
To a place where blind men see.
Can you take me higher?
To a place with golden streets.
Higher
Creed
27 outubro 2011
Partículas
Para as minhas partículas M&R.
Hoje é noite de pensar muito em vós, de contar muito convosco.
Hoje é noite de alienação.
Hoje é uma daquelas noites em que se antecipam maus sonhos (que não pesadelos).
O vento sopra lá fora. As vidraças vibram sob o fulgor dos elementos. É a mãe natureza a exibir com vaidade os seus atributos, como moça nova de mãos na cintura e peito empinado.
Por vezes sinto-me tão cansado.
Mas o que tem de mal o cansaço? Nada, não trouxesse com ele esse estado de resignação que me esmaga o peito.
Há alturas em que esta estúpida sensação de inércia, de impotência, me projecta numa espiral descendente que, de tão cruel, se apresenta sem fim.
Pudesse eu conhecer-lhe um final, vê-lo aproximar e, para meu gáudio e descanso, estatelar-me definitivamente.
Almejado descanso... porque não chegas?
A bad dream
Keane
Hoje é noite de pensar muito em vós, de contar muito convosco.
Hoje é noite de alienação.
Hoje é uma daquelas noites em que se antecipam maus sonhos (que não pesadelos).
O vento sopra lá fora. As vidraças vibram sob o fulgor dos elementos. É a mãe natureza a exibir com vaidade os seus atributos, como moça nova de mãos na cintura e peito empinado.
Por vezes sinto-me tão cansado.
Mas o que tem de mal o cansaço? Nada, não trouxesse com ele esse estado de resignação que me esmaga o peito.
Há alturas em que esta estúpida sensação de inércia, de impotência, me projecta numa espiral descendente que, de tão cruel, se apresenta sem fim.
Pudesse eu conhecer-lhe um final, vê-lo aproximar e, para meu gáudio e descanso, estatelar-me definitivamente.
Almejado descanso... porque não chegas?
A bad dream
Keane
19 outubro 2011
Fim de tarde a metro.
"Tá caro... os berlindes".
"Tá caro... os berlindes"?
Foi o que lhe pareceu ler enquanto se tentava suster dentro da composição do Metro, a alta velocidade.
Nova estação, nova paragem.
Novo arranque, aos soluços para arrumar a carga.
Novo letreiro luminoso:
- "Take care of your berlindes".
Desta vez tinha a certeza. E pensou:
- Mas que falta de originalidade.
Lembrou a sua avó (Santa Senhora):
- "Quando andares à pancada, toma cuidado com os berlindes" - dizia ela com ternura, enquanto lhe compunha a gola do casaco antes da ida para a escola primária.
Nova estação, nova paragem.
Novo arranque, novo letreiro:
- "Take care of your belongings".
Porra!
Não andando longe do mesmo significado, o facto é que a vista lhe falhara uma vez mais.
Nisto, a composição entrou a alta velocidade numa curva apertada, os carris chiando em protesto, não se sabe se contra o atrito se contra a troika, e toda a expressão take care of your belongings ganhou um novo significado.
Uma preta, vindo desamparada de estibordo, tentando desesperadamente agarrar o vácuo, assentou-lhe uma monumental castanhada de anca, fazendo-o desejar ter podido deixar as jóias de família dentro da gaveta da mesinha de cabeceira.
Perante um repetido "esculpa, esculpa!", anuiu com a cabeça, mirando o enorme chambão que lhe infligira o dano.
- "Chiça! Que montanha de carne" - observou, enquanto se recompunha física e mentalmente.
Nova curva. À cautela cruzou ligeiramente o joelho direito sobre o joelho esquerdo. Achando o trejeito um pouco efeminado, voltou à posição de "firme, sentido" que aprendera na recruta.
Mirou de soslaio a planta da linha amarela.
- "Já só faltam três estações" - pensou, enquanto tentava parar o movimento e congelar no espaço os azulejos que contam todos os dias histórias, quiçá novas, dos Descobrimentos, da nossa Cultura, do nosso jeito de ser português.
Que saudades de andar de Metro.
Que saudades da cruz...
Xácara das Bruxas Dançando
Trovante
"Tá caro... os berlindes"?
Foi o que lhe pareceu ler enquanto se tentava suster dentro da composição do Metro, a alta velocidade.
Nova estação, nova paragem.
Novo arranque, aos soluços para arrumar a carga.
Novo letreiro luminoso:
- "Take care of your berlindes".
Desta vez tinha a certeza. E pensou:
- Mas que falta de originalidade.
Lembrou a sua avó (Santa Senhora):
- "Quando andares à pancada, toma cuidado com os berlindes" - dizia ela com ternura, enquanto lhe compunha a gola do casaco antes da ida para a escola primária.
Nova estação, nova paragem.
Novo arranque, novo letreiro:
- "Take care of your belongings".
Porra!
Não andando longe do mesmo significado, o facto é que a vista lhe falhara uma vez mais.
Nisto, a composição entrou a alta velocidade numa curva apertada, os carris chiando em protesto, não se sabe se contra o atrito se contra a troika, e toda a expressão take care of your belongings ganhou um novo significado.
Uma preta, vindo desamparada de estibordo, tentando desesperadamente agarrar o vácuo, assentou-lhe uma monumental castanhada de anca, fazendo-o desejar ter podido deixar as jóias de família dentro da gaveta da mesinha de cabeceira.
Perante um repetido "esculpa, esculpa!", anuiu com a cabeça, mirando o enorme chambão que lhe infligira o dano.
- "Chiça! Que montanha de carne" - observou, enquanto se recompunha física e mentalmente.
Nova curva. À cautela cruzou ligeiramente o joelho direito sobre o joelho esquerdo. Achando o trejeito um pouco efeminado, voltou à posição de "firme, sentido" que aprendera na recruta.
Mirou de soslaio a planta da linha amarela.
- "Já só faltam três estações" - pensou, enquanto tentava parar o movimento e congelar no espaço os azulejos que contam todos os dias histórias, quiçá novas, dos Descobrimentos, da nossa Cultura, do nosso jeito de ser português.
Que saudades de andar de Metro.
Que saudades da cruz...
Xácara das Bruxas Dançando
Trovante
06 outubro 2011
16 setembro 2011
07 setembro 2011
23 agosto 2011
Subscrever:
Mensagens (Atom)