Não vislumbro nem conheci um Poeta com a energia criativa e o sorriso definidores de Eduardo Olímpio, enquanto Ser Humano que sente prazer em produzir regularmente quadras, poemas, reflexões acerca da vida em verso, fazendo desse ofício diário a sua respiração, o sentido para prosseguir a caminhada de quase nove décadas, celebrando sempre o milagre da sua presença entre nós.
Esta Alvalade-Sado, sua terra natal acolhe este seu conterrâneo com a merecida sensibilidade e impulso festivos.
É vasto e de enorme riqueza popular o legado do Poeta, que cantou o Alentejo de forma ímpar, criando 326 letras para canções eternas, poesia que andou de boca em boca, antes e depois da Revolução dos cravos, divulgado por cantores de várias gerações, como Manuel Freire em 1965, que não desdenham espalhar ao vento a sua Celebração da Terra, que anseia mais Pão, mais Fraternidade, mais azul no horizonte desmedido de um território onde Urbano Tavares Rodrigues e Manuel da Fonseca também evocaram lutas e sonhos. Felizmente e merecidamente lembrados!
Há títulos que o nome de Eduardo Olímpio reanima, como "António dos Olhos Tristes" e "Um Girassol chamado Beatriz".
E volumes poéticos, que não se evaporam ao evocá-lo.
Em Portugal não abundam estes casos felizes de valorizar vidas e obras em vida, dos autores homenageados.
Saúdo por isso a Junta de Freguesia de Alvalade-Sado por esta tão envolvente e justa iniciativa!
Com grande orgulho por vivenciar esta cerimónia, desloquei-me a Alvalade- Sado, onde o Poeta foi filmado pelo neto Mário Espada - cineasta promissor - dizendo um poema sobre os companheiros da infância que da lei da vida se foram libertando...
Quis participar neste dia especial, deixar o meu depoimento acerca da leitura, que tanto enriqueceu o que também eu fui escrevendo sobre o Mundo e o Sul.
Recebo habitualmente o poema mais recente, a publicação mais nova, um título corrigido, com páginas acrescentadas ou emendadas.
Sempre surpreendente. Sempre moderno. Sempre pertinente.
Há poucas semanas reinventou, em versão livre, a "História da Carochinha e do João Ratão", desafiando-me a rabiscar umas ilustrações que nos divertiram pela puerilidade que entrelaça textos e traços.
Este companheirismo vem de tempos imemoriais, quando integrámos uma colectânea com José Jorge Letria e Ary dos Santos.
Prosseguiu depois em periódicos alentejanos, onde o Eduardo recebia versos meus e uma bonecragem originada na limpeza de aparos de canetas de tinta permanente preta.
Há caminhos que têm o selo da Amizade. É o nosso caso!
São muitos e bons anos, sempre a inovar - sobretudo por parte do incansável Mestre.
Termino citando - porque sei o quanto o Eduardo Olímpio gostou da ideia - o que escrevi no nº 30 da revista "Aldraba" da Associação do Espaço e Património Popular.
Estamos na presença do "Poeta que semeou mais luz, dentro da Luz!"
Bem Hajas, Amigo, por tudo o que o teu talento deu a Portugal e particularmente a este Alentejo que te viu nascer!
(Intervenção de Luís Filipe Maçarico, em 28-5-2022, na Casa do Povo de Alvalade-Sado, durante a iniciativa "Tributo a Eduardo Olímpio")
Fotos de LFM