"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, março 05, 2019

Festival Eurovisão das Cançonetas: Chacha e Kitsch

Independentemente do mérito de "Amar pelos Dois", enquanto toada musical na voz do repudiado pelos Doutos Júris dos Concursos de Gorgeios, a começar pela patroa do Rock in Rio, passando pelo brutóide senhor Manel, alguém acredita que o Festival da Eurovisão das Cançonetas é algo mais do que aquele show chacha e kitsch para os zés povinhos mirones da Europa e arredores se deixarem hipnotizar durante umas horas?

O jardim à beira mar criticou, escandalizado, Simone a cantar "quem faz um filho/ fá-lo por gosto", hoje recordação dourada, todavia apuparam Ary dos Santos, enquanto autor de canções polémicas e mordazes, como "Tourada", que tenho escutado, reinterpretada pela rapper Capicua.

Os inquisidores do gosto execraram Isaura e a cantora do cabelo de rosa, detestaram Salvador Sobral que, após a travessia no deserto, invectivou um público serpenteante: "se eu desse agora um peido vocês também aplaudiam?" De Bestial a Besta foi um passo...

O Conan dos telemóveis é afinal o espelho de uma época e de uma gente que detesta ver a sua banalidade espelhada. Inteligente, criou um personagem e colou-o à pele. O sucesso (por via da diversidade sonora, face aos modelos clássicos) explodiu. Num tempo em que as canções de protesto - apesar de tão actuais, face à permanente exploração e austeridade - são silenciadas, a inebriação do néon e as jóias de pechisbeque são exaltados. Vítor Rua e Miguel Esteves Cardoso são fans...

A verdade é que o rebanho afasta-se da diferença, do que não é formatado. Acaso vos preocupais em lutar por uma existência menos escrava, ò cidadãos adormecidos numa vidinha certinha, sem coragem nem rasgo que protestais por causa de uma melopeia? 

Por detrás da musicata espalhafatosa ou do ruído mais ou menos teatral, alguém acredita que o Festival da Eurovisão ao realizar-se em Israel não tem intenções políticas? 
Nestas como em muitas outras coisas, são os mandaretes que contam, os povos são meros figurantes, que aplaudem sonâmbulos.

Para quem não esteja atento, Portugal ganhou há dois anos porque foi um recado nas entrelinhas para se investir no "Marrocos da Europa", como os ingleses designam o nosso país, comprando-se casas e terrenos, fazendo-se negócios com lucros elefantisíacos. Como destino turístico de manadas impedidas de irem a latitudes  perigosas. Alguém duvida?

Luís Filipe Maçarico (texto) Fotografia recolhida na Net

Do divertimento Identitário ao bamboleio decalcado

Com excepções em que o sol espreita, o tempo do Carnaval é quase sempre de chuva e frio.
Porque razão em algumas localidades se pretende fingir que estamos nos trópicos, com reis carnavalescos importados, vindos directamente de uma novela brasileira? 
Vertiginosamente, tradições que eram genuínas deram lugar a macaquices, com as figurantes bamboleando como se estivessem num sambódromo...
Felizmente, o Carnaval manteve-se tradicional, até hoje, enquanto festa de inverno e divertimento identitário, em Podence e Torres Vedras, havendo outros exemplos, como em Vale de Ílhavo, onde a sensibilidade com o património ainda impera.
Não consigo perceber a motivação de autarcas e colectividades, no afã de apagar a marca portuguesa, dando lugar a decalques de outras latitudes que acarretam oneroso espavento. Quem beneficia?
LFM (texto) Fotografia de Diana Alves.

segunda-feira, fevereiro 18, 2019

A Falta de Espírito Crítico e as Armadilhas Virtuais

Há ocasiões em que ficamos sem palavras, perante a derrapagem dos acomodados, que se limitam a partilhar o que recebem, pela net, sem qualquer espírito crítico, sem se darem ao trabalho de comprovar se aquilo que estão a ler é verdade ou se se trata de uma notícia falsa.
Ao longo dos anos tenho chamado a atenção de alguns incautos, explicando que a morte do cantor ou da actriz, que acabaram de divulgar, não se encontra em nenhum jornal on line.
Vem isto a propósito de duas dessas "notícias", uma mais recente, desmontada no "Notícias ao Minuto", outra que circula e cansa ver multiplicar-se, como cogumelos, acerca de uma jovem supostamente desaparecida e quando se pergunta a quem publica, qual a fonte...dizem-nos que foi enviada por uma amiga de uma amiga de uma amiga...
Porque não partilham um poema, uma tela, uma canção que remeta os outros para a possível harmonia, num mundo tão caótico?
O voyeurismo, o coitadinhismo é sempre a garnde via por onde circula a mentira e os vírus que muitas vezes vêm agarrados e se apoderam dos dados de quem tem este gesto, supostamente solidário, pensando que está a agir bem, sabe-se lá a favor de quem...
Resolvi fazer este post para mostrar o logro em que facilmente as pessoas caiem. Ora tomem lá atenção e leiam o que aqui se partilha (acerca de uma fake new viral, por causa do efeito "seguidismo):

sábado, fevereiro 02, 2019

No Avesso do Som


Actualmente, quando a rádio não fica infestada de vomitado de futebol, [que é quase todos os dias], tento escutar música. 
Porém, as letrinhas gorgeadas pelos novatos das cançonetas, destinadas a cabeças de esferovite, constrangem-me:
"Ficas-me tão bem/ Enfeitas os meus dias", insinua a voz de um cantor jovem.
Então a mulher é como um emblema, para ostentar?

Logo um quarentão assegura (quem plagiou quem?):
"Tens qualquer coisa de filme francês/ Tu, tu ficas-me bem/ Tão bem, tão bem, tão bem, tão bem…"

Mantenho a sintonia, na esperança que a qualidade mude. 
Porém, e apesar de surgir uma música mais agradável para o ouvido, apresenta-se outra letra que é uma lástima:
 
"Falam, falam, falam/ Do teu vestido/ Uns dizem que é curto/ Outros dizem que é comprido/ Que tens cara de santa/ Mas que és um perigo/ E que eu dou ares de senhor/ Mas tenho alma de sem abrigo".

Resisto a mudar de emissora e, não sendo masoquista, levo com mais esta:
"Fazes isso tão bem/ Deixas-me ser e crescer também/ Fazes isso tão bem/ E eu não quero saber de mais ninguém" (Será a apologia de uma boa cozinheira? Ou da robot Sofia?)...

Estas "novidades" portuguesas surgem no meio de sucessivas avalanches de temas dos anos oitenta, numa antena onde era suposto ouvir-se José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e os demais clássicos da música portuguesa, ou até expoentes jovens e veteranos, como Ricardo Ribeiro, José Mário Branco e Janita Salomé, só para citar alguns.
A par das televisões pimbas esta rádio, através da qual, durante anos me habituei a acompanhar, todas as manhãs, a irreverência luminosa do António Macedo, passou a dar a mão a "artistas" com escasso talento, que gorgeiam, entre uma play list - com trinta e quarenta anos, elaborada ao sabor do saudosismo de locutores, que possuem boa dicção mas cuja escolha musical é sofrível , parecendo evitar, como se fizessem um esconjuro, canções interventivas. Há excepções, como é óbvio, quer nos apresentadores, como nos discos divulgados. Depende de quem dirige (com dignidade) a emissão. É o caso de David Ferreira, Edgar Canelas, Jorge Afonso, João Gobern, havendo outros protagonistas, dignos de menção, marcando pela diferença programas, que nas mãos dos actuais ocupantes de manhãs e tardes ficariam no avesso do som.

Desmedida é a panóplia de textos cacarejados, na rádio da qual já fui mais fiel, que espremidos contêm um quase vazio, porque quem os escrevinhou parece desejar um público acéfalo e acrítico, que consiga  habituar-se a versos tipo "amar" rimando com "falta de ar".
E eu, que aprecio temas com qualidade, mudo para uma rádio de standards e fico a escutar Sinatra, Bublé, Aretha, Norah Jones e tantos outros, que fizeram de determinadas melodias, pela sua interpretação, referências de bom gosto.

Luís Filipe Maçarico

quinta-feira, janeiro 17, 2019

Eugénio de Andrade Evocado este Sábado, em Póvoa de Atalaia

Este sábado, celebramos, no dia do seu nascimento (1-1-1923), em Póvoa de Atalaia, o autor de "Branco no Branco". Com uma Exposição da sua correspondência com Luís Filipe Maçarico, que será inaugurada pelas 15h e depois, apresentando "O Sol é Secreto" Poetas celebram Eugénio de Andrade. Onde participam mais de cem poetas ibéricos, com coordenação de Carlos d'Abreu, Pedro Salvado e LFM.
Gratidão à Câmara Municipal do Fundão, na pessoa do Presidente Dr. Paulo Fernandes, da Vereadora da Cultura, Dra. Alcina Cerdeira, do Director do Museu, Dr. Pedro Salvado e à Dra. Teresa Domingues, pela criatividade, com que fez a leitura museográfica da documentação a expôr.

Eis os nomes de todos os que dedicaram poemas - ao homenageado - nesta antologia:

ADELAIDE MONTEIRO
AFONSO DORIDO
AÍDA ACOSTA
AIRES ANTUNES DINIZ
ALFREDO FERREIRO SALGUEIRO
ALFREDO PÉREZ ALENCART
ÁLVARO LEONARDO TEIXEIRA
ÁLVARO VALVERDE
ÁNCHEL CONTE
ANTÓNIO ORIHUELA
ANTÓNIO VALÉN
ANTÓNIO LOURENÇO MARQUES
ANTÓNIO DE OLIVEIRA LOPES
ANTÓNIO SALVADO
ANTÓNIO VILHENA
AROA ALGABA GRANERO
AUGUSTO PEDREGOSO
AURELINO COSTA
BETTY BLUE
CARLES DUARTE I MONTSERRAT
CARLOS D´ABREU
CARLOS AGANZO
CARLOS LOPES PIRES
CATARINA PULGUINHAS GASPAR
CLÁUDIO LIMA
CRISTINA POMBINHO
DANIEL DE SOUSA
DOMINGOS DA MOTA
EDUARDO AROSO
EDUARDO OLÍMPIO
ELENA DÍAZ SANTANA
ELENA ROBLE LEDO
EMILIO RIVAS CALVO
ENRIQUE VILLAGRASA
EUGENIA SANMARTÍN
FERNANDO DÍAZ SAN MIGUEL
FERNANDO DUARTE
FERNANDO FITAS
FLÁVIO GIL
FRANCISCO JOSÉ LOPES
GABRIELA ROCHA MARTINS
GISELA GRACIAS RAMOS ROSA
GONÇALO NEVES
HELENA VILLAR JANEIRO
HUGO MILHANAS MACHADO
ILIA GALÁN
ISABEL CRISTINA PIRES
IZIDRO ALVES
JESÚS FONSECA
JOÃO RASTEIRO
JOAQUIM COLÔA
JORGE CAMACHO CORDÓN
JORGE DA CUNHA
JORGE SOUTO
JOSÉ AMADOR MARTÍN
JOSÉ ANTÓNIO SANTANO
JOSÉ DIAS PIRES
JOSÉ D´ENCARNAÇÃO
JOSÉ GEMA
JOSÉ MARÍA MUÑOZ QUIRÓS
JOSÉ MIGUEL SANTOLAYA SILVA
JOSÉ QUEIROGA
JOSEP MATA-PERELLÓ
JUDITE CANHA FERNANDES
LEIRE BILBAO
LEOCÁDIA REGALO
LIVEN DEK
LUIS ENRIQUE DE LA VILLA GIL
LUIS LLORENTE
LUIS MIGUEL GÓMEZ GARRIDO
LUÍS FERREIRA
LUÍS FILIPE MAÇARICO
LUÍS FILIPE PEREIRA
MANUEL BARATA
MANUEL COSTA ALVES
MANUEL VAZ
MANUELA FLORÊNCIO
MANUELA ROSA
MANUELA AUGUSTA SILVA
MARIA BISPO
MARIA CONCEIÇÃO BALEIZÃO
MARIA DO SAMEIRO BARROSO
MARIA JOSÉ BALANCHO
MARIA JOSÉ LASCAS
MARÍA ÁNGELES PÉREZ LÓPEZ
MARKEL HERNÁNDEZ PÉREZ
MARTINHO MARQUES
MIGUEL FERNÁNDEZ
MIGUEL NASCIMENTO
MIGUEL REGO
MIGUEL ANTÓNIO AVEIRO DE SOUSA SANTOS
MONTSERRAT VILLAR GONZÁLEZ
PAULA SILVA
RAFAEL SOLER
RAÚL VACAS
RODRIGO DIAS
STEFANIA DI LEO
SUSO MOINHOS
TOMÁS ACOSTA PÍRIZ
VERO RAMÍREZ BUIGUES
VÍCTOR M. DÍEZ
XAN DO VAL KARLOTTI
XESÚS RÁBADE PAREDES
ZULMIRA BENTO
ZETHO CUNHA GONÇALVES


segunda-feira, janeiro 14, 2019

EXPOSIÇÃO EM PÓVOA DE ATALAIA NO PRÓXIMO SÁBADO 19-1-2019



No próximo sábado 19 de Janeiro, pelas 15h, na Casa da Poesia (Póvoa de Atalaia/Fundão), a Câmara Municipal do Fundão e a Junta de Freguesia local inauguram uma Exposição, baseada na correspondência que Eugénio de Andrade, nascido naquela aldeia da Beira Baixa, escreveu a Luís Filipe Maçarico.



VIVA EUGÉNIO DE ANDRADE!

domingo, janeiro 13, 2019

A Realidade e o Veneno dos Saudosistas

Sinto-me livre, por não abdicar do espírito crítico, embora viva numa Sociedade contaminada por diversas perversidades, como a existência de uma pobreza gritante, face à gulodice imperial dos detentores do Poder económico e político.
O Capitalismo influencia os povos, mantendo-os incultos e manipuláveis através de vários meios eficazes: meios de comunicação controlados, onde uma série de personagens se evidenciam, contribuíndo para a hipnose colectiva, arrecadando fortunas com banalidades.
Despojados de valores, que são apresentados como coisa demodée, os povos escolhem burgessos para os governos, que são espelhos das suas ambições individualistas, minadas pelo egoísmo e por um vedetismo bacoco, que se espraia nas Tvs com programas sem qualidade e muito aparato.
Foi neste contexto (apelidado de Democracia) que ainda assim consegui consumar cursos académicos, o que seria impossível no tempo em que reinava o sacristão de Santa Comba.
Está na moda comparar este regime, com o de então, o que para mim será sempre abusivo.
Apesar de não concordar com muita coisa que acontece (políticas de direita, amochamento em relação aos ditâmes da Europa, demagogia, injustiça, corrupção transversal, etc.) penso que no tempo da minha avó ser diabético era mais problemático, ser pobre era receber leite em pó, pão e manteiga oferecidos pelas vicentinas que então imperavam na caridade, sem direito a uma pensão de sobrevivência, trabalhando até à morte, enquanto estiver vivo, não são passíveis de comparar com os apoios de hoje, por muito fracos que sejam.
Os saudosistas, que por vezes se travestizam atrás de canudos de cientistas sociais não me merecem qualquer respeito e os seus livros, por mim, podem ficar nas montras, recuso-me a perder tempo do pouco que me resta, face ao veneno que destilam nas suas páginas, sem indicar caminhos, hipóteses de trabalho para melhorar as nossas vidas, sentadinhos nas poltronas da sua vida airada de ricos bafejados por uma incursão em ministérios, no parlamento ou nas escolas que tanto hostilizam.
Todavia, sei que a situação actual (por todo o mundo) é preocupante. Defendo outra forma de estar e governar. Pena que o meu voto seja menos forte devido à incultura e preconceito, que nasce da ignorância.
Luís Filipe Maçarico(texto e imagem)