A sala ampla e iluminada pelos raios solares
abrigava músicos e seus instrumentos, num ensaio comum. Ninguém se atreve a dar
concertos, ou fazer apresentações sem criteriosa preparação prévia.
Sentado na segunda fileira da orquestra, sem roupa de praxe usada nos dias de teatros cheios, o violinista olhava seu instrumento brilhante e bem tratado. Trajes simples, uma elegante camisa branca de mangas compridas, calça jeans já bastante macia pelo uso continuado e ainda cheirando a banho prolongado, frio e com sabonete de qualidade, o músico aguardava as batidas da batuta do maestro que indicam os preparativos para o início da execução.
Moço ainda, ganhando experiência, ouviu as três batidas características e o gesto do maestro avisando o começo do ensaio. A primeira peça a ser tocada era a “Barcarola”, de Offenbach. Sempre agradável, alegre e conhecida, prestava-se bem para começar os trabalhos. Ouviram-se os primeiros acordes. Soavam como o ambiente, calmo, concentrado e harmonioso.
“Segundo violino, você está desafinado.” A voz do maestro veio dura! Pegou completamente de surpresa o jovem músico, que não tivera o cuidado de fazer uma comparação com seus colegas. Realmente, estava desafinado, fato imperceptível aos ouvidos comuns, mas não ao maestro experimentado, batuta apontada para o advertido.
O “spalla”, primeiro-violinista de uma orquestra e o músico mais importante, facilmente identificado por sentar-se na extremidade esquerda da primeira fileira, sempre muito conhecedor da sua arte e pronto para substituir o maestro, se preciso for, também percebeu o fato. Seu colega estava realmente desafinado. Um pequeno aperto na cravelha e o instrumento ficou em ordem. Estes incidentes ocorrem com frequência, mas não agradou nada ao homem que pretendia falar com a jovem e bela flautista, olhos expressivos, lábios bem feitos. Ele desejava a convidar para um descompromissado lanche, talvez nem tão sem intenção assim, mas de toda forma era o que havia planejado dizer.
Desafinado... Todos ouviram, inclusive ela, que não havia notado o pequeno senão.
O ensaio terminou. O violinista desafinado saiu rápido. Não falou com a colega, que se entendia com Norma, a bela flautista, no momento beijando e totalmente encoxada com ele. Dentro do bar elegante, tomava o segundo conhaque e fumava igualmente o segundo cigarro. Afinal, o maestro apareceu, caminhando displicente na calçada, passando a mão nos cabelos. Sentiu a pequena pontada na barriga, a faca de mola, tão usada pelos ciganos, como era o músico que havia sido chamado a atenção em voz alta, todos escutando, não foi usada para causar ferimento grave ou morte. "Sua namorada está com o outro, desafinado idiota! Volta lá."
Sentado na segunda fileira da orquestra, sem roupa de praxe usada nos dias de teatros cheios, o violinista olhava seu instrumento brilhante e bem tratado. Trajes simples, uma elegante camisa branca de mangas compridas, calça jeans já bastante macia pelo uso continuado e ainda cheirando a banho prolongado, frio e com sabonete de qualidade, o músico aguardava as batidas da batuta do maestro que indicam os preparativos para o início da execução.
Moço ainda, ganhando experiência, ouviu as três batidas características e o gesto do maestro avisando o começo do ensaio. A primeira peça a ser tocada era a “Barcarola”, de Offenbach. Sempre agradável, alegre e conhecida, prestava-se bem para começar os trabalhos. Ouviram-se os primeiros acordes. Soavam como o ambiente, calmo, concentrado e harmonioso.
“Segundo violino, você está desafinado.” A voz do maestro veio dura! Pegou completamente de surpresa o jovem músico, que não tivera o cuidado de fazer uma comparação com seus colegas. Realmente, estava desafinado, fato imperceptível aos ouvidos comuns, mas não ao maestro experimentado, batuta apontada para o advertido.
O “spalla”, primeiro-violinista de uma orquestra e o músico mais importante, facilmente identificado por sentar-se na extremidade esquerda da primeira fileira, sempre muito conhecedor da sua arte e pronto para substituir o maestro, se preciso for, também percebeu o fato. Seu colega estava realmente desafinado. Um pequeno aperto na cravelha e o instrumento ficou em ordem. Estes incidentes ocorrem com frequência, mas não agradou nada ao homem que pretendia falar com a jovem e bela flautista, olhos expressivos, lábios bem feitos. Ele desejava a convidar para um descompromissado lanche, talvez nem tão sem intenção assim, mas de toda forma era o que havia planejado dizer.
Desafinado... Todos ouviram, inclusive ela, que não havia notado o pequeno senão.
O ensaio terminou. O violinista desafinado saiu rápido. Não falou com a colega, que se entendia com Norma, a bela flautista, no momento beijando e totalmente encoxada com ele. Dentro do bar elegante, tomava o segundo conhaque e fumava igualmente o segundo cigarro. Afinal, o maestro apareceu, caminhando displicente na calçada, passando a mão nos cabelos. Sentiu a pequena pontada na barriga, a faca de mola, tão usada pelos ciganos, como era o músico que havia sido chamado a atenção em voz alta, todos escutando, não foi usada para causar ferimento grave ou morte. "Sua namorada está com o outro, desafinado idiota! Volta lá."
Voltou. Desta vez a faca cigana foi terrível.
Sangrou profundamente os dois namorados...
Imagem: pianista de orquestra