Há um mês atrás deixei seis décadas do meu percurso, num espaço do qual restam memórias, fotografias, textos.
E dentro do espírito determinado que forjou muita poesia, viagens, conhecimentos, partilhas, parti em vida para nova morada. Deixando um rasto de paz, limpando a casa, entregando-a com higiene e espírito positivo, qualidades que faltam a muita boa gente, que tem de se beliscar para sentir que não é zombie...
Lisboa tornou-se num cenário de filme, não num lugar para viver.
Ontem, necessitei de comprar Karela, extracto do pepino amargo dos Himalaias. Costumo ir ao Centro Dietético Saúde Pura, passe a publicidade, abastecer-me deste produto natural milgroso.
Como as mudanças (que organizei e protagonizei, sem empresas, apenas com bons amigos), molestaram a coluna, voltei à Fisioterapia.
De Alcântara a São Lázaro e dali a Campolide gastei 2 horas, no sufoco do trânsito, cada vez mais complicado, devido a tantas obras que entopem a cidade.
De entre os novos vizinhos, há um café que privilegio, após alguma procura. A sandes de pão de alfarroba ou com sementes conquistou-me. E a gentileza de quem lá trabalha.
Na tarde desta sexta voltei ao Alvarez para comer um prego, com alho e mostarda e cumprimentar o senhor Sidnei e o senhor José.
Durante muitos anos, desde jovem, no tempo distante, em que faziam Garibaldis e os irmãos Rui e Fernando animavam Alcântara, com o avô senhor Rodrigues ao balcão e eles servindo às mesas, frequentei o recinto da Rua Prior do Crato, ao ponto de ser o meu café preferido.
Hoje jantei comigo mesmo e celebrei com tinto do Douro o estar vivo, numa rua cuja marca é a tranquilidade.
Quanto à casa, onde chovia no quarto e onde a humidade fustigava o quadro eléctrico, pergunto-me porque me acomodei tanto tempo. Afinal havia um lar acolhedor à minha espera. E este prazer de ter Amigos, na margem certa da vida, que não me deixam sentir só.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)