Ontem, sábado 27 de Maio de 2023, na Biblioteca da Casa do Alentejo, foi apresentada a reedição pela Colibri das suas obras-primas "António dos Olhos Tristes" e "Um Girassol Chamado Beatriz".
Estiveram presentes muitos leitores e amigos, associativistas e autarcas de Santiago do Cacém e Alvalade- Sado, que já tinham homenageado o autor e filho da terra, Eduardo Olímpio e respectivos filhos e netos.
O presidente da junta de Alvalade, Ricardo Jorge Cruz, a vereadora de Santiago do Cacém natural daquela freguesia, Mónica Fialho de Aguiar, a Professora Rosa Calado da Casa do Alentejo, o professor Deodato Guerreiro, Fernando Fitas e Luís Filipe Maçarico, além de Fernando Mão de Ferro, o editor, intervieram, tendo o poeta falado no final, encerrando com chave de ouro uma maravilhosa sessão de partilha, ficando no ar a eloquência do Dr. Deodato que evocou filósofos gregos para falar do sábio Eduardo Olímpio e a frase "tranquilidade olímpica" com que F. Fitas retratou o autor celebrado. Uma parte da assistência veio de Cuba, Ferreira e Alvalade-Sado. Foi sugerido na sessão e algumas professoras confirmaram que estavam a trabalhar nesse sentido que este livro passasse a fazer parte do Plano Nacional de Leitura.
Tenho a honra de ter sido convidado pelo editor a fazer o Prefácio (a cujo autor pedi autorização para ser publicado):
“ANTÓNIO
DOS OLHOS TRISTES” E “UM GIRASSOL CHAMADO BEATRIZ” DE EDUARDO OLÍMPIO: A
CELEBRAÇÃO DA VIDA E DOS SERES NO TEMPO MÁGICO DE UMA ATMOSFERA POÉTICA
Quem alguma vez
foi à Galiza e escutou uma avó - como me aconteceu - num desfile festivo de
flores no dia do Corpo de Deus, em Ourense - ralhando com o neto traquinas numa
linguagem ancestral - “se não estás quedo, levas tau tau no rabiósque”,
encontra em “António dos Olhos Tristes” e
“Um Girassol Chamado Beatriz”,
reminiscências dessa oralidade.
Eduardo
Olímpio nesta reedição das duas obras oferece-nos várias
estórias elaboradas como uma tapeçaria de grande riqueza vocabular e
etnográfica, que nos remete para uma língua genuína, tecendo a paisagem mágica
do Alentejo da sua infância, usando termos antigos e regionalismos que quase
deixámos de ouvir, tais como “escarchava, especou-se, fincados, adejam, abada,
estarrabagide, charquinhou, traquitanado, engatinhar, tunante…”
Falo de um
grande escritor que não foi devidamente consagrado, não obstante a qualidade do
seu percurso literário.
A reedição
destes textos faz todo o sentido à luz desta ideia, que muitos dos que o leram
conhecem, podendo os novos leitores confirmar pela descoberta da sua escrita
prodigiosa.
Óscar
Lopes considerou “António
dos Olhos Tristes” uma das três melhores novelas de autores contemporâneos,
a par de “O Barão” de Branquinho da Fonseca e “A Caça” de Virgílio Martinho.
Efectivamente,
na profunda e harmoniosa ligação do seu cérebro às mãos, a palavra é filigrana
que molda com uma ternura desusada, inscrevendo-se numa estrita galeria de
escritores onde a infância, o amor à Natureza, às pessoas e aos animais fulgem,
como o brilho radioso do mais rico diamante.
Lê-lo é sentir
um enorme prazer por essa sensibilidade tão forte que ofusca a vulgaridade,
exaltando o melhor da existência.
Nestas páginas
só há lugar para a celebração da vida e dos seres, no tempo intacto dos livros
serenos e doces. Transcendentes, como este…
Eduardo
Olímpio é uma espécie de representante de uma tribo
ameaçada - os alentejanos, enquanto produtores e defensores de patrimónios e
tradições postos em causa.
Quantas
oliveiras e sobreiros milenares foram arrancados dos nossos campos,
desfigurando a paisagem?
Onde, a
diversidade biológica, das ervas e flores aos insectos, que irrompiam pela
Primavera entre árvores?
“António
dos Olhos Tristes” e “Um
Girassol Chamado Beatriz”, ao nível de “A
Maravilhosa Viagem de Nils Holgerson Através da Suécia” da Nobel Selma Lagerlöf são textos
encantatórios, de um imaginário marcante que dignifica a caminhada humana, com
uma atmosfera poética que eterniza o autor e o seu olhar criativo.
Parabéns, Eduardo Olímpio pelo legado
incomparável que revela um talento singular, contribuindo para nos fazer
sonhar, através do voo da palavra.
Bem
Hajas, pela pegada luminosa, rumo ao Futuro!
Almada, 27-4-2023
Luís Filipe Maçarico
(Poeta; Antropólogo)