"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, junho 29, 2012

Praia de Odeceixe. Parque Natural da Costa Quê?

Para aqueles que amam de verdade a Natureza, fruíndo e procurando na comunhão de todos os seres, a luz, o mar, o equilíbrio, a paz, o que se está a passar na Costa Vicentina causa calafrios.
Os pescadores nas rochas, deixaram de ser vistos lá para os lados de Odeceixe.
Caranguejos, lapas, pulgas de areia e peixinhos nas águas, outrora vivas, são memória.
Questionados uns respondem - em surdina - que é por causa de Sines. Outros apontam o dedo às estufas do Brejão.
Mas a realidade é que não se fala no assunto para as praias continuarem a ser postal e a hotelaria e a restauração poderem respirar...
Onde estão as políticas autárquicas de salvaguarda da água, do ambiente e do trabalho? As estufas que Cavaco inaugurou quando era primeiro ministro usaram e usam químicos letais, empregaram e continuam a empregar gente vinda do estrangeiro e poluíram/poluem/mataram os solos, o mar.
Porque razão não se ouve ninguém do Parque Natural?
E os biólogos? E os cidadãos?
Preocupados com o bem estar colectivo...em que gruta ou sofá se refugiaram?
O Oceano, na praia de Odeceixe, em certos dias, parece um vazadouro de gordura, espuma, anunciando a súbita morte da flora e da fauna, visível noutros verões.
Por esse motivo, apesar de gostar muito desta terra, a que chamo paraíso, actualmente, sou incapaz de fazer inalações ou de mergulhar nestas ondas...
Haverá alguém capaz, que não meta a cabeça na areia e dê um murro na mesa?
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

quinta-feira, junho 14, 2012

Talvez Evolução...

Em menino escrevinhei nas paredes, para guardar os primeiros poemas, na primária usei o quadrinho de ardósia, garatujando um arremedo de aritmética, depois, as sebentas acompanharam-me até tarde, pratiquei caligrafia francesa no Curso Geral de Comércio, onde tive uma cadeira de dactilografia e durante anos ginastiquei os dedos numa AZERT, em cuja fita a poesia ganhou as asas livres da letra impressa...

Nos anos noventa, quando um colega de trabalho começou a escrevinhar, num pc arcaico, jurei que nunca usaria aquelas maquinetas. Sempre embirrei com máquinas e o ter de estar, diante de um écran, à volta do teclado e a clicar com um rato, fazia-me alguma confusão...



Pois paguei a minha jura com língua de palmo...
Tornou-se obrigatório usar computador no serviço. As informações manuais já eram...Tornou-se uma praga este hábito...

Aprendi o rudimentar, para escrevinhar também, já o outro técnico andava na Net, a enviar poemas meus para páginas on line, onde ainda estão consultáveis, embora com erros gramaticais, que não são da minha lavra.



Então, fui mais longe.
Frequentei cursos de formação (que o serviço estimulou) para perceber o novo mundo digital.
Comecei a fazer pesquisa on line e a desvendar autênticos tesouros de conhecimentos que só me seriam acessíveis se frequentasse bibliotecas estrangeiras... 
Todavia, surgiram igualmente os asquerosos vírus, que contaminam os aparelhos e apagam ficheiros, (imagens e documentos arquivados), esses Trojans diabólicos, que em círculo vicioso os anti-vírus supostamente combatem...

Virtualizei parte substancial das minhas relações. Poupei na conta telefónica. Deixei de escrever cartas...


 
A primeira tese (sobre Barbeiros de Alcântara: A identidade masculina e bairrista entre estratégias de sobrevivência e ameaças de extinção” ), de licenciatura, na Universidade Nova de Lisboa (UNL), foi gravada em disquete e digitada, por um então companheiro de trabalho (e camarada de lutas). Redigi-a em papel e ditei...

O salto foi dado, entretanto, sete anos depois, aquando do primeiro mestrado, em Antropologia, no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) - sobre Os processos de construção de um herói do imaginário popular - O Caso do Pugilista Santa Camarão.
 Já com computador, fui apresentando em suporte digital os meus ensaios. Digitados por mim, mas sempre com uma primeira versão em papel. E assim me atrevi na blogosfera, dando os meus primeiros passos neste blogue, começando, a partir de determinada altura, a escrever directamente no teclado, sem rascunho.
Colaborei com diversas revistas, de cariz científico (Arquivo de Beja, Arqueologia Medieval, Almansor, Callípole, Al- Rhiana e nas Actas do Arquivo Histórico da CMLisboa e das Jornadas de Cultura Saloia, da CMLoures) enviando os artigos por mail. 



Seguiu-se outro Mestrado, na Universidade do Algarve (UALG), com o Campo Arqueológico de Mértola (CAM), agora em História, começando a ficar muito envolvido no Facebook. Tenho uma página, onde partilho imagens, emoções, notícias.

                                   

Vem esta prosa, a propósito desta talvez evolução...
O Facebook ocupa agora um espaço maior, na minha ligação ao mundo virtual.
A amiga que está em Alpedrinha, os amigos que estão em Mértola ou na Tunísia, em Viana do Castelo ou na Amadora, comunicam comigo, via chat ( ou email).

Há vinte anos, se me dissessem que ia ser assim, negaria...tal como nunca me imaginei, depois de fazer teatro na Guilherme Cossoul, a protagonizar colóquios sobre o Cante Alentejano ou o Contrabando.


Tenho por vezes vontade de escrever aqui. Que assisti, na Sociedade de Geografia de Lisboa, a cuja secção de Etnografia pertenço, a uma excelente conferência da Professora Doutora Sónia Frias sobre “Tempos de mudança: visitando os San no deserto do Kalahari”. Que a centenária Sociedade Musical Ordem e Progresso festejou mais um aniversário. Que o Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes" voltou a ter um retumbante arraial. Que o Corvense mantém a tradição do trono a Santo António. Que estive no Jardim da Estrela a dizer poemas, celebrando as décadas de existência das Bibliotecas de Jardim. Que houve novo Encontro de Poetas em Alpedrinha. Que fui a Castelo Novo deliciar-me e emocionar-me com José Barata Moura, evocando o pai, na celebração da sua Arte, através de uma escultura e de uma exposição das suas pinturas. Que o Santo António continua a ser festejado em Lisboa, nos bairros, nas colectividades, nas montras, nos tronos, nos registos que a devoção popular inventa, na inovação dos artesãos...
Mas como o dia não estica, não só deixei de redigir cartas, como escrevinho menos no blogue. Mas não desisto de saborear a palavra. Por isso, este artiguelho, em forma de cordial saudação, aos que também não desistem de me procurar e de me ler, pois há coisas mágicas que continuam a acontecer. Como foi o caso de uma professora, chamada Margarida, que recentemente levou os seus alunos à Rádio Cova da Beira, para lerem poetas, imaginem!
E não é que entre esses poetas, ditos pelos alunos da Professora Margarida, estavam versos do vosso amigo Maçarico? 
Por estas e por outras, no meio dos desaires e alguma rezinguice  - creio que natural, entre aqueles que se dirigem, vertiginosamente, para os sessenta (faltam-me 135 dias para ser sexagenário), sou um cota que ainda ama a vida.

Luís Filipe Maçarico - texto
Fotografias: LFM (pombo), Cláudia Casimiro (Tunísia), José Manuel Gema (com Ana Luísa Janeira), Clara Amaro (durante a dissertação do segundo mestrado, na UALG) e Francisco da Palma Colaço (Minas de S. Domingos).



segunda-feira, junho 11, 2012

Conhecem a Paula Charro?

Paula Charro é uma conceituada jornalista, que vive e trabalha em terras da Beira.
Toda a gente, no Fundão, a conhece e saúda, como se houvesse mesmo milagres e fosse possível convivermos com uma estrela, que tivesse descido dos céus e nos viesse visitar...

Em 1992, esta serena rapariga, entrevistou-me para a Rádio Cova da Beira. Acabava de apresentar o meu segundo livro, em Alpedrinha - Mais Perto da Terra, dedicado às gentes daquela vila da Beira Baixa.
Desde então, já lá vão vinte anos, quando nos cruzamos em eventos ou simplesmente numa das ruas da capital da cereja, o sorriso é inevitável.

Reencontrei-a, sábado passado, nas comemorações do Dia do Concelho e esta mulher, que tem divulgado em primeira mão as notícias mais pertinentes, para aquela região, entrevistando o povo anónimo, os responsáveis autárquicos e todos os que contribuem para a construção dos dias, esteve à conversa com alguns protagonistas do futuro, sempre com  uma pitada de humor e aquele amor à vida que respira no olhar. 

Portugal, o melhor desta terra são pessoas como a Paula, discretamente sábias, que servem a Comunidade, desvendando os casos que podem trazer orgulho ao nosso percurso.
Espero que o Paulo Fernandes, no próximo dia do Concelho, depois de homenagear o seu barbeiro, que há sessenta anos corta cabelos, ali mesmo junto à Câmara ou o Diamantino Gonçalves, fotógrafo que nos delicia e surpreende no Jornal do Fundão, faça a justiça de entregar também à Paula Charro a medalha que premeia o mérito, a qualidade, um percurso de boa marca, semeando luz.

A Paula é uma força da natureza, que mesmo quando a energia está menos luminosa, vence os obstáculos com a sua teimosia de escorpião. Também ela merece, como os poetas ou os pintores, como os músicos ou os provedores dos males da alma, uma palavra, um destaque, o aplauso dessa Comunidade, que ao longo de mais de duas décadas tem servido, informando, preenchendo horas de trabalho ou lazer, de estudo ou ansiedade.

Todavia, sei que, contra ventos e tempestades, a Paula vai continuar a sorrir, com medalha ou sem, pois a vida é mágica, para lá de alguns dissabores e haverá certamente quem espera dela todo o azul do céu, toda a poesia da terra, toda a ternura que a passarada sublinha e está nos olhos da mulher que ela é, depois de pousar o microfone.
E esse é o seu melhor directo. Que nos enriquece, pois é de futuro que falamos, quando falamos daqueles que florescem, ao lado das árvores e da terra, alindada pela água que escorre da serra.

A Paula é um poema.

Luís Filipe Maçarico, texto e fotografia.