Excesso de Peso
Eu me lembro claramente de ter me pesado e ter visto o resultado: 50 quilos. De repente, subo na balança e vejo que engordei dez anos. E dez quilos. O desespero é imediato: preciso perder uma década.
Sou baixinha, provavelmente, abaixo da média nacional feminina. E se não corto os pulsos é porque em outro quesito devo ter alguma coisa que compense esta média estando muito além da mediocridade. Mas não adianta, porque o que conta para o resto do mundo é a imagem. Ninguém se interessa em saber que minha inteligência tem uma cinturinha linda.
Revoltada, em desespero, em estado de choque sobre a balança que não me ama e não me conforta, decido tirar a camisola. É leve mas não é virtual, portanto, pesa. Tiro a camisola e qualquer outro tecido sobre minha pessoa. Subo novamente. Preciso tirar mais coisas. O relógio, o pequeno brinco, uma correntinha.
Vai melhorar. Sinto que o mostrador digital está prestes a reagir. Eu peso menos de sessenta quilos, não aceito essa meia dúzia de dezenas. O problema, eu sei, é que a balança não tem resolução fina, não tem cinco casas decimais. Talvez, eliminando líquidos a coisa melhore. Água pesa. Um quilo por litro. Vamos lá.
Lavo as mãos e seco-as bem. Não quero que resíduos de sabonete e gotículas de água aumentem o peso senão, de nada terá adiantado fazer xixi. Aproveito para escovar os dentes. Vai que ficou um queijo branco em alguma reentrância dos molares. Passo fio dental, cuspo toda a água. Cuspo mais um pouco. Tudo o que sai de dentro, sai da balança. Subo lá. Perdi cem gramas. Quero mais.
Tirar a aliança é um golpe duro para o coração. É fina mas é ouro, depois eu ponho de volta. Meu amor é eterno, tudo bem. Não uso dentadura, não sei tirar obturações sozinha. E se eu ligasse pro dentista? Ele tiraria e colocaria de novo. Não, muito radical. Tenho que pensar em algo mais doméstico. Já sei, vou depilar as pernas.
Anote aí, os pelos pesam menos que a aliança. Mas resta uma esperança: vou aparar as unhas. Pense bem, são vinte!
Louca é a sua vó. Eu não sou louca, nem sou gorda. Apenas ESTOU gorda. Mas como eu previ, nessa brincadeira de tira-tira já perdi quatrocentos gramas. É quase um pound, meio quilo. Mesmo assim, ainda estou imensa, horrível! Eu quero emagrecer AGORA...buáááá!!! Ei, peraí! Eu estou chorando! Perdendo lágrimas! Água e sal, pesado pra chuchu! Obaaaa!!
"Vou choraaaaar, desculpe mas eu vou choraaaaar". Beleza. Meio quilo a menos. Agora só preciso perder mais nove quilos e meio. E se eu me pesasse depois de soltar todo o ar dos pulmões? Aaaaaaahhhh.....chimmmm! Um, dois...e...prendi a respiração e...subi!
Talvez eu devesse chamar um técnico pra consertar a balança. Ou então tem um problema de nivelamento no chão do banheiro. Eu já estou pelo menos um quilo mais magra. Tive certeza disso na hora em que joguei fora o oitavo cotonete depois de eliminar toda a cêra. Deve haver uma solução melhor.
Já decidi, não saio do banheiro antes de terminar de perder esse maldito quilo inteiro. Lembrei que ainda tenho minhas amídalas. E o apêndice. Dizem que não servem pra nada. Quanto será que pesam juntos? Será que dá pra tirar em casa?
Estou atrasada para o trabalho. Todo mundo já sabe que é meu dia de rodízio mas acho que eles não estão cientes deste outro problema, o rodízio de quilos. Não posso sair de casa com todo este excesso, tenho medo de ser multada. Só tenho mais dez minutos para resolver a questão com bom senso. Raspar careca está fora de cogitação. E depois, demora.
Alto lá! Se eu estou acima do peso pra minha estatura, eu poderia...ficar mais alta? Cadê aquela sandália plataforma tipo Carmem Miranda que eu ganhei da Hebe Camargo em 99?
Chove, mas vou de sandália mesmo assim. Vou botar uma saia longa que afina a silhueta. E uma blusinha justa que me deixa peituda, assim desvio o foco do olhar dos quadris. Mas não vou ficar de blusa decotada no trabalho, é ridículo, por isso, coloco um camisa por cima. Afina o corpo. Prendo o cabelo que deixa o rosto magrinho. Me olho no espelho.
Como é que eu não pensei nisso antes? Claro! Tiro toda a roupa, visto uma bermuda, camiseta, boné, tênis e meia e saio pra correr na chuva mesmo. Meia hora depois, volto. Molhada, cansada, suada. E com duzentos gramas a menos. Pronto, agora é só tomar banho de novo, vestir a saia, subir nas tamancas, prender os cabelos e sair, triunfante, pronta para enfrentar a vida, o mundo. Porque, sozinha, com minha força de vontade, sem roubar no jogo, sem tomar bola, sem bomba, sem enganar ninguém, apenas com minha loucura e imbecilidade, consegui diminuir em 10% o meu problema de peso!
PS - Quantas calorias a gente perde digitando um post deste tamanho???
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Beijos da Futura Magra.