Mértola é um castelo enluarado, um amendoal sobre o Guadiana, pedras repletas de História, gente como Cláudio Torres ou Santiago Macias, que ajudaram a vila adormecida a acordar para o Futuro, com o entusiasmo de Serrão Martins, um autarca que deixou semente.
Calcurreando as ruas estreitas do casco velho, fascinamo-nos ao entrar no Museu Islâmico onde o resultado de três décadas de estudo, escavações e descoberta do Campo Arqueológico (CAM) trouxeram até nós objectos, testemunhos, documentos, através dos quais é possível saber-se muita coisa.
Cláudio Torres chegou a dizer que quem quiser conhecer a História do Al-Ândaluz na Península, é aqui e não nas Bibliotecas do Egipto que encontra respostas.
Em colaboração com a Universidade do Algarve, o CAM vai realizar no próximo ano lectivo o mestrado “Portugal Islâmico e o Mediterrâneo”, que promete reflectir as raízes de lugares como este.
Vista do outro lado do rio, Mértola é belíssima. E lá do alto do cerro, o morábito da Senhora das Neves, é uma atalaia guardando o azul.
A Mesquita, com as suas colunas, a sua porta lateral de arco em ferradura e o mirhab virado para Meca, constitui um património notável.
Subindo e descendo pelo labirinto das apertadas ruelas, apercebemo-nos dos postigos, das aldrabas, das oliveiras que por vezes irrompem dos muros brancos, os rostos tisnados pelo sol do Alentejo, passadiços, recantos, larguinhos, os miradouros e o anfiteatro de cal e xisto que se espelha no Grande Rio do Sul.
O criptopórtico, a cisterna do castelo, a torre de menagem, o núcleo paleocristão, o núcleo de Arte Sacra, a oficina do ferreiro, o núcleo romano na cave do edifício da Câmara Municipal e a ermida de São Sebastião são partes de um todo que marca para sempre olhar e coração.
Até um bar, que já se chamou Al Sacrane e foi renomeado Al Safir, participou nesta envolvência, a par do Lancelote, todos espaços de convívio e fruição.
Os moinhos de maré, os percursos pela natureza em pleno Parque Natural, a beleza de freguesias como Santana de Cambas ou Alcaria Ruiva, a memória mineira de São Domingos, os lugares de vento, silêncio e água como Pomarão, onde os carris das vagonetas das Minas e os veleiros falam de duas realidades, dois tempos…
Ou os topónimos que remetem para uma identidade rural como Picoitos, Bens, Formoa, Salgueiros, Sapos, Montes Velhos, Monte do Guiso…
Mértola festeja de dois em dois anos o seu passado árabe com uma tradição reinventada: O Festival Islâmico.
Marroquinos e tunisinos de verdade aqui mostram doçaria, artesanato, dança, música e gastronomias deliciosas como o couscous e a tagine.
No pequeno e simpático cais é possível embarcar no “Vendaval” e passear rio abaixo até Alcoutim e Vila Real de Santo António.
Por esses montados e barrancos, quantos tesouros do passado dormem ainda o seu sono de séculos?
Mértola é um dos grandes lugares do Mundo, pela sua paisagem, pela História que os homens escreveram no seu território, pelo espaço mágico partilhável, onde revemos o que fomos.
O aroma das especiarias, o rumor das vozes, cânticos de Muezzines e sons de alaúde são imaginados ao pôr do sol ou revisitados de dois em dois anos em Maio, quando alaúdistas, dançarinas e vendedores de tudo povoam estas ruas para nos maravilharem.
Marque encontro com Mértola, com a sua tela de cores que se transmuta em cada época do ano e com os sabores da cozinha alentejana em alguns dos seus restaurantes.
Deixe-se encantar com os seus monumentos e habitantes. A Primavera inunda de poesia os campos deste Baixo Alentejo, espalhando alegria e aromas. Esta antiquíssima vila do sul, onde até a brisa é mágica, aguarda a sua viagem. O seu destino é ser feliz!
Luís Filipe Maçarico
Foto de Rosário Fernandes