Inúmeros assuntos nos ocorrem, para actualizar o blogue, mas nem sempre o espírito se mobiliza para a escrita entusiástica, sucumbindo a rotinas, que fazem protelar temas e problemáticas com iminente interesse. E assim se vai adiando o regresso aqui...
É o caso das praxes, que tenho observado no meu quotidiano e que vivenciei uma vez, aquando da minha primeira incursão no mundo académico. Talvez por ter mais idade, que os companheiros da Licenciatura, não fui submetido às ofensas e vexames, que alguns deles sofreram, mas ainda assim tive de desfilar, com um penico na cabeça, como se fosse um modelo, numa "passarelle", pois parte substancial dos colegas (não nos conhecíamos, eram os primeiros momentos na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas), ficaram na expectativa de uma palhaçada, que divertiria todos, aceitando o que se seguiu...
Não sei quem seria o "Duce", o chefe, que movimentava as zombies (as mulheres do curso anterior, que assim nos recebiam, eram maioritárias), todavia, pela histeria exibida, talvez fosse uma gorda, que não se parava de berrar, dando ordens estapafúrdias, tentando maltratar verbalmente, aqueles que pareciam mais frágeis, transpirando tiques de autoritarismo...
Sinto repulsa, por aqueles que impõem essas actividades, de uma forma radical, violenta, com risco da própria vida, que já mataram vários jovens e que as notícias recentes fazem reflectir, no que concerne à ausência de decisão das Universidades, permitindo reitores e professores, pais e alunos, a sua existência, que se mantém, a coberto de um fechar de olhos e encolher de ombros, dos dirigentes das instituições superiores de ensino.
Quando no início dos anos noventa, cheguei à Universidade Nova de Lisboa, para frequentar (e concluir) o curso de Antropologia, deparei-me com essa situação medíocre, onde abundava a estupidez estridente, de meninas veteranas, naquele momento investidas com o poder de humilhar os que chegavam.
Em vez de uma aula, aquela fauna de finalistas, trajados com aquelas vestes que nunca usei, mal formados, enquanto seres humanos, invadiu o anfiteatro, onde esperávamos por um professor, eventualmente conivente, tentando maltratar os novos estudantes, que acabaram por dar, à Comunidade, um fotojornalista de grande qualidade, laureado com um prémio mundial, investigadoras, que desenvolveram a sua pesquisa, em áreas tão diferentes, como a memória dos Mineiros de Aljustrel, O Contrabando, o Cante, o Associativismo e a Polícia de Proximidade, temas certamente com valor, para entendermos a sociabilidade entre gerações, os desempenhos e suas técnicas, no contexto da História contemporânea.
Daquela gentalha agressiva e malcriada, que forçou, sob ameaças, gritos e insultos, dois jovens tímidos a simular o acto sexual, em cima da secretária do docente, e obrigou os "caloiros" a comer uma papa intragável, dada a cada um, com colher de pau, nunca mais tive notícias.
Apenas me lembro de ter visto uma das raparigas, na Feira do Livro, ao balcão de uma editora, fazendo biscate. Jovens frustrados, esses, produto de uma Sociedade, que ao aceitar o vómito, se torna permissiva com o espelho deformado, que são estas situações abomináveis.
Devo dizer que me sinto, ainda hoje, muito honrado de ter pertencido àquela turma, que recusou fazer o mesmo aos jovens do ano seguinte, os quais, para nosso espanto, chegaram à Universidade, ávidos de serem praxados.
Luís Filipe Maçarico